sábado, 17 de dezembro de 2011

MARIA ZULEIKA HADDAD FAFÁ

DONA ZULEIKA



Existem pessoas que nascem para brilhar.
Algumas ficam famosas e todos reconhecem.
Outras aproveitam sua luz para brilhar as vidas dos outros.
Tive o privilégio de conhecer uma pessoa assim: Maria Zuleika Haddad Fafá ou apenas Dona Zuleika.
Quando tento defini-la, só me vem um termo: Lady.
Dona Zuleika, sem perceber ou mesmo sem querer, mudou a vida de muita gente. Inclusive a minha.
Foi minha professora de história e despertou na criança pobre o sonho de correr mundo. Com certeza ela ficou orgulhosa das minhas peripécias mundo afora.
Depois se tornou diretora no antigo Ginásio Estadual Afonso Cláudio.
À época a minha turma era a mais encapetada da face da terra. Aprontávamos todas. Uma vez resolvemos que não iríamos cantar o Hino Nacional, então ficamos só mexendo os lábios, fingindo cantar. Ela não deixou por menos, com a maior educação chamou um a um para o “elevado” onde ficavam os professores e as bandeiras e diante de todos os alunos fez um pequeno discurso sobre o uso da voz, sobre respeito, patriotismo e convidou-nos a cantar o hino na frente de todos (como se diz hoje, maior mico).
Quando mandada para a “Diretoria” (terror para qualquer um, claro!) o que eu mais sentia era vontade de sumir do mapa. Dona Zuleika usava de toda sua cultura e sabedoria para fazer-me ver que a mais prejudicada era eu mesma, sem nunca, nunca mesmo, elevar o tom de voz ou desferir algum impropério.
Teve uma ocasião que resolvemos fugir. Matar aula. Bater perna. Subimos um baita morro atrás do Ginásio, passando por entre laranjeiras, mato, capim e descemos a ladeira todas serelepes... quando chegamos à cabeça da ponte (ligação com a cidade, ponte de madeira, linda... a enchente levou...) quem vinha do outro lado? A própria! Ela só nos olhou com aquele olhar cor de céu ou de mar, e sem fazer uma só pergunta nos indicou o caminho de volta... Precisava mais? Quanta vergonha... (nada que nos impedisse de, dias depois, aprontar mais alguma).
Agradeço a Deus de ter tido a oportunidade de, depois de adulta, estar com ela várias vezes e agradecer pela grande parcela que ela tinha na construção da pessoa que sou. De dizer o quanto a amava...
Dia 29 de novembro ela partiu... foi encontrar-se com os espíritos elevados que, com certeza, são como ela.
Deixou-nos lembranças lindas e uma saudade imensa.
Deixou também a certeza de que um dia, quando eu finalmente crescer, gostaria de ser igualzinho a ela.

3 comentários:

Vanuza Pantaleão disse...

Volto aqui ainda para visitar dona Zuleika. Agora, o dever (doméstico) me chama, ai de mim!
Beijos, querida!!!

Vanuza Pantaleão disse...

As professoras sempre nos deixam marcas e exemplos. Tive também a sorte de ter Dona Helena, a mestra de Artes, que despertou em mim o gosto pelas cores e a estética, isso na minha mais tenra idade.
Que beleza de homenagem!

Gesy Tápias Dabrowska disse...

Kátia, que delicadeza a sua. Que palavras lindas e sábias dedicadas a uma pessoa que também foi linda, sábia e sensível: minha tia Zuleika. Ela gostava de me ouvir falar das viagens que fazia e de outras que, talvez um dia, eu fizesse para completar um sonho de infância: através de todo o interior da França. Também foi minha professora no Ginásio e era dos meus Mestres preferido, claro. Parabéns, Kátia, pelo seu Poema e pelo nosso Idioma tão bem trabalhado...