terça-feira, 28 de setembro de 2010

ÀS SEIS DA TARDE

Às Seis da Tarde

às seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
não choravam por isto
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom
e do melhor.
Choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.
agora às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução.

Autora: Marina Colasanti

Marina Colasanti nasceu em Asmara (Etiópia) em 1937, chegou ao Brasil em 1948 e sua família se radicou no Rio de Janeiro. Entre 1952 e 1956 estudou pintura com Catarina Baratelle; em 1958 já participava de vários salões de artes plásticas, como o III Salão de Arte Moderna. Nos anos seguintes, atuou como colaboradora de periódicos, apresentadora de televisão e roteirista. Em 1968, foi lançado seu primeiro livro, Eu Sozinha; de lá para cá, publicaria mais de 30 obras, entre literatura infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho seu Capricho, saiu em 1992. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai Você?. Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia (1992). Nelas, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade.


domingo, 26 de setembro de 2010

EU SÓ QUERIA DORMIR...



É tudo que eu quero,
Uma boa noite de sono, não precisa ser tranquilo, nem ter sonhos,
Não exijo qualidade, só quantidade!
Umas 4 horas, ininterruptas, já está de bom tamanho.
Eu fico navegando e as aplicativos perguntando:
"O que você está pensando?"
Eu já nem penso. só quero dormir.
Já experimentei rivotril, dalmadorm, dormonid,
Chá de alecrim, manjericão, alface, ervas sem fim,
Nada faz efeito
O sono fugiu de mim.
Acho que não tem mesmo jeito
Evelhescência é coisa danada
Mexe com o corpo da gente
Os hormônios entram em greve
Os neurônios danam a morrer,
É dor pra todo lado.
E eu passo a noite que nem hamburguer em chapa
Ora viro para um lado
Ora para o outro e nunca chega ao ponto.
Já decorei todos os cd's de relaxamento,
Já fiz todas as simpatias,
Olho pro lado, meu marido dorme,
Vou à varanda, a cidade dorme,
Por que comigo não é assim?
As horas passam,
O dia já começou a clarear
Os passarinhos a cantar
E o danado do Morfeu,
Onde foi parar???
Se o pego, mato aos pouquinhos
Mas por enquanto, queridos amigos,
façam uma "vaquinha" e deem-me dos seus sonos
Só um cadinho!!!!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

PELO CAMINHO


Amigos do Caminho

Caminhando pela estrada das estrelas
Palmilhando o norte da Espanha,
Nunca pensei pudesse crescer tanto
Junto àquela gente, a princípio, estranha.
Foi no caminho que aprendi
O significado da amizade verdadeira,
Que ultrapassa credo, cor, posição social,
Que quebra toda barreira.
Quando as dificuldades da língua
Tornavam impossível a compreensão
Aprendi a falar e escutar
Somente com o coração.
Aprendi o real significado
De palavras como tolerância e paciência,
Que às vezes temos que rever conceitos,
Que não podemos nos deixar levar pela aparência.
O caminho nivela a todos
Consegue a todos igualar
Pois ficamos reduzidos
Ao que suportamos carregar.
Tanta amizade sincera
Fiz por estas paragens,
Um sentimento tão profundo
Que não se vê em conhecidos de viagens.
Amigos que se foram,
Outros que deixei para trás,
Alguns que ainda seguem comigo
Outros que sei, não verei nunca mais.
E agora, meus companheiros queridos,
Que o caminho chega ao fim
Sobrou este vazio imenso,
A alma em chamas, esta dor em mim,
Este não saber o que fazer,
Pois a cada passo que dou
Se me aproxima de Deus,
Mais me afasta de vocês.


Arca - Espanha



terça-feira, 7 de setembro de 2010

SOBRE O TEMPO & AUSÊNCIA & SAUDADE


Faz tempo que não apareço, eu sei... vocês não merecem tanta ausência, mas nem sempre as coisas são como gostaríamos, mesmo assim seguimos em frente, aos trancos e barrancos, mas sempre em frente...
Quanto eu falei que ia terminar a Saga do Caminho de Santiago me deu uma angústia igual à que senti na Espanha e que aumentava a cada passo que dava para o destino final.
Como vivemos em sintonia com aqueles que amamos, logo recebi um e-mail do Mauricio pedindo que eu fosse bem devagarzinho, que ele não estava preparado, ainda, para terminar pela segunda vez nossa caminhada.
Com isso fui adiando, a dor aumentando, a angústia a apertar-me o peito, a saudade como poço que a cada dia fica mais fundo.
Daí apareceram compromissos inadiáveis, problemas recorrentes e eu, todos os dias, dizia a mim mesma: Hoje escrevo!
Mas esse hoje nunca chegava. Estava a boicotar-me, inconscientemente.
Comecei a pensar sobre a relatividade do tempo, das amizades, da ausência. Buscava encontrar algo que preenchesse um pouquinho essa saudade de gente que não conheço, de gente que partiu, para outro mundo ou esse mesmo mundo, de amores e amigos que perdi ou me perderam. Gente que não vejo, que não abraço, que não conforto nem me conforta. Gente que eu queria pertinho de mim. Gente assim como o Mauricio, a Vanuza, a Kátia, a Jussara e tantas outras que amo e não vejo, ou ainda não vi frente a frente.
Às vezes fecho os olhos e tento traçar, no espaço, as linhas desses rostos amados e não consigo. É triste.
Daí, como não existe coincidência, meu analista sugeriu-me ler Memórias de um Viajante do Tempo, de Patrick Drouot. Lá encontrei uma passagem em que ele diz:
- “O temps, suspends ton vol” (Tempo: suspende o vôo), implorava Lamartine. Mas o grito do poeta é impotente para deter o curso dos segundos, das horas, dos dias que passam. O tempo, pelo menos do modo como o concebeu o homem moderno desde o Renascimento, é principalmente “fuga”. Em nosso cotidiano, ele possui uma dimensão única, além de ser unidirecional em seu escoamento. Irreversível, empurra-nos inexoravelmente do passado para o futuro sem a possibilidade de voltar atrás.”
Isso veio exatamente quando tudo o que mais desejava era voltar no tempo...
Embora creia que carregamos todos os afetos, amores, amizades de todas as nossas vidas num compartimento secreto e oculto para nosso próprio bem... que nunca estamos sós... que tudo é relativo...mas como seguir em frente sem vocês?
Embora creia piamente na imortalidade da alma, como viver com esse anseio pela presença das almas que sei que amo de outras vidas?
Poderia listar as coisas que me fizeram ausentar-me tanto tempo... mas que importam coisas corriqueiras diante de tamanha solidão?
Por isso meus queridos, ficamos assim: minha ausência deveu-se da minha luta para deter o tempo e trazer para perto de mim aqueles que amo e que estão longe...
Só a presença no meu coração, neste momento, não basta...
Mas eu volto, sempre volto!
Alguém tem aí um tarja preta?
Beijos!