quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

MAIS UM ANO OU MENOS UM ANO?

Presépio de 3cm de altura, esculpido em alabastro, artesanato Peruano - Cuzco

Pois é, chegamos novamente ao Natal! Parece que foi ontem que uma turma de blogueiros malucos ( Eu, Loba, Jacinta, Ana Lúcia, Miguel, Shumy, Zeca, BetiTim, Sergio, e mais um monte de gente que meus neurônios insistem em ocultar) estávamos que nem crianças brincando de Amigo Oculto. Teve presente em forma de vídeo, poema, pintura... toda forma de arte "blogável" (acabei de inventar, nem adianta procurar!). Agora estou aqui. Parece que perdi um tantão da minha alegria, a criança que mora dentro de mim resolveu se esconder. É Natal. E os sorrisos são meio forçados, o ânimo me falta, nem tenho nada programado...
Mas é Natal! Aniversário de Jesus!
Então, como também não consigo escrever belas mensagens, fiquemos apenas com um ensinamento que Ele nos deixou: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo". Se eu amo o meu próximo como a mim, só lhe desejarei o mesmo que desejarei a mim.
Então, a todos, Feliz Natal!
E para 2009: SAÚDE, SAÚDE e mais SAÚDE!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

DE AMORES


Porque estava conversando com uma amiga sobre tudo e sobre nada e falávamos sobre um grupo que iria montar uma peça “De Amores” porque ela havia apresentado-lhes a música-texto Vênus, do Paulinho Moska e então eu lembrei do primeiro verso que diz “A religião que nós dois inventamos/Merece um definitivo talvez... pelo menos” e lembrei de um amor perdido, que não teve sequer um talvez, lembrei de todos amores jurados para sempre que descobriram que pra sempre é um lugar que não existe, lembrei de um amor que um dia foi todo meu e, depois de outros amores, diz para outra pessoa "Because I love you... plain and simple as that!", porque eu lembrei que ouço, choro, torno a ouvir, chorar...
Mas é lindo!
Compartilho com vocês o texto:

Não falo do amor romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,o amor será sempre o desconhecido,
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
Quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor, não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.





terça-feira, 15 de dezembro de 2009

ILUMINE SEU NATAL!

Não custa a gente trazer para os dias de hoje um pouquinho da ilusão dos pedidos infantis de outrora!
Pode parecer bobagem, mas eu já fiz meu pedido! Com toda crença de que alguém lá em cima me atenderá!
Faça também o seu!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

CONTO DE FADAS ÀS AVESSAS


Não se pode dizer que Márcia era uma menina como todas as outras meninas que conviviam com ela, ela escondia segredos, muitos segredos, inconfessáveis segredos. Ninguém percebia, desde cedo ela aprendeu a arte da ocultação (o que muito lhe valeria vida afora).
Que era bonita ninguém podia negar...
Os anos foram passando e vieram os primeiros namorados.
Até que um dia ela conheceu Eduardo. Foi amor mesmo. Daqueles de cinema. A família dele aprovava a moça bonita, bem educada.
A dela não confessava, mas via naquele namoro a galinha dos ovos de ouro. Eduardo era tudo: alto, bonito, educado, rico... entenderam? Rico!!!
O namoro evoluiu para o noivado. Naquela época ainda se noivava. E tudo corria às mil maravilhas.
Mas quis o destino, em uma de suas voltas, que tudo acabasse: namoro, noivado, sonhos.
Márcia chorou por muito tempo. O namoro desfeito, o amor perdido, a cobrança familiar.
Pouco soube do Eduardo nos anos que vieram.
O tempo passou, ela conheceu Lucas, amou novamente (é claro que não foi o mesmo amor, mas era amor), casaram-se, tiveram filhos e seguiram adiante.
Juntos construíram uma família, um patrimônio material e imaterial. Porém Márcia agora também carregava dentro dela uma tristeza, junto com os segredos, mas ninguém enxergava. O casamento, com o tempo, foi ficando ruim. Não que ela não tentasse salvá-lo. Bem que tentou. Fez-se surda, muda, cega, variando a cada situação. Mas eram gritos demais, desamor demais, infidelidade demais e tudo que é demais um dia transborda. O casamento de Márcia transbordou.
Sobraram mais cobranças, mais responsabilidades, mais tristeza.
Até que Eduardo apareceu novamente. Na forma de uma possibilidade, na forma de um amor que poderia voltar a ser.
A princípio o medo, o frio na barriga, as horas ao telefone tentando colocar décadas de separação em dia. Márcia ficou sabendo dos casamentos dele (acho que sempre na tentativa de buscar uma Márcia que tinha ficado no passado). Eduardo ficou sabendo das tristezas dela.
Nenhum dos dois contou tudo... Ainda sobraram segredos como fantasmas a separá-los.
Depois de um tempo, muito tempo, voltaram a se encontrar pessoalmente... ainda era o mesmo amor!
Márcia guardou para si as coisas ruins: os gritos do ex, as armações da atual do ex, os problemas financeiros por causa do ex, os desencontros com os filhos. Deu-se na sua melhor parte.
Eduardo levou junto com ele as frustrações dos seus casamentos, os problemas empresariais, o whisky... Talvez por medo, não tenha levado o melhor de si.
Viveram um idílio... até que Eduardo, sem mais adeus, sumiu.
Fosse a primeira vez, ela até se desesperaria. Mas os dias viraram semanas, as semanas meses...
Márcia ficou péssima, tivesse dinheiro, disposição e menos problemas, faria um ano sabático na Índia ou no Tibete, mas como não tinha, fez uma semana sabática em seu quarto mesmo.
Mas como mulher de fibra como ela está para nascer outra, um belo dia acordou, tomou um demorado banho, se arrumou toda, colocou uma pedra de granito sobre o passado (porque era mulher fina!) e partiu para viver mais uma vida.
Fechada para o Eduardo, o Lucas, sua família sanguessuga, a atual do ex e suas armações, sem se importar demais com os problemas dos filhos.
Aberta só para a arte e para a vida.
(Mas por via das dúvidas guardou gravado no celular, dois ou três torpedos enviados por Eduardo para quando a saudade fosse um fardo difícil demais de carregar!)

(Imagem: medicinaintensiva.com.br)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ENCHENTE EM AFONSO CLÁUDIO - PARTE III


Segundo dados oficiais da Prefeitura Municipal de Afonso Cláudio, até a presente data, a situação do município é a abaixo relacionada, podendo vir a ser alterada, pois ainda estão chegando informações de localidades do interior que se encontram isoladas.

Números de afetados - 23.297 pessoas
Números de desabrigados - 144 pessoas
Números de desalojados - 192 pessoas
Casas danificadas - 31
Casas destruidas - 14
Casas comprometidas - 22
Casas alagadas - 79
Perda de móveis - 68 famílias
Comércio afetados - 50 estabelecimentos
Comércio destruído - 01 estabelecimento

domingo, 6 de dezembro de 2009

ENCHENTE EM AFONSO CLÁUDIO - ES (PARTE II)















As fotos eu "tomei" emprestado (sem falar, pois não a conheço, mas desde já agradeço por nos mostrar a extensão da tragédia) da Franciele Galvani, através do orkut da amiga Lúcia Helena Deorce.
Pelo que eu pude saber, através de informações de amigos daqui de Vitória e de lá é que os Bairros Boa Fé e Bela vista foram os mais afetados. As águas inundaram toda a parte baixa da cidade, as Avenidas Presidente Vargas e Marechal Deodoro, chegando até às calçadas da Igreja Católica. Muitas casas estão condenadas. Houve o desabamento de um restaurante que ficava na rua "do outro lado do rio", na rua da Escola de Contabilidade.
Há notícia de que carros foram arrastados.
Graças a Deus até o momento não se sabe de mortes em decorrência da tromba d'água.
Essa foi uma forma que encontrei para deixar outros afonsoclaudenses cientes do ocorrido.
Coloco esse meu espaço à disposição de qualquer iniciativa que venha minimizar o sofrimento de todos.

ENCHENTE EM AFONSO CLÁUDIO - ES

Ponte do Ginásio

Prefeitura Municipal

Praça Aderbal Galvvão

Ontem à noite chegou-me a notícia que havia acontecido uma grande enchente na minha cidade natal.
Meu coração se apertou de tal forma que até a respiração ficou difícil.
Já me acostumei, nos últimos tempos, a ver enchentes, tornados, destruição, pessoas que perdem tudo, literalmente, mas isso confortavelmente sentada no sofá da minha casa, olhando estranhos. É claro que o sentimento de pesar me acompanhava naqueles momentos, mas eu pensava: Que pena! Coitados! Infelizmente não posso fazer nada.
Agora não!
Os coitados são amigos. São pessoas importantes na minha vida.
Dizem que a água chegou sem aviso... foi tomando tudo, destruindo tudo. Fosse noite, muitos teriam morrido.
Tudo isso me faz lembrar quando criança, pequena demais para guardar essas lembranças, morando numa casinha à beira do rio e chegava a época das enchentes. A água ia subindo... meus pais, padrinhos, amigos revezavam na vigília, a pressa em tirar o pouco que tínhamos, panelas, pratos, etc. e levar para cima, onde ficavam o quarto e sala (não me lembro da casa ter banheiro) e a água invadia aos poucos e subia, subia e com ela vinham as cobras e o medo.
Esse mesmo Rio Guandu da minha infância, agora leva com ele os pertences de amigos e desconhecidos, mas ligados a mim pelo fato de sermos da mesma cidade.
Custa-me ver a praça da minha adolescência, recém reinaugurada, debaixo d’água.
Dói-me ver a ponte por onde passava todos os dias para ir à escola condenada pela ação da força da água.
Dói-me... mas agora eu posso fazer diferença!

(fotos: FRANCIELE GALVANI)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PALMEIRAS & SABIÁS



Minha terra não tem palmeiras... mas tem sabiás!
Eles me acordam pela manhã, num relógio que só eles entendem. Uns dias é às 6, outros às 8, mas como não temos nada melhor para fazer - eles cantarem e eu ouvir - a hora é o que menos importa.
Minha terra tem também duas borboletas: uma branca e uma amarela. A branca aparece junto com os sabiás, mas a amarela, acho que é meio preguiçosa, como eu, só aparece no final da tarde.
Ah! Tem também bem-te-vi e outros pássaros que não distingo o canto.
Tem uma parte onde o sol brilha que chega doer os olhos. Parece que o mundo inteiro está iluminado.
Minha terra tem árvores de vários verdes que dançam um balé magnífico, ao por-do-sol, regidas pela brisa da tarde.
Tem uma pedra e um lagarto (ou seriam vários largatos, não sei!) que todas as manhãs vem para tomar sol.
De vez em quando aparecem uns micos (de verdade!) que fazem a maior arruaça e seguem faceiros enquanto os cães ladram!
Tudo isso tem na minha terra... vista da janela do meu quarto!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

BOLETIM MÉDICO



Caros amigos


Comunico que correu tudo bem.
Agora, além das dores "normais", dói o pé, e muito.
Agora é ficar de perna para cima (senão dói mais ainda) e esperar, esperar...
A grande lição de agora é Paciência!
Obrigada a todos, pelas preces, energia positiva, mentalizações, etc. Saibam que tudo isso chegou até a mim em forma de tranquilidade para enfrentar mais essa provação.

Um grande e afetuoso beijo

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

PORQUE AINDA ESCOLHO DANÇAR! (UM DIA, QUEM SABE?!)





(Música I Hope You Dance - Ronan Keating)
Eu espero que você nunca perca seu senso de arrependimento,
Que você coma o suficiente mas sempre mantenha essa fome,
Que você nunca apenas respire,
Deus proíba qualquer amor que deixe você vazio,
Eu espero que você ainda se sinta pequeno quando você parar do lado do oceano,
Quando uma porta fechar eu espero que mais uma se abra,
Me prometa que você dará ao destino uma chance de lutar
E quando você tiver que escolher entre sentar ou dançar

Eu espero que você dance.... eu espero que você dance.

Eu espero que você nunca tema aquelas montanhas ao longe,
Nunca amenize para a estrada ao mínimo de resistência
Viver significa arriscar-se, mas vale a pena se arriscar por ela,
Amar pode ser um erro, mas vale fazê-lo,
Não deixe nenhum coração infernal maluco deixar você amargo,
Quando você estiver perto de trair, pense melhor,
Dê aos céus lá em cima mais do que apenas uma rápida olhada,
E quando você tiver que escolher entre sentar ou dançar.

Eu espero que você dance.... eu espero que você dance.
Eu espero que você dance.... eu espero que você dance.

(O tempo é uma roda em movimento constante sempre nos levando junto,
Me conte quem quer olhar para trás nos seus anos e imaginar para onde esses anos se foram.)

Eu espero que você ainda se sinta pequeno quando você parar do lado do oceano,
Quando uma porta fechar eu espero que mais uma se abra,
Me prometa que você dará ao destino uma chance de lutar
E quando você tiver que escolher entre sentar ou dançar

Eu espero que você dance.
Eu espero que você dance.... eu espero que você dance.
Eu espero que você dance.... eu espero que você dance.

(O tempo é uma roda em movimento constante sempre nos levando junto,
Me conte quem quer olhar para trás nos seus anos e imaginar Para onde esses anos se foram.)

Espero Que Você Dance

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE MIM



Cobram-me notícias.
Sei que são amigos queridos, muito bem intencionados. Mas confesso, chega um momento em que a gente cansa de falar das próprias agruras (tá bom, essa palavra é do tempo da minha vó! rs mas eu gosto) da própria vida e os amigos, por maior que seja o carinho que devotam a essa aprendiz de escritora, também ficam cheios de ouvir lamúrias.
Mas, conforme disse minha querida Vanuza: “Precisamos de notícias suas, Kátia. Você está hospitalizada? Espero que não. Alguém aí pode responder???” aqui estou para acalmar os corações amigos.
O mais importante: ESTOU VIVA!!!!! VIVA!!!!!
Mas estive hospitalizada sim, outra vez. E mais uma vez saí, o que é melhor!
Agora estou praticando um novo esporte: andar de cadeira de rodas em aeroporto! Gente é um barato! No começo quando a moça da Gol me via chegando, capengando, perguntava se eu necessitava de cadeiras de rodas, daí eu ficava envergonhada (não sei por que) e dizia: - Não, precisa não, eu dou um jeito.
Aí um dia eu cheguei para embarcar (ah! Esqueci de dizer que estou fazendo um tratamento no Rio de Janeiro...). Quer dizer, eu acho que já falei, não lembro. Uma das coisas que está acontecendo é um danado dum esquecimento, eu falo as coisas e os meninos começam a rir, agora já virou piada e dizem: Mãe, você já falou isso umas três vezes. Acho que é por conta do punhado de remédios que tomo todos os dias.
Mas voltando ao assunto, cheguei ao balcão e a moça da Gol (será que ganho um cachezinho pelo merchandising?) perguntou se eu necessitava da tal cadeira. A dor era tanta que dar um passo era quase colocar as tripas para fora. Daí disse que aceitava.
Gente, vocês não imaginam o barato! Vem-me um rapaz bem bonitinho, coloca a cadeira ao meu lado prontinha para eu sentar e quando eu penso que ele vai embora e que meu acompanhante é quem vai conduzir a cadeira, me vejo desfilando pelo saguão empurrada pelo dito cujo. As pessoas reagem das mais diversas formas: uns olham com piedade, outros com curiosidade, outros olham pro rapaz, alguns para as minhas pernas... e lá vou eu aeroporto afora. Ah! Todo mundo sai da frente, não sei se por cortesia ou por medo de atropelamento.
Cada vez é um rapaz diferente, já estou ficando até amiga dos meus condutores. Eles nem correm como os do hospital. Parece que estão conduzindo uma princesa, tamanha a dedicação e atenção.
Então é isso, ainda tentando descobrir o monstrinho que me ataca (ai dele quando o pegar de jeito!) e enquanto isso voando daqui prá lá e vice-versa.
Quem sabe um dia ainda fazem um filme “Conduzindo Miss Kátia”?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

PASSO E COMPASSO

Dia desses estava pensando nos rumos (ou a falta deles) que a minha vida tomou neste ano. Foram tantas surpresas: doenças-surpresas, diagnósticos-surpresas, falta de diagnósticos ainda mais surpreendentes e por aí vai...
A única coisa que não foi surpreendente foi a qualidade e quantidade de amigos sinceros que tenho espalhados pelo mundo, perto e distantes, conhecidos e ainda por conhecer, mas amigos da melhor estirpe!
Agora, que estou, mais uma vez, prestes a encontrar um novo e desconhecido (para mim) diagnóstico, que provavelmente me levará outra vez para o hospital, lembrei-me de um poema que escrevi há muito tempo, décadas...
Acho que chegou a hora de aceitar esse novo passo, redescobrir um compasso, tentar ser feliz.

(Imagem ilustrativa retirada da internet - infelizmente não tenho fotos da "nossa" banda)

Acelere o passo,
Diminua o compasso.
Vestidos de laranja, azul-turquesa e dourado
Galões refletindo sob o sol
Éramos mais que uma banda marcial.
Éramos jovens, unidos, destemidos,
Tendo sonhos por ideal.
Acerte o passo,
Atenção ao compasso.
Juntos enfrentávamos qualquer desafio.
Obstáculos? Vencíamos todos.
Nada nos detinha.
Éramos felizes porque éramos jovens
Ou éramos jovens porque éramos felizes?
Diminuía o passo,
Acelere o compasso.
O tempo passou...
Seguimos por caminhos diferentes
E hoje, faria qualquer sacrifício
Para de novo me vestir
De laranja, turquesa e galões,
E, assim, superar os obstáculos,
Vencer os desafios,
Digladiar contra os meus dragões.
Mas, quando face a face, me olho no espelho,
Só vejo vazio, cansaço, solidão.
Nem sombra da jovem destemida que fui.
Aonde foram parar meus sonhos?
Estarão adormecidos
Ou morreram com a minha juventude?
Abaixo os olhos, envergonhada de mim mesma
Por ter-me dado por vencida,
Pelos sonhos que não persegui.
Quando estou prestes a virar-me e,
Mais uma vez desistir,
Ouço uma voz ao longe:
Redescubra seu passo,
Invente um novo compasso,
Ainda é tempo de ser feliz!

(Autora: Kátia Corrêa De Carli)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

MIGUEL MARVILLA - OS MORTOS SAÍRAM DO LIVING PARA RECEBÊ-LO

Conhecemo-nos há muitos, muitos anos. Na verdade, décadas.
Não éramos muito próximos, mas trabalhávamos na mesma Gerência de Recursos Humanos da Caixa Econômica Federal. Todos os dias a gente se via pelos corredores, se falava, mas nunca dizíamos de nossas vidas e sonhos.
Até que um dia, lembro-me como se fosse hoje, ele colocou a cabeça pela fresta da porta e me disse que queria “ressuscitar” o antigo jornal patronal “O ELO”. Resolvi embarcar no seu sonho. Conversei com o gerente, já que era sua secretária, e o convenci a não só embarcar naquela história, como também patrociná-la.
Daí em diante nos aproximamos mais.
Não sei de onde ele tirou a ideia de que eu escrevia, mas já no segundo número estava eu a escrever crônicas para o jornal... e assim foi até a morte d’O ELO, anos depois.
Foi por essa época que ele conseguiu, a muito custo, lançar seu primeiro livro: “Os Mortos estão no Living”, esta primeira edição, que guardo com o maior carinho, não tinha muita elaboração gráfica, era vendida porta a porta pelo escritor, com a ajuda de familiares e amigos
Falo de Miguel Marvilla, economiário aposentado (como eu), mas que a grande maioria conhecia pelo seu talento como escritor, poeta, mestre em História Antiga, editor e mais uma porção de coisas ligadas às letras, ao prazer de escrever, de ajudar novos escritores.
Talvez se Miguel não tivesse me dado o primeiro empurrão eu não teria me tornado poeta, nem escritora. Talvez esse blog nem existisse.
Na última vez que nos vimos, no lançamento do livro “Todo Sentimento”, da Ana Laura Nahas, perguntei-lhe sobre seus planos e eram tantos...
Mas o Grande Arquiteto do Universo não quis que ele os realizasse aqui...
E Miguel, na madrugada do dia 10, partiu para escrever em outra dimensão.
Com certeza vai se juntar ao Miguel Deps Tallon, Carlinhos de Oliveira, Carmélia, Fernando Tatagiba e tantos outros capixabas amantes da boa escrita em verso e prosa.
Miguel agora é História e saudade

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

TENTATIVA

Dom Quixote feito de sucata - SP - Jun/2009

Os últimos tempos têm sido doídos, sofridos, difíceis. Mas ninguém mais merece ficar ouvindo essa ladainha... daí meu afastamento, voluntário, mas saudoso.
Sinto saudade de todos vocês, nem imaginam quanto!
Mas tive que enfrentar notícias nada alvissareiras (que palavra mais antiga, argh!).
A gente pressente, mas quando o pressentimento é verbalizado, fica difícil encarar.
Passei muito tempo acreditando que a manhã seguinte seria sem dor, que toda causa de doença mais cedo ou mais tarde é descoberta, que um dia eu teria minha vida de volta.
Só que, da noite pro dia, melhor dizendo, do dia pra noite, tudo virou uma grande ilusão.
Nem a dor se vai, nem o que eu chamava de vida voltará.
Então, chorei até as lágrimas que achava que não mais tinha (como diz minha irmã: Você tem todo o direito de chorar o quanto quiser, só tome bastante água para não desidratar. Um dia vai passar.)
Enquanto não passa, sigo chorando às vezes, revendo trajetórias, sonhos, percursos.
Tentando andar neste novo ritmo.
Tentando aprender que esse novo ritmo é meu.
Tentando conhecer essa pessoa que me devolve o olhar assustado no espelho do banheiro.
Tentando...

domingo, 20 de setembro de 2009

UM MONSTRO À SOLTA

(Fonte barcelonadream.blogs.sapo.pt)

Com essa minha imobilização temporária (creio eu), tenho ficado muito em casa, o que para mim é um tormento, pois, como dizia a minha mãe, eu sou muito “rueira”.
Mas essa semana eu tive alguns compromissos e meus filhos e marido serviram de motorista, o que me permitiu passear e observar as ruas, as praças, os lugares por onde passava.
Levei foi um grande susto!
Logo na pracinha de Jucutuquara* quando olho para o lado da antiga fábrica de tecidos, cadê a casa dos “donos” da Braspérola? Sumiu! Só sobrou o muro... Mas como a Prefeitura destruiu a antiga fábrica dizendo que ia fazer um espaço de artes e eu só enxergo a fachada e um grande vazio atrás, pensei com meus botões, vai ver a prefeitura também comprou a casa e vai fazer alguma coisa boa para a comunidade, mas precisava derrubar aquele casarão antigo tão lindo?
Seguimos em direção ao centro da cidade e logo depois da curva do Forte São João, outro susto, onde já haviam derrubado o velho Restaurante Universitário, agora sumiu também a casa da frente, uma que tinha lindas janelas verdes.
Na volta, passamos por Bento Ferreira e as casas lá também estão sumindo do dia para a noite. Você passa a casa está lá, dois ou três dias depois, ela some inteirinha. O mesmo está acontecendo na Praia do Canto. Isso porque meu passeio se restringiu a esses bairros, imagino o que não estará acontecendo por toda a cidade!
Logo nós, capixabas, que temos como característica a utilização de casas, prédios, pontos comerciais como pontos de referência, o que iremos fazer se estão destruindo tudo?
Olho aquelas paredes que sobram e vejo azulejos brancos, algumas partes com azulejos coloridos, intermediados de paredes de cores diversas e fico pensando o quanto de história está sendo jogada no lixo. Quantos segredos aquelas paredes ouviram. Juras de amor. Brigas pra nunca mais que duravam poucas horas. Primeiros choros de bebês que nasceram rodeados dos que mais os amavam. Casos de vida e de morte.
Parte da minha história, na cidade do interior, já foi devorada e lhes digo, a sensação não é nada boa. Onde antes havia uma cozinha com cheiros que se acessavam a um olhar, hoje só sobrou chão.
Minha conclusão é que tem um monstro à solta comendo nossa história.
Acho que ele se alimenta das lembranças que ficam abrigadas nas antigas casas, por isso, à noite, ele sai e as devora.

*Jucutuquara - 0 nome Jucutuquara, JUCU-ITA-QUERA, é de origem indígena e significa "pássaro do buraco de pedra" ou YTICUTUQUARA, que significa "conchas suspensas", condizentes com a forma dos buracos da "Pedra dos Olhos" localizada na área e batizada pela própria natureza. As mutações lingüísticas fizeram valer a linguagem popular: Jucutuquara. Nome da antiga fazenda que havia no lugar, pertencente à família Monjardim, século XIX.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NENHUM JURAMENTO É ETERNO


Quando pensei em escrever esta crônica a primeira coisa que me veio à cabeça foi um “pedacinho” de uma música da Dolores Duran, onde ela cantava:
“...Tem gente que jura que não volta mais
Mas jura sabendo que não é capaz.”
Pois é, quase ao mesmo tempo que aprendemos a falar aprendemos, também, a fazer os mais diversos juramentos.
Na minha infância, quando umas palmadas ainda eram método de aprendizagem e eu aprontava alguma (o que não é nenhuma novidade!), logo que era pega, para escapar das ditas cujas, jurava, no ato, nunca mais repetir aquela arte.
Depois, já na escola de catecismo, aprendi a acrescentar o “juro por Deus” e meus pais acabavam me perdoando mesmo sabendo que eu iria repetir a ação na primeira oportunidade.
Lembro dos banhos de cachoeira, sempre às escondidas, e as palmadas e castigos porque meu pai dizia que eu ia “pegar caramujo” (esquitossomose), o que não deu outra, eu apanhava, jurava não repetir, e depois fazia tudo outra vez achando que os cabelos molhados não iriam me denunciar.
E assim a vida ia passando.
Quando quase fui expulsa do colégio, de tanto aprontar, jurei que me tornaria comportada igual à minha irmã. Mesmo todos sabendo que era a maior mentira da paróquia.
Quando o grande primeiro amor acabou, só do lado dele, porque amor não combina de acabar dos dois lados ao mesmo tempo, jurei nunca mais amar, doía muito. Até que durou um tempinho... rs, mas voltei a amar, ainda bem!
Nas dores do parto jurei não ter mais filhos... juramento que durou um ano e pouquinho, graças a Deus!
Isso só para ficar nos juramentos mais marcantes.
E de juramento em juramento fui levando a vida.
Aqueles que me acompanham mais amiúde, devem lembrar-se o quanto sofri quando o Thunder, cão da Gabi, morreu. (http://katiamultiplasfaces.blogspot.com/2008/09/menina-e-seu-co.html)
Jurei, então, que nunca mais ia querer mais nada na minha vida que respirasse. Isso porque marido e filhos não requerem cuidados especiais para sobreviverem.
Bati o pé e repeti mil vezes que não aceitaria mais nenhum animal. Era trabalho demais, gasto demais, sofrimento demais, sem contar que acabava prendendo a gente em casa.
Pois bem, sexta-feira, hora do almoço, chego da fisioterapia e encontro um filhote de cachorro na minha área de serviço. A cadela que vigia a obra de um empreendimento do qual meu marido é sócio havia dado cria a 9 filhotes e estavam todos morrendo ou desaparecendo, meu marido, com dó do cachorrinho, trouxe-o para casa. Quando bati os olhos naquele olhar de cão abandonado, meu coração se encheu de piedade e não tive coragem de mandá-lo embora.
Mais um juramento quebrado.
Nossa casa e nossos corações agora abrigam um dalit (ele é tão bonitinho que não merece ser chamado de vira-lata) que já está até aprendendo a atender pelo nome que, para seguir a linhagem, Thunder, Flash... e como ele não é bramani, ficou sendo Chuvisco mesmo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PORQUE RIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO...

Estação de trem, metrô, etc em Berlim

OU PODERIA SER MAIS UM DA SÉRIE “COISAS QUE SÓ ACONTECEM COMIGO”
Estávamos nós em plena Europa, eu, meu marido e nossos vizinhos.
Cabe um parêntesis para que vocês compreendam as reações que virão, eu e eles somos amigos desde que nascemos, freqüentamos as mesmas escolas, moramos na mesma rua (é certo que na nossa cidade só existiam três principais, rs), seguimos nossas vidas juntos e eu os considero como irmãos, daí termos a intimidade que muitos irmãos consangüíneos não têm.
Já havíamos viajado por quase um mês, passeado bastante, rido bastante (dos outros e de nós mesmos) e, principalmente, comprado um monte de tranqueira. Para vocês terem idéia eu tive coragem de comprar uma chaleira e um escorredor de macarrão, logo no início da viagem, na Alemanha, e carregá-los pela Itália e França afora, sem contar a volta pela Alemanha... só coisa de brasileiro doido, ou seja, euzinha! Mas enquanto ele me zoava por causa da chaleira, eu o lembrava que no fundo de sua mala tinha dois serrotes!
Ainda no Brasil nós havíamos conseguido comprar passagens aéreas Milão-Berlim a preço de banana. Como fizemos todo o percurso em terras estrangeiras de trem, este foi o único trecho que necessitamos de avião para cumprirmos o roteiro que nos propusemos.
Tudo uma maravilha. Até que chegamos ao aeroporto de Milão. Embora tenhamos usado de todos os artifícios (bolsas de mão enormes, homens com mochilas, etc.), o peso de nossa bagagem excedeu um absurdo e lá fomos nós, depois de muita negociação, pagar o excesso: saiu mais caro que as passagens! Levamos na esportiva e seguimos em frente.
Ficamos uns dias em Berlim e depois seguimos para Frankfurt, de trem. Eu e o Roberto tínhamos duas malas (pesadíssimas), duas mochilas, uma bolsa de mão e mais minha bolsa pessoal, tudo isso para colocar dentro do trem – uma peripécia e tirar depois – outra maior ainda! Resultado, quando, enfim, chegamos ao aeroporto, despachamos as bagagens, etc. e tal, o Roberto estava tão suado que era impossível viajar quase doze horas naquela situação. Bem à nossa frente tinha uma lojinha da Nike, então eu disse: - Vocês me esperam aqui, eu vou à loja, compro a camisa mais barata que encontrar, volto, o Roberto vai ao banheiro, se lava e troca de camisa. Lembrei de um desodorante que eu havia esquecido na bagagem de mão e daí ele aproveitava para usar e jogar fora, porque eles não estavam aliviando quanto ao embarque de líquidos.
Estava eu no interior da loja quando, ao virar-me, um homem alto, afro-descendente, esbarra em mim e, educadamente, diz: - Sorry!
Ao mesmo tempo meus dois neurônios se ligaram e mandaram a mensagem de que eu conhecia aquela pessoa. Então respondi: - Não foi nada, pode falar em português mesmo!
Nós então, entabulamos uma conversa:
- Brasileira! Que alegria! Está chegando ou partindo?
- Estou indo para o Brasil e você?
Ele olha para mim com aquele olhar de “conheço você de algum lugar, mas de onde?” e eu, que perco tudo, mas não perco a pose, também fingi lembrar-me de onde o conhecia. Então continuamos conversando como velhos amigos que se encontram.
- Estou indo para Milão, disse ele.
- Acabo de chegar de lá, disse eu.
- Está muito frio?
- Não, está agradável. Quando você vai ao Brasil?
- Assim que tiver uma folga...
Nesta altura já estávamos na fila do caixa e a moça se desdobrando em amabilidades para atender-nos.
- Sinto muita saudade do Brasil,
- É assim mesmo, quando estamos fora do nosso país. Mas a gente acaba se acostumando, digo eu.
Pagamos e ele resolve olhar uns bonés, então nos despedimos:
- Tchau, foi um prazer te ver – disse ele.
- Tchau, também adorei te reencontrar, a gente se vê por aí – respondo eu.
Beijinhos para cá, beijinhos para lá, e eu saio da loja.
Encontro meu grupo e digo para eles, vamos ficar aqui, na moita, escondidos atrás desta pilastra porque vai sair um moreno alto da loja, que eu fiquei conversando um tempão, mas não consigo lembrar de onde eu conheço.
Assim fizemos. Estava meio dispersa quando, de repente, meu amigo me dá um safanão e pergunta:
- É aquele?
– Sim, sim, é... respondo.
E o meu amigo:
- É claro que você conhece, sua demente! Sabe de onde? Da televisão! É o Gilberto Silva, da Seleção!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

E O QUE JÁ ERA FEIO...

Existem vários ditados populares para descreverem nossos próprios infortúnios e os infortúnios alheios:
- Urubu quando está de azar o de baixo “caga” no de cima;
- Não há nada tão ruim, que não possa piorar;
- Uma desgraça nunca vem só;
E daí por diante...
Como disse, fomos eu, minhas dores e meu marido ao Rio de Janeiro em busca de um dos melhores especialistas em doenças da medula do Brasil.
Fomos muito bem recebidos, ele quis ouvir-me (viva! Um médico que ouve o paciente!), olhou os exames que eu havia levado (uns cinco quilos, todos os que fiz desde fevereiro), examinou-me quase virando-me ao avesso e daí... o primeiro veredito:
- Dona Kátia, tenho 90% de crença que seu diagnóstico está equivocado!
Quase caí da cadeira! E tudo que passei? E as agonias com o medo das seqüelas? E a possibilidade de desencarne? Tudo isso tinha sido em vão?
O susto foi tão grande que só consegui murmurar:
- O que o senhor acredita que seja?
O homem disparou a falar uma lista de doenças cujos nomes, alguns até em francês, eu nunca havia ouvido. Não consegui decorar nenhum, mas há males que vêm para o bem, assim não fico pesquisando o que é campo de possibilidade.
Durante a consulta ele telefonou para uma médica daqui de Vitória (que por sinal é minha amiga) e orientou-a para fazer aquele exame maravilhoso: eletroneuromiografia! Ai Jesus! Não desejo nem a inimigo (se os tivesse).
Pediu mais um monte de exames, trocou toda a minha medicação, mandou-me de volta com a ressalva para retornar com os exames prontos.
Resumo da ópera: Eis-me aqui, cheia de dor (já que não posso tomar nenhum analgésico porque é preciso chegar a uma dose precisa do novo medicamento) novamente inválida, sem saber o que tenho, cheia de exames para fazer e reiniciando a maratona.
É mesmo como diz o ditado:
Não há nada ruim que não possa piorar!

sábado, 15 de agosto de 2009

MINHA ÍTACA

Qual Ulisses em busca da sua Ítaca (vale a pena conhecer o poema do grego Konstantinos Kaváfis referindo-se à Odisséia, de Homero), acredito que a vida é como uma viagem até Ítaca, a Ítaca de cada um, não um lugar específico; acredito que a vida está na caminhada, não na chegada. O último porto é a morte.
Como ainda não estou preparada para chegar ao último porto e tenho tantos portos onde sei, um dia, ainda ancorarei o barco da minha existência, sigo em busca de algo ou alguém que possam ajudar a tornar minha caminhada mais amena.
Tem gente que acredita em coincidências, acaso, destino.
Outras crêem em milagres (eu creio na fé absoluta que nos leva ao melhor).
Uns buscam ajuda nos santuários: Lourdes, Fátima, Jerusalém.
Outros fazem promessas.
Alguns sacrifícios.
Como eu não sou de ferro e já sofri uma cota suficiente (pelos meus cálculos), vou buscar ajuda num lugar mais prazeroso.
Estou indo pro Rio...
“Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara....”
Até a volta!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

E A VIDA O QUE É? DIGA LÁ MEU IRMÃO...


Esse reencontro com meu amigo “perdido” levou-me a uma série de reflexões.
Como narrar quase uma vida inteira em uma carta ou e-mail?
O que é importante numa vida?
O que vale mais?
Será que interessaria saber os amores que tive e perdi pelo caminho?
Será que ele gostaria de saber como foi meu casamento ou teria mais importância as dificuldades que enfrentamos para continuarmos juntos?
Tirando os nascimentos dos filhos, que creio, nada vale mais, o que valeria contar? O meu sucesso como executiva ou o que aprendi lidando com as diferenças das pessoas?
Vale mais as bolhas que ganhei no Caminho de Santiago ou descrever minha casa, jardim, quintal e cachorro?
O que importa mais, a quantidade de livros que li, ou a frase que carrego desde a adolescência do único livro que sei de cor: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”?
As pessoas que perdi, pai, mãe, amigos queridos que partiram para outra vida ou as amizades que ainda carrego, desde a infância?
O que vale mais, as lágrimas que derramei a cada tropeço, doença, queda ou as lições que tirei de cada dificuldade?
O que importará mais nesta vida?
O que ele gostaria de saber?
Das viagens que fiz, alimentando a alma, ou das cirurgias que enfrentei para manter vivo o físico? Será que lhe interessaria saber que houve um dia um pôr do sol rosa e dourado que eu fotografei e nunca mais vi outro igual?
Ou lhe agradaria ver a parte o mundo que vi, através do meu olhar?
Será que lhe interessariam os livros que escrevi, as tatuagens que carrego no corpo, as rugas e quilos que ganhei?
Teria valor saber que coleciono pedrinhas dos lugares por onde andei ou que já tenho paciência para cultivar flores?
Teria isso importância na vida de outra pessoa?
O que importa mais?
Sinceramente, a resposta? Não a tenho...
Penso na vida e só me vem à mente a música do Gonzaguinha:

E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...
... Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

QUE VOCÊ NUNCA SE ESQUEÇA...



A gente passa a maior parte das nossas vidas correndo atrás das coisas que julgamos serem indispensáveis para que vivamos bem. Necessitamos de tanta coisa que a lista só vai aumentando. Se temos um apartamento de 60 m² precisamos de um de 100. Quando temos o de 100, já não é suficiente. Se moramos em apartamento só seremos felizes numa casa com quintal e cachorro; quando temos a casa, o quintal, o cachorro (e toda a sujeira que vem junto) queremos o apartamento. Se temos um carro comum, queremos automático. Se velho, queremos outro mais novo. E assim os dias, os anos vão passando e quando nos damos conta passamos quase toda nossa existência acumulando bens materiais.
E o que fizemos das pessoas que cruzaram nossos caminhos?
Quantas vezes deixamos que elas saiam de nossas vidas por pura falta de tempo, gastamos nosso tempo acumulando coisas, às vezes também pessoas, mas quanto tempo gastamos cultivando e cuidando daqueles que cruzaram nossos caminhos?
A maioria daqueles que me conhecem sabem que agradeço a Deus todos os dias pela graça de ter tantos amigos. Sou abençoada neste aspecto. Mas depois de tudo que me aconteceu eu fiquei imaginando o que teria acontecido com as pessoas que foram importantes na minha vida e que perdi.
Perdi para o tempo, para a distância, alguns pra a morte, para a correria dos anos que passei acumulando coisas.
Quando a “Dona Morte” cismou em querer me visitar, o máximo que fez foi me fazer perceber o quanto a gente deixa de dizer e fazer pelo outro, na suposição de que é desnecessário porque ele já sabe. E assim deixamos de dar aquele abraço de verdade, que abarca o físico e também a energia. Deixamos de dizer “eu te amo” ao amigo querido, aos nossos filhos, aos pais (quem ainda os tem)... o “eu te amo” fica, quase sempre, restrito ao amor físico e, quando muito, o dizemos aos nossos companheiros(as).
“Ela” também despertou em mim o desejo de saber o destino de algumas pessoas que passaram pela minha vida e que eu deixei que se fossem.
Assim, comecei a pesquisar na internet buscando uma pessoa a quem eu tenho um grande carinho, muito embora na última vez que nos vimos eu tivesse apenas 18 anos.
O tempo não conseguiu apagar todos os momentos que passamos juntos, o que crescemos juntos, o que aprontamos...
Ele foi um dos rapazes que fez a minha adolescência ser tão feliz.
Com ele dancei muitos bailes, ele me dava coragem para participar do roubo da “luz negra” – única da cidade - pertencente ao “padre bravo” para fazermos nossas boates no terraço da sua casa no período de férias, por ele eu viajava horas em estrada de chão, sacolejando naqueles ônibus de interior.
Com ele descobri amar longe e que distância é uma questão somente física (embora só viesse a ter consciência disso muito tempo depois).
Com ele eu vivi meu amor adolescente.
Brigávamos tanto que depois de umas três idas e vindas decidimos ser só amigos... e que amigos maravilhosos teríamos sido se a vida (ou o destino) não tivesse nos separado.
Hoje, depois de muita procura, eu o encontrei.
Falamo-nos ao telefone, rimos, brincamos, nos emocionamos... mas era pouco tempo para tanta vida separada.
Sei que muitas pessoas não compreendem como uma mulher casada sai procurando outro homem, ainda mais um ex-namorado. Ainda bem que meu marido tem a cabeça aberta e valoriza as amizades tanto quanto eu.
Por isso, meu querido amigo rencontrado, que você nunca se esqueça: Você é um capítulo muito bonito da minha história e que eu te amo.

PS1: Preservo a identidade do meu amigo porque ele (ainda) não sabe deste post.
PS2: Muito a contragosto estou tentando me adaptar às novas regras ortográficas (mas me recuso a escrever lingüiça sem trema).
PS3: Ele entende a foto... rs

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A MOÇA TRISTE QUE NÃO SE CHAMAVA CAROLINA

Sempre foi diferente.
Desde pequena havia nela algo que a diferenciava das outras crianças.
Talvez fosse o olhar. Diziam-lhe “Que olhos lindos, parecem esmeraldas” e como não sabia o que eram esmeraldas, ela pensava que deveria ser alguma coisa boa.
A mãe dizia que nasceu chorando e chorou por muitos meses, por isso a primeira foto, ainda com cara de choro, só foi tirada aos seis meses.
No mais era como as outras crianças, brincava, fazia traquinagens (quando aprontar se chamava assim) e seguia em frente.
Lembra que sempre se emocionava ao ouvir a Ave-Maria, tocada pontualmente às seis horas, no velho rádio. As pessoas não entendiam essa emoção, nem ela.
Era jovem demais.
Lembra-se de uma tragédia ocorrida por volta dos seus sete anos, quando um marido traído, para lavar a honra, matou a mulher a tiros. Sobraram os filhos que foram morar com uma tia, próximo à sua casa. Era manhã de Natal, todas as crianças na rua brincando com seus presentes e um dos meninos sem nada, ela na sua inocência pergunta-lhe o que ganhara de Papai Noel e o menino responde: Nada, criança sem mãe não ganha presente de Natal. Voltou para casa chorando, insistindo que a mãe comprasse algo para o menino. Não compreendia que a pobreza também rondava sua casa.
Era jovem demais.
O tempo foi passando e a moça se emocionava, às lágrimas, ao ver os filmes de amores impossíveis, ao ler romances, ao ver a desgraça alheia. Sentia-se diferente das amigas, mas não conseguia identificar onde estava essa diferença. Com os amigos cantava e dançava ao som dos Beatles e dos Rolling Stones; mas só, em casa, cantava sua tristeza ao som de Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa. A mãe perguntava onde tinha aprendido essas músicas, ela não sabia responder. Era como se as tivesse gravado na memória. Não compreendia o que lhe passava.
Talvez por ser jovem demais.
Começou a escrever diários, como toda adolescente do seu tempo e foi aí que descobriu que tinha facilidade para escrever as coisas tristes, mas faltavam-lhe palavras para narrar acontecimentos alegres.
Os olhos verde-esmeralda ganharam outras tonalidades, ora ficavam azuis, ora cinzas, só ela sabia identificar, pela cor dos olhos, o que lhe ia à alma.
Já não era tão jovem.
Já se sabia triste.
A vida correu rápida. Tentou encontrar alguma maneira para se livrar da tristeza, mas foi em vão.
Aprendeu a arte de iludir, embora nunca tenha estudado artes cênicas. Desenvolveu um riso alto e franco, gestos um tanto exagerados, escondeu bem escondido sua tristeza. Ninguém jamais desconfiaria o que crescia dentro dela.
O tempo passou. A alma envelheceu mais depressa que o corpo. Um dia, a moça morreu.
Todos diziam: Tão jovem!
Ninguém soube que ali estava uma alma velha demais.
Causa mortis: Tristeza demais.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

DESABAFO

Imagem Internet

Estou cheia de mim.
Não da vida, porque isso seria não dar valor ao maior bem que temos,
Nem da família, presença constante principalmente nestes momentos de inconstância.
Cheia de mim mesma.
Não dos amigos, presentes valiosos de Deus,
Tampouco do que tenho, material e imaterial, porque aprendi na miséria a valorizar a bonança.
Cheia mesmo da minha presença.
Cheia da mente correr e o corpo permanecer
Cheia de não poder programar o dia que vem
Cheia de passar a noite escrevendo na memória e não passar para o papel
Cheia de não lembrar o que escrevi na noite anterior
Cheia de ser essa pessoa, que não se parece comigo,
Tão estranha, fraca, frágil,
Cheia de sentir dor.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

PRIMEIRO AMOR

Minha mãe sempre dizia que depois de certo tempo de vida, quando os filhos dos amigos já casaram (na época em que se ainda casava) as pessoas só se encontravam em velórios. E ela tinha uma maneira toda especial de avaliar os velórios: se encontrava muitos amigos, se o falecido era pranteado como merecia, ela dizia que o velório estava “muito animado”. Com o tempo fui entendendo o que ela queria dizer com isso, embora ainda não saiba explicar bem. Não é falta de respeito, nem ausência de dor pela partida... é uma coisa diferente.
Mas isso é só para dizer que estava num velório de uma pessoa muito, muito querida, quando me deparei com meu primeiro e grande amor.
Não que não tivessem existido outros namorados antes dele... existiram, fui uma adolescente “namoradeira”... mas amor mesmo, “sem a qual a vida é nada, sem a qual se quer morrer”, ele foi o primeiro. Acreditava que seria o único, daí o luto e o trauma terem demorado tanto tempo.
Uma amiga “daqueles tempos” foi logo sussurrando ao meu ouvido: “E aí? As pernas ainda tremem?” com aquele sorriso maroto que só grandes amigas compreendem.
Isso me fez pensar sobre o que perdi e o que ganhei com esse amor.
Por muito tempo pensei que só houve perdas. Perdi a esperança, a fé no sexo oposto, a crença que nunca mais amaria outra vez um amor do tipo “os seus olhos têm que ser só dos meus olhos, os seus braços o meu ninho”.
Na adolescência vive-se tragicamente. Tudo toma proporções maiores que as devidas. Talvez por isso, por ele eu lutaria contra tudo e todos. Faria qualquer sacrifício. Seria até submissa.
Mas ele não quis. E terminou comigo.
Quis morrer. Chorei por muito, muito tempo. Os cabelos, que iam até as costas, foram cortados curtinhos, como forma de vingança. Só não joguei para Iemanjá porque na minha terra não tem mar, nem Iemanjá.
A partir daí passei a namorar só três meses.
Tempo exato para aproveitar o que de melhor tem um relacionamento e também exato para não me apaixonar.
O tempo passou. Conheci outras formas de amar. Menos trágicas. Outras mais intensas. Mas o mais importante é que descobri que não se ama só uma vez.
Porém, naquele dia, quando o vi novamente, depois de décadas, devo confessar: sim, as pernas tremeram! Enxerguei o príncipe pelo qual eu havia sido apaixonada (que pela avaliação da minha irmã só existiu na minha cabeça). Mas meus olhos haviam mudado. Talvez lavados pelas lágrimas que a vida me impôs consegui ver que não teria dado certo.
Mas dei-lhe um abraço apertado e em silêncio agradeci-lhe pelas emoções boas e ruins que me fez conhecer.
Agradeci por aquele primeiro amor cheio de planos, desejos reprimidos, descobertas, coração acelerado, pureza de alma...
É o primeiro amor... Único...
De tudo, o que mais sinto é a falta da pureza da alma que perdi, não sei onde, nem como, nem com quem... mas trago a certeza de que uma parte de mim ficou, lá atrás, junto com aquele primeiro amor e refaço o percurso dos versos:
“Você tem que me fazer um juramento, de só ter um pensamento, ser só minha até morrer”.
A parte de mim que ainda é sua, jura.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

PRIMEIRO BEIJO


Esta crônica deveria ter sido postada próximo ao dia dos namorados.
Mas ando, a cada dia, mais lenta.
Lenta para raciocinar, para colocar em palavras o que vai à minha cabeça, no ânimo para escrever... daí escrevo, na mente, montes de coisas que, com certeza, estarão esquecidas no dia seguinte.
Mas tudo começou por causa de uma propaganda na televisão sobre “voltar à emoção do primeiro beijo” e apareciam fogos pipocando, sinos tocando, etc.
Logo depois veio uma reportagem no jornal sobre o fato de os jovens estarem trocando o primeiro beijo cada dia mais cedo.
Fiquei pensando na minha experiência. Tudo bem que existem décadas separando as minhas experiências dos dias atuais, mas primeiro beijo será sempre primeiro beijo, concordam?
Eu acho que deveria ser obrigação dos pais, ou constar do currículo escolar (não se fala hoje sobre sexo seguro, cuidado com as drogas, etc.?) ou até mesmo de livros de auto-ajuda. Não sei exatamente como, mas alguém deveria alertar nossos “cada dia mais jovens” para as emoções do primeiro beijo.
A gente lê nos romances, assiste nos clássicos dos cinemas, nas novelas, que todo primeiro beijo acontece num lugar paradisíaco, que é sempre maravilhoso e ninguém ousa dizer o contrário.
Na minha pré-adolescência passávamos horas na frente do espelho ensaiando para aquele momento único em que o príncipe encantado chegaria, nos beijaria e abrir-se-iam as portas de um mundo totalmente novo e iluminado.
As amigas da mesma idade que já haviam passado pela experiência, mesmo que não tivessem gostado, não ousavam confessar para não perderem o status de “já iniciadas”.
Por isso agora me dirijo aos jovens de “BV” (Boca Virgem): Esqueçam tudo o que ouviram e leram até hoje e prestem atenção às minhas palavras. Pode até ser que com um, entre milhares, tenha sido assim, fogos, sinos, luzes... mas não é via de regra.
Lembro-me perfeitamente do meu primeiro beijo.
Que decepção!!!!!
Ansiei tanto por esse momento, sonhei mil situações e nada, nada do que sonhei aconteceu.
Prá começar foi numa escada escura (acho até que cheirava a mofo), com um menino que achava que sabia de tudo (coitado!) e que nem sequer perguntou se eu queria ser beijada por ele.
Não houve aquele olhos nos olhos que a gente vê nos filmes, nem fundo musical, nem nada. Só aquela boca cobrindo a minha, o gosto de chiclete e cigarro, o medo de alguém chegar e uma sensação de nojo tão grande que jurei que nunca mais ia deixar ninguém me beijar.
Não ouvi sinos repicando, nem fui tomada por nenhum arrebatamento de paixão. Só tinha consciência daquele corpo estranho penetrando a minha boca e, ainda agradeço aos céus por, naquele tempo, os aparelhos ortodônticos não serem tão acessíveis como hoje, porque, com certeza, eu ainda teria enfrentado os ganchos a me rasgarem os lábios (bem que ele precisava).
É certo que o juramento de nunca mais beijar só durou até acontecer a primeira paixão (ou seja, bem pouco tempo, rs).
É certo também que beijar é como praticar esporte, com o tempo a gente vai se aperfeiçoando... e hoje, lhes garanto, não há nada melhor do que um bom beijo na boca.
Mas, por favor, não esperem demais das primeiras vezes...
E nunca digam que ninguém tentou lhes avisar.

terça-feira, 26 de maio de 2009

MUDANÇA DE RITMO

(foto oficial do Governo do Esp. Santo)

A vida é coisa engraçada, quando a gente é criança e tem todo o tempo pela frente, faz as coisas sempre correndo, tem pressa; à medida que o tempo passa e vai diminuindo, a gente diminui também o ritmo, e com isso alguns hábitos.
Eu ia escrever sobre outra coisa... mas aconteceu um fato e daí...
Bem, quando eu fiz 50 anos decidi que, como o que me restava de vida era menos do que o que já havia passado, dali em diante eu ia fazer as coisas que me agradassem e não para agradar às pessoas. É claro que eu ainda encaro um ou outro programa se isso vai fazer feliz meu marido, meus filhos ou algum amigo que valha a pena. Mas para ser educada, ser a boazinha, nãnãnãnão!
E aos poucos eu fui mudando... comecei pela cerveja. Eu odeio cerveja, acho a bebida mais sem graça que já foi inventada, você bebe, bebe, bebe, urina, urina, urina... arre! mas como a gente saía em grupo, todo mundo tomava cerveja, para não ser do contra eu acabava tomando também. Hoje eu peço minha água com gás na maior. É claro que na primeira vez foi um auê. Silêncio total. Eu parecia um alienígena. As pessoas perguntando: Mas como? Você sempre tomou cerveja? Como “não gosta”? Explicada minha teoria, ânimos aplacados, hoje minha água já é parte integrante da noitada.
Depois foi a história do aniversário. Meu marido tem um primo (chato pra caramba) que aniversaria no final do ano. Eu encarava a comemoração do seu aniversário como o último sacrifício do ano (mas lembrem-se: eu era “boazinha” rs). Era sempre a mesma coisa: as mesmas pessoas cobrando “Como você está sumida!”, se eu estava magra: “Que aconteceu? Está doente?”, se eu engordava: “Nossa como você engordou?” e eu sorria, educadinha do jeito que mamãe ensinou. Ainda tinha que agüentar (recuso-me a aceitar a reforma que nem os portugueses aceitaram!) a esposa do aniversariante (numa escala de 0 a 10 de chatice, ela consegue ser 11) e sua mesa fantástica de doces e tortas (justiça seja feita) reclamando que havia passado a madrugada inteira fazendo doces! Pois bem, chegou o grande dia, meu marido se arrumou e eu continuei assistindo TV, ou lendo, ou sei lá o quê, e ele me pergunta:
- Você não vai?
- Não. Cansei de ser educada.
- Mas o que eu falo?
- A verdade. Que eu não quis vir.
Ponto final, deste ano em diante não fui mais... e foi o último em que meu marido compareceu!
E foram pequenos gestos aqui e acolá que foram me transformando na pessoa que sou hoje.
Eu que era rock’n roll e cantava “Por isso não provoque / É cor de Rosa Choque”, hoje estou mais para toada e esses dias até me peguei cantando “Ando devagar porque já tive pressa / Levo esse sorriso porque já chorei demais.”
Isso não quer dizer que eu tenha me transformado em uma pessoa completamente zen e educada. Só que minha prioridade passou a ser eu mesma.
Outro dia uma amiga, nem tão amiga assim, começou a falar do seu filho e nora, em tom de desabafo e eu fiz umas perguntas no intuito de, estando de fora da situação, ver como melhor poderia ajudá-la. O assunto morreu, fui embora. No dia seguinte, nos encontramos novamente e ela veio tirar satisfação porque eu estava indagando coisas do filho dela se ela nunca havia perguntado dos meus. Ah! Educação tem limite! Na hora retruquei:
- Minha querida, eu estava com a melhor das boas intenções, buscando um modo de auxiliá-la, mas se você encarou como invasão, por favor, a partir de hoje, guarde seus problemas, dos seus filhos, do seu marido, para você mesma, porque a partir do momento que você fala o quer, corre um sério risco de ouvir o que não quer.
E continuei minha vidinha...
Eu que já fui metrópole, hoje sou cidadezinha com estação ferroviária, vendo o trem passar.
E tenho dito!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

DIVAGAÇÕES DE UMA MENTE COM MUITAS LEMBRANÇAS


Tudo começou porque eu comecei a pensar em como somos impotentes diante de uma enfermidade que pode nos levar a óbito (chique né?). Daí lembrei-me da história de uma madrinha. O que levou a lembrar que ela não era minha madrinha. Que desencadeou na história das “tias”, voltou à questão da morte e fechou com minha promessa de visitá-los.
Acharam complicado?
Vou tentar destrinchar...
Estava eu aqui no meu canto, ainda recuperando da enfermidade, pensando sobre a alegria de não ter morrido, pois pude ir à festa que teve na minha cidade natal e que reúne os “ausentes” e reencontrei amigos de longa data e que não via há décadas. Daí pensei, se eu tivesse morrido só ia encontrar alguns deles no meu velório, mas não ia ser a mesma coisa!
Foi então que eu lembrei da Madrinha Tereza e suas inúmeras teorias. Ela é uma octogenária com ambas as pernas amputadas, mas com um senso de humor melhor que a maioria das pessoas que conheço. Só quem foi criado em cidade do interior vai entender, mas é assim, a pessoa batiza um filho da família, a partir daí todo mundo chama de madrinha, a ponto de, nas grandes famílias, ser difícil saber quem batizou quem. Pois é, ela não é minha madrinha, mas é a Madrinha Tereza. Bem, a teoria dela para a morte é que a dita cuja deveria ser em forma de gancho, daí quando estivesse se aproximando a gente teria tempo de correr e se esconder num lugar onde o gancho não alcançasse...


Enquanto eu pensava nessa história de madrinha, lembrei que pela manhã fui estacionar o carro (viva!!!! Já estou dirigindo pequenas distâncias, pelo menos até a fisioterapeuta) e vem um tremendo galalau (Aurélio explica: um baita homem com hábitos adolescentes) e diz:
- Pode vigiar tia?
Tive vontade de voar no pescoço dele, mas controlei a raiva, olhei-o bem e devolvi:
- Por acaso sou irmã da sua mãe?
- Não senhora.
- Sou irmã do seu pai?
- Não senhora.
- Então, tia é o raio que o parta!
Essa geração tia é uma m... juro que prefiro que me chamem de Dona (apesar de não ser nada bonito).
Mas voltando à questão da morte... apesar de todas as minhas crenças: reencarnação, que estamos aqui de passagem, que nossa verdadeira morada não é aqui, etc. na hora H o medo aparece de verdade. E nem adianta aquele discurso bonito que sei fazer de cor. E se tudo que aprontei pesa muito mais do que fiz de bom? Ai Meu São Francisco! Vou arder no umbral! Isso porque ainda tenho certeza que não vou partir antes de 2017, e não perguntem como sei, é minha parte bruxa que sopra umas coisas no meu ouvido de vez em quando...
Cada pancada que a vida me dá eu me proponho a melhorar, a me empenhar mais em ser uma pessoa mais caridosa, mais amorosa, mais paciente, etc. mas tão logo o pior passa, passam também os bons propósitos. Espero que agora eu tome jeito!
Seguindo o rumo do pensamento eu pensei na quantidade de pessoas que convivo aqui e que não sabem o quanto as amo, o quanto suas palavras e visitas são importantes para mim e que não sabem nada disso. Daí lembrei de uma historinha, porque perco a vida, mas não o bom humor:
Um homem devia a todos na cidade. A cada dia acumulava mais dívidas. Chegou a um ponto que ninguém mais lhe emprestava nada. Todo final de mês ele escrevia em pequenos papéis os nomes de todos os seus credores e colocava dentro do chapéu. Daí ele sorteava aqueles que iriam receber alguma grana naquele mês. Um dia um credor insatisfeito foi procurá-lo para reclamar. O homem não pensou duas vezes e foi logo dizendo:
- Se continuar reclamando eu tiro o nome do chapéu!
Pois é, eu não vou colocar os nomes de vocês em papeizinhos, mas prometo começar a visitá-los semana que vem (chagará um novo computador!).
Até lá um beijo no coração e muita luz!

sábado, 9 de maio de 2009

ÀS MÃES



Foi há muitos anos.
Eu me recordo como se tivesse acontecido ontem.
Meu filho, apenas uma cabecinha loura aparecendo por entre as crianças maiores, num palco, a cantar uma música dedicada a mim, sua mãe.
Ao término da canção, a corrida em minha direção, a rosa linda, vermelha, não importava se estava murcha ou se a haste estava quebrada, era a minha rosa e era maravilhosa, justamente pela peculiaridade de ter sido ofertada pelo meu filho, a primeira. As lágrimas teimavam em rolar nas minhas faces, e ele, a sorrir, não compreendia o significado daquelas lágrimas.
E este foi um dos momentos mais lindos de toda a minha vida.
E é por recordar com tanto carinho dessas lembranças que hoje dedico estas palavras a você, que é mãe.
Vários poetas tentaram descrever o que é ser Mãe, mas nenhum deles, jamais conseguiu, com exatidão, descrever o que sente uma mulher ao ser Mãe, porque não existem palavras, em idioma algum, que consigam expressar essa emoção.
Não importa o seu credo ou a sua raça, se você é pobre ou rica, casada ou solteira. Não importa em que condições seu filho veio ao mundo. O que importa é que ele existe, e é seu. E você o ama tanto que seria capaz de dar a sua própria vida em favor do filho amado.
Mas o que é realmente ser Mãe?
Não é, como já disse um poeta, “padecer no paraíso”. Ser mãe é padecer sempre.
São as intermináveis noites passadas em claro a lhe controlar a temperatura, quando doente.
É ver o dia clarear velando-lhe o sono e ter que trabalhar, com as olheiras a denunciar o cansaço, a preocupação estampada no rosto, impotente, trabalhar com o pensamento voltado para o filho que ficou, mas você tem que produzir, a vida não pode parar e você segue adiante.
É acordar a cada tossida, a cada espirro, a cada choro (mesmo sem um motivo aparente).
São lágrimas a se confundir com as lágrimas do filho toda vez que você tem que repreendê-lo ou patilhar da sua dor.
É sentar no chão para brincar, ou para ensinar-lhe o dever, depois de um dia cansativo de serviço.
É sentir como se lhe cortassem, mais uma vez, o cordão umbilical quando você o deixa pela primeira vez na porta do colégio.
É viver de renúncias.
Mas tem também o outro lado, o paraíso.
Quando ele dá o primeiro passo, quando fala pela primeira vez “mamãe”, quando escreve a primeira palavra, quando procura o seu colo depois de uma queda.
As coisas mais simples que ele faz são como uma compensação pelo seu sacrifício.
Sacrifício sublime, o de ser “Mãe”.
Gostaria de ter o dom de escrever coisas bonitas para homenagear você, minha amiga, Mãe, neste dia que lhe é dedicado, mas ando meio sem inspiração.
Gostaria de abraçar cada uma de vocês e compartilhar da emoção comum a todas as mães, mas, não sendo possível, considerem as minhas palavras como a mais sincera homenagem a você, que sofre, chora, ama e que é responsável pela mais bela missão destinada por Deus, que é a de ser Mãe.
Parabéns!