sexta-feira, 26 de setembro de 2014

FRAGMENTOS


FRAGMENTOS

Autoria: Kátia Corrêa De Carli

Tentei buscar na memória
Alguma lembrança que me dissesse quem sou...
Mas as recordações se foram
E nem com todo esforço consegui.
Talvez os retratos me trouxessem
Os vestígios do que fui e fiz,
Mas as fotos amarelaram com o tempo
E nelas não me reconheci,
Procurei junto aos amigos antigos
Quem me respondesse, por fim;
Mas não os encontrei,
Em alguma curva da vida os perdi.
A "caixinha de tesouros", há tanto esquecida,
Foi ali que encontrei, afinal,
Uma pulseira sem fecho,
Um brinco sem par,
Um anel sem pérola,
O fragmento de um colar.
E num lampejo de lucidez e compreensão
A resposta lá estava,
Sou os pedaços recolhidos, um a um,
Depois de cada batalha.
Carinhosamente colados, remendados,
Formando esse todo imperfeito,
Tão cheio de defeitos... Mas um todo, enfim,
Quem sou?
Sou o fruto do que tinha de mais forte
E que a vida não conseguiu matar em mim.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

VITÓRIA, CIDADE PRESÉPIO - 463 ANOS

PELO ANIVERSÁRIO DA NOSSA ILHA



“...Quanto de história já destruímos ou permitimos que o tempo consumisse? Ou então mutilamos, utilizando o nosso equivocado conceito de modernidade?”  (Álvaro José Silva)  



“Por que teriam apelidado a nossa capital de cidade
presépio? Pelo seu tamanho? Pela sua apresentação completa, em que há pedaços de oceano maravilhosos, montanhas encantadoras e casas pequeninas trepando pelas encostas? Ou porque, na sua formação tudo se aglomera, acotovela, espremidamente, entre um braço de mar e contrafortes altivos, dando, de fato, a idéia de um presépio armado por mãos caprichosas? Na pequena ilha de Vitória há trechos de todos os tipos. Uns caracteristicamente modernos, onde se erguem prédios ousados, trazendo-nos em miniatura, lembranças de cidades americanas, cheias de edifícios gigantescos. Há trechos, também, evocando o nosso passado de terra colonizada por gente lusa vinda do velho Portugal. 
Apenas nós, assoberbados por preocupações e afazeres, não temos tempo ou paciência suficientes para observar com olhos calmos e prazerosos, as belezas que as nossas ruas oferecem.”

Jornal “A Gazeta”, edição de 29 de janeiro de 1950 in Vitória, a cidade que (não) conhecemos, Autora Kátia Corrêa De Carli 

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CASAMENTO

Para Roberto e Danila


ENSINAMENTO
(Adélia Prado)

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.