domingo, 9 de dezembro de 2007

MENINO DE RUA


Menino que se acerca do meu carro no sinal fechado
De quem não sei o nome e a quem chamam Menino de Rua.
Da mãe só teve a barriga,
Do pai, sabe-se lá!, nem o nome,
A quem tudo foi negado.
Menino que faz a marquise de teto,
O papelão é seu colchão,
O jornal seu cobertor
E, ainda assim, sonha em ganhar
Uma bicicleta no Natal,
Um dia ser doutor.
Menino de quem me desvio na rua,
Poderia ser meu filho, de qualquer um outro.
Menino a quem desejo mal, quando assalta o meu filho,
Filho que teve todas as oportunidades,
Comida farta, bons colégios, roupa de grife.
Menino a quem olho com medo, ao invés de compaixão,
Por quem me compadeço, quando,
Confortavelmente em meu sofá,
Vejo as atrocidades que contra ti são cometidas,
Pela televisão.
Por muitos anos mantive a consciência tranqüila
Distribuindo alguns presentes no natal,
Dando um prato de comida a quem me batia à porta,
Algumas moedas a quem me parava no sinal.
É fácil ter consciência tranqüila com a barriga cheia.
Menino, poderá se chamar Roberto,
Como Roberto é o meu filho,
Renato, Paulo, Rodrigo ou João,
Por tudo que deixei de fazer vida afora,
Um dia perdoará
Minha covardia,
Minha omissão?

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro: Múltiplas Faces

2 comentários:

Jacinta Dantas disse...

Suas postagens me emocionam, e por vezes me inquietam. De fato "menino de rua"... sabemos que mora na cidade mas a cidade quer escondê-lo. E nós?
Gostei muito de sua perplexidade.
Um abraço

Jacinta Dantas

Anônimo disse...

Sem palavras... Esse assunto é problema de todos. É muito triste isso.