domingo, 6 de novembro de 2011

FALTAM ALGUMAS PÉTALAS


Li, em algum lugar, que Deus é extremamente piedoso para com as mulheres, pois, à medida que vai nos dando rugas, pés-de-galinha, vai tirando, aos pouquinhos, a visão... acho que é verdade uma vez que já sinto dificuldade em enxergar a sobrancelha por fazer, algum “cravinho” mais escuro ou mesmo as rugas, inevitáveis na minha idade. (poderiam ser descartadas com um bom bisturi, mas evitadas, nunca!)
Só que nenhuma leitura, nenhuma advertência, nem mesmo Ele, preparou-me para a perda da memória.
Pode ser efeito colateral dos medicamentos, da doença, pode (ou não) ser recuperável, mas é difícil conviver com essa situação.
Sempre tive uma memória privilegiada. Nunca precisei de agenda telefônica, trazia todos os números na minha agenda “memorística” e ela não me faltava. Lembrava-me de fatos ocorridos na mais tenra idade, com exatidão de detalhes, cores e odores.
Conhecia de cor todas as normas e regras que regiam nossas tarefas no serviço. Sabia onde estava arquivado cada documento, a ponto de, mais de ano depois de aposentada, ainda me telefonarem para perguntar sobre determinado assunto: e eu lembrava!
Comecei a perceber que as coisas não iam muito bem quando fui telefonar para uma das minhas melhores amigas (o mesmo número há mais de 20 anos) e liguei, diversas vezes, para o número errado.
Alguma coisa realmente estava fora do lugar.
Muita coisa se perdeu nos labirintos dos neurônios mortos.
Quero me lembrar de nomes e não consigo. De pessoas com as quais convivi, e é inútil. De situações e elas simplesmente desapareceram.
É triste constatar que perdi parte da minha história.
Há algum tempo, um amigo querido me escreveu e narrou um fato acontecido conosco e eu não consigo recuperar esse fato. Não sei em que curva do caminho do esquecimento ele ficou.
Sei que perdi muita coisa... só não sei onde procurar!
Sinto-me meio morta sem as minhas memórias. Onde antes havia uma colcha de retalhos, muito bem costurada, de gente, amores, lembranças, sentimentos, gostos, cheiros e sabores, agora existem buracos negros. Profundos. Minha alma não é mais inteira.
Faltam-me pedaços de mim. Como uma flor de quem foram tirando as pétalas.
É claro que muita coisa ainda carrego comigo: o primeiro beijo (argh!!!), os passeios com o meu primeiro e grande amor, as brincadeiras da infância... mas muitos desses acontecimentos estão povoados de fantasmas.
Diz a Gabi (minha filha) que agora eu fiquei normal... não concordo, mas é mais confortável aceitar.
Só queria mesmo era lembrar o sabor da água de um mar, numa manhã de sol, com o meu amado... esse, o sabor, acho que perdi para sempre, o amor, porém, esse vai comigo para a eternidade.

(imagem retirada da internet, sem indicação de autoria)



3 comentários:

Gabi De Carli disse...

Você devia ficar feliz por ter tido uma memória privilegiada por tanto tempo! Eu nunca tive e nem terei uma agenda telefônica na cabeça!
Bem vinda ao mundo normal - nem é tão ruim assim, vai... a gente ri da mesma piada mais de uma vez! rs
Beijo!!

Mauricio disse...

Boa Gabi.
Ooo Tia !!! Mesmo com o piano que caiu em cima de você ainda falta muito pra chegar no normal, tá.
Beijo do . . . do . . . do . . ., vichê como é que é ?!?!
Se me esqueci, eu ja havia imprevisto isso.

Vanuza Pantaleão disse...

Puxa, amiga! Assim também já é exagero! Concordo com a Gabi. E se só restou O AMOR, então tá bom demais![risos]
Menina, eu também ando esquecendo até de tomar os remedinhos pra memória, hahahaha. Num esquenta...num esquenta...
Mas só não se esqueça da nossa "velha" Amizade, tá???
Te adorooooo!!!!