sábado, 20 de março de 2010

MAIS UMA DE AMOR...

Teatro - Guadalajara - México

NUNCA MAIS

(Kátia Corrêa De Carli)

Hoje a sua ausência
Mais uma vez veio me incomodar.
É uma saudade que queima,
Arde, incomoda,
Torna física a dor
Que julgava ter superado,
Traz de volta o amor
Que pensava já ter esquecido.
Saudade dos nossos momentos
Cheios de ternura, de paz.
Das conversas que aquietavam a alma
Depois de saciada a carne,
Dos silêncios cheios de compreensão,
Do saber estarmos indo,
Mesmo separados,
Na mesma direção.
Sem aviso, o adeus,
O ir embora sem olhar para trás,
A certeza de que estava partindo
Para nunca mais.
Fiquei quieta, muda, estática
Tentando encontrar algo que me guiasse
Que me impelisse a sair do cais.
Mas nada, nenhum leme,
Nenhuma vela, nenhuma embarcação.
Sozinha com a sensação das entranhas rasgadas,
Do corpo sangrando em pedaços,
Da dor a me corroer.
Passado o desespero da solidão,
Aquietado o espírito,
Secadas as lágrimas,
No coração, a ilusão do esquecer.
Hoje traída pela recordação
Do que não deveria mais voltar,
Lembro-me de você, da saudade,
E volta a doer a mesma dor
Da certeza que nunca mais
É tempo demais para eu viver
Sem o seu amor.

(inédita)

sexta-feira, 5 de março de 2010

SOMA DE DIAS

PORQUE É MEU ANIVERSÁRIO!

Houve um tempo em que eu adorava aniversário. Minha mãe ralhava (palavra antiga, né?) comigo dizendo que eu só sabia “inventar moda”, mesmo que essa “inventação” se resumisse a K-suco de guaraná e um bolo feito em casa mesmo.

Os anos foram passando e eu continuei gostando dessas comemorações. As melhores eram as promovidas pelos colegas de serviço, tudo na maior surdina para que fosse surpresa e que nunca ficava escondido... mas eu fazia cara que não sabia de nada para não estragar a festa.

Durante alguns anos eu estacionei minha idade na casa do 32. Era uma idade bonita e o medo de envelhecer havia me pego de jeito. Fiquei tanto tempo que meu sobrinho, que nem havia nascido quando eu realmente fiz 32, aprendeu a fazer contas e roubou minha carteira de identidade para descobrir a verdade, porque ele não conseguia entender porque a mãe dele, sendo só dois anos mais velha que eu, conseguia ser tão mais velha!

Depois eu comemorei, em grande estilo, os 39... porque 40 marca muito e todo mundo comemora! rs

Mas depois daí, na verdade, tive dois aniversários felizes. Um pela companhia e o outro, de meio século, porque consegui reunir amigas de todas as fases da minha vida.

Hoje já não vejo graça em festejar minha soma de dias... Os anos correm silenciosos, como se calçassem pantufas, rindo da gente em silêncio. Um belo dia nos assustam ao olharmo-nos no espelho, ou nos acertam em cheio a memória, ou os joelhos, ou o estômago e nos cravam um punhal nas costas. A velhice nos ataca, silenciosa, dia a dia. Mas há uma época em que ela é implacável. Creio que enfrento essa época.

Olho-me no espelho e não consigo reconhecer-me. Dói-me, ainda, o corpo. Meu último aniversário foi passado no hospital.

Muitos dirão: você está viva! Quer motivo melhor para comemorar? Têm razão, reconheço... mas me falta alegria, ânimo, vontade. A soma dos meus dias se acumula com a soma das minhas tristezas dos últimos tempos. É um fardo pesado demais. Pode ser que um dia eu me livre deste peso ou me acostume com ele e volte a gostar de “inventar moda”. Mas, por enquanto, ainda prefiro a solidão, o isolamento.

Os budistas dizem que a vida é um rio, que navegamos numa balsa para o destino final. - Sobre esse tema tem uma crônica linda do meu amigo no blog Desvendando Caminhos, onde a teoria dele sobre o rio da vida é muito melhor que a minha... mas voltemos ao assunto - O rio tem sua corrente, velocidade, redemoinhos, ora estreito, ora caudaloso, pedras e outros obstáculos que não podemos controlar, mas contamos com a ajuda de um remo (um só!) para dirigir a embarcação sobre a água e no rumo certo. Da nossa habilidade depende a qualidade da viagem, mas o curso não pode ser mudado, porque o rio desemboca sempre no mar da morte.

Embora eu ainda tente segurar o sol, deleitar-me com o luar, amar e ser amada, às vezes, em sonho, eu entrevejo esse mar...