quarta-feira, 26 de março de 2014

SOLITUDE, SOLIDÃO



Hoje acordei com desejo de solitude.
Não ouvir o barulho da obra em frente,
Não ouvir o rádio tocando música brega,
Nem o sujeito gritando “olha o gás”.
Não quero os sons produzidos pelo homo sapiens
Nem pelos seres do mundo animal.
Não quero palavra sussurrada,
Nem canto de pássaro,
Nem a mais linda balada.
Hoje queria ausência de mim,
Como se pudesse abandonar meu corpo na cama
E ir para um lugar qualquer, em outra dimensão
Um lugar onde não houvesse espaço
Para pensamento, saudade, cansaço.
E de lá observá-lo quieto, mudo, imóvel,
Como acho que devem ser os corpos mortos,
Sem dor...
Hoje queria mesmo era solidão.


(Kátia Corrêa De Carli)

sábado, 8 de março de 2014

PORQUE TODO DIA É DIA DA MULHER



MÃE – MULHER

As pessoas, invariavelmente, colocam as mães
Numa redoma, num pedestal,
Acima do bem e do mal.
Esquecem que sob o manto da santa
Bate o coração de mulher
Cheio de desejo,
Com sede de beijo,
Fome de amor.
A mulher se torna prisioneira
Das aparências, dos preconceitos, das convenções.
Quando ousa se libertar
Das amarras, dos grilhões,
É taxada de louca, insana, demente;
A sociedade a olha
Com os olhos de acusação,
A pergunta velada:
Como pôde?
Eu a invejo, mulher corajosa,
Banida, proscrita, desterrada.
Saciada.

Autoria: Kátia Corrêa De Carli

sábado, 1 de março de 2014

DE PASSADO E PRESENTE


Ela saiu cedo da casa paterna, aos 17 anos, contra a vontade do pai que achava que filha de pobre tinha que estudar para ser professora – profissão que ela amava, mas que não queria para si – casar-se com um rapaz na mesma cidadezinha do interior e criar seus filhos, tementes a Deus e corteses para com os mais velhos.
Mas a menina, que se julgava mulher, queria mais da vida.
Queria realizar sonhos que para o pai eram impossíveis.
Queria ganhar muito dinheiro, com trabalho honesto (ilusão!), queria ter seu próprio apartamento, quem sabe comprar o carro que o pai nunca teve... mas, sobretudo, queria viajar, conhecer o mundo, ir além da Capital.
O pai, na sua sabedoria de homem vivido e sofrido, dizia: Não sonha tão alto, a decepção pode ser maior. Mas a menina respondia, do alto de sua arrogância de julgar saber tudo da vida, que com ela não, ela venceria e ainda traria muito orgulho para ele.
Passou por muitas dificuldades, fome até; do cofre da irmã conseguia que escorregassem, através de uma faca de mesa, as moedas necessárias para o transporte do dia (a necessidade faz com se criem mecanismos que até Deus duvidaria).
Orgulhosa, não sabia pedir nada... nem dinheiro, nem ajuda, nem consolo.
Assim foi, e quando a luz da saudade insistia em iluminar seu coração ela logo tratava de apagá-la, pois não podia regressar, tinha uma meta: Vencer!
O tempo foi passando e a menina finalmente virou mulher.
Através da dor, do sofrimento, mas, sobretudo, através das alegrias, das conquistas, das amizades verdadeiras.
Dor é coisa passageira, aprendeu. Chora-se um pouco, ou muito, mas o tempo cura. Felicidade não, felicidade não passa, deixa um gosto saboroso de eterno presente, toda vez que vem à mente.
Parida e parideira a mulher se transformou.
Para melhor.
Conquistou os bens materiais, viajou, rodou o mundo, venceu...
Aprendeu a dar, mas mais importante, aprendeu a pedir.
Sentada no gramado do Epcot Center, chorou ao lembrar-se do pai.
Mas o pai não estava mais aqui para ver.

Daí, sua vitória ficou incompleta.