quinta-feira, 30 de julho de 2009

QUE VOCÊ NUNCA SE ESQUEÇA...



A gente passa a maior parte das nossas vidas correndo atrás das coisas que julgamos serem indispensáveis para que vivamos bem. Necessitamos de tanta coisa que a lista só vai aumentando. Se temos um apartamento de 60 m² precisamos de um de 100. Quando temos o de 100, já não é suficiente. Se moramos em apartamento só seremos felizes numa casa com quintal e cachorro; quando temos a casa, o quintal, o cachorro (e toda a sujeira que vem junto) queremos o apartamento. Se temos um carro comum, queremos automático. Se velho, queremos outro mais novo. E assim os dias, os anos vão passando e quando nos damos conta passamos quase toda nossa existência acumulando bens materiais.
E o que fizemos das pessoas que cruzaram nossos caminhos?
Quantas vezes deixamos que elas saiam de nossas vidas por pura falta de tempo, gastamos nosso tempo acumulando coisas, às vezes também pessoas, mas quanto tempo gastamos cultivando e cuidando daqueles que cruzaram nossos caminhos?
A maioria daqueles que me conhecem sabem que agradeço a Deus todos os dias pela graça de ter tantos amigos. Sou abençoada neste aspecto. Mas depois de tudo que me aconteceu eu fiquei imaginando o que teria acontecido com as pessoas que foram importantes na minha vida e que perdi.
Perdi para o tempo, para a distância, alguns pra a morte, para a correria dos anos que passei acumulando coisas.
Quando a “Dona Morte” cismou em querer me visitar, o máximo que fez foi me fazer perceber o quanto a gente deixa de dizer e fazer pelo outro, na suposição de que é desnecessário porque ele já sabe. E assim deixamos de dar aquele abraço de verdade, que abarca o físico e também a energia. Deixamos de dizer “eu te amo” ao amigo querido, aos nossos filhos, aos pais (quem ainda os tem)... o “eu te amo” fica, quase sempre, restrito ao amor físico e, quando muito, o dizemos aos nossos companheiros(as).
“Ela” também despertou em mim o desejo de saber o destino de algumas pessoas que passaram pela minha vida e que eu deixei que se fossem.
Assim, comecei a pesquisar na internet buscando uma pessoa a quem eu tenho um grande carinho, muito embora na última vez que nos vimos eu tivesse apenas 18 anos.
O tempo não conseguiu apagar todos os momentos que passamos juntos, o que crescemos juntos, o que aprontamos...
Ele foi um dos rapazes que fez a minha adolescência ser tão feliz.
Com ele dancei muitos bailes, ele me dava coragem para participar do roubo da “luz negra” – única da cidade - pertencente ao “padre bravo” para fazermos nossas boates no terraço da sua casa no período de férias, por ele eu viajava horas em estrada de chão, sacolejando naqueles ônibus de interior.
Com ele descobri amar longe e que distância é uma questão somente física (embora só viesse a ter consciência disso muito tempo depois).
Com ele eu vivi meu amor adolescente.
Brigávamos tanto que depois de umas três idas e vindas decidimos ser só amigos... e que amigos maravilhosos teríamos sido se a vida (ou o destino) não tivesse nos separado.
Hoje, depois de muita procura, eu o encontrei.
Falamo-nos ao telefone, rimos, brincamos, nos emocionamos... mas era pouco tempo para tanta vida separada.
Sei que muitas pessoas não compreendem como uma mulher casada sai procurando outro homem, ainda mais um ex-namorado. Ainda bem que meu marido tem a cabeça aberta e valoriza as amizades tanto quanto eu.
Por isso, meu querido amigo rencontrado, que você nunca se esqueça: Você é um capítulo muito bonito da minha história e que eu te amo.

PS1: Preservo a identidade do meu amigo porque ele (ainda) não sabe deste post.
PS2: Muito a contragosto estou tentando me adaptar às novas regras ortográficas (mas me recuso a escrever lingüiça sem trema).
PS3: Ele entende a foto... rs

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A MOÇA TRISTE QUE NÃO SE CHAMAVA CAROLINA

Sempre foi diferente.
Desde pequena havia nela algo que a diferenciava das outras crianças.
Talvez fosse o olhar. Diziam-lhe “Que olhos lindos, parecem esmeraldas” e como não sabia o que eram esmeraldas, ela pensava que deveria ser alguma coisa boa.
A mãe dizia que nasceu chorando e chorou por muitos meses, por isso a primeira foto, ainda com cara de choro, só foi tirada aos seis meses.
No mais era como as outras crianças, brincava, fazia traquinagens (quando aprontar se chamava assim) e seguia em frente.
Lembra que sempre se emocionava ao ouvir a Ave-Maria, tocada pontualmente às seis horas, no velho rádio. As pessoas não entendiam essa emoção, nem ela.
Era jovem demais.
Lembra-se de uma tragédia ocorrida por volta dos seus sete anos, quando um marido traído, para lavar a honra, matou a mulher a tiros. Sobraram os filhos que foram morar com uma tia, próximo à sua casa. Era manhã de Natal, todas as crianças na rua brincando com seus presentes e um dos meninos sem nada, ela na sua inocência pergunta-lhe o que ganhara de Papai Noel e o menino responde: Nada, criança sem mãe não ganha presente de Natal. Voltou para casa chorando, insistindo que a mãe comprasse algo para o menino. Não compreendia que a pobreza também rondava sua casa.
Era jovem demais.
O tempo foi passando e a moça se emocionava, às lágrimas, ao ver os filmes de amores impossíveis, ao ler romances, ao ver a desgraça alheia. Sentia-se diferente das amigas, mas não conseguia identificar onde estava essa diferença. Com os amigos cantava e dançava ao som dos Beatles e dos Rolling Stones; mas só, em casa, cantava sua tristeza ao som de Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa. A mãe perguntava onde tinha aprendido essas músicas, ela não sabia responder. Era como se as tivesse gravado na memória. Não compreendia o que lhe passava.
Talvez por ser jovem demais.
Começou a escrever diários, como toda adolescente do seu tempo e foi aí que descobriu que tinha facilidade para escrever as coisas tristes, mas faltavam-lhe palavras para narrar acontecimentos alegres.
Os olhos verde-esmeralda ganharam outras tonalidades, ora ficavam azuis, ora cinzas, só ela sabia identificar, pela cor dos olhos, o que lhe ia à alma.
Já não era tão jovem.
Já se sabia triste.
A vida correu rápida. Tentou encontrar alguma maneira para se livrar da tristeza, mas foi em vão.
Aprendeu a arte de iludir, embora nunca tenha estudado artes cênicas. Desenvolveu um riso alto e franco, gestos um tanto exagerados, escondeu bem escondido sua tristeza. Ninguém jamais desconfiaria o que crescia dentro dela.
O tempo passou. A alma envelheceu mais depressa que o corpo. Um dia, a moça morreu.
Todos diziam: Tão jovem!
Ninguém soube que ali estava uma alma velha demais.
Causa mortis: Tristeza demais.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

DESABAFO

Imagem Internet

Estou cheia de mim.
Não da vida, porque isso seria não dar valor ao maior bem que temos,
Nem da família, presença constante principalmente nestes momentos de inconstância.
Cheia de mim mesma.
Não dos amigos, presentes valiosos de Deus,
Tampouco do que tenho, material e imaterial, porque aprendi na miséria a valorizar a bonança.
Cheia mesmo da minha presença.
Cheia da mente correr e o corpo permanecer
Cheia de não poder programar o dia que vem
Cheia de passar a noite escrevendo na memória e não passar para o papel
Cheia de não lembrar o que escrevi na noite anterior
Cheia de ser essa pessoa, que não se parece comigo,
Tão estranha, fraca, frágil,
Cheia de sentir dor.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

PRIMEIRO AMOR

Minha mãe sempre dizia que depois de certo tempo de vida, quando os filhos dos amigos já casaram (na época em que se ainda casava) as pessoas só se encontravam em velórios. E ela tinha uma maneira toda especial de avaliar os velórios: se encontrava muitos amigos, se o falecido era pranteado como merecia, ela dizia que o velório estava “muito animado”. Com o tempo fui entendendo o que ela queria dizer com isso, embora ainda não saiba explicar bem. Não é falta de respeito, nem ausência de dor pela partida... é uma coisa diferente.
Mas isso é só para dizer que estava num velório de uma pessoa muito, muito querida, quando me deparei com meu primeiro e grande amor.
Não que não tivessem existido outros namorados antes dele... existiram, fui uma adolescente “namoradeira”... mas amor mesmo, “sem a qual a vida é nada, sem a qual se quer morrer”, ele foi o primeiro. Acreditava que seria o único, daí o luto e o trauma terem demorado tanto tempo.
Uma amiga “daqueles tempos” foi logo sussurrando ao meu ouvido: “E aí? As pernas ainda tremem?” com aquele sorriso maroto que só grandes amigas compreendem.
Isso me fez pensar sobre o que perdi e o que ganhei com esse amor.
Por muito tempo pensei que só houve perdas. Perdi a esperança, a fé no sexo oposto, a crença que nunca mais amaria outra vez um amor do tipo “os seus olhos têm que ser só dos meus olhos, os seus braços o meu ninho”.
Na adolescência vive-se tragicamente. Tudo toma proporções maiores que as devidas. Talvez por isso, por ele eu lutaria contra tudo e todos. Faria qualquer sacrifício. Seria até submissa.
Mas ele não quis. E terminou comigo.
Quis morrer. Chorei por muito, muito tempo. Os cabelos, que iam até as costas, foram cortados curtinhos, como forma de vingança. Só não joguei para Iemanjá porque na minha terra não tem mar, nem Iemanjá.
A partir daí passei a namorar só três meses.
Tempo exato para aproveitar o que de melhor tem um relacionamento e também exato para não me apaixonar.
O tempo passou. Conheci outras formas de amar. Menos trágicas. Outras mais intensas. Mas o mais importante é que descobri que não se ama só uma vez.
Porém, naquele dia, quando o vi novamente, depois de décadas, devo confessar: sim, as pernas tremeram! Enxerguei o príncipe pelo qual eu havia sido apaixonada (que pela avaliação da minha irmã só existiu na minha cabeça). Mas meus olhos haviam mudado. Talvez lavados pelas lágrimas que a vida me impôs consegui ver que não teria dado certo.
Mas dei-lhe um abraço apertado e em silêncio agradeci-lhe pelas emoções boas e ruins que me fez conhecer.
Agradeci por aquele primeiro amor cheio de planos, desejos reprimidos, descobertas, coração acelerado, pureza de alma...
É o primeiro amor... Único...
De tudo, o que mais sinto é a falta da pureza da alma que perdi, não sei onde, nem como, nem com quem... mas trago a certeza de que uma parte de mim ficou, lá atrás, junto com aquele primeiro amor e refaço o percurso dos versos:
“Você tem que me fazer um juramento, de só ter um pensamento, ser só minha até morrer”.
A parte de mim que ainda é sua, jura.