segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

MENSAGEM DE NATAL


Queridos Amigos,

2007 não foi um ano perfeito.
Mas como já disse em outro texto, houve, algum dia, algum ano perfeito? Acho que não... Mas este ano foi de muitas provas, muitas dores, muitas perdas... e o que fazer de tudo isso além de sofrer? Eu decidi tirar as lições que poderiam ser-me úteis.
Na tristeza, aprendi a valorizar meus momentos de alegria.
Na dor, aprendi o significado da aceitação.
Na perda, aprendi que nada é eterno, estamos só de passagem.
Nos momentos mais difíceis reconheci que o maior tesouro que Deus pode nos dar são os Amigos: Vocês.
Vocês que me amparam, que ouviram meus lamentos, que me acolheram, que me incentivaram a seguir adiante, que se colocaram, em todos os momentos, a meu lado.
Vocês, amigos próximos e distantes, antigos e recentes, conhecidos e ainda por conhecer, desejo a todos um 2008 repleto de realizações e que as dores que aparecerem no caminho (porque nunca haverá um ano perfeito) sirvam de incentivo para aprendizagem de novas lições ou para recordar lições esquecidas.
Que o Natal seja feliz, lembrando sempre de que o aniversariante é JESUS, portanto, que Ele esteja no coração de cada um de vocês, em todos os dias de suas vidas.
Obrigada por existirem.
Obrigada por serem Meus Amigos.
Que Deus os ilumine, um grande beijo a todos, extensivo aos familiares.

Kátia

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O ALBERGUE DAS MULHERES TRISTES

Acho que já nasci triste.

Como sou muito expansiva e falante, as pessoas acham que sou uma pessoa alegre e vêem em mim uma pessoa sempre de alto astral. Desconhecem o fardo da tristeza que carrego n'alma. Só aqueles que ousam olhar bem dentro dos meus olhos e enxergar "através" conseguem perceber essa tristeza.
A ironia é que só vim descobrir que sou triste há pouco tempo.
Eu achava que todos eram iguais a mim.
Achava que o fato de me comover com pequenas coisas do cotidiano era porque eu era um pouco mais sensível, ou talvez por ser poeta... mas nada... Depois que li "O ALBERGUE DAS MULHERES TRISTES" da autora chilena Marcela Serrano, descobri que algumas mulheres já nascem tristes. Independe de situação financeira, de ter ou ter tido um amor, de sucesso, a tristeza é algo que vem inscrito no DNA, como a cor dos olhos, as doenças hereditárias e todas as nossas características intrínsecas.
Eu, você, a amiga distante, qualquer uma de nós poderia ser a Floreana do livro.
Ela e suas amigas poderiam ser eu e amigas que são como eu... elas, Floreana, Constanza, ao se desnudarem e exporem suas dores, sentimentos, medos, anseios e amores, desnudam-nos também...
A trama acompanha a trajetória de Floreana, uma historiadora jovem - e mais bonita do que crê - que chega a um albergue na ilha de Chiloé, na costa do Chile, para se recuperar da perda de uma irmã. Nesse lugar, um grupo de mulheres tenta, unido, curar suas feridas de amor, superar o desamor e a indiferença de seus homens. A solidão nascida de sua própria insatisfação.
Tive medo de encontrar um Albergue como o de Floreana e nunca mais sair de lá...

MARCELA SERRANO - As questões sobre o amor, o sexo, a amizade, a família e o trabalho são uma constante na literatura mundial e esta escritora chilena, quase desconhecida por nós, as reúne nesta história levantando muitos questionamentos sobre esses temas e nossas vidas.
Para onde vai o relacionamento amoroso com o deslocamento das mulheres rumo à independência financeira e emocional?
O que sentem as mulheres quando percebem que o preço a pagar pela independência e a liberdade de seus desejos e ações quase sempre é a solidão?
O que sentem os homens? Porque eles têm medo de amar essas novas mulheres?

Este livro eu recomendo.
Principalmente às mulheres tristes.
Mesmo àquelas que ainda não descobriram esta condição.

domingo, 9 de dezembro de 2007

MENINO DE RUA


Menino que se acerca do meu carro no sinal fechado
De quem não sei o nome e a quem chamam Menino de Rua.
Da mãe só teve a barriga,
Do pai, sabe-se lá!, nem o nome,
A quem tudo foi negado.
Menino que faz a marquise de teto,
O papelão é seu colchão,
O jornal seu cobertor
E, ainda assim, sonha em ganhar
Uma bicicleta no Natal,
Um dia ser doutor.
Menino de quem me desvio na rua,
Poderia ser meu filho, de qualquer um outro.
Menino a quem desejo mal, quando assalta o meu filho,
Filho que teve todas as oportunidades,
Comida farta, bons colégios, roupa de grife.
Menino a quem olho com medo, ao invés de compaixão,
Por quem me compadeço, quando,
Confortavelmente em meu sofá,
Vejo as atrocidades que contra ti são cometidas,
Pela televisão.
Por muitos anos mantive a consciência tranqüila
Distribuindo alguns presentes no natal,
Dando um prato de comida a quem me batia à porta,
Algumas moedas a quem me parava no sinal.
É fácil ter consciência tranqüila com a barriga cheia.
Menino, poderá se chamar Roberto,
Como Roberto é o meu filho,
Renato, Paulo, Rodrigo ou João,
Por tudo que deixei de fazer vida afora,
Um dia perdoará
Minha covardia,
Minha omissão?

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro: Múltiplas Faces

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

PROJETO PAPAI NOEL


Os Correios têm um projeto que visa realizar sonhos de crianças carentes e que escrevem para o Papai Noel. Então, que tal ir à agência dos Correios e adotar uma das 17 milhões de cartinhas dessas crianças e ser o "papai" ou "mamãe" Noel delas?
Tem cada pedido inacreditável!
Tem criança pedindo um panetone, uma blusa de frio para a avó, roupa de cama ("pode ser usada") cesta básica ou material escolar.
Deixo a idéia lançada.
Para quem reside em Vitória-ES o Projeto está funcionando na unidade dos Correios que fica na Av. Leitão da Silva, nr 1873, Bairro Itararé (em frente à loja Walkymar Pneus), de 09:00 às 17:00 hs. Você tem até o dia 12 para escolher a carta (é claro que tem gente que aproveita a ocasião, mas tem muita criança necessitada) e tem até dia 18, às 17:00 horas para entregar o presente no mesmo local.
O próprio correio se encarrega de fazer a entrega.
Para os demais, procure a agência dos Correios mais próxima, eles saberão informar.
Aproveite para fazer uma boa ação!


DIVULGUEM PARA CONHECIDOS.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

GARRAFAS

Cheias, sempre cheias:
de líquidos,
de beleza,
de pensamentos,
de sonhos de vir a ser...

Uma ótimo fim de semana a todos que por aqui passsarem, aos meus amigos queridos, conhecidos e ainda por conhecer, mas, com certeza selecionados pelo Pai para preencherem os espaços a minha existência.

Foto: Feira de Santelmo - Buenos Aires

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

DESCONHECIDO


Você que veio a esse mundo
Destinado a me encontrar,
Não se apresse, não se preocupe
Eu sei esperar.
Prove de todos os copos,
Sirva-se de todas as mesas,
Beije todas as bocas,
Desnude todos os corpos,
Sorva do néctar de cada seio,
Conheça cada fenda.
Viaje rumo ao desconhecido,
Navegue, mesmo contra a tormenta.
Saboreie cada momento.
Voe de encontro à lua,
Desfrute de toda a beleza,
Se entregue sem barreiras.
Dance a sinfonia do amor
Sinta cada nota,
Descubra cada tom,
Não se furte a nada,
Nem mesmo à dor.
E quando você se cansar
(A gente sempre se cansa)
Na busca da fechadura
Que se ajusta às suas chaves,
Não se inquiete, acalme-se,
Apenas remova todos os entraves,
Pois terá chegado o momento, então,
Que Deus para nós reservou
E nossos caminhos se cruzarão.
Mesmo assim, não tenha pressa,
Respire fundo, sinta seu ser
Invadido de plena felicidade.
Irei a seu encontro,
Nem que seja na eternidade.

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro: Múltiplas Faces
Ilustração: Joyce Brandão

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

QUANDO...

Quando eu me for para longe
Quando os seus olhos não mais puderem alcançar-me,
Lembre-se de mim.
Quando meus olhos não mais brilharem
Pelo simples fato de fitar os seus,
Lembre-se do que fui.
Quando já puder olhar você de frente
E a dor não mais travar minha garganta ao ver você,
Lembre-se do que partilhamos.
Quando tudo tiver se esvaído
Na bruma insondável do tempo,
Lembre-se de mim, com carinho.
Quando os anos insistirem em apagar
As recordações de tudo que vivemos,
Ne música, nem retrato, nada sobrar,
Dos bons momentos que tivemos,
Apenas lembre-se de mim.
Pois assim viverei eternamente
No seu coração e na sua mente.
Porém, se ao lembrar-se,
Uma tênue névoa turvar seu olhar,
Prefiro, mil vezes, que se esqueça e que sorria
Do que, ao lembrar-se, entristecer-se

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro: Múltiplas Faces

Imagem: Parco Sempione - Milão - Itália

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

ASSIS - ITÁLIA


Embora não sendo católica e, portanto, não tendo apego por imagens e santos, existe algo maior que me une a São Francisco de Assis.
Talvez por ser romântica inveterada e ter um fascínio pelas histórias de casais sofredores: Francisco e Clara de Assis, Abelardo e Heloísa, Romeu e Julieta, Dirceu e Marília... essas pessoas sempre me pareceram especiais e, dentre todos, Francisco o mais especial.
Como Roma (para mim) foi aquela "maravilha" que relatei, não perdi a chance de tirar um dia para conhecer Assis.
É claro que eu não esperava encontrar a Assis do filme, com seus campos, suas casas e povo humilde, sua capela rústica... na verdade eu não sabia bem o que iria encontrar, só sabia que existia uma força maior que me impelia a ir até Assis.
Do baixo, onde fica a estação, avista-se, majestosa, a Basílica.
Fomos direto para lá e ao entrarmos estava acontecendo uma missa. É muito bonita, tinha muita gente, etc e tal. Como era terminantemente proibido fotografar, comecei a andar pela basílica, tentando evitar os grandes grupos.
Fui devagar, admirando os vitrais, os painéis, as pinturas... e dentre as opções possíveis, optei por seguir à esquerda.
Foi quando comecei a sentir um arrepio e uma emoção diferente.
À medida que avançava essa sensação se tornava mais e mais intensa, até que percebi estar exatamente em frente ao altar onde estão os restos mortais de Francisco de Assis, na pequena capela por ele construída com a ajuda de seus fiéis seguidores e que lá também se encontram.
Ao tocar aquelas pedras, já não me era possível segurar as lágrimas.
Fui tomada de um pranto convulsivo, de emoção pura e de uma paz que jamais havia experimentado.
Quanto tempo permaneci ali, meio ajoelhada, meio sentada, não sei...
Só sei que foi uma das emoções maiores da minha vida. Daquelas que a gente não encontra explicação e que carrega vida afora, eternidade adentro.

"O Franciscanismo é o imenso mundo onde harmoniosamente encontram lugar Deus, o homem e toda a natureza.
Em Assis o mesmo sol, a lua, as estrelas, o fogo, a água, o vento se sentem como em sua própria casa, porque Francisco chama a todos com o doce nome de irmão e irmã.
Até o ponto que o conjunto do plano divino da criação ante Francisco perde o véu que o esconde dos demais mortais.
Francisco contempla a natureza com assombroso e reverente olhar como a contemplou o primeiro homem no radiante amanhecer do mundo "

DICAS:
- Se algum dia tiver a chance, única, de conhecer Assis, não deixe escapar...

- Preste atenção ao chegar à estação, pois é necessário pegar um ônibus para chegar até os portais da cidade e o ponto fica do outro lado do asfalto (eles também não são muito bons em ofertar informações). Se estiver em grupo é melhor pagar uma van, que cobra preço fixo e não por passageiro.

- Passeie, em pressa, pelas ruelas medievais, com suas lojas de artesanato. São bordados, esculturas, pinturas, armas medievais, que você só encontra lá.

- Visite a Igreja de Santa Clara, no lado oposto da cidade.

- Visite a casa onde viveu São Francisco.

- Na rua que dá acesso à Praça Principal, tem uma pizzaria (não me recordo o nome), é só uma porta, um balcão com as pizzas expostas do lado direito e um com banquetas do lado esquerdo. Você come uma pizza deliciosa, sem contar que tem uma placa dizendo: "Se estás mal humorado, aqui não é seu lugar". Amei! Ah! Tem também um painel onde as pessoas escrevem nos pratinhos de papelão e deixam suas mensagens... quem for lá procura pela minha.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

DOR DE MULHER


Dor de mulher eu conheço
Dor que sangra, escorre e acaba
Repetindo tudo no outro mês.
Dor que contrai, rasga e expele
Esquecida ao primeiro choro.
Dor de agonia,
Nas noites intermináveis de vigília.
Dor de emoção,
Que embarga a garganta
Na primeira separação.
Dor de filho,
Que se confunde com a dor da gente,
Porque mãe é tudo igual.
Dor de alívio
Ao ver a prole de volta na madrugada.
De dor de mulher eu entendo.
Mas essa dor nova,
Que dilacera as entranhas,
Que faz urrar de desespero,
Que sangra,
Que rasga,
Que fere
Mas nada expele.
Que não tem alívio,
Que não se esquece,
Que não tem ciclo,
Que só provoca mais dor,
Deixando sem fé o coração.
Essa?
Só sinto.
Entendo não.

Autora: Kátia Corrêa De Carli
Livro Múltiplas Faces
Ilustração: Joyce Brandão

domingo, 11 de novembro de 2007

A HISTÓRIA DE LEDA

Era uma mulher resolvida. Autoritária, até. Tinha tudo muito bem encaixado na sua vidinha “mais ou menos”: ora era mais, ora parecia menos, mas nada que trouxesse grandes questões existenciais. Era feliz. Também não conhecia nada além daquele mundinho em que vivia.
Tudo em sua vida era planejado e calculado.
Porém a paixão que surgiu, numa idade em que não se vivem mais paixões, pegou-a desprevenida e deixou-a sem chão.
Marcelo, 10 anos mais moço, também apaixonado, era tudo o que ela sonhava de um homem e nunca ousara sequer pensar que existisse. Gostava de música clássica, fazia declarações, mandava músicas, fazia poemas, gostava do pôr-do-sol, trocava energia com as palmas da mão, dava carinho depois do amor... era o homem perfeito.
Talvez por ser mais jovem, fosse mais impetuoso e impaciente. Daí jogou tudo para o alto – família, emprego, estabilidade – para viver esse grande amor, que ele jurava ser único, eterno, que nada neste mundo mudaria.
Falavam de almas gêmeas, um completava a frase (às vezes até o pensamento) do outro.
Outras vezes nem palavras eram necessárias.
Foram tantas as declarações que Leda acabou acreditando que era mesmo especial.
Porém havia um problema: assim como Marcelo, Leda era casada, tinha filhos, vida estabilizada e, diferente dele, na hora H acovardou-se.
Marcelo se foi... e ela ficou só, vivendo da recordação desse amor. Da crença que acontecesse o que acontecesse esse amor seria eterno, pois era diferente, especial. Marcelo havia dito isso tantas vezes, de tantas formas, que ela não podia duvidar. Fez disso sua verdade absoluta e dessa verdade fez sua vontade de viver e esperar pelo futuro.
Anos se passaram... Outros amores vieram, para ele. Ela permaneceu fiel ao “Amor Eterno” a Marcelo, apesar de continuar casada e viver mais ou menos, porque agora ela sabia que existia um paraíso e que ele era acessível para pessoas corajosas.
Até que um dia ele apareceu novamente, década depois.
O Amor de Leda permanecia intacto e ainda covarde... mas Marcelo era outro e ela não percebeu.
Tentou encontrar nele o seu Amor proibido, meteu os pés pelas mãos, como só as mulheres muito apaixonadas ou muito loucas sabem fazer.
Marcelo suportou algumas intromissões, algumas cobranças, até algumas presenças...
Mas um dia o pote transbordou... para ele era cobrança demais...
E só então ela descobriu que nunca havia sido especial, tampouco inesquecível, que o que era para ser eternamente há muito havia chegado ao fim... ela não era mais nada, tudo não havia passado de um engano!
Marcelo queria-a longe de sua vida... Tudo isso dito sem meias palavras e em negrito.
Ele conseguiu de um só golpe o que o irmão tentara a vida inteira: convencê-la da sua incapacidade, inadequação, inferioridade.
Primeiro veio o torpor.
Ficou meio que anestesiada, não era com ela... não podia ser com ela. Como poderia mudar assim? E as cartas que ela ainda guardava? Era tudo mentira? Onde estavam as verdades, nas palavras de outrora ou nessas de agora?
Depois quis morrer. Arquitetou o suicídio. Não haveria de ser intempestivo como o dos homens, que estouram miolos sem nem se preocupar com quem vai limpar a sujeira e se vai estragar as feições (muito embora nestes anos houvesse aprendido a lidar com armas de fogo, para uma eventualidade, nunca se sabe). Poderia ser com barbitúricos, tinha uma gaveta cheia, vinha acumulando fazia tempo, era mais glamouroso e indolor. Mas como explicar aos filhos e marido e amigos: “Matei-me porque um amor que nem já era meu não me quer mais nem em forma de esperança”? Não dava... Suicídio sem explicação é dupla covardia.
Depois se lembrou da amiga que odiava as músicas cantadas em velórios e que havia decidido deixar pronta a trilha sonora de seu enterro (nunca se sabe quando essas mortes covardes e repentinas chegam, é melhor estar prevenida) e ela nem trilha sonora tinha... só a música Coming Around Again da Carly Simon (porque falava de coração partido) e Iris do filme Cidade dos Anjos... ambas por causa de Marcelo...
Lembrou-se também de ter lido na internet que quem quer mesmo se matar não pensa, se mata.
Daí desistiu.
Tentou ter raiva... mas não conseguiu, ainda transbordava de amor, apesar das palavras duras e do negrito.
Foi só no terceiro dia que as lágrimas chegaram... mas como explicá-las se a vida continuava a mesma, se os filhos continuavam com saúde e encaminhados na vida, o marido atencioso? E elas teimaram em aparecer logo num dia em que o casal tinha um compromisso que nenhuma dor de cabeça poderia justificar a ausência.
Então veio a velha desculpa: caiu shampoo!
Leda foi para frente do espelho, lembrou-se da avó e passou o batom carmim. Dizia a avó: Quando se está triste tem que desviar a atenção das pessoas e nada melhor que vermelho vivo.
Vestiu-se com apuro, também de vermelho, maquiou-se e fez sua entrada triunfal.
Sorriu, foi gentil, riu das piadas de sempre, agradeceu os elogios...
Seu rosto e sorriso permaneciam intactos (anos de experiência na arte da simulação a haviam preparado)...
Ninguém nunca saberia que sua alma tinha mais pedaços que o bolo oferecido, que por sinal ela recusou, seria comemoração demais!


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

REENCONTRO

Maria Helena (Helena, por favor, dizia ela, que odiava o Maria) ainda era uma mulher bonita, na casa dos trinta e inconfessáveis anos. Não que sempre tivesse sido uma mulher bonita, daquelas que chamam atenção por onde passa, mas tinha cabelos negros, compridos, corpo esguio, porte altivo. Mas o seu forte eram os olhos, de uma cor, ou melhor, de várias cores, pois podiam ser azuis, verdes, cinzas, de acordo com o humor, o serviço metereológico, a roupa, etc. e ela sabia usar isso a seu favor.
Como toda mulher que se preza, na história de Maria Helena havia a existência de um grande amor: o José Antônio, por quem fora apaixonada quando tinha 15 anos e abandonada, sem maiores explicações, por conta de fofocas (muito comum naquela época em cidade de interior). Sumariamente julgada e condenada, a pobre nem teve como se explicar.
Esse amor acompanhou-a incomodando por boa parte da vida. Evitava envolvimentos, fugia de compromissos, até que passou.
Maria Helena casou, teve filhos, virou executiva de sucesso.
Do passado sobraram os olhos de muitas cores e o porte altivo – talvez para parecer mais alta.
Mas de vez em quando ainda lembrava daquele primeiro amor adolescente, que nem se concretizou fisicamente (por falta de oportunidade e espaço físico).
Quando julgava ter enterrado o passado, um dia, na volta da praia, passa Maria Helena por uma farmácia. Completamente descomposta (para seus padrões): short jeans, parte de cima do biquini à mostra, cabelos presos num rabo de cavalo, sem maquiagem, - um desastre! E dá de cara com José Antônio (um pouco mais gordo, mas isso ela só foi perceber depois de passado o susto).
Veio a tremedeira, o suor nas mãos, a taquicardia – esses sinais bobos de mulher sentimental.
- Olá! Quanto tempo?
- É, quanto tempo...
(e quase que ela começa a cantar Sinal Fechado...)
Conversa vai, conversa vem, ela querendo sumir com suas pernas expostas, sua barriga exposta, seu coração exposto... e ele:
- Eu me separei, você sabia?
É claro que ela sabia, nos mais sórdidos detalhes do escândalo, mas limitou-se a responder:
- É... a vida é assim...
- E você? Continua casada?
- Sim, continuo...
Silêncio
- Bem que eu poderia ter me casado com você... quem sabe teria sido feliz?
Ela olhou-o bem nos olhos, respirou fundo – afinal havia chegado o momento pelo qual esperava há mais de 20 anos – e respondeu:
- Não casou porque não quis. Eu era apaixonada por você. Agora é tarde... Adeus, preciso ir...
Virou-se e saiu caminhando sem olhar para trás.
Mas já não era orgulho ferido. Não queria que José Antônio percebesse as lágrimas no olhar.
Só então percebeu que a vingança tem um gosto amargo demais.

(imagem: Terceira Ponte, Ilha de Vitória-ES ao fundo, foto original em sépia)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

POMPÉIA

Saímos de Roma cedo para visitarmos Pompéia...
A gente estuda no ginásio (colegial, fundamental ou o nome que tenha agora) toda a história de como as lavas do Vesúvio soterraram a cidade, pegando desprevenidos seus moradores, que morreram na posição em que se encontravam, etc. e tal.
Daí passa o tempo, vêm os documentários de TV e só reforçam essa imagem: Uma cidade soterrada (e preservada pelas lavas) no auge do seu cotidiano.
Bom, era isso que eu esperava encontrar... As pessoas (ou o que restou delas) nas suas tarefas, dormindo, ou seja, uma cidade habitada e em atividade.
E???? Nada! (rs)
Bem feito para mim que não pesquisei direito...
Mas se estão pensando que vou explicar direitinho para vocês, enganam-se. Deer de Casa. Vão estudar! (rs)
Pompéia é muito bonita, ainda mais com o Vesúvio como a espiá-la ao longe. Fico imaginando o que deveria ter sido no auge, uma vez que ela surge entre fins do século VII a.C. e primeira metade do século VI a.C. e só vai ser sepultada pelas cinzas do Vesúvio em 79 d.C.
É incrível como milênios depois ainda permanecem perfeitos mosaicos delicados, pinturas (algumas exóticas - ou eróticas - que não ouso postar aqui), murais e muitas outras obras de arte e utensílios.
É história pura, na sua forma mais primitiva.
Vale conhecer!

Quanto a Nápoles não posso falar muito. O tempo foi curto, portanto o que vi foi pouco:
Uma baía linda (vista de longe). Um trânsito caótico (visto de perto). E casas e ruas antigas que tentei ver mas fui impedida pela quantidade de roupas estendidas nas janelas e por sobre as ruas. As pessoas espalham os varais de um lado a outro na rua e põem as roupas para secar. É a intimidade revelada nos seus mínimos detalhes... Depois de quase ficarmos surdos com as buzinas e os gritos, de quase sermos atropelados (você tem que disputar no grito a preferência ou o direito de atravessar qualquer rua), desistimos e voltamos para a Estação. (Não tenho fotos de Nápoles, tive que optar em fotografar ou permanecer viva... vocês conhecem a opção)




















DICAS:

- De Roma vá até Nápoles em trem convencional. Na própria estação você pega uma espécie de metrô de superfície – ou trem suburbano – e vai até Pompéia. É um passeio que dá para ser feito em um dia.

- Use filtro solar, bastante filtro solar e chapéu. Não existem árvores nem sombras em Pompéia...

- Use tênis ou sapato fechado. Tem uma poeira preta que impregna no corpo.

- Faça um bom lanche antes de entrar, porque depois que está lá dentro é impossível voltar e chegar a um lugar onde tem cantina - é longe, cansativo e difícil.

- Pompéia é enorme, então escolha o que quer ver... Logo na entrada você vai receber um mapa e um livreto com um pequeno guia. Priorize. Mesmo porque depois da quarta rua você vai achar tudo muito igual.

- Existem casas e monumentos mais importantes, dê atenção a eles, como a Casa de Fauno, as Termas, a Casa dos Vettii, a Casa de Apolo e outros. É humanamente impossível andar e conhecer tudo.

- Ah! Não espere encontrar os “defuntos” na sua atividade cotidiana... eles só existem nos documentários da TV e uns poucos em exposição nos “Graneros Del Foro”.

- Se decidir conhecer Nápoles, reserve um tempo para isso e faça um tour (de carro especial, acho que eles têm preferência no trânsito)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

ALBERTO CAEIRO

Porque hoje minha cabeça contém pensamentos demais, e borbulha, e explode, e dói.
Porque hoje, mais que nos outros dias, meus pensamentos conseguem ser mais rápidos que minhas ações...
Porque hoje eu estou uma porcaria, então, para não escrever o que não devia, deixo-lhes com meu Grande Poeta:

SE ÀS VEZES DIGO QUE AS FLORES SORRIEM
(Alberto Caeiro)

Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.

(Imagem, Paris - Rio Sena)

sábado, 3 de novembro de 2007

CLARICE LISPECTOR


Porque hoje me deu vontade de deixar aqui uns versos daqueles que só almas muito iluminadas escrevem...


MEU DEUS, ME DÊ A CORAGEM
(Clarice Lispector)

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.
(Imagem: Basílica de Sacre Coeur de Montmartre - Paris)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

DE PARTIDAS E DESPEDIDAS

Ao meu querido amigo Jackson,

Você se foi.
Não deu tempo nem da gente se despedir.
Reconheço que sua partida não foi súbita nem inesperada, há tempos ela já se anunciava e nós, seus amigos, fazíamos de conta que não percebíamos como que querendo iludir a você e a nós mesmos.
De repente a notícia chegou.
Você tinha desistido de lutar (ou não conseguiu mais, ou cansou, quem sabe?) e partido.
Ficamos, então, parados, estáticos, como quando sabemos que alguém vai viajar só depois da partida, só que sua viagem não tinha bilhete de volta, você nos deixou, meu amigo.
E agora? Como conviver com essa ausência?
Quem nos trará, no meio da tarde, um lanche do Bob’s dizendo para comer sem culpa, que depois faríamos dieta?
Quem se lembrará de nos mandar balas em formato de flores?
Quem brincará de imitar os colegas fotografando paisagens imaginárias ou imitando esfinge?
Agora, com certeza, você já está percorrendo as galerias de algum shopping celeste em busca das novidades ou algum tênis diferente.
Lembro-me quando você foi embora para o Rio de Janeiro dizendo que sua ida era inevitável, pois precisava alçar novos vôos. Você partiu feliz e nós ficamos numa tristeza sem fim, mas torcendo para que você realizasse todos os seus sonhos.
E você os realizou.
Fez novas amizades (impossível lhe conhecer e não ser cativado), viajou mundo afora, viveu intensamente...
Não me interessava o modo como você levava sua vida, ela só dizia respeito a você mesmo, mas me interessava muito saber se você estava bem, se era feliz, e quanto a isso não resta a menor dúvida quando lembro do teor dos inúmeros bilhetes que trocamos (via malote), sempre recheados de brincadeiras, gozações e de amor, muito amor.
Jamais esquecerei tudo que compartilhamos, até das brincadeiras em seu leito de hospital. Eu brigando para você melhorar logo porque estava esperando pra fazermos longos passeios gastronômicos e consumistas (tudo para iludir a dor...)
Não foi possível fazermos nada para aliviar a sua agonia.
Alguém que não me recordo disse que a gente começa a morrer no dia que nascemos... mas bem que você poderia ter tido uma nova chance, você ficou pouco tempo aqui, foi-se cedo demais...
Fazia uma noite até bonita quando você partiu.
Só nos restou dizer adeus, meu amigo querido.
Acredito que, enfim, você alçou o vôo mais alto. E para nós só ficou essa saudade que dilacera a alma (mas que um dia acalma, eu sei), essa dor que invade nosso peito e parece não querer nunca mais ir embora e a tristeza de não ter podido dizer-lhe, pela última vez, face a face, o quanto eu o amava.
Com certeza um dia a gente ainda se encontra e te juro, desta vez, não deixarei que se afaste assim, tão depressa...
De onde você estiver, olhe por nós, em contrapartida estaremos orando por você (não acha uma boa troca?!)
Até um dia.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

SOBRE LIVROS E LEITURAS

Para dar um tempo em viagens e presentes e também para ser do contra.
Explico: Dia das Bruxas, eu, meio bruxa, deveria seguir o fluxo e escrever sobre este assunto. Mas não estou a fim.
Quero falar de livros.
Ou melhor, quero falar de um livro: VIRGÍNIA BERLIM, UMA EXPERIÊNCIA, de Luiz Biajoni.
Como não acredito em coincidências, tampouco em acontecimentos acausais, maktub.
Tudo começou (inclusive este blog) porque numa tarde mormacenta e preguiçosa, sem nada para fazer, resolvi procurar um texto na internet e um site me levou a outro, que me levou a outro e assim por diante até eu chegar ao blog Páginas Rasgadas, da Jussara Soares, que acabou virando uma grande “amiga ainda não vista”.
É o primeiro livro que conheço (sem ser de auto-ajuda, nem de meditação) que vem com trilha sonora... - e que trilha!
Na época escrevi para o site Os Viralata, agora, com meu próprio blog, compartilho com vocês:

“Li o que a Jussara Soares, do blog Páginas Rasgadas, escreveu sobre "Virgínia
Berlim, uma experiência" - não conheço a Jussara, nem o Biajoni, nem ninguém d'Os Viralata... - mas mesmo assim, suas palavras tocaram-me tão fundo que no mesmo dia dei um jeito de comprar o livro (ou melhor, dois exemplares, seguindo os conselhos). Recebi-os agora há pouco (ou tem mais tempo)... perdi a noção assim que abri o envelope, só sei que mergulhei no livro e trilha e me perdi, ou me encontrei, ainda não sei...
Existe uma Virgínia Berlim dentro de cada uma de nós, essas mulheres que insistem em amar amores impossíveis, viver intensamente essas paixões que explodem, implodem, mulheres meio loucas, diriam alguns, corajosas, diriam outros, sofrem e às vezes fazem sofrer, mesmo sem querer...
A diferença é que poucas têm a coragem (alguns diriam covardia) da Virgínia de levar às últimas conseqüências...
Biajoni conseguiu juntar um pedacinho de cada uma de nós em sua Virgínia, por isso o livro nos encanta tanto.
Ela somos nós, sem sua coragem (ou covardia, nunca sei...)”



sábado, 27 de outubro de 2007

PRESENTE DE ANIVERSÁRIO


Hoje eu queria te dar um presente...
Não um presente qualquer que se compra nos shopping centers da vida,
E com o tempo se acaba, se rompe, se perde.

Mas algo que você pudesse levar consigo, por toda a eternidade.

Não poderia ser material. Seria complicado entregar.

Fiquei pensando...

Então descobri que tenho muito para lhe dar.

Neste momento, como dom especial, ordeno que apaguem da sua memória todas as lembranças ruins. Só permaneçam aquelas gostosas, que trazem leveza à alma.

No dia de hoje meus poderes de bruxa estarão funcionando a todo vapor!

Por isso, para iniciar com o pé direito, é necessário que você esboce aquele sorriso maroto... aquele que está guardado há tanto tempo... vai! Você consegue! Assim! Por enquanto está bom... mas pode melhorar. Não tema parecer tolo.
Então, começo dando o meu mar. Lembra-se que sua estrada já caminha para ele? Então aproveita... é seu! E quando estiver caminhando pela areia, pegue a concha mais brilhante... também é sua... corra um pouquinho, fuja da água, brinque de pique com as ondas e ria, ria bastante, ria alto (não tema parecer tolo, você está desfrutando o seu presente!), pois junto estou lhe dando gargalhadas de presente.
Dou-lhe também um entardecer rosa e dourado (você conhece, não é sempre que acontece),
E uma noite de luar com muitas estrelas para que você possa escolher em qual delas pretende, um dia, habitar.
Dou-lhe, em forma de prece, reservas de paciência, pois para quem tem vida agitada, é de muita utilidade.
Você também vai ganhar, mesmo a contragosto, um pote com algumas lágrimas, é que a vida às vezes fica tão difícil e solitária que só a paciência não resolve, mas use-as com parcimônia... porque não é sempre que eu tenho para lhe dar (sabe, tenho gasto muito ultimamente...).
O calor do sol nas manhãs de inverno, também lhe dou, para tornar mais fácil seu despertar.
O que acha de ganhar estrelas cadentes? Dou-lhe três, é um bom número, nem pouco que fique faltando algo, nem demais para que não suba à cabeça, faça seus pedidos, mas preste bastante atenção ao que pedir, pois eles serão atendidos.
Vá ao parque mais próximo e escolha uma árvore. Chegue pertinho e pergunte a ela: você é meu presente? Se ela balançar de leve as folhas é porque acertou... Abrace-a... absorva a energia que ela tem para lhe dar... É o abraço que eu não posso dar.
Quase ia me esquecendo, nuvens, muitas nuvens, nos mais diversos formatos, para você viajar e descansar. Brinque novamente de descobrir formas nas nuvens. Hoje o dia é seu!
Mas está chovendo? Não tem problema, vê a poça de água à sua frente, pise forte, com os dois pés, e saia leve... se tiver alguma goteira de marquise, melhor ainda, passe sob ela, deixe a chuva lavar seu corpo e sua alma, é a sua infância que estou lhe dando novamente.
Música! Como poderia me esquecer? Ainda não ouviu as cordas? Os violinos? Acertou! Essa sinfonia eu escolhi especialmente para o dia de hoje. (Está bom não é novidade... mas é a que mais gosta, não é?)
Faltava cor! Mas para você não bastam cores primárias, têm que ser especiais... então fui buscar bem longe, você sabe onde, só para enfeitar seu dia... todo esse esplendor eu captei só para você.
Quase ia me esquecendo: por telepatia, dou o número do meu celular, porque existem dias cinzas na nossa vida em que tudo que queremos é alguém que possa nos escutar.
Acho que para um aniversário, você tem bastante presentes
E para completar
Também reservei para você um brilho novo no olhar!
É a Esperança que eu te restituo.
(pode conferir no espelho)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

IMPRESSÕES DE VIAGEM IV


ROMA


Sonho acalentado desde que, na infância, fui apresentada às primeiras civilizações, nas aulas de História Geral. Numa época em que os livros escolares passavam de irmão para irmão, vizinhos, amigos, etc. e só continham gravuras ou figuras em preto e branco. Não sou tão saudosista para dizer: Bons tempos aqueles! Mas que a gente aprendia mais do que os pobres coitados das escolas públicas de hoje, isso é verdade... mas não estou aqui para falar de políticas educacionais...
Pois é...
Eu sonhava com o Coliseu, sonhava literalmente: ora era cristã sendo devorada pelos leões, ora era aristocrata que a tudo assistia com ar de enfado, só não me lembro de ter sido leão.
Sonhava com Júlio César, cambaleando entre as imensas colunas de mármore, teatralmente dizendo: "Tu quoque, Brutus, fili mi!" (Até tu, Brutus, meu filho!).
Quando católica via-me no Vaticano, a receber a comunhão das mãos do Papa e transcender... voar... tornar-me santa!
O tempo foi passando, fui descobrindo novos tesouros em Roma na forma de esculturas, pinturas, etc.
Houve um tempo em que daria tudo para ser Anita Ekberg (com seus enormes seios – e nem havia silicone - seus cabelos loiros e todo seu potencial) saindo da “caverna” à direita da Fontana di Trevi para onde havia atraído, nada mais, nada menos que Marcello Mastroianni, na antológica cena de La Dolce Vita, de Fellini.
Portanto Roma foi sonhada, calculada, seu roteiro pormenorizado... e?
Só contando...
Roma é uma cidade abundante.
Abunda cultura, mas também abunda japonês (está bom, não vou ser parcial), abunda oriental, abunda sujeira, abunda romano mal educado.
Que decepção!
Tudo bem, estão lá: O Coliseu, o Fórum, o Senado, a Fontana di Trevi (que ainda não havia recebido corante), La Boca Dela Veritá, o Vaticano, até o Papa... mas tem que se pagar um preço elevado para apreciar tais belezas (e não estou dizendo só monetariamente).
Romano é mal educado mesmo. Eles gritam com eles mesmos, vivem xingando, saindo aos tapas no meio da rua, xingam os turistas (somos pragas, na língua de um senhor no ônibus), dão todas as informações erradas que puderem e te roubam na cara, e ai de você se quiser falar alguma coisa, ainda será obrigado a ouvir grandes impropérios em tom de voz que daria para fazer denúncia ao disque-silêncio.
O metrô, além de pequeno e restrito, é imundo e todo pichado.
Informações confiáveis nós tivemos de..., nossa! Tenho que puxar bem a memória... e só me lembro dos Carabineres (os policiais).
Uns danados de uns motoristas de ônibus, na rodoviária, nos indicaram um ônibus que nos levaram para a zona sul quando queríamos ir para a zona norte...
Roma é rica em patrimônio histórico? Sim! Mas haja disposição!
Vale a pena, apesar de tudo? Sim... Andar num museu ao ar livre, pisar em lugares que pisaram tantos vultos históricos, saber que ela já estava lá antes mesmo de tudo que minha pobre e limitada compreensão abrange... é relíquia que se leva por toda encarnação.
Mas, parafraseando Júlio César no famoso "Veni, vidi, vici" (Vim, vi e venci) eu digo:
Fui, Vi e Não volto!


DICAS:

- Não peça informações na rua, invariavelmente lhe darão informações erradas. Procure um policial (tem bastante)

- Tickets de metrô e ônibus - compre um uma tabacaria ou banca de jornal, as máquinas do metrô nunca funcionam, nos pontos de ônibus não vendem, nem nos ônibus

- Numa loja, quitanda, camelô ou seja lá o que for que estiver vendendo algo, não toque em nada a não ser que tenha permissão (se você for comprar uma fruta, eles escolherão a fruta que você irá comer! E faça cara boa!)

- Nas barracas da rua nunca pague o primeiro preço que eles pedem, regateie, você levará a mesma coisa até pela metade do preço e se não for o caso, deixe o vendedor falando sozinho e vá a outra barraca.

- Esteja preparado para enfrentar filas (intermináveis!)

- Veja os preços das comidas antes de se sentar em algum restaurante, você paga caro para sentar (no mínimo 2 Euros por pessoa) nem que seja para tomar somente uma água, e eles não têm vergonha de roubar na sua cara (e vale aquela máxima – não reclame, mesmo certo, você sempre estará errado, entendeu praga?)

- Troque um dia em Roma por um dia em Assis!

- Em Roma não faça como os romanos. Tente manter-se educado.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

IMPRESSÕES DE VIAGEM - III

GIVERNY

Saímos do Brasil com a viagem toda planejada. Tenho que confessar que sou meio detalhista para certas coisas, gosto de saber aonde vou, quantos dias ficarei, escolher os lugares que vou visitar e assim por diante... e na nossa programação havíamos reservado um dia para conhecermos Versalhes.
Quando estávamos em Paris, minha amiga disse que gostaria muito de conhecer Giverny.
Bem, eu nunca havia ouvido falar deste lugar, então perguntei o que tinha de interessante, no que ela me respondeu que era onde ficava a casa e os jardins de Monet, que haviam sido transformados em Museu.
Quase tive uma síncope!
Monet!!!!!
Sou apaixonada por Monet, seus quadros, sua história, suas ninféias (nenúfares), a ponte japonesa, o lago, os chorões... tudo o que diz respeito a Monet (como Giverny havia me escapado?). Existe um “algo mais” que me liga a Monet...
Não pensei duas vezes: meu voto – Giverny!
Que me perdoem, mas eu tenho um quebra-cabeça de 1500 peças com os jardins de Versalhes... se algum dia puder voltar, tudo bem, se não, fico com o quebra-cabeça!
Primeiro problema: Onde fica Giverny? (sem contar que ela não se lembrava se o nome da cidade era esse mesmo). Alguns telefonemas depois, ponto para nós. O nome a gente tinha.
Segundo problema: Era longe? Perto? Como chegar?
Não constava do nosso timetable dos trens do Europass...
Perguntamos no hotel: nada...
Daí meu amigo ligou para a irmã, no Brasil, que deu o telefone de uma amiga, na França, que ficou de pesquisar e passar os detalhes.
Algumas horas depois já sabíamos tudo...
No dia seguinte, com uma bolsa contendo as famosas baguetes francesas, queijos, frios e vinho, partimos rumo a Giverny.
Cidadezinha pequena, que ainda guarda as características medievais e algumas ruas daquele período histórico, Giverny apresentou-se com todo o seu esplendor.
Saímos caminhando e, a cada passo, encantava-me mais com a beleza das flores, das cores, das construções, dos montes que a rodeiam...
Chegamos à casa que hoje abriga a Fundação Claude Monet.
Por fora: fachada simples, cor de terracota, janelas verdes.
Por dentro: casa simples, sem ostentações, cozinha com panelas de cobre penduradas, seu ateliê, suas coisas... e o jardim.
Lindo! Senti-me como que parte integrante das obras pintadas na fase em que viveu em Giverny com sua Alice e a imensa prole que os rodeava (tipo os meus, os seus, só faltou os nossos).
Monet encontrou em Giverny a paz que buscava para viver e pintar. Adorava pintar a água e o reflexo da luz sobre ela, para isso chegou a transformar um barco em estúdio flutuante.
Perdi-me na profusão de cores, odores, imagens, recordações, reflexos e então pensei: se eu, pobre mortal, sinto-me assim, imaginem uma alma iluminada como a de Monet?
Confesso que foi difícil sair de lá.
Giverny foi meu melhor presente nesta viagem.

DICAS:

- De Paris, compre uma passagem para Vernon – fica a 75 km. (não é necessário fazer reserva com antecedência) – atenção porque o destino final nunca é Vernon – da estação de Vernon tem ônibus que faz o trajeto até Giverny. Outra opção, para quem está bem fisicamente e gosta de aventura, é fazer o percurso de bicicleta – no bar em frente à estação, aluga-se bicicleta.

- Em Giverny, se você conseguir sair dos jardins, passeie pelas ruas (depois do pic-nic)... tem outras atrações a serem visitadas:

- Rua Medieval (parte medieval ainda intocada)

- Museu de Arte Americana

- Memorial aos Aviadores Britânicos

- Igreja Sainte Radegonde Church onde está o túmulo de Claude Monet

- Sem contar os inúmeros ateliês que você vai encontrando por onde passa...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

IMPRESSÕES DE VIAGEM II

REVENDO (PRÉ)CONCEITOS




Estive na França pela primeira vez, em 2000, muito rapidamente, para iniciar o Caminho de Santiago. Ia cheia de sonhos, esperança e crença num mundo fraterno; o coração transbordando de boas intenções e foi um balde de água fria o modo como fui tratada pelos franceses... Saí de lá achando-os o pior povo da face da terra: arrogantes, pedantes, egoístas e mais uma série de adjetivos do gênero.
Então, quando voltei agora, já fui com um pé atrás...
Mas nada como o tempo e pessoas diferentes para quebrar mais um (pré)conceito.
Fomos super bem tratados. Todos se mostraram solícitos em tentarem nos compreender, o metrô de Paris organizadíssimo e limpo (vocês entenderão o porquê de eu bater nesta tecla mais adiante), tudo funcionando perfeitamente.
Os pontos turísticos bem sinalizados e fáceis de encontrar.
Realizei alguns sonhos em Paris: ver a Torre Eifel se acender de dentro do Bateaux Mouche no Rio Sena, passear pelas alamedas do Champs Elysees, conhecer a Notre Dame, Louvre...
Na Notre Dame me senti a própria Esmeralda e, a todo momento, olhava para cima, na esperança que o Quasímodo aparecesse... (não apareceu!)
Sem contar que ficamos na “Rue de Abbesses”, famosa por seus cafés, restaurantes e imortalizada nas telas de Toulouse-Lautrec, que lá viveu, assim como Van Gogh e seu irmão Theo, Picasso, entre outros e ainda hoje é reduto e refúgio de artistas e intelectuais.
Resumindo, Paris foi uma festa...

DICAS (Fora dos guias normais)

- Compre tickets de metrô com validade para todos os dias em que vai permanecer na cidade (você economiza bastante).

- Separe o que você quer ver por região, assim fica mais fácil e você consome menos tempo com trajetos subterrâneos.


- Ande a pé... Paris é para ser desfrutada... sem pressa... Passeie pelas alamedas dos Jardins de Luxemburgo.

- Se for ao Hotel des Invalides – complexo onde está a tumba de Napoleão Bonaparte, Museu de Armas e uma série de exposições, não deixe de ir a uma rua pequena, atrás, que tem a casa onde viveu Rodin e é um Museu que raramente consta dos guias.

- Deixe para visitar a Sacre Coeur, em Montmartre (da estação Abbesses vai-se à pé) no fim da tarde. É lindo ver o entardecer em Paris lá de cima.

- Igreja de Saint Sulpice – é claro que só ficou famosa por causa de “O Código da Vinci”, mas é linda! E foi muito interessante buscar as pistas... (tá, foi bobeira também!)

- Não deixem de pegar um trem e ir até Vernon (mais ou menos uma hora). De lá pega-se um ônibus – ao lado da estação - e vá a Giverny (capítulo à parte) cidade onde tem a Fundação Claude Monet.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

IMPRESSÕES DE VIAGEM - I

TAMBÉM PODERIA SE CHAMAR REVENDO (PRÉ)CONCEITOS
Começamos pela Alemanha...
Como estudamos (pelo menos na minha época era assim) os povos eram “classificados” de acordo com a raça. Daí nos fizeram acreditar que certas características eram intrínsecas a cada povo e, portanto, imutáveis.
Os alemães eram sempre vistos como rígidos, um tanto brutos no tratar, extremamente frios e por aí vai...
Primeiro “pré”conceito a cair no espaço!
Fomos recebidos pelo casal Franzmann – Petra e Jürgen – que nos acomodaram em sua casa e em seus corações. Que abriram mão de todos os seus compromissos, inclusive profissionais, para que pudessem acompanhar-nos em passeios pelos arredores de sua cidade: SAARBRÜCKEN.
Com eles conhecemos TRIER e HEIDELBERG.
Todas três cidades lindas, de uma riqueza cultural ímpar.
Tudo é muito limpo, cores fantásticas, natureza exuberante e organizado.
Comida: gente, como se come! E se come bem! A cerveja, tida como a melhor do mundo (até andei experimentando) vem em canecos (se é que se pode chamar aquilo de caneco) de 1 litro.
Essa primeira parte da viagem me obrigou a começar a rever algumas “verdades” assimiladas ao longo da vida e ver que sempre é tempo de mudar.
Petra e Jürgen (e filhos, pai, amigos) fizeram-nos sentir amados, benvindos, aconchegados... vou levar para sempre comigo, num cantinho bem especial do meu coração, a lembrança dos dias maravilhosos que passamos juntos.
Quem tiver oportunidade, vale a pena conhecer essa região que fica na divisa com a França.

DICAS:

SAARBRÜCKEN:
Capital do estado de Sarre
- Pontes sobre o Rio Saar e suas floreiras suspensas
- Bosque próximo à Universidade
- Restaurante Zum Stiefel – fundado em 1709
- Complexo Igreja, Museu, Teatro e ruas na parte antiga da cidade





HEIDELBERG:
É conhecida por possuir a mais antiga universidade da Alemanha
- Sede do Governo Municipal
- Castelo Heidelberg Schlob – possui o maior barril de vinho do mundo: 228.000 litros (aos fundos na imagem)
- Ponte medieval
-Centro histórico, com suas lojas, cafés e restaurantes típicos

TRIER:
Foi fundada no século VI a.C. como Augusta Treverorum, supostamente pelo próprio imperador Augusto. Cidade natal de Karl Max, cuja residência familiar é hoje um museu.
- Porta Nigra (foto, construção da época da ocupação romana)
- Hauptmarkt – praça do mercado com suas esculturas e fonte
- Dom St. Peter (Igreja) – incorpora restos de uma antiga igreja do séc. IV
- No caminho não deixar de parar para apreciar as maravilhas do Vale do Trier e Cloef, mirante que fica em Saarschleife

domingo, 14 de outubro de 2007

REGRESSO


De perto ninguém é normal – tanta gente já usou esta frase, de Cazuza a Caetano Veloso, passando por Tolstói (substituindo ninguém por família o que a meu ver dá no mesmo - rs) que acho que posso dela apropriar-me sem ter que pagar direitos autorais.
Esta citação não é para referir-me aos povos dos lugares que visitei... foi a mais cruel constatação que fiz de mim mesma. Definitivamente, decididamente: Acho que eu não sou normal nem de perto, nem de longe!
Primeiro que as pessoas ficam morrendo de vontade de comer arroz com feijão, bife acebolado, churrasco, etc ... tudo bem, gosto de tudo isto, mas nem ligo se não comer. Por isso torço por viver até o dia em que venderão pílulas de comida (coisa antiga de astronauta) daí você sente o sabor que quiser, no lugar que quiser e pronto. Ninguém morre. Se não tem bife, como frango. Se não tem arroz com feijão, como macarrão, ou batata, ou pizza, ou McDonald’s e vamos em frente porque nem tudo na vida é para o estômago, há alimentos muito mais importantes, aqueles que sustentam a alma.
Segundo que gostaria que as pessoas tivessem mais sensibilidade para obras de arte, história, monumentos e nem sempre é assim. Tudo bem, uns preferem visitar a Capela Sistina e outros tomar “birra” (chopp) no bar em frente. É uma questão de escolha. E eu não vou mudar as pessoas nem o mundo (grande descoberta!).
Terceiro (e a pior parte) depois de alguns dias todos morrem de saudade de casa... e eu não! É claro que sinto saudade dos meus filhos, família, amigos, pessoas que amo, não sou tão desnaturada assim... mas saudade de casa? Da minha cama? Do meu banheiro? Tenha dó! Tem coisa melhor que não saber nem se importar com quem vai lavar os pratos, quem vai arrumar a cama, limpar o chão? Sair de manhã, bater perna o dia inteiro, voltar e encontrar tudo limpinho... quer coisa melhor?
É, eu não sou normal...
Mas tirando esta constatação (que não foi nenhuma surpresa, eu já desconfiava há tempos) a viagem foi maravilhosa. Conheci lugares fantásticos, voltei com mais de 1600 imagens na máquina (que levarei todo o tempo até a próxima viagem para catalogar, escolher, organizar, etc.) e o mais importante: Tudo o que vi e guardei no coração.
Saudades de todos? Sim, eu tive... mas lá também tinha computador, só que eu não tinha tempo...
Agora estou de volta! E já pensando para onde vou na próxima viagem...
Mais anormal do que antes.
Feliz é o caracol que carrega sua casa nas costas e nunca precisa voltar ao ponto de partida...
Breve compartilharei algumas impressões... um beijo cheio de luz a todos.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

ALMA CIGANA

Existe uma inquietude que me acompanha desde que me entendo por gente.
Na infância se traduzia em fugas para casas de amigos e passeios em bandos pelas redondezas (igual em toda cidade de interior).
Mais tarde, já moça, nas viagens para onde o dinheiro permitia.
A permanência, onde quer que seja, incomodava-me.
E eu não sabia explicar. Não tinha co-relação com alegria ou tristeza, satisfação ou insatisfação, bem-estar ou não. Era algo além do aqui e agora. Além de mim mesma e do meu controle (tão rígido e tão desnecessário, descubro agora!).
O tempo passou e aprisionou-me na casa, no matrimônio, nos filhos...
Mas como ele (o tempo) é faca de dois, às vezes até três gumes, ora ele usa seu gume e corta para machucar: quando nos apresenta rugas que não estavam lá no dia anterior, leva gente, desfaz fantasias, faz-nos fisicamente mais fracos e impotentes perante alguns desafios; ora ele corta para libertar: e traz novos amigos, realiza sonhos, desfaz preconceitos; ora nos apresenta a nós mesmos.
Tudo isso o tempo fez comigo.
Começou a incitar-me a realizar alguns sonhos como percorrer a trilha Inca, fazer o Caminho de Santiago, a cortar o México de oeste a leste de carro (viagens que me renderam muitas histórias que ainda serão contadas aqui).
Depois me pôs a publicar meus escritos, ensinou-me a me expor.
Das terapias fez-me relembrar de vidas passadas e entender alguns hábitos que eu julgava inconsistentes com minha vida atual.
E foi assim, passo a passo, que o tempo me revelou o mais importante:
Tenho ALMA CIGANA!
Por isso não paro muito tempo no mesmo lugar, adoro fazer mudança (teve um ano que foram cinco!) e amo viajar.
Mas tudo isso é para dizer-lhes que estou partindo para mais uma viagem (para os que me conhecem há mais tempo, respondo: sim, novamente).
Espero voltar com bastante histórias...
Não me esqueçam e marquem esta data: 14/10/2007 – Juro que mesmo sem desfazer as malas terá postagem nova!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

PERDAS



Na maioria das vezes tenho saudade...
De gente que se foi.
De pai, de mãe.
Do amor que perdi.
Saudade de tanta coisa
Como da boneca de louça, única que tive e que quebrou.
Permanece em cacos na minha memória,
Como a minha infância!


Por Kátia Corrêa De Carli

sábado, 8 de setembro de 2007

SAUDADE















Hoje eu queria te ver.
Longe de tudo e de todos,
Dar-te um abraço apertado,
Falar da vida que não planejamos,
Dos filhos que não tivemos,
Do futuro que não teremos.

Hoje eu queria te ver.
Ancorar minha vida turbulenta
Na segurança do porto dos teus braços.
Dividir contigo minhas angústias,
Meus medos, temores,
Minhas tristezas e minhas dores.

Hoje eu queria te ver.
Mergulhar na profundeza do teu olhar.
Perder-me nas linhas do teu rosto.
Dizer da alegria de rever-te,
Da saudade imensa que senti,
Dizer que em nenhum momento te esqueci.

Hoje eu queria te ver.
Pela última vez, quem sabe?
Saber como têm sido teus dias,
Se, enfim, és feliz.
Quem sabe, saber até,
Da falta que não fiz.

Hoje eu queria tanto te ver...

Livro: Múltiplas Faces
Autora: Kátia Corrêa De Carli

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

ALÉM DO MAR

Fora dos grandes centros tem muita gente boa fazendo música de qualidade.
É o caso do "meu menino" querido Amaro Lima que está com clipe novo na praça.
Simples, belo, contagiante.
Espero que além do mar exista um lugar para todos nós... igualzinho ao que o Amaro idealizou.
Vale conferir.

AMARO LIMA

Fora dos grandes centros tem muita gente boa fazendo música de qualidade.

É o caso do "meu menino" querido Amaro Lima que está com clipe novo na praça.

Simples, belo, contagiante.

Espero que além do mar exista um lugar para todos nós... igualzinho ao que o Amaro idealizou.

Vale conferir.

sábado, 1 de setembro de 2007

VINGANÇA


Engana-se quem se fia no mês de setembro.
Cantado em verso e prosa como o mês das rosas, da primavera, apresenta seus trunfos em uma profusão de tons de verde e flores mil desabrochando e com isso desvia a atenção de todos de seu real caráter.
Mas ouçam o que eu digo: Setembro é mês traiçoeiro!
Levei tempo para descobrir.
Foi ele quem levou meu pai, muito cedo e que, toda vez que sua imagem me vem à lembrança, me faz recordar uma passagem de “O Pequeno Príncipe”, quando, falando da rosa, ele diz que não soube compreender coisa alguma, que devia ter julgado-a pelos atos e não pelas palavras, que devia ter-lhe adivinhado a ternura sob seus ardis... mas que era jovem demais para saber amar. Isso aconteceu comigo e meu pai... eu era jovem demais para compreendê-lo, e com toda aquela revolta, aquela dor alucinante a sufocar a minha existência, nem percebi o que setembro fazia comigo.
Vieram outros ataques: doenças graves de filhos, rasteiras na vida profissional, não contabilizadas à época, porque superados... mas setembro sempre aprontava alguma.
Para despistar chegou até a roubar de maio a preferência das noivas, só para distrair as pessoas.
Fazendo esse balanço percebo que foi ele também quem me tirou o grande amor, aquele amor que a gente sabe ser único, eterno. E deixou esse vazio que nem outros amores, que poderiam ter sido maiores ou menores, melhores ou piores, conseguiram preencher... porque ficou para sempre doendo “aquele” amor que não concretizou.
Setembro é mesmo dissimulado!
Ainda não havia me apercebido o quão daninho é, quando, num golpe, ele tomou-me a mãe. Deixou-me órfã, literalmente. Aí, apesar da dor, do sofrimento, já não era tão jovem como o Pequeno Príncipe para compreender certas coisas e foi, então, que ele se revelou por inteiro.
Setembro! Mês que me escolheu para colocar frente às piores provas (e perdas) da vida e da morte.
Mas agora eu vou às forras!
Se pensa que vou ficar aqui chorando pelo que perdi, engana-se. Não me conhece.
Pode vir!
Quando me procurar irei encará-lo de cima, do alto da Torre Eifel e te ofuscarei com meu sorriso que brilhará mais que a Cidade Luz.
Quando pensar que pode me alcançar, estarei passeando de gôndola em Veneza ou pelas ruelas de Nápoles (Ah! Se quiser pode também me procurar na casa de Julieta, em Verona).
E se insistir em me perseguir... prepare-se para a fronteira da Alemanha (dizem que são implacáveis!).
Desta vez, Setembro, a vitória é minha!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

DESABAFO

Está “entalada” na minha garganta, desde 25/08/2006, a história do rebaixamento de Plutão. Na época escrevi uma crônica, mas sem ter onde publicá-la, acabou ficando guardada, mas não esquecida. Pois bem, agora eu tenho o meu espaço e nele escrevo o que quero, não é assim que funciona?
Então, compartilhem do meu desabafo:

PLUTÃO NÃO É MAIS UM PLANETA

Acordo e esta é a primeira notícia que realmente importa. As outras, embora lastimáveis, são corriqueiras: carros-bomba, homens-bomba, seqüestros, políticos corruptos, atentados... mas tudo fica pequeno diante da enormidade do fato que me atinge: Cientistas decidiram que Plutão não é mais planeta.

Como um punhado de homens mudam verdades que consideramos absolutas desde a infância?

Como recitar: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e... e... e mais nada? Acaba aí?

Nesta altura do campeonato terei que rever muitas das minhas verdades, principalmente as que me acompanham desde o primário (sim, sou do tempo em que a gente fazia primário!), já que acabaram com Plutão. Para mim, e a professora que me iniciou nas coisas do espaço, o sistema solar era algo imutável, como 2+2= 4, ou e=mc², e, no entanto, mudaram.
Mas o pior ainda está por vir.

No meu mapa astral, Plutão entra em quadratura com Júpiter em janeiro de 2007 e assim permanece até 2008, fazendo com que aumente o meu desejo por aventuras e prazeres, com enorme (atentem bem: enorme) repercussão na minha vida sexual.

Nisto apostei todas as minhas fichas.

Depositei minhas expectativas nesse tempo maravilhoso que viria. E agora?

Se Plutão não é mais planeta, como fica minha quadratura? E o pior, como fica minha vida amorosa e aquela enorme repercussão?

Estou revoltada com esse punhado de cientistas.

Exijo Plutão de volta.

P.S. Passados oito meses do início do que seria a quadratura e como vão as coisas, tudo leva a crer que Plutão, revoltado com a atitude dos terráqueos, está boicotando todas as previsões dos mapas astrais.

domingo, 26 de agosto de 2007

MÚLTIPLAS FACES

A todos que aqui chegarem: Sejam Benvindos!

Sim, com um empurrãozinho da Jussara Soares que me convenceu de que seria capaz de criar um blog sozinha, aqui estou (claro que com uma mãozinha do meu anjo Gabi)... e não poderia deixar de estrear com o poema título deste blog.

Um grande beijo a todos



MÚLTIPLAS FACES

São tantas as pessoas
Que habitam dentro de mim
Que quem olha, mas não me vê
Não tem idéia do que guardo aqui.
Tem uma que é filha, mulher, amante,
Meio insegura, meio estabanada,
Que não sabe demonstrar todo o carinho
E a maior parte acaba ficando guardada.
Tem a mãe que é irmã
Que se confunde com a esposa,
Que nunca sabe onde se colocar
Se ao lado, se dentro, se atrás,
Mas que no fundo, só sabe amar.
Tem a amiga, a companheira sincera,
Aquela com quem se pode contar,
Que leva consigo um pouco do anjo
Que dentro de mim cismou morar.
Tem a fada, a bruxa, o gnomo,
O duende brincalhão
Que volta e meia me mete em apuros
Escondendo alguma recordação.
Tem a criança marota
Que gargalha na hora errada
Mas que é a mais querida,
De todas, a mais amada.
Através dela posso fazer
As coisas que normalmente
As pessoas grandes não fariam:
Brincar, construir castelos de areia,
Andar descalça, os pés tocando o chão,
Fingir que não entendeu alguma coisa,
Voar, sonhar, soltar as rédeas da imaginação.
São tantas as nuanças
Daquelas que em mim resolveram habitar
Que de vez em quando não sei
Qual delas está por mim a falar.
Talvez todas ao mesmo tempo,
Pois sou meio mulher, meio bicho,
Meio coisa do outro mundo.
Guardo em mim todas as pessoas
Que não tiveram lugar
Nas almas dos que cresceram
E que pena! Só passaram pela vida,
Não viveram.