quarta-feira, 8 de abril de 2009

HISTÓRIAS DO HOSPITAL

OU MAIS COISAS QUE SÓ ACONTECEM COMIGO!

Dedico este post a todos os amigos e visitantes, em especial à Mara, Cristina, Juçara e Mauricio.


ATO Nº 1 – INTERNAÇÃO

Depois de 13 dias de peregrinação de médico em médico, exames diversos, antibióticos e outros remédios, enfim cheguei ao Hospital para uma consulta com uma neurologista. Eu já não suportava mais ficar em posição nenhuma de tanto que sentia dores da cintura para baixo, em especial nas pernas. Fiquei sentada à espera da Doutora e era um tal de entra gente, sai gente, e eu ali, com meu fiel escudeiro – Beto, meu filho. Chega a Dra e sou chamada. Vou para um consultório no pronto socorro mesmo, ela me examina e vai logo falando: - A senhora precisa ficar internada. No que eu retruquei: - Como internada? Eu saí de casa para uma consulta, não estou preparada... Ainda mais é véspera de Carnaval! E a Dra, muito calma, responde-me: - Para internar só precisa do paciente! Aí me explicou que ela temia que fosse uma doença grave, etc. e que já iria pedir um apartamento e solicitar alguns exames.
Fiquei eu, deitada na maca do consultório, daí a pouco chega uma moça e me tira quase meio litro de sangue. No consultório em frente desencarna um homem que eu vi entrar andando. Comecei a suar frio e a rezar. Só pensava em não ser a próxima!
Lá pelas cinco da tarde foi que me arrumaram um apartamento e eu me dei conta da primeira surpresa: Hospital não cheira mais a hospital. Sabe aquele cheiro de hospital da nossa infância, uma mistura de éter, desinfetante e sei lá mais o quê? Não existe mais... Acho que é por isso que agora eles chamam de Apart Hospital.

ATO Nº 2 – TREINANDO PARA PILOTO DE CORRIDA


Quando eu estava ainda no pronto socorro, chegou um rapazinho muito simpático, com uma cadeira de rodas (graças a Deus! Porque eu não conseguia mais me manter em pé) dizendo que ia levar-me para fazer uma Ressonância Magnética. Essa foi a primeira de tantas que até perdi a conta, tenho mais hora dentro de tubo de exame que urubu de vôo. Muito delicado ele me colocou na cadeira, ajeitou o lençol nas minhas pernas e zás! Disparou corredor afora que não deu tempo nem de sentir medo. Era uma sensação muito estranha: primeiro a imobilidade, depender de outras pessoas para locomover-me, ver os outros na altura da cintura, e só sentir o ar no rosto pela velocidade com que ele conduzia a cadeira. Pensei com meus botões, vai ver que é exame de urgência, por isso ele veio rápido. Ledo engano! Quando já estava no apartamento, terceiro andar, a coisa piorou, todos eles corriam. Passavam pelas rampas como carros de fórmula um só que o carro era eu! Acho que eles apostavam quem fazia o trajeto mais rápido, comecei a temer a cadeira como se teme instrumento de tortura!

ATO Nº 3 – A COMIDA



Eu sempre gostei de comida de hospital. Todas as vezes que ficava internada (e foram muitas), nunca tive problema em comer o que mandavam. Daí no primeiro dia, meio atordoada, eu ainda comi um pouquinho. No segundo, quando chegou aquela bandeja térmica, eu ainda brinquei: Ai meu Deus, que não seja abóbora! Parece praga! Era abóbora! Até o cheiro me enjoava. Não deu para comer. Trouxeram comida de casa e daí em diante foi um desespero, dia sim e outro também era peito de frango grelhado. Eu não conseguia nem mais olhar para a comida. Ainda bem que o café da manhã era bom, tinha pão, e o lanche da tarde também! Mas eis que os remédios fizeram com que minha glicose chegasse a 300. Tinha dia que eu tomava insulina mais de 3 vezes. Daí o pão, minha única alegria, foi pro espaço. Trocaram por biscoito água e sal. Uma noite, eu estava tão desesperada de ficar sem comer que pedi à Gabi para ligar para a lanchonete e pedir um pão de queijo e um cappuccino diet, com bastante chantilly! (É claro que quando vieram medir a glicemia e deu 224 eu fiquei caladinha rs)

ATO Nº 4 – OS PROGNÓSTICOS


Logo no segundo dia eu entrei na internet e fui pesquisar sobre Mielite. Daí li um monte de coisa (algumas foram úteis, pois haviam acontecido comigo e eu relatei à Dra). Mas é incrível como as pessoas só conseguem se lembrar dos casos mal sucedidos. Era um tal de fulano morreu dessa doença, sicrano ficou mais de um ano sem andar, o outro, depois seis meses, só agora está andando, mas de muletas. Não aparecia ninguém para dizer que conhecia um que havia se curado. Então eu sempre falava: Eu vou ser a exceção!
Quando a Dra falou sobre a possibilidade de eu ter alta usando sonda e bolsa coletora, não respondi nada, minha comadre que estava comigo quis esganá-la por me dizer essas coisas, mas no meu íntimo eu sabia que eu ia superar!
Bem, não morri, não saí usando bolsa coletora, embora tenha usado sonda por uns dias. Mas hoje já não uso mais e já consigo andar! E sem muletas! As dores... um dia também vão embora!

ATO Nº 5 – A ALTA E O PARTO


Já tinha 15 dias que eu estava internada e a Dra falou que eu já poderia ter alta. Entrei em desespero! Chorava o dia inteiro pensando que eu ia morrer em casa, pois a glicemia ainda ia a quase 200 e diabetes é uma morte que não dá sinais, esse tempo todo eles controlaram o meu potássio, que esteve a níveis baixíssimos e potássio é o que se usa para eutanásia e em níveis baixos pode levar ao coma sem aviso prévio, meu intestino ainda só funcionava com fleet enema, a bexiga ainda tinha que passar sonda de 3 em 3 horas (inclusive de madrugada). Como ir embora? Daí Roberto, Beto e Gabi foram fundamentais em me dar a força que eu precisava, em me fazer ver que eu não estava sozinha, que se fosse preciso a gente contratava enfermeiras, etc. Passaram mais 2 dias. Aí eu fui me acalmando e me acostumando com a idéia. Tanto que resolvi acatar a orientação do fisioterapeuta e sair um pouquinho para andar no corredor. Estava eu andando para lá e para cá, observando as obras de arte, painéis, etc., daí me chega uma senhora e me pergunta:
- Já teve o bebê ou ainda vai ter?
Para não mandá-la para aquele lugar engoli em seco, dei as costas, voltei para o meu apartamento e pedi à Dra que me desse alta.

Obs.: A demora é porque tenho que escrever pouco a pouco.

21 comentários:

Crys disse...

Graças à Deus, vc está bem, e pra contar histórias...rs

Muito bom saber que o maior bem que temos, é a nossa saúde e que dela dependemos pra enfrentras o resto do mundo. Outros bens maiores, sem sombra de dúvida, são família e os amigos, e isso vc é ricamente agraciada.

Fico na torcida que vc se recupere logo totalmente e traga muitas boas novas, pra gente se deliciar na leitura.

Beijos e carinho!
Cuide-se!

Anônimo disse...

Kátia, fico muito feliz em saber que aqui você está bem.
Por aqui está tudo bem também, com muitas mudanças, mas as coisas estão entrando no eixos, finalmente.
Espero que você melhore por completo logo e brevemente não sinta mais dores, para poder publicar seu caso bem sucedido em todos os sites onde você só viu coisas negativas..
Grande Abraço!.

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Que belo relato, passei a entender coisas que nunca antes entendi. Estou feliz por você, e mais feliz por saber que nós mulheres somos fortes e corajosas.
Feliz Páscoa minha amiga.
beijos

Pelos caminhos da vida. disse...

Páscoa é tempo de Amor,
de família e de Paz…
É tempo de agradecermos
discretamente
por tudo que temos
e por tudo que teremos.

Páscoa é um sentimento
nos nossos corações
de esperança e fé e confiança.
É dia de milagres;
é dia dos nossos sonhos parecerem
estar mais perto,
tempo de retrospecção
por tudo que tem sido
e uma antecipação de tudo que será.
E é hora de lembrar
com amor e apreciação
as pessoas em nossas vidas
que fazem diferença…

Feliz Páscoa.

beijooo.

Vanuza Pantaleão disse...

Por mais paradoxal que seja, Katinha, achei uma delícia esse seu relato hospitalar que desmistifica muita coisa na cabecinha das pessoas que ainda vivem nos antigos padrões da medicina.
Mas estou aqui, me esborrachando de rir com essa da "gravidez". Mas, pensa bem, não seria tão mal assim: você nos gerar um bebezinho rosado em plena Páscoa. De repente, essa criança nasceu e você não viu. Eu a estou vendo sorrindo ao seu lado...é o Menino Jesus lhe devolvendo sua saúde, sua lucidez, seu bom-humor. Enfim, estás de volta!
Tudo de mal passou!!!
Só não exagere nos chocolates, risosss.
Estamos felizes!!!
Bjssssssssssssssssssssssssssssssss

Vanuza Pantaleão disse...

Sinceramente, eu sempre acreditei que sairias dessa airosamente...

E mais, conversei mesmo com Deus, falei sério com Ele, até O ameacei caso fizesse uma bobagem contigo.

Ai, ai, ai...quam sou eu???

Vanuza Pantaleão disse...

Quem sou eu?
Uma tola, óbvio!
Hahahahahahha
Beijos nos filhinhos e amigos que te acompanharam nessa via-crucis, afinal, todos temos a nossa.

Poeta Mauro Rocha disse...

Ola! Passei apenas para desejar uma Feliz Páscoa.E mais melhoras.

Sergio disse...

ola, Katia!

Vendo a sua melhora...tive que rir com esse seu ´´sempre gostei de comida de hospital´´..rs...tudo bem?..eu andei sumido...sem computador e muito trabalho...desde fevereio, do inicio de fevereiro que nao fico um fim de seman completo em casa...esse agora ficarei..e tentarei atualizar o meu blog que está às moscas.
Bem, melhoras pra vc...e felicidades na recuperação...esse seu bom humor ajudará e muito

um beijo carinhoso

Nadezhda disse...

Mas graças à Deus que está bem!

Feliz Páscoa ;)

Abilio Dias disse...

Que este nosso mundo virtual esta páscoa seja cada vez mais humano.
Páscoa é dizer sim ao amor e a vida. é investir na fraternidade, é lutar por um mundo melhor, é ser solidário.
Uma santa e feliz páscoa, abraço

Jânio Dias disse...

Olá, querdida Kátia!

Feliz por perceber sua recuperação.

Beijo!

Eduardo Miguel disse...

Olá Kátia fiquei passado ao ler os relatos, entendí então por que do sumisso!!! espero de coração que se recupere totalmente e que aproveite mais e tudo que for possível, tempos atráz passei um grande susto e por cirurgia foi no priodo de convalecência que criei o blog e aproveitei o repouso obrigatório para escrever e refletir, minha conclusão pessoal é que a vida é mesmo uma soma de paradoxos que encontra formas próprias em cada um de nós mas no geral estas situações de emergência e sustos servem muito bem para separar o joio do trigo, para unir em nosso entorno os que nos querem bem e principalmente para que possamos dar muito mais valor a vida e a situações simples nas quais antes nem nos imaginavamos pensar é ou não é? pois bem como já disse anteriormente espero que dê tudo certo e que possamos te-la por aqui fazendo parte de nossas vidas!
Kátia eu espero de coração que tudo se resolva rapidamente, boa semana se cuide e estaremos por aqui a acompanhar seus relatos de batalhas e vitórias, parabéns pela coragem e obstinação.

Pelos caminhos da vida. disse...

Kátia passei aqui pra deixar um gde abraço pra vc.
Força,Fé e Coragem amiga sei que vc tem.

Bom dia.

beijooo.

Lu BArcelos disse...

Minha exceção querida,
fico muito muito feliz que vc está melhor!
Puxa quer dizer então que a abóbora é amiga da goiabada???
=D
bjobjo

Jorge Elias Neto disse...

Primeira vez que tenho acesso à história clinica de um paciente através de BLog.
Espero que vc esteja bem.

Um abraço,

Jorge Elias

Jacinta Dantas disse...

Então, Kátia,
a luta é das boas, e você, guerreira, vai vencendo.
Daqui, fico imaginando como faz bem transcrever cada momento que foi vivido. Isso, também, ajuda a vencer as batalhas.
Beijo

Mauricio disse...

"Que venha" - Fã de carteirinha, fico muito feliz quando tem assunto novo por aqui. Ufa, que bom que cê chegou amiga. Mandou bem, consegui ler coisas de hospital rindo e adorando. Você é PORRETA, piquinininha mas com uma garra maior que muito valente por ai.
Te adoro.
Beijos
Mauricio

Paulo Vilmar disse...

Kátia!
Tenho certeza de tua melhora, pois só com bom humor, já temos metade do caminho andado! E, sinceramente, conseguistes me fazer dar umas boas gargalhadas...
Beijos!

Cristiana Fonseca disse...

Olá estava pesquisando na nete sobre Mielite e encontrei teu blog.
Veio como um presente pra mim, vc foi muito esclarecedora e muito corajosa e confiante. E é muito bom, saber que acabou tudo bem. Como vc mesmo disse em teu texto, como as notícias que chegam são ruins, exatamente como escreveu, gente que morreu , outros que não andaram.
Como foi bom ler o teu texto.
Parabéns pela recuperação.
E teu blog é divino.
Abraços,
Crisfonseca

Anônimo disse...

Kátia, só vc mesmo prá detalhar os fatos com tanta sabedoria!
Me vi em alguns trechos, pois estive internada (inclusive na UTI) em maio.
Mas aquela no final, se vc já teve o bebê, foi demais!!!! rsrsrsrs
Bjs