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A vida é coisa engraçada, quando a gente é criança e tem todo o tempo pela frente, faz as coisas sempre correndo, tem pressa; à medida que o tempo passa e vai diminuindo, a gente diminui também o ritmo, e com isso alguns hábitos.
Eu ia escrever sobre outra coisa... mas aconteceu um fato e daí...
Bem, quando eu fiz 50 anos decidi que, como o que me restava de vida era menos do que o que já havia passado, dali em diante eu ia fazer as coisas que me agradassem e não para agradar às pessoas. É claro que eu ainda encaro um ou outro programa se isso vai fazer feliz meu marido, meus filhos ou algum amigo que valha a pena. Mas para ser educada, ser a boazinha, nãnãnãnão!
E aos poucos eu fui mudando... comecei pela cerveja. Eu odeio cerveja, acho a bebida mais sem graça que já foi inventada, você bebe, bebe, bebe, urina, urina, urina... arre! mas como a gente saía em grupo, todo mundo tomava cerveja, para não ser do contra eu acabava tomando também. Hoje eu peço minha água com gás na maior. É claro que na primeira vez foi um auê. Silêncio total. Eu parecia um alienígena. As pessoas perguntando: Mas como? Você sempre tomou cerveja? Como “não gosta”? Explicada minha teoria, ânimos aplacados, hoje minha água já é parte integrante da noitada.
Depois foi a história do aniversário. Meu marido tem um primo (chato pra caramba) que aniversaria no final do ano. Eu encarava a comemoração do seu aniversário como o último sacrifício do ano (mas lembrem-se: eu era “boazinha” rs). Era sempre a mesma coisa: as mesmas pessoas cobrando “Como você está sumida!”, se eu estava magra: “Que aconteceu? Está doente?”, se eu engordava: “Nossa como você engordou?” e eu sorria, educadinha do jeito que mamãe ensinou. Ainda tinha que agüentar (recuso-me a aceitar a reforma que nem os portugueses aceitaram!) a esposa do aniversariante (numa escala de 0 a 10 de chatice, ela consegue ser 11) e sua mesa fantástica de doces e tortas (justiça seja feita) reclamando que havia passado a madrugada inteira fazendo doces! Pois bem, chegou o grande dia, meu marido se arrumou e eu continuei assistindo TV, ou lendo, ou sei lá o quê, e ele me pergunta:
- Você não vai?
- Não. Cansei de ser educada.
- Mas o que eu falo?
- A verdade. Que eu não quis vir.
Ponto final, deste ano em diante não fui mais... e foi o último em que meu marido compareceu!
E foram pequenos gestos aqui e acolá que foram me transformando na pessoa que sou hoje.
Eu que era rock’n roll e cantava “Por isso não provoque / É cor de Rosa Choque”, hoje estou mais para toada e esses dias até me peguei cantando “Ando devagar porque já tive pressa / Levo esse sorriso porque já chorei demais.”
Isso não quer dizer que eu tenha me transformado em uma pessoa completamente zen e educada. Só que minha prioridade passou a ser eu mesma.
Outro dia uma amiga, nem tão amiga assim, começou a falar do seu filho e nora, em tom de desabafo e eu fiz umas perguntas no intuito de, estando de fora da situação, ver como melhor poderia ajudá-la. O assunto morreu, fui embora. No dia seguinte, nos encontramos novamente e ela veio tirar satisfação porque eu estava indagando coisas do filho dela se ela nunca havia perguntado dos meus. Ah! Educação tem limite! Na hora retruquei:
- Minha querida, eu estava com a melhor das boas intenções, buscando um modo de auxiliá-la, mas se você encarou como invasão, por favor, a partir de hoje, guarde seus problemas, dos seus filhos, do seu marido, para você mesma, porque a partir do momento que você fala o quer, corre um sério risco de ouvir o que não quer.
E continuei minha vidinha...
Eu que já fui metrópole, hoje sou cidadezinha com estação ferroviária, vendo o trem passar.
E tenho dito!