sexta-feira, 30 de novembro de 2007

GARRAFAS

Cheias, sempre cheias:
de líquidos,
de beleza,
de pensamentos,
de sonhos de vir a ser...

Uma ótimo fim de semana a todos que por aqui passsarem, aos meus amigos queridos, conhecidos e ainda por conhecer, mas, com certeza selecionados pelo Pai para preencherem os espaços a minha existência.

Foto: Feira de Santelmo - Buenos Aires

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

DESCONHECIDO


Você que veio a esse mundo
Destinado a me encontrar,
Não se apresse, não se preocupe
Eu sei esperar.
Prove de todos os copos,
Sirva-se de todas as mesas,
Beije todas as bocas,
Desnude todos os corpos,
Sorva do néctar de cada seio,
Conheça cada fenda.
Viaje rumo ao desconhecido,
Navegue, mesmo contra a tormenta.
Saboreie cada momento.
Voe de encontro à lua,
Desfrute de toda a beleza,
Se entregue sem barreiras.
Dance a sinfonia do amor
Sinta cada nota,
Descubra cada tom,
Não se furte a nada,
Nem mesmo à dor.
E quando você se cansar
(A gente sempre se cansa)
Na busca da fechadura
Que se ajusta às suas chaves,
Não se inquiete, acalme-se,
Apenas remova todos os entraves,
Pois terá chegado o momento, então,
Que Deus para nós reservou
E nossos caminhos se cruzarão.
Mesmo assim, não tenha pressa,
Respire fundo, sinta seu ser
Invadido de plena felicidade.
Irei a seu encontro,
Nem que seja na eternidade.

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro: Múltiplas Faces
Ilustração: Joyce Brandão

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

QUANDO...

Quando eu me for para longe
Quando os seus olhos não mais puderem alcançar-me,
Lembre-se de mim.
Quando meus olhos não mais brilharem
Pelo simples fato de fitar os seus,
Lembre-se do que fui.
Quando já puder olhar você de frente
E a dor não mais travar minha garganta ao ver você,
Lembre-se do que partilhamos.
Quando tudo tiver se esvaído
Na bruma insondável do tempo,
Lembre-se de mim, com carinho.
Quando os anos insistirem em apagar
As recordações de tudo que vivemos,
Ne música, nem retrato, nada sobrar,
Dos bons momentos que tivemos,
Apenas lembre-se de mim.
Pois assim viverei eternamente
No seu coração e na sua mente.
Porém, se ao lembrar-se,
Uma tênue névoa turvar seu olhar,
Prefiro, mil vezes, que se esqueça e que sorria
Do que, ao lembrar-se, entristecer-se

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro: Múltiplas Faces

Imagem: Parco Sempione - Milão - Itália

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

ASSIS - ITÁLIA


Embora não sendo católica e, portanto, não tendo apego por imagens e santos, existe algo maior que me une a São Francisco de Assis.
Talvez por ser romântica inveterada e ter um fascínio pelas histórias de casais sofredores: Francisco e Clara de Assis, Abelardo e Heloísa, Romeu e Julieta, Dirceu e Marília... essas pessoas sempre me pareceram especiais e, dentre todos, Francisco o mais especial.
Como Roma (para mim) foi aquela "maravilha" que relatei, não perdi a chance de tirar um dia para conhecer Assis.
É claro que eu não esperava encontrar a Assis do filme, com seus campos, suas casas e povo humilde, sua capela rústica... na verdade eu não sabia bem o que iria encontrar, só sabia que existia uma força maior que me impelia a ir até Assis.
Do baixo, onde fica a estação, avista-se, majestosa, a Basílica.
Fomos direto para lá e ao entrarmos estava acontecendo uma missa. É muito bonita, tinha muita gente, etc e tal. Como era terminantemente proibido fotografar, comecei a andar pela basílica, tentando evitar os grandes grupos.
Fui devagar, admirando os vitrais, os painéis, as pinturas... e dentre as opções possíveis, optei por seguir à esquerda.
Foi quando comecei a sentir um arrepio e uma emoção diferente.
À medida que avançava essa sensação se tornava mais e mais intensa, até que percebi estar exatamente em frente ao altar onde estão os restos mortais de Francisco de Assis, na pequena capela por ele construída com a ajuda de seus fiéis seguidores e que lá também se encontram.
Ao tocar aquelas pedras, já não me era possível segurar as lágrimas.
Fui tomada de um pranto convulsivo, de emoção pura e de uma paz que jamais havia experimentado.
Quanto tempo permaneci ali, meio ajoelhada, meio sentada, não sei...
Só sei que foi uma das emoções maiores da minha vida. Daquelas que a gente não encontra explicação e que carrega vida afora, eternidade adentro.

"O Franciscanismo é o imenso mundo onde harmoniosamente encontram lugar Deus, o homem e toda a natureza.
Em Assis o mesmo sol, a lua, as estrelas, o fogo, a água, o vento se sentem como em sua própria casa, porque Francisco chama a todos com o doce nome de irmão e irmã.
Até o ponto que o conjunto do plano divino da criação ante Francisco perde o véu que o esconde dos demais mortais.
Francisco contempla a natureza com assombroso e reverente olhar como a contemplou o primeiro homem no radiante amanhecer do mundo "

DICAS:
- Se algum dia tiver a chance, única, de conhecer Assis, não deixe escapar...

- Preste atenção ao chegar à estação, pois é necessário pegar um ônibus para chegar até os portais da cidade e o ponto fica do outro lado do asfalto (eles também não são muito bons em ofertar informações). Se estiver em grupo é melhor pagar uma van, que cobra preço fixo e não por passageiro.

- Passeie, em pressa, pelas ruelas medievais, com suas lojas de artesanato. São bordados, esculturas, pinturas, armas medievais, que você só encontra lá.

- Visite a Igreja de Santa Clara, no lado oposto da cidade.

- Visite a casa onde viveu São Francisco.

- Na rua que dá acesso à Praça Principal, tem uma pizzaria (não me recordo o nome), é só uma porta, um balcão com as pizzas expostas do lado direito e um com banquetas do lado esquerdo. Você come uma pizza deliciosa, sem contar que tem uma placa dizendo: "Se estás mal humorado, aqui não é seu lugar". Amei! Ah! Tem também um painel onde as pessoas escrevem nos pratinhos de papelão e deixam suas mensagens... quem for lá procura pela minha.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

DOR DE MULHER


Dor de mulher eu conheço
Dor que sangra, escorre e acaba
Repetindo tudo no outro mês.
Dor que contrai, rasga e expele
Esquecida ao primeiro choro.
Dor de agonia,
Nas noites intermináveis de vigília.
Dor de emoção,
Que embarga a garganta
Na primeira separação.
Dor de filho,
Que se confunde com a dor da gente,
Porque mãe é tudo igual.
Dor de alívio
Ao ver a prole de volta na madrugada.
De dor de mulher eu entendo.
Mas essa dor nova,
Que dilacera as entranhas,
Que faz urrar de desespero,
Que sangra,
Que rasga,
Que fere
Mas nada expele.
Que não tem alívio,
Que não se esquece,
Que não tem ciclo,
Que só provoca mais dor,
Deixando sem fé o coração.
Essa?
Só sinto.
Entendo não.

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro Múltiplas Faces
Ilustração: Joyce Brandão

domingo, 11 de novembro de 2007

A HISTÓRIA DE LEDA

Era uma mulher resolvida. Autoritária, até. Tinha tudo muito bem encaixado na sua vidinha “mais ou menos”: ora era mais, ora parecia menos, mas nada que trouxesse grandes questões existenciais. Era feliz. Também não conhecia nada além daquele mundinho em que vivia.
Tudo em sua vida era planejado e calculado.
Porém a paixão que surgiu, numa idade em que não se vivem mais paixões, pegou-a desprevenida e deixou-a sem chão.
Marcelo, 10 anos mais moço, também apaixonado, era tudo o que ela sonhava de um homem e nunca ousara sequer pensar que existisse. Gostava de música clássica, fazia declarações, mandava músicas, fazia poemas, gostava do pôr-do-sol, trocava energia com as palmas da mão, dava carinho depois do amor... era o homem perfeito.
Talvez por ser mais jovem, fosse mais impetuoso e impaciente. Daí jogou tudo para o alto – família, emprego, estabilidade – para viver esse grande amor, que ele jurava ser único, eterno, que nada neste mundo mudaria.
Falavam de almas gêmeas, um completava a frase (às vezes até o pensamento) do outro.
Outras vezes nem palavras eram necessárias.
Foram tantas as declarações que Leda acabou acreditando que era mesmo especial.
Porém havia um problema: assim como Marcelo, Leda era casada, tinha filhos, vida estabilizada e, diferente dele, na hora H acovardou-se.
Marcelo se foi... e ela ficou só, vivendo da recordação desse amor. Da crença que acontecesse o que acontecesse esse amor seria eterno, pois era diferente, especial. Marcelo havia dito isso tantas vezes, de tantas formas, que ela não podia duvidar. Fez disso sua verdade absoluta e dessa verdade fez sua vontade de viver e esperar pelo futuro.
Anos se passaram... Outros amores vieram, para ele. Ela permaneceu fiel ao “Amor Eterno” a Marcelo, apesar de continuar casada e viver mais ou menos, porque agora ela sabia que existia um paraíso e que ele era acessível para pessoas corajosas.
Até que um dia ele apareceu novamente, década depois.
O Amor de Leda permanecia intacto e ainda covarde... mas Marcelo era outro e ela não percebeu.
Tentou encontrar nele o seu Amor proibido, meteu os pés pelas mãos, como só as mulheres muito apaixonadas ou muito loucas sabem fazer.
Marcelo suportou algumas intromissões, algumas cobranças, até algumas presenças...
Mas um dia o pote transbordou... para ele era cobrança demais...
E só então ela descobriu que nunca havia sido especial, tampouco inesquecível, que o que era para ser eternamente há muito havia chegado ao fim... ela não era mais nada, tudo não havia passado de um engano!
Marcelo queria-a longe de sua vida... Tudo isso dito sem meias palavras e em negrito.
Ele conseguiu de um só golpe o que o irmão tentara a vida inteira: convencê-la da sua incapacidade, inadequação, inferioridade.
Primeiro veio o torpor.
Ficou meio que anestesiada, não era com ela... não podia ser com ela. Como poderia mudar assim? E as cartas que ela ainda guardava? Era tudo mentira? Onde estavam as verdades, nas palavras de outrora ou nessas de agora?
Depois quis morrer. Arquitetou o suicídio. Não haveria de ser intempestivo como o dos homens, que estouram miolos sem nem se preocupar com quem vai limpar a sujeira e se vai estragar as feições (muito embora nestes anos houvesse aprendido a lidar com armas de fogo, para uma eventualidade, nunca se sabe). Poderia ser com barbitúricos, tinha uma gaveta cheia, vinha acumulando fazia tempo, era mais glamouroso e indolor. Mas como explicar aos filhos e marido e amigos: “Matei-me porque um amor que nem já era meu não me quer mais nem em forma de esperança”? Não dava... Suicídio sem explicação é dupla covardia.
Depois se lembrou da amiga que odiava as músicas cantadas em velórios e que havia decidido deixar pronta a trilha sonora de seu enterro (nunca se sabe quando essas mortes covardes e repentinas chegam, é melhor estar prevenida) e ela nem trilha sonora tinha... só a música Coming Around Again da Carly Simon (porque falava de coração partido) e Iris do filme Cidade dos Anjos... ambas por causa de Marcelo...
Lembrou-se também de ter lido na internet que quem quer mesmo se matar não pensa, se mata.
Daí desistiu.
Tentou ter raiva... mas não conseguiu, ainda transbordava de amor, apesar das palavras duras e do negrito.
Foi só no terceiro dia que as lágrimas chegaram... mas como explicá-las se a vida continuava a mesma, se os filhos continuavam com saúde e encaminhados na vida, o marido atencioso? E elas teimaram em aparecer logo num dia em que o casal tinha um compromisso que nenhuma dor de cabeça poderia justificar a ausência.
Então veio a velha desculpa: caiu shampoo!
Leda foi para frente do espelho, lembrou-se da avó e passou o batom carmim. Dizia a avó: Quando se está triste tem que desviar a atenção das pessoas e nada melhor que vermelho vivo.
Vestiu-se com apuro, também de vermelho, maquiou-se e fez sua entrada triunfal.
Sorriu, foi gentil, riu das piadas de sempre, agradeceu os elogios...
Seu rosto e sorriso permaneciam intactos (anos de experiência na arte da simulação a haviam preparado)...
Ninguém nunca saberia que sua alma tinha mais pedaços que o bolo oferecido, que por sinal ela recusou, seria comemoração demais!


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

REENCONTRO

Maria Helena (Helena, por favor, dizia ela, que odiava o Maria) ainda era uma mulher bonita, na casa dos trinta e inconfessáveis anos. Não que sempre tivesse sido uma mulher bonita, daquelas que chamam atenção por onde passa, mas tinha cabelos negros, compridos, corpo esguio, porte altivo. Mas o seu forte eram os olhos, de uma cor, ou melhor, de várias cores, pois podiam ser azuis, verdes, cinzas, de acordo com o humor, o serviço metereológico, a roupa, etc. e ela sabia usar isso a seu favor.
Como toda mulher que se preza, na história de Maria Helena havia a existência de um grande amor: o José Antônio, por quem fora apaixonada quando tinha 15 anos e abandonada, sem maiores explicações, por conta de fofocas (muito comum naquela época em cidade de interior). Sumariamente julgada e condenada, a pobre nem teve como se explicar.
Esse amor acompanhou-a incomodando por boa parte da vida. Evitava envolvimentos, fugia de compromissos, até que passou.
Maria Helena casou, teve filhos, virou executiva de sucesso.
Do passado sobraram os olhos de muitas cores e o porte altivo – talvez para parecer mais alta.
Mas de vez em quando ainda lembrava daquele primeiro amor adolescente, que nem se concretizou fisicamente (por falta de oportunidade e espaço físico).
Quando julgava ter enterrado o passado, um dia, na volta da praia, passa Maria Helena por uma farmácia. Completamente descomposta (para seus padrões): short jeans, parte de cima do biquini à mostra, cabelos presos num rabo de cavalo, sem maquiagem, - um desastre! E dá de cara com José Antônio (um pouco mais gordo, mas isso ela só foi perceber depois de passado o susto).
Veio a tremedeira, o suor nas mãos, a taquicardia – esses sinais bobos de mulher sentimental.
- Olá! Quanto tempo?
- É, quanto tempo...
(e quase que ela começa a cantar Sinal Fechado...)
Conversa vai, conversa vem, ela querendo sumir com suas pernas expostas, sua barriga exposta, seu coração exposto... e ele:
- Eu me separei, você sabia?
É claro que ela sabia, nos mais sórdidos detalhes do escândalo, mas limitou-se a responder:
- É... a vida é assim...
- E você? Continua casada?
- Sim, continuo...
Silêncio
- Bem que eu poderia ter me casado com você... quem sabe teria sido feliz?
Ela olhou-o bem nos olhos, respirou fundo – afinal havia chegado o momento pelo qual esperava há mais de 20 anos – e respondeu:
- Não casou porque não quis. Eu era apaixonada por você. Agora é tarde... Adeus, preciso ir...
Virou-se e saiu caminhando sem olhar para trás.
Mas já não era orgulho ferido. Não queria que José Antônio percebesse as lágrimas no olhar.
Só então percebeu que a vingança tem um gosto amargo demais.

(imagem: Terceira Ponte, Ilha de Vitória-ES ao fundo, foto original em sépia)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

POMPÉIA

Saímos de Roma cedo para visitarmos Pompéia...
A gente estuda no ginásio (colegial, fundamental ou o nome que tenha agora) toda a história de como as lavas do Vesúvio soterraram a cidade, pegando desprevenidos seus moradores, que morreram na posição em que se encontravam, etc. e tal.
Daí passa o tempo, vêm os documentários de TV e só reforçam essa imagem: Uma cidade soterrada (e preservada pelas lavas) no auge do seu cotidiano.
Bom, era isso que eu esperava encontrar... As pessoas (ou o que restou delas) nas suas tarefas, dormindo, ou seja, uma cidade habitada e em atividade.
E???? Nada! (rs)
Bem feito para mim que não pesquisei direito...
Mas se estão pensando que vou explicar direitinho para vocês, enganam-se. Deer de Casa. Vão estudar! (rs)
Pompéia é muito bonita, ainda mais com o Vesúvio como a espiá-la ao longe. Fico imaginando o que deveria ter sido no auge, uma vez que ela surge entre fins do século VII a.C. e primeira metade do século VI a.C. e só vai ser sepultada pelas cinzas do Vesúvio em 79 d.C.
É incrível como milênios depois ainda permanecem perfeitos mosaicos delicados, pinturas (algumas exóticas - ou eróticas - que não ouso postar aqui), murais e muitas outras obras de arte e utensílios.
É história pura, na sua forma mais primitiva.
Vale conhecer!

Quanto a Nápoles não posso falar muito. O tempo foi curto, portanto o que vi foi pouco:
Uma baía linda (vista de longe). Um trânsito caótico (visto de perto). E casas e ruas antigas que tentei ver mas fui impedida pela quantidade de roupas estendidas nas janelas e por sobre as ruas. As pessoas espalham os varais de um lado a outro na rua e põem as roupas para secar. É a intimidade revelada nos seus mínimos detalhes... Depois de quase ficarmos surdos com as buzinas e os gritos, de quase sermos atropelados (você tem que disputar no grito a preferência ou o direito de atravessar qualquer rua), desistimos e voltamos para a Estação. (Não tenho fotos de Nápoles, tive que optar em fotografar ou permanecer viva... vocês conhecem a opção)




















DICAS:

- De Roma vá até Nápoles em trem convencional. Na própria estação você pega uma espécie de metrô de superfície – ou trem suburbano – e vai até Pompéia. É um passeio que dá para ser feito em um dia.

- Use filtro solar, bastante filtro solar e chapéu. Não existem árvores nem sombras em Pompéia...

- Use tênis ou sapato fechado. Tem uma poeira preta que impregna no corpo.

- Faça um bom lanche antes de entrar, porque depois que está lá dentro é impossível voltar e chegar a um lugar onde tem cantina - é longe, cansativo e difícil.

- Pompéia é enorme, então escolha o que quer ver... Logo na entrada você vai receber um mapa e um livreto com um pequeno guia. Priorize. Mesmo porque depois da quarta rua você vai achar tudo muito igual.

- Existem casas e monumentos mais importantes, dê atenção a eles, como a Casa de Fauno, as Termas, a Casa dos Vettii, a Casa de Apolo e outros. É humanamente impossível andar e conhecer tudo.

- Ah! Não espere encontrar os “defuntos” na sua atividade cotidiana... eles só existem nos documentários da TV e uns poucos em exposição nos “Graneros Del Foro”.

- Se decidir conhecer Nápoles, reserve um tempo para isso e faça um tour (de carro especial, acho que eles têm preferência no trânsito)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

ALBERTO CAEIRO

Porque hoje minha cabeça contém pensamentos demais, e borbulha, e explode, e dói.
Porque hoje, mais que nos outros dias, meus pensamentos conseguem ser mais rápidos que minhas ações...
Porque hoje eu estou uma porcaria, então, para não escrever o que não devia, deixo-lhes com meu Grande Poeta:

SE ÀS VEZES DIGO QUE AS FLORES SORRIEM
(Alberto Caeiro)

Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.

(Imagem, Paris - Rio Sena)

sábado, 3 de novembro de 2007

CLARICE LISPECTOR


Porque hoje me deu vontade de deixar aqui uns versos daqueles que só almas muito iluminadas escrevem...


MEU DEUS, ME DÊ A CORAGEM
(Clarice Lispector)

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.
(Imagem: Basílica de Sacre Coeur de Montmartre - Paris)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

DE PARTIDAS E DESPEDIDAS

Ao meu querido amigo Jackson,

Você se foi.
Não deu tempo nem da gente se despedir.
Reconheço que sua partida não foi súbita nem inesperada, há tempos ela já se anunciava e nós, seus amigos, fazíamos de conta que não percebíamos como que querendo iludir a você e a nós mesmos.
De repente a notícia chegou.
Você tinha desistido de lutar (ou não conseguiu mais, ou cansou, quem sabe?) e partido.
Ficamos, então, parados, estáticos, como quando sabemos que alguém vai viajar só depois da partida, só que sua viagem não tinha bilhete de volta, você nos deixou, meu amigo.
E agora? Como conviver com essa ausência?
Quem nos trará, no meio da tarde, um lanche do Bob’s dizendo para comer sem culpa, que depois faríamos dieta?
Quem se lembrará de nos mandar balas em formato de flores?
Quem brincará de imitar os colegas fotografando paisagens imaginárias ou imitando esfinge?
Agora, com certeza, você já está percorrendo as galerias de algum shopping celeste em busca das novidades ou algum tênis diferente.
Lembro-me quando você foi embora para o Rio de Janeiro dizendo que sua ida era inevitável, pois precisava alçar novos vôos. Você partiu feliz e nós ficamos numa tristeza sem fim, mas torcendo para que você realizasse todos os seus sonhos.
E você os realizou.
Fez novas amizades (impossível lhe conhecer e não ser cativado), viajou mundo afora, viveu intensamente...
Não me interessava o modo como você levava sua vida, ela só dizia respeito a você mesmo, mas me interessava muito saber se você estava bem, se era feliz, e quanto a isso não resta a menor dúvida quando lembro do teor dos inúmeros bilhetes que trocamos (via malote), sempre recheados de brincadeiras, gozações e de amor, muito amor.
Jamais esquecerei tudo que compartilhamos, até das brincadeiras em seu leito de hospital. Eu brigando para você melhorar logo porque estava esperando pra fazermos longos passeios gastronômicos e consumistas (tudo para iludir a dor...)
Não foi possível fazermos nada para aliviar a sua agonia.
Alguém que não me recordo disse que a gente começa a morrer no dia que nascemos... mas bem que você poderia ter tido uma nova chance, você ficou pouco tempo aqui, foi-se cedo demais...
Fazia uma noite até bonita quando você partiu.
Só nos restou dizer adeus, meu amigo querido.
Acredito que, enfim, você alçou o vôo mais alto. E para nós só ficou essa saudade que dilacera a alma (mas que um dia acalma, eu sei), essa dor que invade nosso peito e parece não querer nunca mais ir embora e a tristeza de não ter podido dizer-lhe, pela última vez, face a face, o quanto eu o amava.
Com certeza um dia a gente ainda se encontra e te juro, desta vez, não deixarei que se afaste assim, tão depressa...
De onde você estiver, olhe por nós, em contrapartida estaremos orando por você (não acha uma boa troca?!)
Até um dia.