segunda-feira, 30 de junho de 2008

FLORBELA ESPANCA II


A MINHA DOR
(À você)

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...
(Extraído do "Livro de Mágoas" - soneto e imagem de domínio público)
Caros Amigos e Visitantes

Desculpem-me a ausência em seus espaços... aqueles que me acompanham mais amiúde já sabem ... final de mês... fechamento de informativo... muito trabalho, pouco tempo! (rs)

Prometo visitar-lhes em breve,

Beijos e luz

Kátia

quinta-feira, 26 de junho de 2008

FLORBELA ESPANCA

Não são necessárias muitas explicações para se postar um poema... entretanto, esta noite, no auge da minha insônia, veio-me à memória vários versos de Florbela Espanca... daí, hoje o dia é dela!

A MINHA PIEDADE

Tenho pena de tudo quanto lida

Neste mundo, de tudo quanto sente,

Daquele a quem mentiram, de quem mente,

Dos que andam pés descalços pela vida,

Da rocha altiva, sobre o monte erguida,

Olhando os céus ignotos frente a frente,

Dos que não são iguais à outra gente,

E dos que se ensangüentam na subida!

Tenho pena de mim... pena de ti...

De não beijar o riso duma estrela...

Pena dessa má hora em que nasci...

De não ter asas para ir ver o céu...

De não ser Esta... a Outra... e mais Aquela...

De ter vivido e não ter sido Eu...


(extraído do livro Charneca em Flor - poema e imagem de domínio público)

Florbela Espanca (1894 - 1930), batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição, foi uma poetisa portuguesa.

Filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. O pai só reconheceria a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.

Em 1903 Florbela Espanca escreveu a primeira poesia de que temos conhecimento, A Vida e a Morte. Casou-se em 1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917, inscrevendo-se a seguir no curso de Direito, sendo a primeira mulher a freqüentar este curso na Universidade de Lisboa.

Sofreu um aborto involuntário em 1919, ano em que publicaria o Livro de Mágoas. É nessa época que Florbela começa a apresentar sintomas mais sérios de desequilíbrio mental. Em 1921 separou-se de Alberto Moutinho, passando a encarar o preconceito social decorrente disso. No ano seguinte casou-se pela segunda vez, com António Guimarães.

O Livro de Soror Saudade é publicado em 1923. Florbela sofreu novo aborto e seu marido pediu o divórcio. Em 1925 casou-se pela terceira vez, com Mário Laje. A morte do irmão, Apeles (num acidente de avião), abala-a gravemente e inspira-a para a escrita de As Máscaras do Destino.

Tentou o suicídio por duas vezes em Outubro e Novembro de 1930,

às vésperas da publicação de sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, 8 de dezembro de 1930, utilizando uma dose elevada de Veronal. Charneca em Flor viria a ser publicado em Janeiro de 1931.

Precursora do movimento feminista em Portugal, teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade.

Fernando Pessoa, em um poema datilografado e não datado de nome "À memória de Florbela Espanca", descreve-a como "alma sonhadora/ Irmã gêmea da minha!".


terça-feira, 24 de junho de 2008

DIVAGAÇÕES SOBRE AMOR, AMIZADE E OUTROS SENTIMENTOS

Conheceram-se através da internet, esta era a única certeza que tinha, que só não era absoluta porque aí deixava de ser certeza e passava a ser pleonasmo, o mais estava tão bem guardado em suas gavetas mentais secretas que nem ela sabia mais em qual estava.
Mas também não importava.
Importava que tudo começou porque tinham o mesmo nome e a mesmo inicial no sobrenome, depois vieram as descobertas do gosto pela fotografia, pela natureza, pela magia, por Merlin e pelas Mandalas.
Vieram os fotolog’s, e-mails, Orkut, blog.
Foram se descobrindo.
Amavam os mesmos livros, as mesmas músicas, fotografavam num mesmo ângulo.
Fossem de sexo oposto ou homossexuais diria serem almas-gêmeas. Como não eram, talvez fossem almas-irmãs.
Com o tempo veio a confiança.
Com a confiança, as confidências.
Daí descobriram que tinham muito mais em comum... além das preocupações com os filhos e das receitas de bruxaria (só para o bem, se o caro leitor tem alguma dúvida), além dos problemas familiares e da tristeza que batia de vez em quando, além daquela vontade de ir embora, além das centenas de quilômetros que as separavam... tinham uma sintonia tão fina que nem satélite da NASA. Uma percebia quando a outra estava em dificuldade, sentia a urgência, a carência.
Vieram os telefonemas nas horas mais impróprias e que se mostraram serem as mais necessárias.
Porém, pairando sobre tudo isso existiam duas histórias de Amor. Assim mesmo, com letra maiúscula, porque Amor que resiste a defeitos, a ausências, a separação, outra coisa não é. Talvez fosse até loucura, mas elas alternavam tão bem esses momentos que quando uma duvidava se era Amor, era exatamente o momento em que a outra tinha certeza, daí era um passo fácil para o convencimento.
Essa história de amor não realizado, idealizado, é coisa complicada demais para sentir, quanto mais para explicar. Então seguiam suas vidas, cada uma agarrada a seu Amor não concretizado. E sofriam...
Até que um dia não coincidiu.
No meio às lágrimas (sobre o teclado, pobrezinho) uma pergunta à outra:
- Será que um dia isso passa?
A outra pensou muito antes de responder. No momento até caberia aquela mentira piedosa que se dá aos moribundos:
- Passa sim, essa dor vai passar, você vai ver!
Mas não dava mais para mentir... a dor do amor não realizado não passa nunca, continua a doer mesmo depois de o amor já ter-se ido. Ela sabia. Trazia no peito, qual ferida que não cicatriza, uma dor igualzinha. Foi então que respondeu:
- É amiga. Amor que nem esses nossos é que nem cor de olho – a gente pode até disfarçar com lente, mas é a única coisa que não podemos mudar nunca. O resto, com dinheiro, hoje se muda tudo! Compra-se seio por peso. Cintura por quantidade de costela, conheço gente até que já fez umbigo novo... sem falar de outras reparações. Mas cor de olho e Amor recolhido... êta! É para o resto da vida. Mas se serve de consolo: A gente se acostuma.
Mal acabou de escrever e percebeu que seu teclado também tinha uns molhadinhos...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

PENA DE LOS AMORES

Autor: Jose Luis Almada, 1991

Que pena de las palabras que se callaron
Y aquellas que pronunciadas, estan perdidas
Que pena de primavera sin flor ni canto,
Que pena de algun verano sin golondrinas
Que pena de algunos besos que no se han dado
Y aquellos labios dispuestos pero ya escondidos
Que pena de las estrellas que se apagaron
En medio de alguna noche mal encendida
Que pena de las promesas que se quedaron
Bailando con los recuerdos en una esquina
Que pena de los amantes que se dejaron
Sin darse siquiera un beso de despedida
Que pena de los amores que ya pasaron
Que pena de los amores que no existían
Que pena de los amores que me olvidaron
Que pena de los amores que se me olvidan

Talvez porque minha alma hoje esteja triste, mas ainda repleta de amor... amor mal compreendido, amor que deveria ser esquecido...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

ENCONTROS E REENCONTROS

Num dia, de bobeira, você precisa fazer uma pesquisa sobre algum assunto que depois nem lembra mais.
Entra no Google, claro! Vivemos a Era Googlezóica - você tem uma dúvida? busca uma informação? quer encontrar alguém? qual o primeiro lugar que procura? Todos sabemos a resposta, principalmente a geração Ctrl C + Ctrl V - para horror dos educadores!
Mas voltando ao nosso assunto, já no Google, entrei em um site, que me levou a outro, a outro e assim sucessivamente, até chegar ao blog Páginas Rasgadas. Comecei a ler... depois de algumas horas (isso mesmo, fiquei horas lendo) já nem lembrava mais o que estava
procurando. Encontrei neste blog crônicas, confissões, coração aberto, resenhas, tudo escrito com uma paixão e de modo tão bonito que fiquei encantada.
A todo instante falava pra Gabi (minha filha e proprietária da baia direita da lan house que se transformou nosso escritório): - Você precisa ler isso! Olha isso aqui! e coisas do gênero...
O tempo passou e mais à tardinha, quando desço à lan, a Bi me fala:
- Mãe, adivinha com quem estou conversando?
Apesar de bruxa meus poderes não chegam a tanto... não fazia nem idéia... o MSN dela deve ter mais de 200 pessoas, como adivinhar?
- Estou falando com a Jussara!
- Tá! Que Jussara?
- A do blog...
- Como?!???!!!
- É... encontrei-a...
- Passa para mim, levanta daí, deixa eu falar.
(Como assim? Eu descubro a menina, todas as coisas maravilhosas que eu gostaria de ter escrito e ela fica de conversê com a Bi?)
Daí começamos a conversar e foi como se nos conhecêssemos toda a vida...
O orkut foi o passo próximo.
Depois vieram os e-mais, scraps, confidências e, a cada dia, mais identificações.
A seguir as mudanças, a torcida, a saudade quando as notícias escasseavam...
A amizade já estava solidificada.
Já nos conhecíamos, já éramos amigas. Sempre digo que não tenho amigo virtual, tenho amigo ainda por encontrar... e faltava apenas este pequeno detalhe... encontrar-nos.
Os e-mails: oi, vamos "praí", quando?, podemos nos ver?, claro, me telefona, manda o número, liga assim que chegar, qual o melhor dia, promete, prometo...
Os telefonemas: secretária eletrônica, oi, cheguei, me liga, oi, estava fora, vamos nos encontrar, onde, quando é melhor, vamos ver, te ligo de volta.Oi, então, exposição nova no Masp, que tal sábado, não tenho plantão, tudo bem, onze e meia, vão central, combinado, combinado.
Não precisava de características, nem cor de roupa, nem flor na mão.
Nossos corações já se conheciam e se reconheceriam. Acreditava nisso. E foi o que aconteceu.
Maravilha de re-encontro. Abraços, identificação, divertimento, histórias.
Mais uma amiga conhecida.
E mais uma saudade no coração.



segunda-feira, 16 de junho de 2008

SÃO PAULO

Só para não dizerem que não escrevi...
Tudo é caos,
Passeata de camelô - estou lá
Roubo na pinacoteca - passo por lá
(juro que não fui eu!)
Protesto de professores - quem atravessa na hora?
Só faltou acompanhar os ciclistas nus, mas foi por pouco...
Pocket show de Marina de La Riva
E eu, coincidentemente, lá!
Está tudo cinza,
Ora chove, ora faz sol,
calor e frio,
Mas meu coração está aquecido.
Estou entre pessoas que amo.
Preciso mais?

Foto: Mercado Municipal - São Paulo/SP - Brasil

quarta-feira, 11 de junho de 2008

CIDADE DO MÉXICO

Não é a foto que está torta... depois do terremoto de não me lembro quando, os prédios da parte antiga afundaram um pouco e ficaram assim, um pouco tombados... meio sinistro. Primeira impressão: fria, cinza, triste, feia!
Cidade do México ou DF como dizem os mexicanos, não é cidade que se apaixona à primeira vista, é para ser conquistada e se deixar conquistar pouco a pouco.
Amor construído com paciência.
É uma cidade bonita, alegre, colorida, cheia de encantos e recantos.
Fiz um mosaico...
Se pudesse colocaria mil fotos.
DF é única: uma mistura donde o antigo e o moderno se misturam e se completam tornando um todo bonito.
Onde nada surpreende: você encontra indígenas fazendo seus rituais no Zócalo - praça principal onde estão os Palácios do Governo, Municipal, Catedral etc., Xamãs fazendo "límpias", que é um tipo de bendição de limpeza, em plena rua, gente vestida de todos os tipos (cada região tem seu traje típico)... lá tudo é normal.
E a profusão de gente diferente, cores, aromas, torna DF única. Não conheço nenhuma cidade no mundo (é certo que do mundo conheço pouco) que posso comparar à Cidade do México, nem mesmo as cidades da sua colonizadora Espanha. Eles souberam permanecer distintos. Acho que isso é o que mais me encanta.


IMPERDÍVEL:
Para ver tudo seriam necessários uns 30 dias, mas existem alguns pontos que não se pode deixar de ir:
- Museu de Antropologia (é enorme! abrange todas as etnias. No pátio em frente tem a apresentação dos Voladores - foto acima - não deixe de ver, é típico dos índios não sei quais, mas é lindo!)
- Museu Frida Kahlo (sem comentários!),
- Museu Diego Rivera,
- Museu Dolores Olmedo (que dizem que era amante de Diego),
- Museu de Arte Moderna,
- Palácio Nacional e seus murais de Diego Rivera
- Todos os outros edifícios públicos em torno do Zócalo e que ficam abertos à visitação.
- Catedral (que também é meio torta)
- Tempo Maior - ruínas arqueológicas astecas e museu ao lado da Catedral
- Torre Latina (fica lá na pqp das alturas, de onde só se pode sair de elevador - 8 pessoas ou voando e eles me fazem um museu com fotos do terremoto, pode? é para bambear as pernas),
- Palácio de Belas Artes,
- Casa de Azulejo,
- Palácio dos Correios,
- Basílica de Guadalupe ou de La Virgencita, etc etc
- Um pouco mais afastado fica Xochimilco - Uma Veneza tropical, as águas são negras por causa do lodo... com ilhas flutuantes, onde passeiam barcos enfeitados com flores, corações, e gente dentro fazendo festa, piquenique... coisa que só se vê no México.
- Parque Chapultepec onde tem várias apresentações folclóricas e as pessoas também fazem piquenique (e nem são chamadas de farofeiras).


DICAS:

- Para se ter uma visão geral o melhor é pegar um Toury Bus recorrido - 2 horas de passeio com tradução simultânea (não tem português) que roda pelos lugares e bairros que interessam. Pode-se comprar um boleto válido para dois dias (sai muito mais barato) e existem as paradas onde você pode descer, conhecer os arredores e tomar o próximo ônibus. O ponto inicial é no Zócalo, ao lado da Catedral. São dois trajetos distintos.

- Não entre num táxi sem perguntar antes se tem taxímetro, se não tiver, combine o preço antes.

- No aeroporto, ambos os setores, têm paradas de ônibus (tipo rodoviária de luxo) onde pode-se tomá-los para qualquer parte do México,

COMPLEMENTANDO:

- Se tiver tempo, não deixe de ir a Teotihuacán, que é um sítio arqueológico localizado a 40 km VTeotihuacan ou Teotihuacán, é um sítio arqueológico localizado a 40 km da Cidade do México e é declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Teotihuacan foi a maior cidade conhecida da época Pré-Colombiana na América e lá estão as Pirâmides do Sol e da Lua. Existem tours todos os dias levando os turistas. Se for, não esqueça da água! Lá é lindo!!!!

É mais uma cidade que vale a pena conhecer!!!!

terça-feira, 10 de junho de 2008

FINGIR

Dias sem sentido,
Noites frias,
Solidão.
Só a remota lembrança do teu calor me aquece.
Só a esperança do futuro me conforta.
Fecho os olhos e vejo uma luz imensa:
Teu rosto sorri para mim.
Abro meus olhos e ainda está
Teu sorriso a meu alegrar.
Tenho vontade de gritar
A plenos pulmões
Para que o mundo todo saiba, de uma vez,
Que sou tua
E somente para ti vivo.
Mas novamente tenho que me calar,
Me encolher,
Me guardar,
Me enrolar
E, tremendo de amor,
Fingir, mais uma vez,
Sentir frio.
Só frio.
Livro: Múltiplas Faces
Ilustração: Joyce Brandão

sábado, 7 de junho de 2008

PROSTITUTA - MULHER ACIMA DE TUDO

Alheia a tudo
Ela passa o batom carmim,
A rua é seu camarim.
À noite um cubículo alugado
Com cortina de chita ou cetim.
Privacidade não conhece.
Só desperta curiosidade,
Olhares arredios, escárnio,
Nada merece.
Trabalha árduo,
Todos os dias,
Descanso desconhece.
Oculta tristeza, pranto,
Sob a máscara do sorriso franco.
Eu também nada tive a oferecer
Um gesto,
Um olhar gentil
Nem uma palavra a dizer.
Seu nome? A ninguém importa
Rita, Joana, Sandra, Maria,
Ela responde a todos
E segue sua labuta
Mesmo quando chamam-na
Prostituta.

(Kátia Corrêa De Carli - inédito)
Foto: Prostituta se preparando para o ofício - El Caminito - Buenos Aires - Argentina


quinta-feira, 5 de junho de 2008

POR CONTA DE UM SONHO

Hoje acordei triste.

Não aquela tristeza dilacerante que transforma tudo em sofrimento.
Era aquela outra: tristeza-melancolia.
Cadinho que ficou do sonho que tive.
Cadinho do amor que tive.
Cadinho só, que ficou só no pensamento.
Carreguei-a comigo, a doer mansinho.
Tristeza não deveria chegar assim,
Deveria ser precedida de TPT (Tensão Pré-Tristeza)
Com dia e hora marcada.
Injustiça chegar sem avisar,
Sem nem deixar a gente se preparar.
E no interminável instante do sinal fechado
A lágrima correu quente e salgada.
Só doeu mais um cadinho...
Já deveria ter-me acostumado com ela.
Êta tristeza danada!
(Kátia Corrêa De Carli - inédita)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Ler e Reler

Faz bastante tempo que não escrevo sobre livros... Não que os tenha abandonado, isso seria morrer em vida (que dramático! mas é verdade... não saberia viver sem meus livros), mas tem tido tanto assunto que os pobrezinhos acabam ficado para depois.
Porém, aconteceu um fato e esse merece ser relatado.
Nos idos da década de 70 eu li um livro "Amor é só uma palavra", do J. M. Simmel. Deste livro guardei as melhores lembranças. Exemplo de amor incondicional, impossível, de entrega absoluta. Ficou esses anos todos na estante e na minha lembrança.
Há tempos, também, que li um livro de poemas do Affonso Romano de Sant'Anna e dele me esqueci... são tantos livros, tantos poemas...
Daí num dia chuvoso, como hoje, busquei na estante o tal "Amor etc...", queria tanto sentir novamente aquela dor no peito, reviver aquele amor impossível... Impossível! O livro mudou! Ou mudei eu! Ainda estou em torpor. O livro é horrível... não merece nem mais uma linha.
Entretanto, um dia, em viagem, a caminho do hotel, numa estação de metrô, comprei um pocket daqueles que se compra em "geladeira de livro", do Affonso Romano de Sant'Anna. "Tempo de Delicadeza" - comprei pelo título, já que se é tão difícil hoje em dia encontrar delicadeza... pensei que fossem poemas (uma vez que só pode ver a capa e brasileiro gosta mesmo é de tocar, manusear), eram crônicas. Da melhor qualidade!
Romano passeia do Amor ao Capitalismo. Dos caminhos que não tomou à Filosofia. Da Paixão à Pedagogia. Com uma leveza e encanto que prenderam-me até a última letra.
Livrinho pequeno, de geladeira... vale mil vezes mais que aquele outro que de tão grande serve até para segurar porta!
Lição: Existe livro que é para se ler uma vez só e guardar na memória a lembrança de um tempo. Reler é despedaçar o encanto.