Faz tempo que não apareço, eu sei... vocês não merecem tanta ausência, mas nem sempre as coisas são como gostaríamos, mesmo assim seguimos em frente, aos trancos e barrancos, mas sempre em frente...
Quanto eu falei que ia terminar a Saga do Caminho de Santiago me deu uma angústia igual à que senti na Espanha e que aumentava a cada passo que dava para o destino final.
Como vivemos em sintonia com aqueles que amamos, logo recebi um e-mail do Mauricio pedindo que eu fosse bem devagarzinho, que ele não estava preparado, ainda, para terminar pela segunda vez nossa caminhada.
Com isso fui adiando, a dor aumentando, a angústia a apertar-me o peito, a saudade como poço que a cada dia fica mais fundo.
Daí apareceram compromissos inadiáveis, problemas recorrentes e eu, todos os dias, dizia a mim mesma: Hoje escrevo!
Mas esse hoje nunca chegava. Estava a boicotar-me, inconscientemente.
Comecei a pensar sobre a relatividade do tempo, das amizades, da ausência. Buscava encontrar algo que preenchesse um pouquinho essa saudade de gente que não conheço, de gente que partiu, para outro mundo ou esse mesmo mundo, de amores e amigos que perdi ou me perderam. Gente que não vejo, que não abraço, que não conforto nem me conforta. Gente que eu queria pertinho de mim. Gente assim como o Mauricio, a Vanuza, a Kátia, a Jussara e tantas outras que amo e não vejo, ou ainda não vi frente a frente.
Às vezes fecho os olhos e tento traçar, no espaço, as linhas desses rostos amados e não consigo. É triste.
Daí, como não existe coincidência, meu analista sugeriu-me ler Memórias de um Viajante do Tempo, de Patrick Drouot. Lá encontrei uma passagem em que ele diz:
- “O temps, suspends ton vol” (Tempo: suspende o vôo), implorava Lamartine. Mas o grito do poeta é impotente para deter o curso dos segundos, das horas, dos dias que passam. O tempo, pelo menos do modo como o concebeu o homem moderno desde o Renascimento, é principalmente “fuga”. Em nosso cotidiano, ele possui uma dimensão única, além de ser unidirecional em seu escoamento. Irreversível, empurra-nos inexoravelmente do passado para o futuro sem a possibilidade de voltar atrás.”
Isso veio exatamente quando tudo o que mais desejava era voltar no tempo...
Embora creia que carregamos todos os afetos, amores, amizades de todas as nossas vidas num compartimento secreto e oculto para nosso próprio bem... que nunca estamos sós... que tudo é relativo...mas como seguir em frente sem vocês?
Embora creia piamente na imortalidade da alma, como viver com esse anseio pela presença das almas que sei que amo de outras vidas?
Poderia listar as coisas que me fizeram ausentar-me tanto tempo... mas que importam coisas corriqueiras diante de tamanha solidão?
Por isso meus queridos, ficamos assim: minha ausência deveu-se da minha luta para deter o tempo e trazer para perto de mim aqueles que amo e que estão longe...
Só a presença no meu coração, neste momento, não basta...
Mas eu volto, sempre volto!
Alguém tem aí um tarja preta?
Beijos!