segunda-feira, 10 de setembro de 2012

REVISTAS, RECORTES, RECORDAÇÕES


(Não necessariamente nesta ordem)


Chega um momento da vida que, queira ou não, temos que trabalhar o desapego. Seja por convicção, necessidade ou simplesmente por falta de espaço.
Eu cheguei no “tempo do desapego”.
Muitos sabem do meu fascínio (e loucuras) por conta dos livros e revistas. Não empresto (só a poucos privilegiados e ainda com muitas recomendações: não dobre as folhas, não vire a capa, me devolva, etc.), não dou, não vendo. Mas onde colocar tanta coisa? Eis a questão!
Decidi me desfazer das revistas que venho acumulando... juntei tudo, levei pro “meu cantinho” e decidi só retirar o que realmente me interessava e passar para frente. Compartilhar informações! (na teoria é lindo!)
Eu sabia o que queria – dicas de viagens, livros, músicas, filmes. E ponto mesmo!
Mas não deu.
Ao invés de seguir pelo índice e ir direto ao que interessava eu fui folheando cada uma. Foi muito difícil, mas no fim foi ótimo. Descobri uma série de coisas:
Quantas roupas lindas que gostaria ter comprado, à época, e se o tivesse feito estariam abarrotando meu armário, pois hoje me parecem horríveis!
Fui ler uma reportagem intitulada “50 tendências para os próximos 50 anos”. Legal, mas no terceiro item estava lá que mulheres, mesmo as casadas, iriam viajar mais, e sozinhas. Eu já faço isso há anos! E por que me interessaria saber dessas tendências se daqui a 50 anos não vou mais estar viva? Perda de tempo!
Confirmei que as mulheres felizes não são perfeitas. Que no Brasil existem milhares de Benzedeiras e que sim, as pessoas confiam!
Sou feliz sem ter um candelabro lindo (de vidro) que custa R$ 1.160,00 e um par de brincos de lápis-lazúli de R$ 6.860,00.
Se eu tivesse seguido todas as tendências de maquiagem, meu rosto teria passado por todas as cores do arco-íris. Em questão de meses teria ido do “Femme Fatale” (vermelho e preto) ao “Caminho do Ouro” (tudo dourado). Isso sem contar dos contrastes boca brilhante, boca opaca, tons pastel versus metalizados e por aí vai.
Ainda na área da beleza tinha o “Laser em gotas”, cremes que prometem rejuvenescer 10 anos em 10 semanas e um para a região do colo que custava tão caro que era preferível fazer plástica.
Na área decoração tinha mil e uma guirlandas de natal que eu estava a ponto de recortar mas refleti a tempo: para quê se nunca vou fazer?
Estava me sentindo como a adolescente que recortava retratos de artistas e colava em cadernos sonhando com o dia em que iria conhecê-los. Leram bem “que iria” e não “se iria”. Sonhos! É tão bom sonhar. Sonhos são minha válvula propulsora. Só que nessa altura da vida não dar para ficar sonhando sonhos impossíveis.
E por falar em sonhos impossíveis, vamos às Viagens!
Tinha para todo gosto, um tal Caminho de Abraão – (o da Bíblia, que dizem viveu 4.000 anos) que corta Israel, Turquia, Jordânia, Territórios Palestinos e Líbano. Deve ser uma verdadeira prova de vida ou morte. E outras dicas que já estão no meu caderno de recortes (sim, eu tenho um caderno de recortes, por assunto!): Caribe, rota de castelos entre a Espanha e a França, Cartagena e outras mais.
Também estão no meu caderno os livros que ainda vou comprar, como, por exemplo, “O Caso Neruda” do chileno Roberto Ampuero que conta a história de Neruda, já velho e doente, depois do Prêmio Nobel, em seu retorno ao Chile em busca de uma mulher que teria respostas sobre questões do seu passado. Também vou comprar “Falando com os Mortos” (história das irmãs Fox, precursoras do espiritismo), “A Delicadeza” (David Foenkinos), entre outros.
Reli reportagens maravilhosas como a história da caiçara Lydia Gonçalves que aprendeu a ler aos 65 anos e já escreveu um livro; a de Nellie Bly, escritora, única repórter mulher da primeira guerra mundial; e uma crônica linda do José Ruy Gandra onde fala de amor, mal, morte, tempo, um verdadeiro legado a seus filhos ensinando-os lições como “Alegrias extremas. As dores mais lancinantes. Agradeçam o que o destino lhes reservar. Os bons momentos alegram a alma. Os ruins ajudam a lapidá-la”.
Na seção Móveis – Decoração – Casa tem recortes de coisas que sei não vou comprar, mas são tão bonitinhas, como a capa para chaves em formato das bonequinhas russas Matrioskas ou o espremedor de limão em forma de barquinho.
Descobri que existe sorvete para cachorro, sabor bacon e custava (quando saiu a revista) a bagatela de R$ 5,50 o pote com 80 gr. – mais caro que sorvete diet, de gente!
Tudo recortado e guardado no caderno!
Foram horas e mais horas de recordações, reflexões, paz.
Recortar revistas faz bem para a alma!
Mas se vale um conselho, quando receber, em uma revista, alguma “amostra” de produtos, retire-os logo... coloquei no lixo inúmeros saquinhos com cremes hidratantes, creme dental, chás, etc. tudo vencido!