Ela saiu cedo da casa paterna, aos 17 anos, contra a vontade
do pai que achava que filha de pobre tinha que estudar para ser professora –
profissão que ela amava, mas que não queria para si – casar-se com um rapaz na mesma
cidadezinha do interior e criar seus filhos, tementes a Deus e corteses para
com os mais velhos.
Mas a menina, que se julgava mulher, queria mais da vida.
Queria realizar sonhos que para o pai eram impossíveis.
Queria ganhar muito dinheiro, com trabalho honesto (ilusão!),
queria ter seu próprio apartamento, quem sabe comprar o carro que o pai nunca
teve... mas, sobretudo, queria viajar, conhecer o mundo, ir além da Capital.
O pai, na sua sabedoria de homem vivido e sofrido, dizia:
Não sonha tão alto, a decepção pode ser maior. Mas a menina respondia, do alto
de sua arrogância de julgar saber tudo da vida, que com ela não, ela venceria e
ainda traria muito orgulho para ele.
Passou por muitas dificuldades, fome até; do cofre da irmã
conseguia que escorregassem, através de uma faca de mesa, as moedas necessárias
para o transporte do dia (a necessidade faz com se criem mecanismos que até
Deus duvidaria).
Orgulhosa, não sabia pedir nada... nem dinheiro, nem ajuda,
nem consolo.
Assim foi, e quando a luz da saudade insistia em iluminar
seu coração ela logo tratava de apagá-la, pois não podia regressar, tinha uma
meta: Vencer!
O tempo foi passando e a menina finalmente virou mulher.
Através da dor, do sofrimento, mas, sobretudo, através das
alegrias, das conquistas, das amizades verdadeiras.
Dor é coisa passageira, aprendeu. Chora-se um pouco, ou
muito, mas o tempo cura. Felicidade não, felicidade não passa, deixa um gosto
saboroso de eterno presente, toda vez que vem à mente.
Parida e parideira a mulher se transformou.
Para melhor.
Conquistou os bens materiais, viajou, rodou o mundo,
venceu...
Aprendeu a dar, mas mais importante, aprendeu a pedir.
Sentada no gramado do Epcot Center, chorou ao lembrar-se do
pai.
Mas o pai não estava mais aqui para ver.
Daí, sua vitória ficou incompleta.