sexta-feira, 25 de julho de 2008

SANTIAGO DE COMPOSTELA - A SAGA

Início da Jornada rumo aos Pirineus

E vamos em frente com nossa história...
Com toda carga emocional que foi nossa chegada a Saint-Jean-Pied-de-Port, acabamos por não nos preocuparmos com as coisas práticas, que com o tempo (muito pouco tempo, por sinal) descobriríamos serem imprescindíveis, como, por exemplo, comprar com antecedência o que comer na manhã seguinte.
Preocupamo-nos em arranjar um lugar alternativo para dormir, já que o albergue estava lotado, tomar banho, nos arrumar, etc.
Quando saímos, as lojas, vendas, padarias, tudo já estava fechado.
Tudo bem que é uma cidadezinha mínina (ou era, em 2000), mas só encontramos dois restaurantes. O primeiro não aceitava cartão nem dólar. O segundo aceitava Visa! Viva! A Cris tinha um! Então ali começou uma conta, controlada por mim: Kátia deve a Cris, Maurício deve a Cris, Cris deve a Kátia, Kátia deve a Maurício... só eu para entender... a cada três ou quatro dias, a gente “passava a régua” até, momentos depois começar tudo outra vez.
O cardápio! Eu não compreendia nada! Tudo em francês. A Cristina ainda tentando fazer o Maurício acreditar que ela sabia francês, mas, a essa altura, já estávamos rindo do ocorrido. Acabamos por comer o que eles diziam ser frango (parecia pinto de tão pequenininho!), pagamos os olhos da cara para o padrão peregrino, mas comemos!
Dormimos o sono dos justos (e dos cansados).
Amanhece – mentira! O relógio diz que são 6 horas da manhã, mas lá fora é noite escura.
Um frio de cortar até osso! Fome! Tudo fechado!
Saímos todos paramentados, mochila nas costas, o coração na boca e o estômago nas costas!
Passamos por umas ruelas, seguindo as setas amarelas e as placas que indicavam o Caminho ou Rota Jacobea, para eles.
Até que eu ouço o barulho de uma porta se abrindo e vejo tratar-se de uma pequena padaria. Pensei: Nossa salvação!
O sujeito, meio gordo, muito mal encarado, estava arrumando as coisas, aproximamo-nos e, numa mistura de francês, espanhol, português explicamos que estamos com fome e se ele poderia vender-nos pão, suco, etc. mas que teríamos que pagar em dólar.
O danado na mesma hora:
- Na frança, dinheiro francês!
E vocês acreditam que ele não nos vendeu nada? Argumentamos, pedimos, imploramos. Nada. Não se comoveu. Deixou-nos com fome.
Gente, naquele momento eu perdi toda a fineza que minha mãe levou décadas para ensinar-me: comecei dizendo que na minha terra não se deixa nem cachorro de rua com fome (tudo em portunhol, claro! para que ele entendesse, pelo menos, o sentido) e segui mandando enfiar o pão vocês sabem onde... e daí falei tanto palavrão que nem eu mesma sabia que fazia parte do meu repertório.
Saímos dali com fome, mas com a alma lavada!
Resolvemos fazer um balanço das nossas posses:
Maurício – uma barra de chocolate.
Cristina – um pacotinho de amendoim, um pacotinho de bolinhas de Nescau e um pouco de pólen em pó (diz ela que dá muita "sustância" - rs).
Kátia – dois, ouviram bem, DOIS pacotinhos de amendoim, dois de bolinhas e um pouco de granola.
Parêntesis: No avião, quando a aeromoça deu a caixinha de lanche eu resolvi pedir uma extra, acho que era minha parte bruxa com medo de passar fome, no que a Cris me chamou de mal-educada. Ah! Também roubei um travesseiro do avião, porque não sei dormir sem travesseiro (lá na frente vocês ficarão sabendo a história do traesseiro).
Nós sabíamos que aquele primeiro dia de caminhada não teria nenhuma parada, nenhuma cidade na trilha, nada. Era um percurso só, até Roncesvalles, na Espanha
Resolvemos seguir adiante, enfrentar os temidos e maravilhosos Pirineus com o que tínhamos!
Pedimos proteção a Deus e a São Tiago e pé na estrada, ou melhor, na trilha.

PS. Aos que estão preocupados, Maurício tornou-se um grande e especial amigo, por quem tenho um carinho enorme. Continuamos nos falando, escrevendo e vendo-nos quando a situação permite.

PS2. Maurício e Cristina – Manifestem-se e dêem seus depoimentos! Daqui a pouco vão achar que vocês são meus amigos imaginários - rs

Mapa Rota Jacobea já na trilha, nos Pirineus (gente, é neblina mesmo!)

14 comentários:

Anderson Meireles disse...

Que bela história! Viajei com vocês.
Linda foto também,
um abraço!

Anônimo disse...

nossa
viajeei sem saiir d0 lugar agoraa
ameei issoo \oi
http://imensidadx3.blogspot.com

Anônimo disse...

Eu continua a dizer: estou A-M-A-N-D-O essa série!!!!


bjobjo


Bjos para a Cristina e pro Lindinho (seus amigos imaginários, hihihihihi, brincadeira)

RENATA CORDEIRO disse...

Não quero nem saber dessa história!
Fiz novo post hj, a pedido de uma amiga do Blog. Vc já deve ter visto o filme, que é lindo.
Apareça aqui:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata

Dry Neres disse...

Amiga poeta.. rsrs..
Você consegue me arrancar boas gargalhadas sempre.. Eu ainda não entendo, porquê do "doido" lá não ter vendido comida pra vocês..kkkkk.. E adorei a tua resposta.. de ter mandado ele para aquele lugarzinho que a gente manda esse tipo de gente..kkkkkk
Vi que você colocou dois PS's.. fiquei curiosa se foi por que aquele dia perguntei sobre o Maurício.. Não duvido de nada não querida.. eu só queria saber se depois de tudo.. ele ainda permanecia com vocês..rsrs..
Ainda me lembro da parte da Madame lá.. Hehe..
Querida, eu adoro tuas visitas.. E ler a "Saga",foi fantástico, como todos os outros que li e sei que serão os outros que seguirão a nos serem revelados..
A foto está perfeita!! ^^
Um beeeeeeeijo, linda.

layla lauar disse...

Oi querida...já começo pedindo desculpas pela minha ausência nos últimos dias, esotu com alguns problemas e sem poder ficar muito tempo na Net. mas atualizei a leitura agora e, como sempre, me encantou a sua facilidade em lidar com as palavras... Excelente a sua "saga" pelo Caminho de Santiago Compostela. Sua leitura é deliciosa . Vou tentar me organizar para não ficar tanto tempo sem ler você.

Um grande beijo, que seja ótimo o seu domingo.

Jânio Dias disse...

Querida Kátia, muito obrigado pelo presente.

Muitas pessoas recebem muitos comentários, outras (como eu) poucos, mas você me deu o luxo de ganhar um lindo, um lindo presente. Estou lisonjeado.

A narrativa da sua saga está deliciosa. Quero conhecer logo o próximo capítulo.

Beijos!

Dauri Batisti disse...

Escrevendo, com certeza, você vai colhendo de novo os prazeres da viagem e "viaja" novamente. Portanto: boa viagem

Anônimo disse...

Ola, Eu sou o Mauricio amigo de caminhada e coração da Katia e Cris.
Sim , elas são doidas e acredito que deveriam ser presas por formação de quadrilha.
Puts, eu só queria rachar a conta do taxi.
A verdade é que na “magia” do caminho acabei embarcando numa maravilhosa história que estará sempre presente comigo. Obs : não sou do tipo machão, e cai no conto que as duas me passaram para ir para França. (Ainda bem)

mundo azul disse...

Que delicia ler essas suas descrições!!!

Voltarei com certeza ler o resto das aventuras...


Beijos de luz e uma semana muito feliz!!!

Tell Aragão disse...

deu fome só de pensar no "perrengue"... acho que vou assaltar a geladeira antes de dormir... sei lá, vai que eu sonho com o caminho rs
aguardo cenas dos próximos capítulos

O Profeta disse...

Fascinante viajem querida amiga...


Doce beijo

Unknown disse...

Hahahahaha
Tá sendo muito divertido reviver essa história!
E eu atesto que seus amigos imaginários existem! E que eu os adoro!!
Beijos!

Anônimo disse...

rsrs..li o comentario do Mauricio...ele nao poderia deixar duas senhoras de meia idae sozinhas...rs...eu nao deixaria..sem duvida, embarcaria nessa com vcs

outra coisa, depois vou anotar tim-tim por tim-tim....e aprender espanhol ou frances até lá