quinta-feira, 24 de março de 2011

ABRAM ALAS!!!



Como a maioria de vocês têm conhecimento, passei por maus pedaços nos últimos dois anos. No entanto, esse espaço, a presença dos amigos, foram fundamentais para que eu não desistisse, que insistisse em ser maior que a enfermidade que me acometeu e cujas sequelas carregarei "ad infinitum". Havia dias em que eu necessitava tomar 16, isso mesmo, dezesseis comprimidos.
Diante do inevitável, tomei algumas decisões que compartilharei com vocês.

- Seguindo minha intuição e diante das dores persistentes, apesar da quantidade de medicamentos, decidi ir diminuindo as doses para ver se piorava. Afe!!! Não piorou, continuou a mesma coisa, daí diminui a maior parte até parar definitivamente, mesmo porque meu estômago já não aguentava mais. Daí, hoje, tomo apenas 5 comprimidos. (Não pensem que sou louca de pedra, quando cheguei aos 5 conversei com meu médico que me apoiou!)

- Se a dor vai me acompanhar por um tempo que nenhum de nós sabe qual e se vai doer estando eu na minha casa ou em Paris, prefiro, mil vezes, sentir dor em Paris.

- A dor é meu limite, mas não é mais minha comandante! Explico: antes eu deixava de fazer uma série de coisas por precaução para que a danada não chegasse. Agora não deixo de fazer nada, só que quando ela chega eu me recolho! Não ia a uma festa achando que a dor não me deixaria apreciar, agora eu vou, aproveito, e quando fica insuportável, volto para casa. Todos compreendem e eu voltei a me divertir.

- Minha vida esteve por suspenso durante dois anos. Tomei-a de volta!

- A coisa que mais gosto na vida é viajar. Não viajava mais por causa da dita cuja. Decidi por à prova!

Gente: EU VIAJEI!!!!!

Tudo bem que foram só seis dias. Mas eu e meu esposo fomos conhecer Manaus!
E foi ótimo!
É claro que não abusei, que precisei tomar alguns analgésicos (tá bom, muitos), mas eu fui!
Ganhei mais uma batalha nesta vida!
Nos próximos dias começo a postar sobre a viagem.
Obrigada, de coração, a todos que passaram por aqui, que não desistiram de mim, que me deram (e dão) forças para continuar lutando. Vocês estão num espaço muito especial do meu coração!
Saibam que a Dona Morte pode até pensar em me levar, mas vou dar um trabalhão, acho que já provei!

segunda-feira, 14 de março de 2011

NUNCA FUI MOVIDA A MEDOS


Sozinha na varanda do "meu cantinho", apreciando as nuvens transformando-se em chuva, lembrei-me das tempestades da minha vida.
Tempestades no sentido literal.
Relâmpagos, trovões, enchentes.
Uma vez, na escola, começou uma chuva torrencial e a maioria das crianças procurou abrigar-se próxima à professora, que à época era chamada de "Dona" e não "Tia" como hoje.
Permaneci sentada, quieta no meu canto.
Quando indagada se não tinha medo, respondi que não. Naquela tenra idade não tinha medo de nada que conhecesse. Se me diziam para não ir a determinado lugar porque tinha bicho-papão, aí é que eu queria ir mesmo, para conhecê-lo. Portanto, também não tinha medo do que ainda não conhecia.
Mas um dia a chuva trouxe a enchente até a casa que habitávamos, à beira do rio, e com ela vieram as cobras. Aí conheci o medo. Talvez incutido pelos meus pais que temiam pela minha integridade diante da minha "petulância" de tudo querer ver, conhecer, tocar. Eu poderia me ferir seriamente por não temer nada e acreditar que as cobras eram inofensivas.
Depois disso não lembro de nada mais que tenha me trazido o sentimento de medo.
É certo que cobra não olho nem na TV.
Mas tirando cobra, não temo nada vivo, muito menos morto.
Sempre destemida, segui adiante. Enfrentando minhas batalhas, angústias, doenças, perdas, incertezas.
Mas medo, medo mesmo, de paralisar os movimentos, não me lembro de ter sentido por mais nada.
Mas dia desses, lendo o jornal, deparei-me com a notícia sobre uma mãe que havia jogado o filho no rio.
Senti um gosto amargo, um tanto esquecido, gosto de medo.
Hoje tenho mais um: medo da dureza do coração dos homens.


segunda-feira, 7 de março de 2011

COMEMORANDO A VIDA


Numa carta que Albert Einstein escreveu a seu amigo Max Bom ele diz: "Deus não joga dados com o universo".
Gosto muito de citar essa frase sempre que alguma coisa que ultrapassa minha limitada compreensão dos fatos me acontece. Então, vamos por partes:
Foi meu aniversário, sábado de carnaval, dia de alegria e festa (não, não necessito votos de felicidades, só preciso de saúde, o resto é acréscimo!). No entanto, sem uma explicação plausível, eu me sentia triste.
Talvez triste não seja a palavra exata para explicar meu sentimento, estava mais para nostalgia, falta de algo que não se sabe o quê.
Por várias vezes meu marido me perguntou se aquela melancolia que me ia n'alma era por causa da velhice chegando. Não era! Ela já chegou faz tempo e não me assusta!
Recebi inúmeras mensagens de amigos queridos (ainda vou conseguir responder um a um, pelo menos até o próximo aniversário), telefomenas, amigos e família reunidos. Tudo perfeito. Mas não estava...
À noitinha, uma amiga muito querida me telefonou e me disse que queria um presente, que eu voltasse a escrever neste espaço. Estávamos as duas, depois de muitos perrengues, apaziguadas. Aceitando o tempo de Deus e seus desígnios com a certeza de que Ele não joga dados. Mas ficou alguma coisa por ser dita, um buraquinho que não conseguimos, desta vez, preencher com nossa conversa.
Pouco tempo depois me chega a notícia de que um grande amigo havia partido para outras paragens.
Tive que colocar meu lado prático em ação, pois seu filho (e família) aqui estava para passar o carnaval e necessitava voltar para Belo Horizonte.
Apesar de todo o conhecimento que acredito ter do "lado de lá", nada nos prepara para a separação provisória daqueles que amamos.
Achei que a tristeza era o pressentimento do estava por vir.
Mais tarde, essa mesma amiga que me disse que deveria comemorar a vida voltando a escrever, passou por uma grande tristeza e eu não tive como confortá-la, abraçá-la, dar o colo que ela precisava.
Então, alegre ou triste, aqui estou. Cumprindo o que prometi. Mas sem saber direito o que escrever.
Foi então que me lembrei de um lindo poema que minha irmã me mandou no aniversário do ano passado e achei que ele serviria para esse meu novo momento e também para minha amiga.
Um grande beijo a todos e estou de volta!

Mulher de Minutos

(Autora: Monica Montone)

Não sou mulher de minutos
daquelas que os segundos varrem
para debaixo do tapete sujo.
Não pinto os cabelos de fogo,
nem faço tatuagem no umbigo.
Me recuso a usar corpetes e cinta-liga.
Há sementes em meu ventre:
são palavras que ainda não reguei.
Prefiro guardá-las em silêncio
até que o tempo amadureça meus minutos
e a vida me contemple com seus frutos.
Não borro meus cílios na solidão da noite,
nem pinto meu rosto com a palidez da manhã.
Meu corpo é feito de marés
onde navegam mil anseios,
veleiros sem direção.
Estou sempre na contramão.