sábado, 13 de agosto de 2011

LINHAGEM OU PAIS, TANTO FAZ

Meu pai - Manoel
Meus avôs - João e Adão
(Ao som de Tristesse - Chopin)

Pais!

Tem gente que tem árvore genealógica que remonta "priscas eras" (sempre quis usar esse termo aqui! rs).

Tem gente que não conhece o próprio pai.

Eu não me incluo em nenhum dos dois grupos. Conheci meu pai e meus avôs. É sobre eles que quero falar hoje.

Vovô Adão - Descendente de italianos do norte, povo curtido pela lida na roça, nascido já no Brasil, um homem à frente do seu tempo. Sem cultura, era formado pela escola do caráter. Nasceu, viveu e morreu na roça. Não podia visitar os filhos e netos por mais de um dia porque tinha que cuidar da "criação" (meia dúzia de galinhas, um cavalo e se não me falta à memória algumas poucas cabeças de gado). Quando minha mãe era jovem, anos 1940, ela trabalhava na roça seis meses, juntava dinheiro e vinha para a Capital, onde uma tia possuía uma pensão e aproveitava os outros seis meses. Dá pra imaginar uma mulher sozinha fazendo isso naquela época? Meu avô era porreta! Nunca foi dado a demonstrações de afeto, mas, ao morrer, deixou-me uma gravura de Adão e Eva (Adamo ed Eva escrito em dourado no rodapé) pela qual fui apaixonada toda a infância. Exemplo de retidão criou não sei quantos filhos de outras pessoas, viúvo no auge da virilidade veio a ter outra companheira, que nunca assumiu perante a família, mas a quem deixou amparada quando da sua partida.

Homem justo... eu poderia ter puxado a ele!

Vovô João – Descendente de negros (a quem puxei o nariz “delicado”), índios e todo tipo de gente que por essas bandas aportou. Não se conhece sua história porque era difícil separar o que era verdade do que era mentira das coisas que contava. Maratimba (pelo dicionário significa indivíduo que vive na roça, de pouca instrução e traquejo social; matuto, roceiro, caipira – para nós, capixabas, significa nativo de beira-mar que vive basicamente da pesca). Marinheiro de profissão (como dizia), cozinheiro de navio (suposta verdade). Vivia mundo afora e a cada dois anos aparecia, fazia filho e sumia. Fanfarrão, bom (até demais) de um copo, brigão. Nunca se preocupou com o sustento de esposa e filhos. Na velhice foi viver na nossa casa. Passava o dia sentado num banco na calçada do vizinho. Nunca foi dado ao trabalho pesado (nem leve). Depois de mais de uma década começou a levantar, cada dia, mais tarde. Até que não levantou mais. Se não tivesse tido uma queda no hospital, poderia dizer que morreu de preguiça.

Mais imperfeito, impossível!rs... eu poderia ter puxado a ele.

Meu pai Manoel – Tudo que foi meu avô João ele foi o avesso. Começou a trabalhar ainda criança para ajudar no sustento da família. Como buscava meu avô nas portas de bar, nunca provou bebida alcoólica. Dedicou sua vida à família. Nós éramos sua vida. Trabalhava em três períodos para que pudéssemos ter o mínimo indispensável. Não era perfeito. Não era carinhoso (nunca aprendeu), mas nos deu mais amor que todo o amor do mundo. Jogava sinuca muito bem, apostado. Precisava do dinheiro. Quando melhorou um pouquinho de vida, nunca mais jogou. Emotivo, não se envergonhava de chorar quando emocionado ou decepcionado com as coisas que nós, as filhas, fazíamos. Mas, como diz o Pequeno Príncipe “Eu era jovem demais para saber amar”. Ensinou-nos sobre dignidade, caráter, bondade, caridade, amor ao próximo, honestidade. Foi o melhor pai que alguém poderia desejar.

Homem bom, no mais estrito significado que essa palavra possa ter. Unanimidade... eu poderia ter puxado a ele.

Esses foram os três exemplos de pai que tive (porque do meu esposo como pai só nossos filhos podem falar).

Acho que por isso sou essa mistura que acabou dando certo. Justa, meio preguiçosa, às vezes boa, outras má...

Os pais que passam na nossa vida acabam, de uma forma ou outra, nos forjando.

Pensem nisso, Pais!

E Feliz Dia!