quinta-feira, 22 de outubro de 2009

PASSO E COMPASSO

Dia desses estava pensando nos rumos (ou a falta deles) que a minha vida tomou neste ano. Foram tantas surpresas: doenças-surpresas, diagnósticos-surpresas, falta de diagnósticos ainda mais surpreendentes e por aí vai...
A única coisa que não foi surpreendente foi a qualidade e quantidade de amigos sinceros que tenho espalhados pelo mundo, perto e distantes, conhecidos e ainda por conhecer, mas amigos da melhor estirpe!
Agora, que estou, mais uma vez, prestes a encontrar um novo e desconhecido (para mim) diagnóstico, que provavelmente me levará outra vez para o hospital, lembrei-me de um poema que escrevi há muito tempo, décadas...
Acho que chegou a hora de aceitar esse novo passo, redescobrir um compasso, tentar ser feliz.

(Imagem ilustrativa retirada da internet - infelizmente não tenho fotos da "nossa" banda)

Acelere o passo,
Diminua o compasso.
Vestidos de laranja, azul-turquesa e dourado
Galões refletindo sob o sol
Éramos mais que uma banda marcial.
Éramos jovens, unidos, destemidos,
Tendo sonhos por ideal.
Acerte o passo,
Atenção ao compasso.
Juntos enfrentávamos qualquer desafio.
Obstáculos? Vencíamos todos.
Nada nos detinha.
Éramos felizes porque éramos jovens
Ou éramos jovens porque éramos felizes?
Diminuía o passo,
Acelere o compasso.
O tempo passou...
Seguimos por caminhos diferentes
E hoje, faria qualquer sacrifício
Para de novo me vestir
De laranja, turquesa e galões,
E, assim, superar os obstáculos,
Vencer os desafios,
Digladiar contra os meus dragões.
Mas, quando face a face, me olho no espelho,
Só vejo vazio, cansaço, solidão.
Nem sombra da jovem destemida que fui.
Aonde foram parar meus sonhos?
Estarão adormecidos
Ou morreram com a minha juventude?
Abaixo os olhos, envergonhada de mim mesma
Por ter-me dado por vencida,
Pelos sonhos que não persegui.
Quando estou prestes a virar-me e,
Mais uma vez desistir,
Ouço uma voz ao longe:
Redescubra seu passo,
Invente um novo compasso,
Ainda é tempo de ser feliz!

(Autora: Kátia Corrêa De Carli)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

MIGUEL MARVILLA - OS MORTOS SAÍRAM DO LIVING PARA RECEBÊ-LO

Conhecemo-nos há muitos, muitos anos. Na verdade, décadas.
Não éramos muito próximos, mas trabalhávamos na mesma Gerência de Recursos Humanos da Caixa Econômica Federal. Todos os dias a gente se via pelos corredores, se falava, mas nunca dizíamos de nossas vidas e sonhos.
Até que um dia, lembro-me como se fosse hoje, ele colocou a cabeça pela fresta da porta e me disse que queria “ressuscitar” o antigo jornal patronal “O ELO”. Resolvi embarcar no seu sonho. Conversei com o gerente, já que era sua secretária, e o convenci a não só embarcar naquela história, como também patrociná-la.
Daí em diante nos aproximamos mais.
Não sei de onde ele tirou a ideia de que eu escrevia, mas já no segundo número estava eu a escrever crônicas para o jornal... e assim foi até a morte d’O ELO, anos depois.
Foi por essa época que ele conseguiu, a muito custo, lançar seu primeiro livro: “Os Mortos estão no Living”, esta primeira edição, que guardo com o maior carinho, não tinha muita elaboração gráfica, era vendida porta a porta pelo escritor, com a ajuda de familiares e amigos
Falo de Miguel Marvilla, economiário aposentado (como eu), mas que a grande maioria conhecia pelo seu talento como escritor, poeta, mestre em História Antiga, editor e mais uma porção de coisas ligadas às letras, ao prazer de escrever, de ajudar novos escritores.
Talvez se Miguel não tivesse me dado o primeiro empurrão eu não teria me tornado poeta, nem escritora. Talvez esse blog nem existisse.
Na última vez que nos vimos, no lançamento do livro “Todo Sentimento”, da Ana Laura Nahas, perguntei-lhe sobre seus planos e eram tantos...
Mas o Grande Arquiteto do Universo não quis que ele os realizasse aqui...
E Miguel, na madrugada do dia 10, partiu para escrever em outra dimensão.
Com certeza vai se juntar ao Miguel Deps Tallon, Carlinhos de Oliveira, Carmélia, Fernando Tatagiba e tantos outros capixabas amantes da boa escrita em verso e prosa.
Miguel agora é História e saudade

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

TENTATIVA

Dom Quixote feito de sucata - SP - Jun/2009

Os últimos tempos têm sido doídos, sofridos, difíceis. Mas ninguém mais merece ficar ouvindo essa ladainha... daí meu afastamento, voluntário, mas saudoso.
Sinto saudade de todos vocês, nem imaginam quanto!
Mas tive que enfrentar notícias nada alvissareiras (que palavra mais antiga, argh!).
A gente pressente, mas quando o pressentimento é verbalizado, fica difícil encarar.
Passei muito tempo acreditando que a manhã seguinte seria sem dor, que toda causa de doença mais cedo ou mais tarde é descoberta, que um dia eu teria minha vida de volta.
Só que, da noite pro dia, melhor dizendo, do dia pra noite, tudo virou uma grande ilusão.
Nem a dor se vai, nem o que eu chamava de vida voltará.
Então, chorei até as lágrimas que achava que não mais tinha (como diz minha irmã: Você tem todo o direito de chorar o quanto quiser, só tome bastante água para não desidratar. Um dia vai passar.)
Enquanto não passa, sigo chorando às vezes, revendo trajetórias, sonhos, percursos.
Tentando andar neste novo ritmo.
Tentando aprender que esse novo ritmo é meu.
Tentando conhecer essa pessoa que me devolve o olhar assustado no espelho do banheiro.
Tentando...