ACERCA DA ESCOLA MUNICIPAL AUGUSTA LAMAS
D'ÁVILA
A poucos dias fui surpreendida com a notícia
de que a Prefeito Municipal de Afonso Cláudio-ES havia decidido pelo fechamento
da Escola Municipal Augusta Lamas D'Ávila.
Busquemos na história dados sobre este
estabelecimento. Fundada em 1961 recebeu a alcunha de "Escolinha" por
ser, originariamente, Escola de Aplicação, onde os alunos do Curso Normal
exerciam e praticavam a arte de ensinar. Desde então vinha formando novos
mestres até a extinção da Escola Normal. Por suas salas passaram milhares de
alunos que receberam a melhor base possível para vencerem nas mais diversas
áreas do saber: professores, médicos, engenheiros, advogados, escritores entre
outras. Estudar na Escolinha era motivo de orgulho para todos. A própria
Prefeitura, em 2011, por ocasião do seu cinquentenário, publicou reportagem
ressaltando a importância da escola, do seu modelo de gestão,da interação com
pais e alunos, como podemos confirmar no site
http://www.afonsoclaudio.es.gov.br/site/index.php/archives/853 .
Então, me pergunto, o que mudou nestes quatro
anos?
De repente a Escola não serve mais?
Num país onde a crise política em todos os
níveis é assunto constante, não posso concordar com decisões ditatoriais, sem a
discussão pública, sem se ouvir a opinião de todos.
Nossa Carta Magna, em artigo 1º, é direta: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição", para
ser mais sucinta, busco na Constituição de 1934, que já preconizava
" Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido", então, como
aceitar decisões unilaterais? Se o poder é do povo a decisão não caberia,
também, a esse mesmo povo?
Indagado a respeito dos motivos que levaram o
Sr. Prefeito e seus assessores a tomar tal atitude, a resposta que me chegou,
através de amigos é de que há a necessidade, por motivos econômicos, de se
instalar a Secretaria de Educação em prédio que não demande pagamento de
aluguel. Louvável atitude, mas por que não buscar outras alternativas que não
seja o fechamento de uma escola, num país já tão carente de educação?
Alega-se que há
alguns meses, "autoridades" especializadas em educação e seus
índices, em conversa com a diretora daquele educandário, disse que o referido
não mais atendia à demanda de atendimento qualificado a seus alunos,
principalmente no que dizia respeito ao calor, luminosidade, poeira, segurança
dos alunos no tocante ao trânsito, edificação mal estruturada... mas se não
serve aos alunos, serve então à Secretaria?
Alega-se, também, que
com a reinauguração da Escola José Cupertino, que passou a contar com salas de
aula mais amplas e adaptadas, os alunos remanejados poderiam utilizar o Ginásio
de Esportes como apoio e uma quadra que seria construída. Que o Ginásio também
poderia fornecer salas do andar térreo que encontram-se ociosas e que são bem
estruturadas, gerando, assim, menos gastos com aluguel.
Que a Escolinha, além
de receber a Secretaria Municipal de Educação, também passaria a funcionar para outras
atividades, tais como Escola de música, artes, teatro (o que muito duvido uma
vez que até as Bandas Marciais já foram extintas).
Nada do alegado me
convence. Parece-me tratar, mais uma vez, de descaso para com o patrimônio e a
história do município, que uma vez já teve clube social, cinema, escola técnica
de contabilidade, mercado municipal, centro social, entre outros que acabaram
ficando no esquecimento.
Vejamos as questões
que são colocadas e as alternativas possíveis:
1 - Se o barulho
externo atrapalha o funcionamento da escola, também atrapalhará o funcionamento
da secretaria, não seria o caso de se buscar alternativas de isolamento
acústico, nem que seja fechando as janelas e colocando cortinas e ventiladores?
2 - Se o trânsito é
considerado perigoso, por que não remanejar um agente de trânsito para o local
já que se trata de apenas um portão de entrada e saída de alunos e apenas 4
horários definidos?
3 - Alega-se falta
de espaço para a prática de esportes. O que foi feito do pátio? Por que o gasto
recente com a cobertura da quadra? Muitas escolas funcionam com muito menos.
Vamos aos números:
A Escolinha possui um total de 380 alunos assim distribuídos - 250 no turno
matutino e 130 no vespertino. O José Cupertino possui 364 alunos - 294 no matutino
e apenas 70 no vespertino. A ideia das autoridades municipais é que todos os
alunos da Escolinha passariam a estudar pela manhã e todos do José Cupertino, à
tarde. E onde entram as necessidades individuais? Pais que trabalham em turnos
diferentes teriam que mudar, também, de empregos? E o direito inalienável de
escolha, onde fica?
Outra questão que
se impõe é que desde a sua criação a Escolinha tem como público alvo alunos de
1ª a 5ª séries, ou seja, crianças na primeira infância, possuindo móveis que atendem
a essa demanda. O José Cupertino atende a crianças de 5ª a 8ª, ou seja,
maiores, que demanda um mobiliário adequado à idade.
O que me parece que
é existe uma ociosidade de espaço no Grupo Escolar José Cupertino e isso seria
solucionado com a transferência dos alunos da Escolinha. Será que as
"autoridades" em índices e educação não pararam para estudar o motivo
dessa ociosidade? O problema não estaria no José Cupertino? Se pensam tanto em
oferecer Escola de música, artes, etc, por que não o fazer nas dependências do
José Cupertino, aberta a toda a comunidade?
Normalmente, desde
sua fundação, os alunos da Escolinha são crianças que residem no centro da
cidade, que vão à escola a pé, acompanhadas dos irmãos mais velhos, sem a
vigilância explícita de pais, o que dá a essas crianças, além de educação,
valorização de autonomia, responsabilidade, poder decisório, que irão ajudá-las
na sua formação futura.
Se a questão é
economia de custos, várias são as soluções que se apresentam para a instalação
da Secretaria de Educação, como, abaixo:
- Existe o prédio
onde funcionava a CIRETRAN e que hoje encontra-se vago;
- O prédio da
antiga Policlínica já é alugado pela prefeitura e só funciona no período
noturno com curso de extensão da UFES, durante o dia é totalmente ocioso;
- O prédio onde
existia a Cooperativa e a casa que pertenceu ao Sr. Aguilar Azeredo são, hoje,
de propriedade do Governo do Estado e ambos encontram-se vazios, não seria a
oportunidade de Governos Estadual e Municipal entrarem em acordo e darem uma
boa destinação a esse patrimônio, que reafirmo, é também, independente de
instância, do povo?
Ou seja, soluções
existem!
Talvez falte
vontade política, disposição em ouvir, dialogar, voltar atrás.
Quero ressaltar que
voltar atrás não representa retrocesso e, sim, evolução para mentes abertas ao
novo, ao coletivo.
Quanto ao aspecto
histórico, tão esquecido, há que se ressaltar do valor arquitetônico do prédio
enquanto escola, de suas paredes impregnadas de sonhos e realizações de seus
alunos atuais e passados, de suas lembranças e histórias.
Fechar a Escolinha
é matar, mais um pouco, o nosso passado.
É tirar-nos a
possibilidade de mostrar a gerações futuras nossa história.
É deixar Afonso
Cláudio um pouco mais pobre.
Kátia Maria Corrêa
De Carli Ramos
Aluna da Escolinha
de 1963 a 1966
Jornalista e Escritora