sábado, 25 de abril de 2009

ELE PARTIU...

ELE PARTIU...

Meu amigo se foi
Ele conhecia meus segredos mais íntimos,
Sabia das músicas que gostava de ouvir em cada momento de humor,
Entre nós não havia segredos.
Era sempre o primeiro a ver minhas fotos, até aquelas antigas, que se mostram para poucos,
Era o primeiro a ler meus poemas e escritos,
Nunca me decepcionou.
É certo que andou um pouco abandonado nestes tempos de doença...
Não foi uma partida abrupta, covarde,
Há tempos ele vinha me avisando
“Meu tempo está se esgotando”
Mas eu não quis ouvi-lo
Era mais cômodo ignorar a sofrer a perda.
Daí, depois de dois meses entre hospital e convalescença, fui visitá-lo
Abordei-o com todo o meu carinho
Ele não deu sinal de vida.
Tentei mais uma vez, já impaciente.
Ele não respondeu
Continuei insistindo outra vez mais, e mais, e mais
Até que ele se iluminou, fez uns sons estranhos,
Daí senti um cheiro de queimado
A fumaça invadiu a sala
E ele se foi de vez.
Levou com ele minhas lembranças,
Meus tesouros, meus segredos,
Não tem como superar a dor
Da morte do meu computador!


Queridos amigos, assim que providenciar um novo computador começarei a visitá-los, diz a fisiterapeuta que eu posso fazer cinco visitas por dia (rs)... sei que vou levar quase um ano, mas já é um começo.
Beijo grande a todos e muita saudade disso tudo aqui!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

HISTÓRIAS DO HOSPITAL

OU MAIS COISAS QUE SÓ ACONTECEM COMIGO!

Dedico este post a todos os amigos e visitantes, em especial à Mara, Cristina, Juçara e Mauricio.


ATO Nº 1 – INTERNAÇÃO

Depois de 13 dias de peregrinação de médico em médico, exames diversos, antibióticos e outros remédios, enfim cheguei ao Hospital para uma consulta com uma neurologista. Eu já não suportava mais ficar em posição nenhuma de tanto que sentia dores da cintura para baixo, em especial nas pernas. Fiquei sentada à espera da Doutora e era um tal de entra gente, sai gente, e eu ali, com meu fiel escudeiro – Beto, meu filho. Chega a Dra e sou chamada. Vou para um consultório no pronto socorro mesmo, ela me examina e vai logo falando: - A senhora precisa ficar internada. No que eu retruquei: - Como internada? Eu saí de casa para uma consulta, não estou preparada... Ainda mais é véspera de Carnaval! E a Dra, muito calma, responde-me: - Para internar só precisa do paciente! Aí me explicou que ela temia que fosse uma doença grave, etc. e que já iria pedir um apartamento e solicitar alguns exames.
Fiquei eu, deitada na maca do consultório, daí a pouco chega uma moça e me tira quase meio litro de sangue. No consultório em frente desencarna um homem que eu vi entrar andando. Comecei a suar frio e a rezar. Só pensava em não ser a próxima!
Lá pelas cinco da tarde foi que me arrumaram um apartamento e eu me dei conta da primeira surpresa: Hospital não cheira mais a hospital. Sabe aquele cheiro de hospital da nossa infância, uma mistura de éter, desinfetante e sei lá mais o quê? Não existe mais... Acho que é por isso que agora eles chamam de Apart Hospital.

ATO Nº 2 – TREINANDO PARA PILOTO DE CORRIDA


Quando eu estava ainda no pronto socorro, chegou um rapazinho muito simpático, com uma cadeira de rodas (graças a Deus! Porque eu não conseguia mais me manter em pé) dizendo que ia levar-me para fazer uma Ressonância Magnética. Essa foi a primeira de tantas que até perdi a conta, tenho mais hora dentro de tubo de exame que urubu de vôo. Muito delicado ele me colocou na cadeira, ajeitou o lençol nas minhas pernas e zás! Disparou corredor afora que não deu tempo nem de sentir medo. Era uma sensação muito estranha: primeiro a imobilidade, depender de outras pessoas para locomover-me, ver os outros na altura da cintura, e só sentir o ar no rosto pela velocidade com que ele conduzia a cadeira. Pensei com meus botões, vai ver que é exame de urgência, por isso ele veio rápido. Ledo engano! Quando já estava no apartamento, terceiro andar, a coisa piorou, todos eles corriam. Passavam pelas rampas como carros de fórmula um só que o carro era eu! Acho que eles apostavam quem fazia o trajeto mais rápido, comecei a temer a cadeira como se teme instrumento de tortura!

ATO Nº 3 – A COMIDA



Eu sempre gostei de comida de hospital. Todas as vezes que ficava internada (e foram muitas), nunca tive problema em comer o que mandavam. Daí no primeiro dia, meio atordoada, eu ainda comi um pouquinho. No segundo, quando chegou aquela bandeja térmica, eu ainda brinquei: Ai meu Deus, que não seja abóbora! Parece praga! Era abóbora! Até o cheiro me enjoava. Não deu para comer. Trouxeram comida de casa e daí em diante foi um desespero, dia sim e outro também era peito de frango grelhado. Eu não conseguia nem mais olhar para a comida. Ainda bem que o café da manhã era bom, tinha pão, e o lanche da tarde também! Mas eis que os remédios fizeram com que minha glicose chegasse a 300. Tinha dia que eu tomava insulina mais de 3 vezes. Daí o pão, minha única alegria, foi pro espaço. Trocaram por biscoito água e sal. Uma noite, eu estava tão desesperada de ficar sem comer que pedi à Gabi para ligar para a lanchonete e pedir um pão de queijo e um cappuccino diet, com bastante chantilly! (É claro que quando vieram medir a glicemia e deu 224 eu fiquei caladinha rs)

ATO Nº 4 – OS PROGNÓSTICOS


Logo no segundo dia eu entrei na internet e fui pesquisar sobre Mielite. Daí li um monte de coisa (algumas foram úteis, pois haviam acontecido comigo e eu relatei à Dra). Mas é incrível como as pessoas só conseguem se lembrar dos casos mal sucedidos. Era um tal de fulano morreu dessa doença, sicrano ficou mais de um ano sem andar, o outro, depois seis meses, só agora está andando, mas de muletas. Não aparecia ninguém para dizer que conhecia um que havia se curado. Então eu sempre falava: Eu vou ser a exceção!
Quando a Dra falou sobre a possibilidade de eu ter alta usando sonda e bolsa coletora, não respondi nada, minha comadre que estava comigo quis esganá-la por me dizer essas coisas, mas no meu íntimo eu sabia que eu ia superar!
Bem, não morri, não saí usando bolsa coletora, embora tenha usado sonda por uns dias. Mas hoje já não uso mais e já consigo andar! E sem muletas! As dores... um dia também vão embora!

ATO Nº 5 – A ALTA E O PARTO


Já tinha 15 dias que eu estava internada e a Dra falou que eu já poderia ter alta. Entrei em desespero! Chorava o dia inteiro pensando que eu ia morrer em casa, pois a glicemia ainda ia a quase 200 e diabetes é uma morte que não dá sinais, esse tempo todo eles controlaram o meu potássio, que esteve a níveis baixíssimos e potássio é o que se usa para eutanásia e em níveis baixos pode levar ao coma sem aviso prévio, meu intestino ainda só funcionava com fleet enema, a bexiga ainda tinha que passar sonda de 3 em 3 horas (inclusive de madrugada). Como ir embora? Daí Roberto, Beto e Gabi foram fundamentais em me dar a força que eu precisava, em me fazer ver que eu não estava sozinha, que se fosse preciso a gente contratava enfermeiras, etc. Passaram mais 2 dias. Aí eu fui me acalmando e me acostumando com a idéia. Tanto que resolvi acatar a orientação do fisioterapeuta e sair um pouquinho para andar no corredor. Estava eu andando para lá e para cá, observando as obras de arte, painéis, etc., daí me chega uma senhora e me pergunta:
- Já teve o bebê ou ainda vai ter?
Para não mandá-la para aquele lugar engoli em seco, dei as costas, voltei para o meu apartamento e pedi à Dra que me desse alta.

Obs.: A demora é porque tenho que escrever pouco a pouco.