sábado, 1 de março de 2014

DE PASSADO E PRESENTE


Ela saiu cedo da casa paterna, aos 17 anos, contra a vontade do pai que achava que filha de pobre tinha que estudar para ser professora – profissão que ela amava, mas que não queria para si – casar-se com um rapaz na mesma cidadezinha do interior e criar seus filhos, tementes a Deus e corteses para com os mais velhos.
Mas a menina, que se julgava mulher, queria mais da vida.
Queria realizar sonhos que para o pai eram impossíveis.
Queria ganhar muito dinheiro, com trabalho honesto (ilusão!), queria ter seu próprio apartamento, quem sabe comprar o carro que o pai nunca teve... mas, sobretudo, queria viajar, conhecer o mundo, ir além da Capital.
O pai, na sua sabedoria de homem vivido e sofrido, dizia: Não sonha tão alto, a decepção pode ser maior. Mas a menina respondia, do alto de sua arrogância de julgar saber tudo da vida, que com ela não, ela venceria e ainda traria muito orgulho para ele.
Passou por muitas dificuldades, fome até; do cofre da irmã conseguia que escorregassem, através de uma faca de mesa, as moedas necessárias para o transporte do dia (a necessidade faz com se criem mecanismos que até Deus duvidaria).
Orgulhosa, não sabia pedir nada... nem dinheiro, nem ajuda, nem consolo.
Assim foi, e quando a luz da saudade insistia em iluminar seu coração ela logo tratava de apagá-la, pois não podia regressar, tinha uma meta: Vencer!
O tempo foi passando e a menina finalmente virou mulher.
Através da dor, do sofrimento, mas, sobretudo, através das alegrias, das conquistas, das amizades verdadeiras.
Dor é coisa passageira, aprendeu. Chora-se um pouco, ou muito, mas o tempo cura. Felicidade não, felicidade não passa, deixa um gosto saboroso de eterno presente, toda vez que vem à mente.
Parida e parideira a mulher se transformou.
Para melhor.
Conquistou os bens materiais, viajou, rodou o mundo, venceu...
Aprendeu a dar, mas mais importante, aprendeu a pedir.
Sentada no gramado do Epcot Center, chorou ao lembrar-se do pai.
Mas o pai não estava mais aqui para ver.

Daí, sua vitória ficou incompleta.

2 comentários:

Anônimo disse...

A vida passa ligeiro e devemos mesmo conservar as lembranças amiga, boas e más pois são elas que nos fazem nos sentir vivas, humanas.
Gosto de tudo que você escreve.
Sabe que tem em mim além de amiga uma ardorosa fã.
Mil beijinhos em seu coração
Luzia Pacheco

Vanuza Pantaleão disse...

Vitória incompleta...
Isso é dolorosamente triste...