terça-feira, 11 de novembro de 2008

SAHAGÚN A EL BURGO RANERO

PORQUE TOLERÂNCIA NÃO SE APRENDE COM SÓ UMA LIÇÃO!

Bercianos - Caminho para El Burgo Ranero


Reencontrar Mauricio foi uma grande alegria.
Mauricio foi a pessoa que me escutou, sem questionamentos, sem juízos de valor, mostrou-se capaz de compreender o ser humano com seus altos e baixos, suas virtudes e defeitos. Tenho por ele um carinho que nada desta vida vai mudar.
Combinamos que não iríamos muito longe naquele dia. Nosso destino seria El Burgo Ranero, uns 18 km., mesmo porque meus pés insistiam em pipocar bolha atrás de bolha...
A Cris neste dia estava elétrica... não teve paciência e saiu na frente, depois soube que encontrou com Neil, o Chileno, Marie Louise e que fez boa parte da caminhada com eles.
Foi a Cris que me contou uma história que ouviu de Neil:
Só existe uma santa sueca, Santa Brígida. Uma mulher forte e obstinada que fez o Caminho de Santiago e, durante a peregrinação, viu falecer seu esposo. Concluiu a caminhada sozinha e voltou a seu país projetando-se politicamente e influenciando o povo a lutar pelos seus direitos. Quanto a Igreja Luterana dominou o país, manteve Santa Brígida como único exemplo de santidade. (Não sei para que serve essa história, nem se é verdadeira, mas é mais uma do Caminho...)
Eu e Mauricio fizemos a caminhada conversando, contando o que havia acontecido conosco nos dias em que estivemos sozinhos e quando chegamos a El Burgo Ranero já tinha uma boa turma no bar em frente ao albergue: Cris, Neil, Marie Louise, Sandra e Amauri.
Juntamo-nos a eles e tomamos uma taça de vinho para depois almoçarmos, quando, de repente, ouvimos uma gritaria. Era a dona do bar (July) que brigava com um senhor porque este queria cobrar de um peregrino pelo serviço de lavanderia. As espanholas quando querem “rodar a baiana” não perdem em nada para nós, brasileiras.
A comunidade toda é quem mantém o albergue e todos os serviços para os peregrinos, e tem um grande orgulho disso.

El Burgo Ranero - Albergue

Nossos amigos resolveram seguir em frente e nós três ficamos.
Eu com os pés em petição de miséria. Mauricio com a garganta inflamada. Só a Cris é que estava bem. Mas foi uma boa decisão, pois assim que eles se foram caiu uma forte chuva.
Quando chegamos ao albergue encontramos o Padre Jesus Calvo, que já tinha conhecido Cris e Neil, e que tinha ido levar um papel xerocado com uma mensagem que ele fez dando boas vindas aos peregrinos. Conversava com Dona Amélia, um doce de pessoa, que é quem cuida do albergue. Padre Jesus nos contou casos de milagres acontecidos durante a guerra, bombas que caíram na igreja e não detonaram, ordens de destruir as igrejas que misteriosamente não eram escutadas pelos soldados, etc. Depois de um bom papo, nos abençoou, pegou sua bicicleta e seguiu adiante.
El Burgo Ranero foi um lugarzinho pequenininho onde ficamos para repor nossas energias... Quase ninguém fica lá. Só tem uma rua...

Saída de El Burgo Ranero para Mansilla de Las Mulas

Mas tem muita gente especial...
Mas como nada é perfeito... apareceu um danado de um australiano, jovem, que falava alto, num tom irritante, junto com um amigo gay, de fala fina, o Bambi e eles ficaram conversando até tarde como se albergue fosse a casa deles. Aquilo foi me “dando nos nervos”, quis partir pra briga, levantar e ir logo estourando, só não o fiz porque a Cris me fez uma preleção sobre paciência, sobre tolerância, etc, daí engoli minha raiva, tapei os ouvidos com silicone e fui dormir jurando que manteria distância daquele ser.
Consegui dormir, mas só pensava no amanhecer do dia seguinte para me afastar daquelas pessoas...
Mal sabia eu que o Grande Timoneiro tinha outros planos para mim...

14 comentários:

Eduardo Miguel disse...

- Kátia fiquei muito contente com seu retorno e ainda mais feliz com este seu post que traz uma certa luz a questionamentos que de vez em quando todos se fazem, a esperança no ser humano no fundo representa a esperança em nós mesmos, somos partes do todo e é na capacidade individual e na sua utilização em grupo (muito difícil)é que podemos perceber valores que não estão tão á vista assim e que me fazem lembrar de uma entrevista que ví com o falecido Ulises Guimarães que concluiu sua entrevista em que falava de algumas pessoas da seguinte forma: há duas formas de se conhecer um pessoa, na hora da necessidade comendo o tal kilo de sal ou em uma longa viagem.
- De toda maneira fica além da observação que fiz a questão de ao externar estas histórias conseguimos gerar referências que nos permitem a troca de experiências, amadurecimento e um crecimento que pode valer uma vida...
- Kátia obrigadão pela atenção eu vou mas eu volto! combinado??? grande abraço.

Vanuza Pantaleão disse...

Kátia, minha querida, como estás? Espero mesmo que muito bem!
Minha filha, o Grande Timoneiro é quem sabe "das coisas", só Ele, rsss...nada de mal educada, você está se recuperando e quem for realmente humano e compreensivo tem o dever de entender isso. Olha, tô pra fazer um novo post desde ontem, mas cadê coragem? Quem sabe, a favela e os barracos ainda tenham muito a dizer a quem por lá passar? Quem sabe o "Cara lá de Cima", esteja decidindo isso? Quantas interrogações nessa vida...Cuide-se, viu? Beijinhos

Kátia A. C. disse...

Que bom que você voltou!

Nem sempre seguimos pela nossa rota: Deus traça outros caminhos.
E em cada caminho, uma lição.

Ah, minha querida amiga, hoje estou saudosa de "nossas conversas", que nem sempre têm palavras escritas ou faladas...

Bj grande.

Vanuza Pantaleão disse...

Katinha, a nossa Miriam nos deixou uma mensagem muito tocante e a reproduzi no nosso novo post, se puder, APENAS LEIA, não há necessidade de que comente...tenho que fazer a janta, rssss
Beijosssss

Jardineiro de Plantão disse...

De volta em volta, teremos de estar preparados, para resolver situações e aquilatar nossas contradições.

Continuo nesta caminhada, sentado, frente a esta janela.

Abraços

Mari disse...

oie! Katia, cada vez que passo que leio mais um pouquinho do seu caminho, me da mais vontade de faze-lo tbm, quem sabe um dia neh?
Ah, se fosse eu com esses dois folgados, já tinha partido pra briga( sou esquentada demais!)

bjooo


Ps. o quarda roupa o namorado levou!! rsrs...guanhei outro sob medida pro quarto! ahhh...e pode deixar que quando tiver o primeiro pileque te conto....hahaha

Nadezhda disse...

Imagino a mulher discutindo em espanhol. (Só conheço a língua por filmes, mas o tom natural já é bem 'alto').

Ultimamente tenho tido mais paciência. Mas sei que preciso 'trabalhar' mais isso, pois aind anão é o suficiente ;)

Jacinta Dantas disse...

É Kátia,
o bom dessas experiências, é que vamos nos redescobrindo como gente. A gente se permite o contato com nossos sentimentos, e, na viagem da vida, vamos aprendendo a aceitá-los e compreendê-los.

Vanuza Pantaleão disse...

Bom dia, Amiga!
Sua presença no nosso espaço:um momento de Paz e Dignidade!
Estava, novamente, pensado no seu depoimento sobre as "picuinhas humanas", o egoísmo, a competição...males, chagas do nosso tempo. Veja, no Caminho de Santiago, assim como no Primitivo Cristianismo, tudo era compartilhado, igualdade era a tônica. Voltando às histórias juvenis: "Um por todos, todos por um", era assim com os Três Mosqueteiros que eram quatro Amigos Inseparáveis. Amiga, ontem perdi um pouco do orgulho que ainda tenho e questionei, na boa, dois moços daqui que sempre estiveram conosco, lado a lado. O silêncio e a falta de cavalheirismo foram a resposta. É óbvio que cada um de nós é livre para gostar, ou não, das temáticas que tratamos, mas Hostilidade e Desprezo ficam bastante evidentes quando você procura o outro e, simplesmente, pergunta: POR QUE?
Eu li sobre a Layla na sua própria página, o que ela passou e a atitude drástica que tomou, quis me solidarizar, mas a falta de intimidade me fez recuar, saí muito P... da vida. O caso da Miriam tem outros aspectos pessoais, mas essa moça também foi massacrada por uma criatura que até fazemos bem em não lhe darmos publicidade. Uma criatura sem nenhum resquício de Ética ou Caráter, mas que outros, do seu mesmo nível, que com ela têm afinidades, a seguem. E sabe do que mais? Que a sigam! É a Lei das Afinidades, os iguais se unem, que seja assim! Chico Xavier que não ficou com um tostão dos milhões de livros vendidos já discorria, com detalhes, em suas Obras, sobre o umbral, um lugar de penumbras e sofrimentos para as almas problemáticas, materialistas, apegadas à matéria...e como você mesma disse:"-Vamos ter que acertar as contas perante um Poder
Maior..." ACERTEMOS!
Quanto a mim, só tenho que me contentar com uma certeza: tudo que tentarem e fizerem, pensando em me atingir, bate no ego e volta, pois a minha essência, como a sua e das pessoas mais esclarecidas, espiritualmente falando, está IMUNE, É INATACÁVEL...falei demais, desculpe-me.
O sol da manhã banhando o jardim e penetrando pelas janelas, mais um dia, DEUS É PAI!!!Bjsss

Pelos caminhos da vida. disse...

Vi seu comentário no blog da minha amiga Vanuza e resolvi conhecer o seu espaço.
Gostei,parabéns!

Se quizer conhecer o meu espaço,está convidada.

Bom dia.

beijooo.

Anônimo disse...

Deus sempre sabe quais os caminhos que devemos trilhar.
Que bom que você voltou! A blogosfera precisa de gente assim, sempre disposta ao melhor.

Beijocas
Tenha uma linda quarta-feira!!!

www.lizziepohlmann.com

Deusa Odoyá disse...

Olá Kátia!.
Estou contente com sua volta.
O engraçado que cada vez mais , nos descobrimos, e vemos quanta coisa ainda nos falta galgar.
Beijos miga.
Uma semana cheia de paz e luz.

Regina Coeli.

RECORDAÇÕES disse...

Olha Katia, é a 1ª vez que visito o seu espaço,mas estou amando. Você tem uma maneira de escrever muito clara e sagaz. Dá vontade da gente continuar lendo suas trajetórias sem parar.Vou passar sempre para continuar, posso?Amei seu espaço, continue assim. Eu me senti viajando na sua viagem. E as fotos então? São ótimas; parabéns!

Anônimo disse...

..É, Deus nos mostra o caminho...as vezes nao exergamos...isso acontece ate tropeçarmos em frente ao caminho