sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

CARTA AO MEU FILHO


Meu querido,

Eu sabia que a sua ausência ia doer fundo na minha alma, mas não sabia que a saudade vinha nas grandes e pequenas coisas.
Sinto muito a sua falta, fisicamente falando, seu quarto vazio é um túnel sem luz ao final, mas quando fica insuportável, não tenho vergonha de falar, deito na sua cama, cheiro suas roupas, choro e depois de um tempo, levanto-me, lavo o rosto, e volto a enfrentar a vida.
Porém existem coisas que eu só me dei conta quando perdi...
Ninguém mais pergunta, ao apagar das luzes, se quero um copo d’água.
Ninguém me oferece uma bolsa de gelo, só de olhar para meu rosto, com a finalidade de aliviar a dor de cabeça.
Ninguém mais chega à porta do meu quarto só para perguntar: - Mãe, tudo bem? Precisa de alguma coisa?
Mãe, vou sair, se quiser alguma coisa é só ligar...
Sabe, meu filho, com essas pequenas coisas a saudade só faz aumentar. Mas como sempre repetiram para mim, como um mantra, “você é forte”, estou tentando sê-lo e seguir adiante.
Com o tempo eu vou aprender que a distância é só um detalhe, que o mais importante é a consciência tranquila de que o homem que eu criei e eduquei está mais do que pronto para enfrentar o mundo de cabeça erguida, valores íntegros, caráter incorrompível.
Vou aprender que o mais importante é o amor imenso que carregamos no coração e que ninguém pode sequer tocar!
Mas tem uma coisa, meu amor, que está me matando... eu havia esquecido como é fazer compras em supermercado! Meu Deus! É tortura medieval... Obrigada por tê-lo feito para mim todo esse tempo. Isso é prova mais incontestável de amor verdadeiro! Não volto sozinha nunca mais...
Com todo meu amor e saudade,

Mamãe

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

DESPEDIDA

VOO
(Kátia Corrêa De Carli)

Ao meu filho Roberto

"Deixe em paz meu coração,
Que ele é um pote até aqui de mágoa”

Busco em dores já cantadas
Para ver se encontro como definir
Essa coisa nova que estou a sentir.
É orgulho misturado com tristeza
Satisfação bem batida com angústia
Certeza de dever cumprido costurado numa dor sem explicação,
É muito difícil descrever o que passa no meu coração.
 Chegou o momento da despedida

"Nada será como antes, amanhã..."

Nunca mais à distância de um chamado
Nunca mais ao alcance diário da minha mão.
Então, vocês que não conhecem essa dor,
Não tentem me consolar com definições
Ou fazendo comparações, dizendo que há dores maiores e irreversíveis.
Nestas horas de separação, só quero ocupar-me de mim mesma
Por isso me perdoem o egoísmo,
Só eu conheço o rombo da minha própria solidão
Que arde qual álcool em ferida aberta,
Que tira a paz do meu coração.

"A dor é minha, a dor é de quem tem"

Sei que é hora de se lançar,
Quanto a isso não me preocupo,
Há tempos te ensinei a voar.
Mas esqueci de me preparar para esse voo solo
Onde não há mais espaço para mim.
Como pude cometer tal desatino?
Esqueci que cada qual tem seu destino...
Vai menino querido, voa alto, voa grande,
Vá certo da vitória merecida
E deixe em cada coração que posou
Um pouco de amor espalhado,
Saudade só salpicada,
Certeza do espaço especial que ocupou.
Voa meu menino passarinho
É hora de deixar o ninho.