DONA ZULEIKA
Existem pessoas que nascem para
brilhar.
Algumas ficam famosas e todos
reconhecem.
Outras aproveitam sua luz para
brilhar as vidas dos outros.
Tive o privilégio de conhecer uma
pessoa assim: Maria Zuleika Haddad Fafá ou apenas Dona Zuleika.
Quando tento defini-la, só me vem
um termo: Lady.
Dona Zuleika, sem perceber ou
mesmo sem querer, mudou a vida de muita gente. Inclusive a minha.
Foi minha professora de história
e despertou na criança pobre o sonho de correr mundo. Com certeza ela ficou
orgulhosa das minhas peripécias mundo afora.
Depois se tornou diretora no
antigo Ginásio Estadual Afonso Cláudio.
À época a minha turma era a mais
encapetada da face da terra. Aprontávamos todas. Uma vez resolvemos que não iríamos
cantar o Hino Nacional, então ficamos só mexendo os lábios, fingindo cantar.
Ela não deixou por menos, com a maior educação chamou um a um para o “elevado”
onde ficavam os professores e as bandeiras e diante de todos os alunos fez um
pequeno discurso sobre o uso da voz, sobre respeito, patriotismo e convidou-nos
a cantar o hino na frente de todos (como se diz hoje, maior mico).
Quando mandada para a “Diretoria”
(terror para qualquer um, claro!) o que eu mais sentia era vontade de sumir do mapa. Dona Zuleika
usava de toda sua cultura e sabedoria para fazer-me ver que a mais prejudicada
era eu mesma, sem nunca, nunca mesmo, elevar o tom de voz ou desferir algum
impropério.
Teve uma ocasião que resolvemos
fugir. Matar aula. Bater perna. Subimos um baita morro atrás do Ginásio,
passando por entre laranjeiras, mato, capim e descemos a ladeira todas
serelepes... quando chegamos à cabeça da ponte (ligação com a cidade, ponte de
madeira, linda... a enchente levou...) quem vinha do outro lado? A própria! Ela
só nos olhou com aquele olhar cor de céu ou de mar, e sem fazer uma só pergunta
nos indicou o caminho de volta... Precisava mais? Quanta vergonha... (nada que
nos impedisse de, dias depois, aprontar mais alguma).
Agradeço a Deus de ter tido a
oportunidade de, depois de adulta, estar com ela várias vezes e agradecer pela
grande parcela que ela tinha na construção da pessoa que sou. De dizer o quanto
a amava...
Dia 29 de novembro ela partiu...
foi encontrar-se com os espíritos elevados que, com certeza, são como ela.
Deixou-nos lembranças lindas e
uma saudade imensa.
Deixou também a certeza de que um
dia, quando eu finalmente crescer, gostaria de ser igualzinho a ela.
3 comentários:
Volto aqui ainda para visitar dona Zuleika. Agora, o dever (doméstico) me chama, ai de mim!
Beijos, querida!!!
As professoras sempre nos deixam marcas e exemplos. Tive também a sorte de ter Dona Helena, a mestra de Artes, que despertou em mim o gosto pelas cores e a estética, isso na minha mais tenra idade.
Que beleza de homenagem!
Kátia, que delicadeza a sua. Que palavras lindas e sábias dedicadas a uma pessoa que também foi linda, sábia e sensível: minha tia Zuleika. Ela gostava de me ouvir falar das viagens que fazia e de outras que, talvez um dia, eu fizesse para completar um sonho de infância: através de todo o interior da França. Também foi minha professora no Ginásio e era dos meus Mestres preferido, claro. Parabéns, Kátia, pelo seu Poema e pelo nosso Idioma tão bem trabalhado...
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