Reliegos
É um caminho reto, interminável... cansativo ao extremo.
Chegamos a Reliegos e Mauricio, péssimo, sentou-se na primeira soleira que encontrou. Fiquei fazendo-lhe companhia enquanto Cristina procurava um bar. Nós resolvemos comer nosso lanche ali mesmo.
Descansamos e voltamos à calçada interminável que é esta parte do caminho, até chegar a Mansilla de las Mulas.
Logo na entrada da cidade tem um monumento aos peregrinos, muito bonito. Tudo na cidade é bonito e limpo, e, contrariando nossas expectativas, é uma cidade relativamente grande.
Mansilla de las Mulas - Monumento ao Peregrino
Almoçamos, lavamos roupa e fomos descansar...
A Ângeles convidou-nos a participar de um jantar coletivo que iria preparar. Seria um prato típico espanhol: sopa de alho. É claro que aceitamos. Para nós coube levar pão e vinho.
Eu e Cris resolvemos sair para passear pela cidade e entramos numa loja. Compramos uma calça comprida para cada uma e uma blusa de moletom (sudadera) de presente para o Mauricio, pois ele estava passando frio (e a dele estava horrorosa, foi uma maneira educada de dizer para largar a outra para trás, rs) e nós, depois de tanto desapego, ficamos sem roupa (rs).
No que estávamos passando numa rua, com nossos vestidinhos de liganete e sandálias havaianas, eis que uma moça que estava conversando na calçada diz, em voz alta: “ Conheço essa sandália! Vocês são brasileiras!”, e veio correndo em nossa direção. Ela é casada com um espanhol, tem um filho lindo, nos abraçamos carinhosamente como se fôssemos conhecidas de longa data. Conversamos bastante, ela nos apresentou sua sogra e a tia do esposo. Na despedida começou a chorar... e eu que não sei deixar ninguém chorar sozinho, chorei junto.
Deve ser difícil viver longe de tudo e todos que você ama... só um Amor muito forte pode sobreviver a isso.
Voltamos para o albergue e os preparativos da sopa estavam a pleno vapor...
Acontece que a calça que eu comprei era muito comprida... tinha que fazer bainha. Tentei subornar a Cris, mas não teve jeito. Daí parti para o Mauricio. Lembrei das roupas que eu tinha lavado para ele, da companhia, só faltei ajoelhar. Ele disse que faria, mas com esparadrapo. Concordei. Melhor do que nada. A Cris marcou a altura e o Mauricio colou as barras com esparadrapo.
Mansilla de las Mulas - Muralha romana
Chegaram também o Pedro Grandão e Gisela (Argentina, que eu voltaria a encontrar, anos depois, vivendo no México).
A Laura e o Wolf, hospitaleiros, são pessoas da maior grandeza. Ele é um velhinho risonho, de barbas brancas, atencioso, que nos forneceu mapas e fitas para amarrar nas mochilas, pois o próximo trecho é junto à rodovia e assim estaríamos melhor sinalizados. A Laura é uma jovem que não lembro a nacionalidade mas que sabe todos os nomes feios e gírias em português, e trata bolhas como ninguém!
Chegaram mais dois brasileiros: Dulce e Ronaldo. Ela, coitada, como eu, os pés repletos de bolhas.
Nosso jantar foi espetacular: Ângeles, Rosa, Pedro, Gisela, Alonso, Dulce, Ronaldo, Wolf, Laura, Cris, Mauricio e Eu.
Tomamos vinho que nem universitário que compra aqueles garrafões, vinho em garrafa pet, pode?
Fomos dormir mais de meia-noite!
Foi uma festa!
Monumento ao Peregrino - Porque eu posso até perder os pés, mas não perco a chance de fazer graça
14 comentários:
Boa noite, Kátia. Aproveito o ensejo para me desculpar, meu PC ficou um tempão fora do ar.
Essa narrativa é uma das mais importantes que já li e o vinho deve ter vindo em boa hora, não é? As fotos, como sempre, ótimas, e a última com a sua observação dá o fecho ideal.Vou dormir feliz e espero que você também.
Olá minha querida amiga Kátia!.
como sempre, continuo viajando com vc. Cada lugar, de deixar qualquer um sonhando.
Essa no final, fechou o seu ciclo.
Muito bom essa sua foto.
Beijos e continue nos fazendo sonhar.
Uma semana abençoada por deus.
sua amiga.
Regina Coeli.
Passando para saber de você, minha Amiga!
Leio mais um texto delicioso, regado a vinho e muita Solidariedade...
Realmente, esse final é uma gracinha!
Um final de semana bem otimista e muita, muita Saúde!!!Bjs
As fotos...que fotos! As levarei todas...no coração!!!
Igualmente, querida!
Cuide-se bem, tá?
Tô sempre por aqui!Rs
Muito Carinho!Bjs
Ei Kátia,
lembrando de você, deixei um carinho lá no florescer. Para quem já desbravou todos esses caminhos, não será difícil encontrá-lo. Ele te aguarda à direita do jardim.
Abração e fique bem. Paz, Saúde...e tudo o mais que você merece.
Adoramos conhecer o seu cantinho, e o descobrimos ao acaso... e foi um belo e agradável achado!!!
Grande Abraço!!
estou a ver que estavam com sede...
olhe ja ta completamente curada?
beijo
Lindas fotos. Que lugar lindo, com tanta história para contar. Abraços
Os lugares das fotos que você posta aqui são lindos. Cada vez mais fico com vontade de conhecer!
Quanto ao esparadrapo, ele não descola mesmo. Na pele então é horrível. É mais fácil sair a pele do que a cola ;)
Que fotos lindas, Kátia! Quisera eu poder tirá-las! E como vai de saúde, está bem? Espero que sim. Como vc não aparece no meu Blog, vim ao seu. Publiquei no Galeria a resenha de um filme muito envolvente, engraçado e sério, que tenho certeza de que vc já viu. Agora tenho outro blog, em que estou publicando as minhas traduções dos sonetos de Shakespeare:
http://poemasscancoes.blogspot.com
Se tiver um tempo, apareça, já que é poetisa,
Beijos e melhoras,
Rê
Querida, você sem tempo e ainda vai ao meu novo Blog dois dias seguidos. Só posso agradecer-lhe e desejar-lhe que tudo esteja bem com você, que já tenha voltado a trabalhar a toda. E a beleza que vê nas minhas traduções de Shakespeare é fruto do amor que tenho por quem vai lê-las que são os meus amigos.
Beijos, querida,
Renata
Como sempre, uma escrita linda de ler e entender... Essa sopa de alho devia estar uma maravilha, para o vinho correr assim.
Quando por aqui passo, tenho de encher o peito bem de ar, para ir na sua peugada, é o que farei seguidamente.
Carlos
..Do jeito que eu gosto de vinho..vou demorar mais em alguns lugares..rs
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