quarta-feira, 22 de julho de 2009

A MOÇA TRISTE QUE NÃO SE CHAMAVA CAROLINA

Sempre foi diferente.
Desde pequena havia nela algo que a diferenciava das outras crianças.
Talvez fosse o olhar. Diziam-lhe “Que olhos lindos, parecem esmeraldas” e como não sabia o que eram esmeraldas, ela pensava que deveria ser alguma coisa boa.
A mãe dizia que nasceu chorando e chorou por muitos meses, por isso a primeira foto, ainda com cara de choro, só foi tirada aos seis meses.
No mais era como as outras crianças, brincava, fazia traquinagens (quando aprontar se chamava assim) e seguia em frente.
Lembra que sempre se emocionava ao ouvir a Ave-Maria, tocada pontualmente às seis horas, no velho rádio. As pessoas não entendiam essa emoção, nem ela.
Era jovem demais.
Lembra-se de uma tragédia ocorrida por volta dos seus sete anos, quando um marido traído, para lavar a honra, matou a mulher a tiros. Sobraram os filhos que foram morar com uma tia, próximo à sua casa. Era manhã de Natal, todas as crianças na rua brincando com seus presentes e um dos meninos sem nada, ela na sua inocência pergunta-lhe o que ganhara de Papai Noel e o menino responde: Nada, criança sem mãe não ganha presente de Natal. Voltou para casa chorando, insistindo que a mãe comprasse algo para o menino. Não compreendia que a pobreza também rondava sua casa.
Era jovem demais.
O tempo foi passando e a moça se emocionava, às lágrimas, ao ver os filmes de amores impossíveis, ao ler romances, ao ver a desgraça alheia. Sentia-se diferente das amigas, mas não conseguia identificar onde estava essa diferença. Com os amigos cantava e dançava ao som dos Beatles e dos Rolling Stones; mas só, em casa, cantava sua tristeza ao som de Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa. A mãe perguntava onde tinha aprendido essas músicas, ela não sabia responder. Era como se as tivesse gravado na memória. Não compreendia o que lhe passava.
Talvez por ser jovem demais.
Começou a escrever diários, como toda adolescente do seu tempo e foi aí que descobriu que tinha facilidade para escrever as coisas tristes, mas faltavam-lhe palavras para narrar acontecimentos alegres.
Os olhos verde-esmeralda ganharam outras tonalidades, ora ficavam azuis, ora cinzas, só ela sabia identificar, pela cor dos olhos, o que lhe ia à alma.
Já não era tão jovem.
Já se sabia triste.
A vida correu rápida. Tentou encontrar alguma maneira para se livrar da tristeza, mas foi em vão.
Aprendeu a arte de iludir, embora nunca tenha estudado artes cênicas. Desenvolveu um riso alto e franco, gestos um tanto exagerados, escondeu bem escondido sua tristeza. Ninguém jamais desconfiaria o que crescia dentro dela.
O tempo passou. A alma envelheceu mais depressa que o corpo. Um dia, a moça morreu.
Todos diziam: Tão jovem!
Ninguém soube que ali estava uma alma velha demais.
Causa mortis: Tristeza demais.

6 comentários:

Sergio disse...

Ola, Katia!

Morre-se de trsiteza mesmo tendo a felicidade na alma.
Bom te ver melhor

Um beijo

Vanuza Pantaleão disse...

Acho que todos já nascemos tristes. A moça, pelo menos, já o sabia...meditando aqui sobre a profundidade do seu texto.
Bom dia, Kátia!!!Bjsss

Cecília disse...

Poxa Katia, muito profundo seu texto, me fez pensar...

Beijosssss

Unknown disse...

Katia,
Tentei te avisar, porem fiquei tão tonta com a noticia de MZzzzzz que
até esqueci desse espaço aqui...
bjos Licia

Unknown disse...

Linda sua foto com o Fernando...

um grande homem, uma pessoa especial..

ele esteve muito presente em minha vida, em várias ocasiões... viajamos juntos, fotografamos juntos, o ajudei a comprar e escolher equipamento...

suas palavras no seu e no meu fotolog são lindas

pena eu ter sido o mensageiro da notícia ruim no fotolog...

prazer em conhecê-la

apareça sempre

Ana Lúcia. disse...

Katinha!
Não é um texto jogado ao acaso, mas um texto que combina com o resumo de hoje:
Primeiro, quero pedir desculpa por não ter conseguido "tempo" e ter ido abraçá-la. Este pedido já é quase "antigo", só não o fiz mais cedo, porque logo depois que você foi embora, infelizmente, e inesperadamente, perdi meu pai!
E esse processo de perda total é uma tristeza atemporal... Dura, dói, fica, iniste, judia, maltrata, até "irrita"...
Mas, é a vida!!
Enfim, junto com o pedido de desculpa, deixo a lamentavel justificativa e pra resumir tudo: fica um beijãozinho com carinho e um abração apertadinho tão importante!!!!
Aos poucos vou voltando, prometo e já estou te esperando!!