segunda-feira, 31 de março de 2008

YO NO CREO EN BRUJAS, PERO QUE LAS HAY, HAY...

Há muitos anos, uma pessoa a quem amo muito me disse que minha missão aqui na terra seria acolher e, mais que isso, seria através da palavra que eu realmente iria cumprir meu compromisso reencarnatório. Por muito tempo carreguei comigo essas palavras e elas foram tomando forma ao longo dessa última década, através dos estudos espíritas que faço, do trabalho voluntário de atendimento fraterno e outras atividades.
Agora sou chamada a ir a outras terras atender a uma amiga que passou por grande perda e o que me pede é somente ajudá-la a compreender... só que, pelas minhas contas, essa ajuda já ultrapassou as barreiras da casa da minha amiga, sua família, sua cidade... Só sei que há muitas pessoas esperando por mim. Para ouvir-me. Não estou ainda tão segura quanto à minha capacidade de cumprir esta missão, mas se Deus colocou-a no meu caminho é porque Ele conhece as minhas possibilidades...
Por isso estou indo, sem medo...
Bruxa boa que sou, já tirei a vassoura de trás da porta e estou pronta para alçar mais um vôo...
Não sei ainda aonde esse vôo me levará... Tenho uma cidade de desembarque, mas não tenho destino. Melhor assim. Não sei para onde vou.
E por falar nisto, lembrei-me de um poema do José Régio - Cântico Negro - que eu acho fantástico. Vou deixar como despedida. Assim que der, durante a viagem, dou notícias.

CÂNTICO NEGRO
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,A
mo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou -
Sei que não vou por aí!

terça-feira, 25 de março de 2008

O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO

Fazia tempo que eu não ia ao Rio de Janeiro...
As notícias ruins eram tantas: ônibus incendiados, balas perdidas, arrastões, entre outras, que eu fui perdendo aquele “gostinho” que me levava a querer ir ao Rio e cantar só para mim: Cristo Redentor, braços abertos, sobre a Guanabara... quando o avião estava pousando.
Mas por conta de umas questões burocráticas tive que ir à Cidade Maravilhosa e já que a ida era inevitável, resolvi rever alguns lugares, fazer alguns passeios que a gente só faz quando vai pela primeira vez ou quando tem filho pequeno.
Começamos por subir o Corcovado, de trem, com direito a grupo de samba cantando antigos sucessos de samba-canção... Algumas mudanças: agora tem elevador, escada rolante, mas ainda tem o fotógrafo querendo tirar sua foto e revelar num prato (rs)!
A vista maravilhosa!
Jardim Botânico em todo o seu esplendor.
O Parque Lage ainda mais bonito do que eu me lembrava.
Os arcos da Lapa... nossa! Quanta saudade senti! Do Café Nice (nem precisam fazer as contas porque é ano que não acaba mais), da Confeitaria Colombo, de passear na calçada de Copacabana.
Ainda fizemos um passeio numa fragata da Marinha, de 1910, última embarcação remanescente da primeira guerra mundial, toda restaurada, que nos levou pela baía de Guanabara, Ilha Fiscal, Niterói, com direito a uma verdadeira aula de história... imperdível este passeio!
Resumo da ópera: Não fomos assaltados, nem vimos nenhum tipo de violência, não fomos atingidos por nenhuma bala perdida, nem pegamos dengue.
Para não dizer que não aconteceu nada errado, numa madrugada acordei com barulho de água pingando... levantei-me e comecei a procurar de onde vinha o som... era da caixa de ventilação do banheiro pingando sobre o vaso sanitário, fechei a porta do banheiro e tentei voltar a dormir... mas entre um cochilo e outro o som persistia e foi aumentando, lá pelas cinco da manhã já caía água pela caixa, luminárias, teto, o banheiro estava uma piscina... logo pela manhã fui à recepção, narrei o ocorrido e pedi providências para mudar de apartamento uma vez que era impossível permanecer onde estávamos. Não sei se por recompensa ou pelos nossos belos olhos verdes, acabamos num apartamento de frente para a praia de Copacabana que deve custar umas três vezes mais do que paguei. Há males que vêm para o bem...
E eu, toda boba, debruçada na sacada olhando aquela vista maravilhosa, pensei o óbvio:
O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO!!!!!

terça-feira, 18 de março de 2008

EU MEREÇO

Quando os corvos (ainda que eu não os veja por estas bandas) cismam em sobrevoar a minha cabeça já sei que é tempo de decisões.

Posso decidir por me entregar à dor e passar dias deitada, pensando em nada, fazendo nada, consumindo-me em sofrimento.

Ou posso decidir pegar essa mesma dor e fazer dela um dínamo para valorizar ainda mais as pessoas que me rodeiam, a família a qual pertenço (seja de coração ou de sangue), as maravilhas da natureza. Porque já aprendi que por mais que estejamos sofrendo o mundo não pára, o sol não deixa de brilhar, o dia não deixa de nascer e as pessoas que nos amam, por mais que nos amem, não são obrigadas a ficarem ouvindo nossas lamúrias.

É mergulhar no mar, deixar que o sal lave até a alma e leve com ele toda a energia negativa.

Emergir ainda aos pedaços, mas com o firme propósito de juntá-los e seguir adiante.

Porque a vida é bela.

Porque ali na frente tem alguém precisando de mim.

Porque estou viva.

Porque mereço ser feliz.

É esta a trilha que estou percorrendo...


(Imagem: pontes em Florença - Itália)

sexta-feira, 7 de março de 2008

DE MORTE, DOR E VIDA

A morte é a curva da estrada.
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.

A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

(Fernando Pessoa)
(Foto tirada em uma barraca em São Tomé das Letras-MG)
Não pela primeira vez, usarei este espaço como divã... é que análise anda muito caro!
Aqueles que me acompanham mais de perto ou têm lido mais amiúde este blog, sabem que os últimos tempos têm sido um tanto difíceis para mim.
Não que eu seja dessas pessoas que vivem a lamuriar-se das agruras da vida, mas é tanta coisa acontecendo que chega um momento que não dá mais, o copo transborda: Estou neste momento!
Tem gente que ainda hoje usa de artifícios para denominar o câncer. Falam “aquela doença”, “aquele mal” e outras coisas do gênero. Eu escancaro com todas as letras, quando possível em maiúsculo: CÂNCER!
Esse danado me persegue cismando em corroer as pessoas que eu amo. Volta e meia ele me rouba alguém. O último que ele me roubou foi meu afilhado (filho querido) Pedro, no auge dos seus 21 anos, depois de um ano de luta.
Ainda com os olhos molhados das lágrimas da saudade, eis a notícia que ele havia atacado uma amiga. Poxa! Sacanagem! Fiquei revoltada. E quando me revolto eu penso...
Daí me lembrei de um médico-irmão-companheiro Gustavo Picallo, que acompanhou minha mãe (e a nós também) em seus piores momentos, Ser Humano de primeira grandeza, que quando da partida da minha mãe me perguntou: “A vida faz parte da morte ou a morte faz parte da vida? Não vou responder, apenas pense nisso.” E eu tenho pensado. Pelas minhas crenças a gente passa muito mais tempo do lado de lá do que aqui, então a vida é que faria parte da morte... mas então porque ainda é tão difícil dizer “Até logo”?
Mas no meio da dor (sofrimento jamais, porque sofrimento é deixar a dor se instalar de modo permanente e eu opto por não sofrer) aconteceu a formatura do meu filho. Comemoração! Alegria! Ver mais um filho formado, sensação de dever cumprido.
E para completar, meu aniversário. Celebração da vida!
Eu dividida entre a dor da separação e a dádiva de ainda estar aqui. De reconhecer, através das centenas de mensagens, telefonemas, etc. o quanto Deus é generoso comigo, ao espalhar pelos quatro cantos do mundo anjos disfarçados em amigos.
E foi conversando com uma dessas amigas – minha xará Kátia - que as pessoas chamam de virtual e que eu chamo de “ainda por encontrar” que ela me disse: “Quando penso em você, sempre a vejo com a mão estendida. Será que já não é hora de você parar de perguntar por que Deus permite que o câncer acometa as pessoas que você ama e arregaçar as mangas e cumprir sua missão de apoiar, amparar, ouvir, de uma forma mais leve?”
Não comemorei meu aniversário... ainda dói muito. Mas já estou pronta para acompanhar minha amiga e tentar tornar seu fardo mais leve.
E vamos viver a vida da melhor forma possível.
Porque a morte é certa!

terça-feira, 4 de março de 2008

DESCULPAS


Desculpem a ausência, o silêncio.
Desculpem a falta de ânimo, de inspiração.
Por não ter respondido aos comentários,
Desculpem a falta de inspiração.
Meus dias continuam cinza.
Eu sei que o sol está lá
Mas não consigo vê-lo, ainda.
Porém carrego comigo a certeza
De que tudo isso vai passar.
Talvez volte mais sábia,
Ou mais banal...
Acho que tudo isso é por conta
Do meu inferno astral.

Obrigada pelas palavras carinhosas, pela presença, por saber-se querida...
Vocês são muito importantes na minha vida.
Um grande beijo

Kátia