segunda-feira, 25 de abril de 2011

SOBRE O AMOR


Estes dias ouvi muita música.

É que aqui, no meu cantinho, não tem toque de telefone (não tem sinal de celular de nenhuma operadora), internet então, é coisa de outro mundo, televisão não é meu forte, então virou objeto de decoração (só falta o paninho de crochet de nossas mães), os pássaros só cantam quando querem, resultado: som zero! Até gosto do silêncio, mas em doses pediátricas. O que sobra é ler e trabalhar. Desde que cheguei, tenho trabalhado muito, trabalho braçal (dentro dos meus limites físicos): plantar, lixar, pintar, etc. e todo mundo sabe que esse tipo de atividade não exige nenhum esforço mental.

O que me sobra fazer entre o nada e o coisa nenhuma (rs)?

Ouvir música!

Como foram muitos dias, quase deu para ouvir toda a seleção do pen-drive. Foi assim, ouvindo cantarem tanta coisa que percebi: 80% das músicas que ouço falam de amor.

Tem amor para todo gosto: amor eterno, amor fora de hora, amor despedaçado, amor traído, amor platônico... e mais tanto tipo que nem dá para enumerar.

Concordo que é muito mais fácil escrever sobre amores perdidos, com o coração em farrapos do que quando estamos alegres. A alegria não é mola propulsora de versos, mas a dor! Ah! A dor! Ela sim é um evento que provoca versos, e na maioria das vezes, versos carregados de tristeza e beleza.

Eu poderia listar muita coisa bonita escrita por inúmeros poetas/compositores/autores, mas tem um poema do Paulinho Moska que toca tão fundo no coração (pelo menos no meu) que resolvi postá-lo.

Ele canta “Vênus” e depois declama um poema belíssimo!

Certas Canções -Tunai e Milton Nascimento - fala em uma de suas estrofes que “Certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece, por que não fui eu que fiz?”

Pois é, tirando “Metade” do Osvaldo Montenegro, que nem me pergunto porque me falta capacidade para escrever tal poema, esse do Moska, cabe tão bem dentro de mim que carece sim, de perguntar.

Compartilho com vocês:


Não falo do amor romântico,
Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
Antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido,
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,
Quer ser transformado a cada instante.

A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
Decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor e não podemos castrá-lo.

O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.

O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.



terça-feira, 12 de abril de 2011

DIVAGAÇÕES



Hoje amanheci assim:
nem alegre, nem triste.
Hoje vi o dia clarear assim:
nem sol, nem chuva.
Hoje não houve despertar, porque não houve dormir.
Não houve canto de pássaros,
nem a vida a se por em movimento.
Hoje senti vontade de estar perto
daqueles que precisam de colo
Mas também querendo tanto
alguém que me desse seu ombro.
Contradições.
Vontade de lutar,
Cansaço de tanta batalha.
Dor doendo no peito
Saudade danada de gente que amei,
ainda amo,
que sei também me amaram,
ou ainda amam,
tão dentro do meu coração
tão longe do toque da mão.
Hoje levantei-me assim:
nem alegre, nem triste;
então por que essa lágrima
teima a sair de mim?