quinta-feira, 22 de julho de 2010

PALAS DE REI – MELIDE


E a saga segue seu curso... não sem antes agradecer ao meu querido Anjo da Guarda Mauricio, que mesmo quando eu xingo, não respondo, nem assim ele fica com raiva de mim... e ainda scaneia as fotos que eu não tirei!!!! ...Ah! nem adianta mandar largar do seu pé que é karma! ... Sei, também te amo, meu amigo!rs

Essa foto eu não poderia deixar de lado porque rendeu-nos boas gargalhadas... A gente passava e, às vezes, do nada, aparecia uma construção suspensa, com cruzes, elementos bíblicos, ora de madeira, ora de tijolo, e a gente tentava descobrir o que era, tentava "futucar" nas frestas, mas nada... como a maioria ficava no campo eu cismei que era onde eles colocavam os mortos. Um dia a Cris se encheu de razão, pegou um pedaço de pau e começou a tentar abrir uma fresta maior, nisso eu vim de trás, fiz "UUUUUUUUUUUUUUUU" e saí correndo fingindo estar assustada... ela disparou e só parou quando me viu me dobrando de rir... quase me bateu!

Daí nós resolvemos deixar de ser orgulhosos e perguntamos (o Mauricio, claro, a boa parte sempre sobrava para ele): Pois bem, chama-se Hórreo, também conhecido como Cabazo, Cabaceiro(a), Canastro ou Piorno é uma construção popular da região da Galícia, mas que se estende em outras zonas no norte ibérico. É destinada a secar, guardar e conservar o milho e outros cereais de ataques de ratos. Tem todo um simbolismo econômico na sua origem, quanto maior o Hórreo, maior a riqueza dos proprietários.
Este foi por fotografo por Mauricio em Gonzar, na saída de Portomarín.


Havíamos combinado percorrer só 15 km. Acredito que Cristina e Mauricio tenham feito esse acordo por piedade, mas não deixaram transparecer, e como estávamos muito bem acomodados e acompanhados nem nos preocupamos com as horas...

Erro fatal!

Acordamos com uma voz esganiçada (linguajar mineiro da Cris) aos berros, xingando e gritando que já tinha passado da hora de peregrino estar na estrada. Levei um susto tão grande que passei a juntar coisas, escovar dentes, lavar rosto, tudo ao mesmo tempo. Era a hospitaleira, que de hospitaleira só tinha o nome. Colocou todo mundo para fora, não respeitou Orlando e Micheline, um casal já “mais experiente”, tampouco o grupo de excepcionais.

Resolvemos fazer o desdejum num bar bem em frente ao albergue... segundo erro em tão pouco tempo!

As torradas vieram da parte reservada do restaurante já lambrecadas com uma coisa que parecia geléia passada da validade, rançosa. Uma senhora velha, gorda e porca, que limpava as mãos e o rosto com o mesmo pano que limpava o balcão, nos serviu rindo e mostrando os dentes todos estragados, sem contar o cheiro... A soma de tudo revolveu meu estômago e eu e Mauricio saímos sem comer, mas pagamos. A Madre Cristina de Calcutá ficou e comeu, por pena da senhora... Nós comemos em outro lugar.

E pé na estrada!

Também já eram 9 horas, isso lá é hora de peregrino sair? rs

Apesar da hora tinha muita neblina. Para nossa surpresa caminhamos muito tempo por dentro de bosques, o que foi muito agradável, mas não impediu do meu pé logo dar sinal de vida (ou de morte!). Porque volta e meia, ou melhor, subida e descida, apareciam uns atoleiros danados e difíceis de ultrapassar. Aí vocês podem perguntar, mas porque a demente não foi pelas pedras? As pedras acabavam no meio maior do lamaçal.

Chegamos cedo a Melide e pra variar a primeira coisa que fomos ver foram os banheiros. Só um chuveiro tinha porta. Eu e Cris corremos para tomar banho antes que ficássemos abertas à visitação pública nos boxes sem nem uma cortininha... água escaldante! Deliciosa!!!

Cris foi descansar e eu fui lavar roupa, comprar comida, coisa básica!

Quando voltei a Cris disse que ia sair para almoçar, eu e Mauricio já havíamos comido e ficamos no albergue.

Daí um tempo chega a Cris revoltada e rosada, para não dizer roxa, dizendo que tinha visto um anúncio num restaurante de um arroz com frango, naquela altura estávamos loucos para comer arroz, daí ela pediu... veio salada de entrada e foi só o que ela conseguiu comer, o tal arroz estava intragável, e enquanto tentava comer “encheu os chifres de vinho rosé”.

Convidei a Cris para conhecermos a cidade, calçada com Havaianas é claro!

Fachada da Iglesia de la Virgen de las Nieves - Leboreiro (caminho)

Quando estávamos de volta ao albergue só ouvi a Cris conversando em portunhol com um desconhecido e dizendo: “A Kátia sabe. Ela sabe tudo”, fiquei curiosa e fui ver. Era o marido de Ângeles que havia conseguido uma folga e estava percorrendo o Caminho de bicicleta em busca da esposa. Peguei minhas anotações, vi a última vez que estivemos juntas, mais os cálculos de bruxa e disse: Pode pedalar até Arzúa que ela está lá.

E não é que estava mesmo!!!!

A gente evitava conversar sobre o dia seguinte. Nosso tempo estava se esvaindo. Santiago chegando... e ao mesmo tempo uma vontade louca de continuar no Caminho...

Nem fotos eu queria mais tirar... era como se começasse a abrir um rombo dentro do meu peito, neste rombo tinha medo, tristeza, lágrimas não vertidas, palavras não ditas, saudade antecipada.

A chegada, ao mesmo tempo que representava nossa vitória, representava também adeus, despedida... e é tão triste separarmos daqueles que aprendemos a amar.

No coração só a certeza que nunca mais era nunca mais mesmo.

7 comentários:

Gabi De Carli disse...

Nunca mais é tempo demais... (mas não necessariamente 'nunca mais mesmo').
Beijo!

Cecília disse...

Você é bem moleca, né? Ri muito com o "uuuuuuuuuu"... rs
Viagens nos trazem ótimas lembraças e grndes experiências, não é? Adoro viajar.
Gosto muito quando venho aqui e tem histórias de suas viagens, adoro lê-las e ver as fotografias.

Respondendo o comentário:
Tinha muita vontade de conhecer a Beti, na verdade, tenho vontade de conhecer muitos amigos que fiz por conta do blogue (e do AO), a Beti em especial porque nossa amizade vai além do blogue. Tenho o sonho de um encontro de todos do AO e de outros que não fizeram parte do AO mas que tenho contato.

Beijo grande!

Mauricio disse...

Oiê,
Posso pedi?
Faz o mesmo que fizemos lá.
Em trechos curtos e com muita história para contar.
Não estou preparado para terminar o caminho novamente.
Beijo
"Dino"

Vivian disse...

...olá linda!

gosto de vir aqui porque viajo
contigo nas suas emoçoes.

bj, querida!

Vanuza Pantaleão disse...

Eiiii moça do sorriso lindo!
Eu tô aqui, inconsolável, com o post que fiz sobre a crueldade que fizeram com Eliza. Chorei e sofri muito para escrever. Volto para te ler com muitoooo prazer, katinha!
Deixa só meu coração se acalmar...
Te amo, amiga!!!Bjsss

Vanuza Pantaleão disse...

Quero e preciso que me ensines a crer, Kátia! Eu estudei criminologia e já li, vi e vivi muita coisa ruim, mas...não pude suportar ficar calada.
Obrigada, Anjo!
Deus te guarde!!!Bjsss

Vanuza Pantaleão disse...

Agora, depois de almoçar e bem, rsrs, venho aqui e me certificar que tu aprontaste poucas e boas, sua levadinha da breca! Ainda falam assim? hahahaha.
As fotos ma-ra-vi-lho-sas, sendo qua a segunda é um sonho...
Essa torrada com a tal geléia, que coisa, hein? Arghhhhhhh

Uma semana lindaaaaa, Katinha!!!
Vamos, vamos nos programar para nos encontrarmos, mas fique mesmo boa! Você me prometeu!

Saúde, amiga!!!