terça-feira, 26 de maio de 2009

MUDANÇA DE RITMO

(foto oficial do Governo do Esp. Santo)

A vida é coisa engraçada, quando a gente é criança e tem todo o tempo pela frente, faz as coisas sempre correndo, tem pressa; à medida que o tempo passa e vai diminuindo, a gente diminui também o ritmo, e com isso alguns hábitos.
Eu ia escrever sobre outra coisa... mas aconteceu um fato e daí...
Bem, quando eu fiz 50 anos decidi que, como o que me restava de vida era menos do que o que já havia passado, dali em diante eu ia fazer as coisas que me agradassem e não para agradar às pessoas. É claro que eu ainda encaro um ou outro programa se isso vai fazer feliz meu marido, meus filhos ou algum amigo que valha a pena. Mas para ser educada, ser a boazinha, nãnãnãnão!
E aos poucos eu fui mudando... comecei pela cerveja. Eu odeio cerveja, acho a bebida mais sem graça que já foi inventada, você bebe, bebe, bebe, urina, urina, urina... arre! mas como a gente saía em grupo, todo mundo tomava cerveja, para não ser do contra eu acabava tomando também. Hoje eu peço minha água com gás na maior. É claro que na primeira vez foi um auê. Silêncio total. Eu parecia um alienígena. As pessoas perguntando: Mas como? Você sempre tomou cerveja? Como “não gosta”? Explicada minha teoria, ânimos aplacados, hoje minha água já é parte integrante da noitada.
Depois foi a história do aniversário. Meu marido tem um primo (chato pra caramba) que aniversaria no final do ano. Eu encarava a comemoração do seu aniversário como o último sacrifício do ano (mas lembrem-se: eu era “boazinha” rs). Era sempre a mesma coisa: as mesmas pessoas cobrando “Como você está sumida!”, se eu estava magra: “Que aconteceu? Está doente?”, se eu engordava: “Nossa como você engordou?” e eu sorria, educadinha do jeito que mamãe ensinou. Ainda tinha que agüentar (recuso-me a aceitar a reforma que nem os portugueses aceitaram!) a esposa do aniversariante (numa escala de 0 a 10 de chatice, ela consegue ser 11) e sua mesa fantástica de doces e tortas (justiça seja feita) reclamando que havia passado a madrugada inteira fazendo doces! Pois bem, chegou o grande dia, meu marido se arrumou e eu continuei assistindo TV, ou lendo, ou sei lá o quê, e ele me pergunta:
- Você não vai?
- Não. Cansei de ser educada.
- Mas o que eu falo?
- A verdade. Que eu não quis vir.
Ponto final, deste ano em diante não fui mais... e foi o último em que meu marido compareceu!
E foram pequenos gestos aqui e acolá que foram me transformando na pessoa que sou hoje.
Eu que era rock’n roll e cantava “Por isso não provoque / É cor de Rosa Choque”, hoje estou mais para toada e esses dias até me peguei cantando “Ando devagar porque já tive pressa / Levo esse sorriso porque já chorei demais.”
Isso não quer dizer que eu tenha me transformado em uma pessoa completamente zen e educada. Só que minha prioridade passou a ser eu mesma.
Outro dia uma amiga, nem tão amiga assim, começou a falar do seu filho e nora, em tom de desabafo e eu fiz umas perguntas no intuito de, estando de fora da situação, ver como melhor poderia ajudá-la. O assunto morreu, fui embora. No dia seguinte, nos encontramos novamente e ela veio tirar satisfação porque eu estava indagando coisas do filho dela se ela nunca havia perguntado dos meus. Ah! Educação tem limite! Na hora retruquei:
- Minha querida, eu estava com a melhor das boas intenções, buscando um modo de auxiliá-la, mas se você encarou como invasão, por favor, a partir de hoje, guarde seus problemas, dos seus filhos, do seu marido, para você mesma, porque a partir do momento que você fala o quer, corre um sério risco de ouvir o que não quer.
E continuei minha vidinha...
Eu que já fui metrópole, hoje sou cidadezinha com estação ferroviária, vendo o trem passar.
E tenho dito!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

DIVAGAÇÕES DE UMA MENTE COM MUITAS LEMBRANÇAS


Tudo começou porque eu comecei a pensar em como somos impotentes diante de uma enfermidade que pode nos levar a óbito (chique né?). Daí lembrei-me da história de uma madrinha. O que levou a lembrar que ela não era minha madrinha. Que desencadeou na história das “tias”, voltou à questão da morte e fechou com minha promessa de visitá-los.
Acharam complicado?
Vou tentar destrinchar...
Estava eu aqui no meu canto, ainda recuperando da enfermidade, pensando sobre a alegria de não ter morrido, pois pude ir à festa que teve na minha cidade natal e que reúne os “ausentes” e reencontrei amigos de longa data e que não via há décadas. Daí pensei, se eu tivesse morrido só ia encontrar alguns deles no meu velório, mas não ia ser a mesma coisa!
Foi então que eu lembrei da Madrinha Tereza e suas inúmeras teorias. Ela é uma octogenária com ambas as pernas amputadas, mas com um senso de humor melhor que a maioria das pessoas que conheço. Só quem foi criado em cidade do interior vai entender, mas é assim, a pessoa batiza um filho da família, a partir daí todo mundo chama de madrinha, a ponto de, nas grandes famílias, ser difícil saber quem batizou quem. Pois é, ela não é minha madrinha, mas é a Madrinha Tereza. Bem, a teoria dela para a morte é que a dita cuja deveria ser em forma de gancho, daí quando estivesse se aproximando a gente teria tempo de correr e se esconder num lugar onde o gancho não alcançasse...


Enquanto eu pensava nessa história de madrinha, lembrei que pela manhã fui estacionar o carro (viva!!!! Já estou dirigindo pequenas distâncias, pelo menos até a fisioterapeuta) e vem um tremendo galalau (Aurélio explica: um baita homem com hábitos adolescentes) e diz:
- Pode vigiar tia?
Tive vontade de voar no pescoço dele, mas controlei a raiva, olhei-o bem e devolvi:
- Por acaso sou irmã da sua mãe?
- Não senhora.
- Sou irmã do seu pai?
- Não senhora.
- Então, tia é o raio que o parta!
Essa geração tia é uma m... juro que prefiro que me chamem de Dona (apesar de não ser nada bonito).
Mas voltando à questão da morte... apesar de todas as minhas crenças: reencarnação, que estamos aqui de passagem, que nossa verdadeira morada não é aqui, etc. na hora H o medo aparece de verdade. E nem adianta aquele discurso bonito que sei fazer de cor. E se tudo que aprontei pesa muito mais do que fiz de bom? Ai Meu São Francisco! Vou arder no umbral! Isso porque ainda tenho certeza que não vou partir antes de 2017, e não perguntem como sei, é minha parte bruxa que sopra umas coisas no meu ouvido de vez em quando...
Cada pancada que a vida me dá eu me proponho a melhorar, a me empenhar mais em ser uma pessoa mais caridosa, mais amorosa, mais paciente, etc. mas tão logo o pior passa, passam também os bons propósitos. Espero que agora eu tome jeito!
Seguindo o rumo do pensamento eu pensei na quantidade de pessoas que convivo aqui e que não sabem o quanto as amo, o quanto suas palavras e visitas são importantes para mim e que não sabem nada disso. Daí lembrei de uma historinha, porque perco a vida, mas não o bom humor:
Um homem devia a todos na cidade. A cada dia acumulava mais dívidas. Chegou a um ponto que ninguém mais lhe emprestava nada. Todo final de mês ele escrevia em pequenos papéis os nomes de todos os seus credores e colocava dentro do chapéu. Daí ele sorteava aqueles que iriam receber alguma grana naquele mês. Um dia um credor insatisfeito foi procurá-lo para reclamar. O homem não pensou duas vezes e foi logo dizendo:
- Se continuar reclamando eu tiro o nome do chapéu!
Pois é, eu não vou colocar os nomes de vocês em papeizinhos, mas prometo começar a visitá-los semana que vem (chagará um novo computador!).
Até lá um beijo no coração e muita luz!

sábado, 9 de maio de 2009

ÀS MÃES



Foi há muitos anos.
Eu me recordo como se tivesse acontecido ontem.
Meu filho, apenas uma cabecinha loura aparecendo por entre as crianças maiores, num palco, a cantar uma música dedicada a mim, sua mãe.
Ao término da canção, a corrida em minha direção, a rosa linda, vermelha, não importava se estava murcha ou se a haste estava quebrada, era a minha rosa e era maravilhosa, justamente pela peculiaridade de ter sido ofertada pelo meu filho, a primeira. As lágrimas teimavam em rolar nas minhas faces, e ele, a sorrir, não compreendia o significado daquelas lágrimas.
E este foi um dos momentos mais lindos de toda a minha vida.
E é por recordar com tanto carinho dessas lembranças que hoje dedico estas palavras a você, que é mãe.
Vários poetas tentaram descrever o que é ser Mãe, mas nenhum deles, jamais conseguiu, com exatidão, descrever o que sente uma mulher ao ser Mãe, porque não existem palavras, em idioma algum, que consigam expressar essa emoção.
Não importa o seu credo ou a sua raça, se você é pobre ou rica, casada ou solteira. Não importa em que condições seu filho veio ao mundo. O que importa é que ele existe, e é seu. E você o ama tanto que seria capaz de dar a sua própria vida em favor do filho amado.
Mas o que é realmente ser Mãe?
Não é, como já disse um poeta, “padecer no paraíso”. Ser mãe é padecer sempre.
São as intermináveis noites passadas em claro a lhe controlar a temperatura, quando doente.
É ver o dia clarear velando-lhe o sono e ter que trabalhar, com as olheiras a denunciar o cansaço, a preocupação estampada no rosto, impotente, trabalhar com o pensamento voltado para o filho que ficou, mas você tem que produzir, a vida não pode parar e você segue adiante.
É acordar a cada tossida, a cada espirro, a cada choro (mesmo sem um motivo aparente).
São lágrimas a se confundir com as lágrimas do filho toda vez que você tem que repreendê-lo ou patilhar da sua dor.
É sentar no chão para brincar, ou para ensinar-lhe o dever, depois de um dia cansativo de serviço.
É sentir como se lhe cortassem, mais uma vez, o cordão umbilical quando você o deixa pela primeira vez na porta do colégio.
É viver de renúncias.
Mas tem também o outro lado, o paraíso.
Quando ele dá o primeiro passo, quando fala pela primeira vez “mamãe”, quando escreve a primeira palavra, quando procura o seu colo depois de uma queda.
As coisas mais simples que ele faz são como uma compensação pelo seu sacrifício.
Sacrifício sublime, o de ser “Mãe”.
Gostaria de ter o dom de escrever coisas bonitas para homenagear você, minha amiga, Mãe, neste dia que lhe é dedicado, mas ando meio sem inspiração.
Gostaria de abraçar cada uma de vocês e compartilhar da emoção comum a todas as mães, mas, não sendo possível, considerem as minhas palavras como a mais sincera homenagem a você, que sofre, chora, ama e que é responsável pela mais bela missão destinada por Deus, que é a de ser Mãe.
Parabéns!