domingo, 27 de junho de 2010

TEMPO

Preciso de tempo.
Para fazer todas as coisas
Que até bem pouco tempo atrás
Julgava ser pura perda de tempo.
Quanto engano!
Preciso de tempo para dormir
E sonhar, só sonhar.
Para admirar as estrelas,
Esquadrinhar cada palmo de céu
Até descobrir em qual delas
Meu pai resolveu habitar.
Tempo para fazer tanta coisa
Sem me sentir culpada,
Como andar descalça na praia
As ondas acariciando meus pés.
Catar conchas, só pelo prazer de,
Dez passos adiante,
Devolvê-las ao mar.
Preciso de tempo, mais tempo.
Tantos poemas de Pessoa, Neruda, Drumond,
Que ainda tenho que decorar,
Tantas sinfonias a escutar,
Tantos livros que ainda nem descobri.
Preciso de tempo para aprender a me permitir
A andar na chuva, cantar na rua,
Sorrir pelo prazer de sorrir.
Para ver meus filhos terminarem de crescer,
Para conhecer os netos que um dia vou ter.
Preciso de tempo,
Para aprender a amar, a fazer o bem,
A ver o próximo como a um irmão,
A olhar com os olhos do coração.
Tanta coisa ainda tenho que fazer e aprender
Por isso, Grande Construtor do Universo,
Um pouco mais de tempo,
Só tempo, é o que peço.

Poema: TEMPO
Autoria: Kátia Corrêa De Carli
Inédita

sexta-feira, 25 de junho de 2010

REMIX SÉCULO XXI


“Armar um tabuleiro de palavras-souvenirs.
Apanhe e leve algumas palavras como souvenirs.
Faça você mesmo seu microtabuleiro enquanto jogo linguístico.” *

Methicorten
Solumedrol
Tramadol
Omeprazol

Metotrexate
Ácido fólico
Cálcio
Potássio

Linhaça
Fan
Imuran
Clonazepam

Codex
Insulina
Azatioprina
Hidroxicloroquina

Cymbalta
Glicose
Gabapentina
Pregabalina

Schirmer
Cintilografia
Ultrassonografia
Tomografia

Liquor
Densitometria
Eletroneuromiografia
Colonoscopia

Biópsia
Ressonância
Endoscopia
Sialometria

Ecocardiograma
Fisioterapia
Neuropatia
Fibromialgia
Mielite
Flebite
Vasculite, ite, ite...

Cada dia um tormento
Se não morro da doença,
Morro do tratamento!

(Adriana Calcanhoto – Remix Séc. XX)


quarta-feira, 23 de junho de 2010

QUERIDO JOHN - NICHOLAS SPARKS


QUERIDO JOHN

Aos poucos vou retomando minha vida. A dor? Faz parte! Ela que canse de mim, pois minha Esperança só morre comigo e vou lutar muito até que a Dona Morte me vença.

Como o que me sobra é tempo, tenho lido bastante. Tudo bem que o ânimo para escrever só agora está voltando, junto com a presunção de crítica literária!

Li muita coisa boa (que ainda vou comentar) e também um monte de porcaria (que guardarei para mim). Justifico: Eu sei o trabalho, empenho, dedicação que dá escrever e publicar um livro, então em respeito ao autor, vocês nunca me verão dizer para não comprar tal livro porque é ruim...

Mas voltemos ao assunto eu e os livros.

Tenho várias manias a respeito de livros. As que não me denigrem posso listar:

  1. Como tive infância e adolescência um tanto restrita monetariamente, o dia que passei a ganhar um salário melhorzinho, jurei que não passaria um mês sem comprar um livro. Com isso e fora os que doei para iniciar uma biblioteca, tenho uma coleção razoável;
  2. Morro de ciúme dos meus livros, emprestar é uma possibilidade remotíssima;
  3. Não gosto de assistir filme adaptado sem antes ler o livro. Exceção para Amor Além da Vida e As Pontes de Madison... leio, assisto e choro (ainda e sempre);
  4. Não me venham com livros indicados por “lista de 10 mais”;
  5. Tampouco gosto de livros que trazem estampado: Mais de tantos milhões vendidos nos EUA – nem sempre o que é bom para uns o é para outros;
  6. Tenho antipatia pela tal chamada em letras garrafais: “Best Seller do New York Times”;
  7. Meu parque de diversão é um bom e velho sebo (daqueles com banquinho de madeira pra gente sentar entre as estantes) porque acredito que livro tem alma (rs) e por aí vai...

Entretanto sou uma romântica incorrigível. Falou em amor e eu me derreto toda. Sei que não estamos neste mundo de passagem, mas há tempo e hora para cada tipo de leitura. É claro que em cima de uma cama de hospital, morrendo de dor, não cabe ler Kafka nem Dostoievski...

Então, estava eu numa livraria e bati o olho num livro intitulado: Querido John, de Nicholas Sparks. Nunca havia ouvido (ou prestado atenção) o nome do autor, mas a capa trazia um casal jovem, num campo, transmitia paz. Pequei-o. Logo em cima tinha um selo: “5 milhões de livros vendidos nos EUA”, em dourado! Mais abaixo “Best-Seller do New York Times”. Na contracapa a ficha técnica do filme, ou seja, o bendito livro, recém-lançado, já era até filme.

Pensem comigo: considerando o acima listado o que eu tinha que fazer? Devolver o livro à prateleira... Devolvi. Mas minhas mãos ficaram vazias demais. Contrariando todas as minhas convicções, pequei-o novamente. Abri no prólogo e lá estava: “O que significa amar verdadeiramente uma pessoa? – Houve um tempo em que eu achava saber a resposta: significa que eu iria pensar em S. mais do que em mim mesmo, e passaríamos o resto de nossas vidas juntos”.

Comprei o livro! Era como se fosse escrito por mim. Como aquele cara pega minhas palavras e coloca-as no livro dele?

Leitura gostosa, sem pretensões filosóficas, ótima para uma tarde ociosa. Não vai te acrescentar grandes ensinamentos, vai falar de amor. Só isso.

Vai dizer: “Eu me apaixonei por ela enquanto estávamos juntos, e me apaixonei ainda mais nos anos em que ficamos separados”.

Uma das coisas que me chamou atenção foi que o livro é escrito e narrado por homens. Até hoje só conheci um homem que (talvez) fosse capaz de tal proeza. O autor consegue penetrar no universo feminino – pelo menos no meu.

Então, se algum dia você estiver sem nada para fazer e vier bater em sua mão o livro “Querido John”, com a chamada “o que você faria se uma carta mudasse tudo?” Pode ler... vale o tempo!

sábado, 19 de junho de 2010

MORREU SARAMAGO. MORREU!


Não era unanimidade, porém, como dizia Nelson Rodrigues, “Toda unanimidade é burra” e ele pode ser chamado como quiser, menos de burro!

O primeiro livro de (José de Sousa) Saramago que tentei ler foi “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” – lançado em 1991, talvez sua obra mais polêmica – onde ele reescreve a Bíblia através da narrativa de um Jesus feito homem. Confesso que não consegui. Estranhava-me aquele modo de escrever, ininterrupto, meio mal pontuado, sem diálogos definidos... tudo isso na minha nada humilde e muito prepotente opinião.

Guardei o livro. Quem sabe em uma outra vez? Mesmo porque estava envolvida com outras leituras, escritos, casa, filhos, serviço, viagens executivas, etc. Lembro que ele ficou em cima da escrivaninha, com sua lombada azul marinho escrito em dourado, fitando-me, como a dizer: Um dia você estará preparada, eu espero!

Tinha tanta coisa a ler...

Quando me pediam alguma opinião, eu dizia que não gostava de Saramago. Até que um dia percebi o quão incoerente estava sendo, porque até para não gostar, tem que se conhecer.

Decidi ler O Evangelho... Não foi fácil. Foi preciso despir-me de todas as ideias pré-concebidas acerca de literatura, estilos, formas e fôrmas. E como não se apaixonar pelo Jesus de Saramago que "conheceu o amor da carne e nele se reconheceu homem".

Li outros livros de sua autoria: Ensaio sobre a Cegueira, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Memorial do Convento, As intermitências da Morte. Outros não consegui: O Homem Duplicado, A Viagem do Elefante. É bem provável que falta-me inteligência e lucidez para alcançá-lo.

Mas como não reverenciar-me a um homem que diz:Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar”.

Crítico ferrenho da Igreja Católica, dizia-se ateu, mas confessava: Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro”.

Amou três vezes, porém seu maior amor foi justamente o último (a jornalista e tradutora espanhola Pilar del Río), que o mesmo Deus que negava, guardou para o final de sua vida.

Vai ficar um vazio muito grande na literatura de língua portuguesa, pois ninguém, nunca mais, vai dizer-nos: Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.”

O meu também, Saramago.

Também.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

DE TUDO E NADA


Os que me acompanham mais de perto sabem que os últimos tempos têem sido um tanto difíceis, não só para mim, mas para meus familiares e amigos.

Como sou uma pessoa que crê que acima de nós existe um ser superior, dêem a Ele o nome que queiram, acho que não pode ser em vão que eu esteja passando por esses “maus bocados”. Para tudo e em tudo existe um propósito, embora, às vezes, seja difícil descobrir o que está por trás do “Véu de Maya”(*). Tenho buscado, na medida do possível, descobrir os motivos ocultos que me levam a essa provação – dores, imobilidade, perda sensorial, etc.

Parêntesis: Agora já tenho diagnóstico, e não apenas um... Síndrome de Sjögren, agravada por Fibromialgia e Neuropatia Periférica por Vasculite... Não! Ainda não assimilei tudo!

Esta última internação (estou virando a queridinha do hospital!, se não fosse por doença, o corpo de enfermagem só falta dizer: - D. Kátia, que alegria ver a senhora!) me levou a amadurecer muitas ideias.

Mas meus sentimentos estão um tanto confusos. Portanto, só passei para dizer que estou de volta...

Um beijo pra lá de especial a todos.

(*) nome dado pelos Hindus para a nossa realidade, que é apenas uma distração sensorial, uma teia de aranha, que ao mesmo tempo em que esconde, revela. Os médiuns videntes conseguem notar algo além do véu, mas nem sempre claramente, como uma pessoa que tenta olhar o mundo através de óculos embaçados.



quarta-feira, 9 de junho de 2010

Eis o motivo...


No último post mamãe disse que estaria voltando, mas como podem comprovar pela foto acima, vai demorar um pouquinho mais...
Ela está muito bem acompanhada e deixa pra vocês essa mensagem, que está com ela:

Deus te sustentará e onde não possas fazer todo o bem que desejas realizar Deus fará sempre a parte mais importante.
Emmanuel (por Francisco Cândido Xavier)


terça-feira, 1 de junho de 2010

ANIVERSÁRIO


SANTIAGO DE COMPOSTELA

Meus queridos amigos que aqui comparecem, às vezes até mais do que eu, nestes últimos tempos. que têm sido tão difíceis. Mas não podia deixar de registrar uma data tão importante.
Foi exatamente há 10 anos que terminávamos nossa peregrinação pelo Caminho de Santiago.
Tanta coisa me aconteceu... muitas já compartilhei com vocês e ficou a promessa do retorno, por tanto tempo afastada mas a promessa não ficou esquecida... penso em retomá-la "de pronto".
Aos companheiros peregrinos o meu abraço.
Aos irmãos de jornada, em especial Cristina, Maurício, Marco, Maria do Socorro, Esperanza e Alonso, o meu mais fraterno beijo.
Que Deus siga nos abençoando a todos!

Ultreya y Suseya!