quinta-feira, 26 de junho de 2008

FLORBELA ESPANCA

Não são necessárias muitas explicações para se postar um poema... entretanto, esta noite, no auge da minha insônia, veio-me à memória vários versos de Florbela Espanca... daí, hoje o dia é dela!

A MINHA PIEDADE

Tenho pena de tudo quanto lida

Neste mundo, de tudo quanto sente,

Daquele a quem mentiram, de quem mente,

Dos que andam pés descalços pela vida,

Da rocha altiva, sobre o monte erguida,

Olhando os céus ignotos frente a frente,

Dos que não são iguais à outra gente,

E dos que se ensangüentam na subida!

Tenho pena de mim... pena de ti...

De não beijar o riso duma estrela...

Pena dessa má hora em que nasci...

De não ter asas para ir ver o céu...

De não ser Esta... a Outra... e mais Aquela...

De ter vivido e não ter sido Eu...


(extraído do livro Charneca em Flor - poema e imagem de domínio público)

Florbela Espanca (1894 - 1930), batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição, foi uma poetisa portuguesa.

Filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. O pai só reconheceria a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.

Em 1903 Florbela Espanca escreveu a primeira poesia de que temos conhecimento, A Vida e a Morte. Casou-se em 1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917, inscrevendo-se a seguir no curso de Direito, sendo a primeira mulher a freqüentar este curso na Universidade de Lisboa.

Sofreu um aborto involuntário em 1919, ano em que publicaria o Livro de Mágoas. É nessa época que Florbela começa a apresentar sintomas mais sérios de desequilíbrio mental. Em 1921 separou-se de Alberto Moutinho, passando a encarar o preconceito social decorrente disso. No ano seguinte casou-se pela segunda vez, com António Guimarães.

O Livro de Soror Saudade é publicado em 1923. Florbela sofreu novo aborto e seu marido pediu o divórcio. Em 1925 casou-se pela terceira vez, com Mário Laje. A morte do irmão, Apeles (num acidente de avião), abala-a gravemente e inspira-a para a escrita de As Máscaras do Destino.

Tentou o suicídio por duas vezes em Outubro e Novembro de 1930,

às vésperas da publicação de sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, 8 de dezembro de 1930, utilizando uma dose elevada de Veronal. Charneca em Flor viria a ser publicado em Janeiro de 1931.

Precursora do movimento feminista em Portugal, teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade.

Fernando Pessoa, em um poema datilografado e não datado de nome "À memória de Florbela Espanca", descreve-a como "alma sonhadora/ Irmã gêmea da minha!".


9 comentários:

Anônimo disse...

Katia, tenho algo de Florbela, mas nunca havia lido sobre ela. Foi bom ter lido aqui.
O poema, como tudo dela, maravilhoso!

Ps: Estou reagindo aos nerônios anti cozinha e aprendendo horroroes!

Poeta Mauro Rocha disse...

Obrigado pela visita e você entrará na segunda edção,caso aconteça,rsrsrs

MAURO ROCHA

layla lauar disse...

Reler Florbela Espanca é tudo que eu precisava para colocar um pouco de cor na minha alma que hoje amanheceu cinza...Adorei o post!

(fico agradecida e honrada com a sua lembrança, você já está lincada entre os meus blogs favoritos.)

Um grande beijo

C.R. disse...

Dualidade . Como sempre ( a correr) que lhe agradeço a simpatia , apesar de ser um mero passatempo, com mais de quinhentas telas pintadas, nunca tinha “desenhado”, mas a ideia que surgiu há pouco implica que o faça. Por ser muito introvertido, nunca mostro o que faço, ou seja, o que considero ter realmente teor. ( Nem imagina o que tremi para esboçar o retrato da “nossa” amiga Rê ), quando é costume faze-lo em cinco minutos,.. não sei... tenho que viver comigo.

Se por acaso um dia passar por esta linda cidade, espero já ter o que desejo constituído, não vou revelar muito, além de que pode imaginar, se passar por algum blog, que tem a ver com historia, mitologia, física, interpretação das constelações, visto dum primeiro grau. Desde aí, tenho escrito e desenhado ( mais de mil paginas) sobre o tema essencial que vai juntar umas cerca de 48 telas.

Um beijo para si, e desculpe ter-lhe ocupado este tempo todo de leitura.

C.R.

Anônimo disse...

Oi Grão, eu sabia quem era mas nunca tinha lido a história da vida dela. Gostei!
=*

Anônimo disse...

Katita!
Eu vi um livro de fotos da Florbela semana passada.
Aqui do lado do estúdio, na galeria tem uma livraria. A Dona da livraria trouxe o lovro pra me mostrar.


Muito bacana!!!!


bjobjo

e muitas saudades!

Paula Barros disse...

Oi, kátia
Para postar ou para escrever um poema não precisa explicação. Mas quando tem acho ótimo. Saber que alguém também tem insônia, e que tem idéias maravilhosas e nos proporcionam com belos momentos melhor ainda.
Não conhecia Florbela. É bom conhecer.
Já estou linkando seu blog.
Obrigada pela visista.
abraços

RENATA CORDEIRO disse...

Também adoro aFlorbela ESpanca, tenho todos os livros dela, alguns repetidos, pois são de editoras diferentes. Quando fui a Portugal, fiz questão de ir a Vila Viçosa, sua terra natal, para saber onde ela havia vivido. Bem, amiga, já deve ter perc ebido: voltei. E já fiz um post de agradecimento.
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Não precisa ler a úlima cena, é opcional.
Um beijo pelo carinho demonstrado enquanto eu estava naquela péssima situação
Renata

Cláudia Pinho disse...

Florbela Espanca é tristemente espectacular.