A Cris continuava em “estado de graça”, parecia ter asas nos pés, enquanto eu só tinha bolhas e mais bolhas. Ela acelerou o passo, cantando a plenos pulmões, feliz! Mauricio – sempre ele – ficou para trás comigo. Eu não consegui imprimir um bom ritmo, meus pés doíam horrores. Quando pensava que seriam mais de 27 km muitas vezes pensei que não sobreviveria.
Passamos por Agés, Olmos de Atapuerca, Cardeñuela-Riopico... a cada passo parecia que fincavam lanças nos meus pés. As lágrimas escorriam, de tanta dor. Eu parava, passava analgésico, trocava as meias. Meio quilômetro adiante a dor voltava com maior intensidade.
Nesse dia Mauricio usou de toda sua paciência (e olha que ele nem tem tanta! e carinho para comigo), não me abandonou um momento sequer, incentivava... e eu respirava fundo e seguia, só Deus sabe como.
Alcançamos a Cris em Orbaneja, refestelada embaixo de uma árvore. Avisamos que íamos almoçar em Villafría, próxima cidade, porque sabíamos que a chegada a Burgos era difícil.
A verdade mesmo é que eu não agüentava dar mais nem um passo e qualquer motivo para parar era bem-vindo... nem fome eu tinha!
Seguimos juntos até Villafría, paramos para almoçar, descansamos um pouco e empreendemos nosso curso.
Só que a cidade não acabava... não se sabe onde termina Villafría e onde começa Burgos. São quilômetros e mais quilômetros do que pareceu ser uma zona industrial, intermediada de bairros residenciais simples, uma avenida sem fim, trânsito pesado, calor insuportável, mal sinalizada, pessoas mal educadas.
Parêntesis 1: Quanto menor a cidade, mais educadas e prestativas são as pessoas. Quanto mais humildes, mais puros de coração. Conclusão: a educação não acompanha na mesma proporção do crescimento das cidades.
Ninguém dava uma informação de onde deveríamos seguir para chegar ao albergue.
Não havia uma bendita seta amarela em lugar nenhum. Se havia, a dor era tanta que eu não conseguia enxergar.
Em um dado momento, não resisti. Parei, saquei as botas, meias, curativos, tudo e calcei a minhas confortáveis sandálias Havaianas...
Chegada a Burgos - Rindo para não chorar (detalhe para as Havaianas)
Só assim, depois de perdidos nosso bom humor, nossa paciência, nossa resistência que atravessamos toda a cidade de Burgos. Quando digo toda, é toda mesmo, de cabo a rabo.
O albergue fica num parque belíssimo, na saída da cidade... São (ou eram) uns galpões de madeira, parecidos com alojamentos de exército, mas muito limpos, camas confortáveis, tinha até cobertores e travesseiros! Tinha banheiros separados para homens e mulheres!
Parque de Exposição de Peregrino
Parêntesis 2: A maioria dos albergues o banheiro é compartilhado por todos. Nós colocávamos o Mauricio para vigiar e fingir que o banheiro estava cheio, quando estávamos usando-o, para ter maior privacidade... Na vez dele, desaparecíamos! (A Mariana vai dizer: Coitadinho do Mauricio - rs)
O parque também era muito bonito, árvores grandes, muita paz, gramado e mesas com bancos de madeiras espalhadas.
Eu, depois do banho, sentei-me num banco e num ato de desespero comecei a furar todas as bolhas, eram tantas que perdi a conta. Furava e chorava... A Marie Jô, canadense que estava com a filha, quis me emprestar suas botas reserva. Não aceitei, claro! Mas estava desesperada... Não sabia mais o que fazer.
Daí decidi que ia até a cidade comprar um par de tênis novos para ver se melhovara. Implorei ao Mauricio para ir comigo... ele foi, claro! Escolhemos uns tênis bem confortáveis, sem costura, meias novas também sem costura...
Burgos - Catedral de Fernando el Santo
Parêntesis 3: Fomos e voltamos de ônibus!
Reencontramos Orlando e Micheline... nossos queridos amigos franco-italianos, o Anthony (vulgo Sir Lancelot) e o Pedro (alemão que carregava um enorme guarda-chuva e bebia um litro de leite por refeição)!
Pela primeira vez encontramos peregrinos cavaleiros... a trilha é diferente, mas alguns albergues coincidem.
Parêntesis 4: Senti-me como uma macaca de circo! O Parque onde está localizado o albergue é aberto ao público e as pessoas vão visitar, passear, correr, etc. Mas tem gente que vai para “ver Peregrino”. Pode? As mães apontam para as crianças: ali um! Êta vontade de partir para ignorância. Mas respirei fundo e sorri... igualzinho uma macaquinha adestrada... só faltou o amendoim!
Jantamos ali mesmo, ao ar livre, tipo pic-nic - éramos as atrações principais, que tivessem o espetáculo completo!
19 comentários:
Katia!está tudo lindo por aqui...Adorei!
Tenha um lindo final de semana!
SOMOS TODOS UM!
Bjos no coração!
"... e continua a viagem no meio dessa paisagem onde tudo é mais bonito..."
você tem o dom de me fazer viajar na tua viagem..adoro seu jeito de escrever, a sua narrativa.
beijos querida, um dia mais feliz que todos os anteriores.
Uma viagem dos sonhos e um blog renovado...Você merece, minha querida! Que Deus lhe proporcione mais e mais momentos de Felicidade...Carinho e Afeto de montão!!!Bjssss
Olá minha doce e estimada amiga.
Vcs. penaram muito nessa viagem, mas que foi gratificante, e eu como olheira viajei também.
minha linda amiga, vá ver minha ultima postagem, e verás com está meu coração.
Achei muito lindo seu novo blog.
Beijos e uma semana repleta de muita paz e amor.
Beijos e mais beijos, minha querida amiga.
fique na doce paz.
Regina Coeli.
Gostei das mudanças aqui na sua casa!
Ficou muito bonito...
Katia, quando você descreve as dores pelas quais passou, parece que estou a senti-las...Mas, no final sempre vale a pena, não é?
Beijos de luz e o meu especial carinho!!!
Seu blog é como um bom filme...e agora de cara nova! Belíssimo!
Larguei todas as minhas obrigações para estar aqui um pouco, e valeu a pena.
Obrigado por tudo,
grande abraço!
Voltei..rsrs
Esqueci uma coisa, um pedido:
Posso enfeitar meu blog colocando um link de "Múltiplas faces"?
oie!! adorei a cara nova, ta lindo!!! bjooo
Adorei seu parêntesis. Parece uma viagem cansativa, mas pelo seu relato deve ter sido uma delícia mesmo com tantas bolhas.
Beijos de sol e de lua.
Narrativa perfeita...gosto de ler suas aventuras
Casa nova hem??? está linda....parabéns
Tenho um gatinho e uma bruxinha (outubro - mês das bruxas) no meu blog e ofereço a vc...é de coração...
Beijos
Bom final de semana
Miriam
Gente, isto tá demais.
Hoje dei muita risada. Tô FELIZ.
Katia, vai uma bananinha ai???
Continuo caminhando e cantando.
Beijo e um ótimo fim de semana.
Essa do banheiro...
coitado do Maurício. Ah! coitado nada. Ele bem devia gostar desse lugar de "protetor das meninas", mesmo que fosse à porta do banheiro.
Vou seguindo sua história, embarcando na sua viagem.
Beijo
Katia,sou eu sim,a bruxinha,kkk
Elane a Ariel, sou meio bruxinha e criei o mundo,eu e Sergio,meu bruxo,kkk
mas é pq tenho certa sensibilidade e gosto de certas coisas,sonho certas coisas,pressinto,daí a denominação bruxinha...
seu post é maravilhoso,tenho 3primos q sao assim,igual vc,adoram se aventrua viajar muito,muito curioso eu post,amoo!!!parabéns!!bjss
Eu ainda quero viajar assim. Talvez não com a mesma intenção que você, pois cada um tem seus bom motivos. Mas quero.
Tem horas que nada é melhor que um bom chinelo.
;)
Lindo seu blog!!!
Pena que não consigo passar aqui todos os dias!
Mas com certeza voltarei!
Um super beijo
Muda de casa , mas a beleza do conteúdo, sempre igual.
Tenha um domingo feliz.
Maurizio
a faculdade está a correr bem, apesar de muito cansativo.
obrigado pelas suas palavras.
um beijo
As bolhas... aqui lhes chama-mos de borregas... e quando sangram... Agulha com fio preto para as rebentar e o fio por lá fica até secarem... não sei como faz... mas foi assim que me fui safando... e muito...montanhas de halibut.
Vou continuar na leitura, que vou a fechar a fila.
rsrsr..sera que o tenis nvo vai dá certo?..
Não gostou de ser famosa por um dia?...´´ali um!!´´..rsrsrsrs...lembrei do filme ´´O Planeta dos Macacos´´...to morrendo de rir dessas aventuras..rsrs
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