Não sei se já comentei aqui, mas não sou daquelas mulheres que necessitavam da maternidade para se realizarem. Tudo bem, sou mãe, acho que fiz um bom trabalho na educação de meus filhos, mas a maternidade nunca esteve nas minhas prioridades de vida.
Vocês devem estar se perguntando o que isso tem a ver com Ingrid Betancourt. Aparentemente, nada.
Hoje, por conta da globalização e do acesso aos meios de comunicação, estou para jurar que metade da população brasileira pode não saber o nome do prefeito de sua cidade, mas sabe da libertação da Ingrid pelas Farc.
Quem me acompanha nunca me viu falar de política, futebol, pauta de jornal, apesar de correr em mim o sangue da jornalista. Esses assuntos têm sites inteiros, e de qualidade, a eles dedicados.
Mas não consigo me calar diante da libertação de Ingrid Betancourt.
Foi uma violência seu seqüestro? Acredito que ninguém em seu estado mental normal concorda com uma barbárie destas nos dias atuais.
Que não há mais espaço para lutas armadas? Isso é opinião pessoal e a minha é que nada justifica erguer armas contra outros seres humanos seja qual for a justificativa.
As humilhações, brutalidade, tudo pelo qual passou, não ouso sequer comentar, tamanha é minha tristeza ao constatar que ainda existem seres humanos capazes de tamanha crueldade.
Mas o que eu quero falar é apenas de um olhar.
O Olhar da mãe para seus filhos. E neste momento não importa se como eu ela tinha ou não instinto maternal ao pari-los, importa que uma vez mãe, a gente se transforma. Esquece de si. Passa para segundo plano.
É esta Ingrid que quero mostrar.
A mãe que não suporta mais a espera e embora tentem segurá-la, se desvencilha e sobe, resoluta, as escadas até o avião.
A mãe que procura, aflita, através do vidro da porta, pelos filhos dos quais foi brutalmente afastada.
A mãe que os abraça, beija e chora. Lágrimas que só ela saberia explicar (se é que existe explicação para este tipo de lágrima).
A mãe que os olha com uma ternura capaz de afetar qualquer ser a milhares de quilômetros, que a tudo vê, apenas pela telinha da tv.
A mulher que fala sobre as atrocidades contra ela cometidas, sem soltar as mãos dos filhos, lançando-lhes o olhar, fazendo-lhes um afago, dando-lhes um beijo, a todo o momento, como querendo convencer-se que não passava de um sonho.
A senadora, candidata ao governo, seqüestrada, prisioneira, refém, por mais de seis anos, só quer, qual leoa, lamber as suas crias.
Diz estar no paraíso, que “es el nirvana”.
E ai daquele que ousar tirá-la de lá.
Imagens: Três momentos de Ingrid Betancourt – fonte BBC Brasil.com
Vocês devem estar se perguntando o que isso tem a ver com Ingrid Betancourt. Aparentemente, nada.
Hoje, por conta da globalização e do acesso aos meios de comunicação, estou para jurar que metade da população brasileira pode não saber o nome do prefeito de sua cidade, mas sabe da libertação da Ingrid pelas Farc.
Quem me acompanha nunca me viu falar de política, futebol, pauta de jornal, apesar de correr em mim o sangue da jornalista. Esses assuntos têm sites inteiros, e de qualidade, a eles dedicados.
Mas não consigo me calar diante da libertação de Ingrid Betancourt.
Foi uma violência seu seqüestro? Acredito que ninguém em seu estado mental normal concorda com uma barbárie destas nos dias atuais.
Que não há mais espaço para lutas armadas? Isso é opinião pessoal e a minha é que nada justifica erguer armas contra outros seres humanos seja qual for a justificativa.
As humilhações, brutalidade, tudo pelo qual passou, não ouso sequer comentar, tamanha é minha tristeza ao constatar que ainda existem seres humanos capazes de tamanha crueldade.
Mas o que eu quero falar é apenas de um olhar.
O Olhar da mãe para seus filhos. E neste momento não importa se como eu ela tinha ou não instinto maternal ao pari-los, importa que uma vez mãe, a gente se transforma. Esquece de si. Passa para segundo plano.
É esta Ingrid que quero mostrar.
A mãe que não suporta mais a espera e embora tentem segurá-la, se desvencilha e sobe, resoluta, as escadas até o avião.
A mãe que procura, aflita, através do vidro da porta, pelos filhos dos quais foi brutalmente afastada.
A mãe que os abraça, beija e chora. Lágrimas que só ela saberia explicar (se é que existe explicação para este tipo de lágrima).
A mãe que os olha com uma ternura capaz de afetar qualquer ser a milhares de quilômetros, que a tudo vê, apenas pela telinha da tv.
A mulher que fala sobre as atrocidades contra ela cometidas, sem soltar as mãos dos filhos, lançando-lhes o olhar, fazendo-lhes um afago, dando-lhes um beijo, a todo o momento, como querendo convencer-se que não passava de um sonho.
A senadora, candidata ao governo, seqüestrada, prisioneira, refém, por mais de seis anos, só quer, qual leoa, lamber as suas crias.
Diz estar no paraíso, que “es el nirvana”.
E ai daquele que ousar tirá-la de lá.
Imagens: Três momentos de Ingrid Betancourt – fonte BBC Brasil.com
14 comentários:
Kátia, também percebi esse olhar de "leoa", como você diz.
Creio que, de todas as ignomínias que esta mulher sofreu, a mais cruel foi justamente a separação dos filhos e, talvez, a incerteza quanto à possibilidade de revê-los.
Para mim, essa dor torna seus algozes ainda mais imperdoáveis do que o imenso crime que cometeram.
Também não sou a mãe idealizada, mas não imagino sofrimento maior.
Beijos, boa semana para você.
P.S. Perdoe a ausência, mas antei sem tempo para visitar os amigos, em vista de uma interminável reforma em minha casa e às viagens (também intermináveis, trabalhando).
Agora, começo a voltar à normalidade.
Oi minha estimada amiga.
Vc retratou um texto de vida de uma corajosa e guerreira mulher.
Pois estando prisioneira, sem saber seu destino e como ia acabar não lhe faltou forças e coragem para lutar.
Obrigado por sua visita ao meu cantinho.
volte sempre.
ADOREI SEU BLOG.
fIQUE NA PAZ.
bEIJOS SUA NOVA AMIGA.
REGINA cOELI.
Kátia, nessa imagem divulgada pelo mundo todo, vejo tanta serenidade no olhar... coisa que só o amor pode mesmo explicar... se é que se explica... mas, não sei se eu, mesmo que algum dia seja mãe, teria esse mesmo olhar depois de passar pelo que ela passou (e olha que eu sou das que precisam da maternidade)... não há revolta no olhar... não há nada que pareça dizer "tanto tempo perdido, longe"... passei a admirar demais essa mulher...
Somos mulheres da mesma cepa, Kátia. Obrigada pela força que me tem dado, agradeço muito. Hj,acordei sem dores. ESpero que continue assim o dia todo. Estou fazendo quimioterapia em casa e os meus cabelos não estão caindo, só as unhas estão fracas, mas como uso unhas bem curtinhas isso não chega a ser um problema. Acho que amanha, faço outro post,a gora de um filme que ainda está em cartaz e que vi num DVD importado, pois não posso sair de casa. Apareça e me faça uma visita.
Beijos da amiga,
Renata
Oi, querida amiga que nunca me abandona. Acordei bem e fiz uma resenha sobre um filme que está em cartaz em São Paulo, mas cujo DVD importei porque não posso sair. O título em português é A Outra. É sobre o triângulo "amoroso" entre Henrique VIII, Ana Bolena e Maria Bolena,a irmã de Ana, cuja existência eu ignorava até ver o filme.
Apareça por aqui:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata
ingrid betancourt é sem duvida uma grande mulher!
e tudo o que você escreveu aqui é muito tocante.
beijo
É Kátia,
o que conseguimos ver e saber sobre o que acontece na vida dessa mulher nos faz pensar o quanto ainda estamos longe de nos fazermos gente, de fato. E você, com sua sensibilidade, captou e nos trasncreve o que não se explica...o que há de mais belo. O gesto de Mãe.
Beijos
Hoje o céu desceu em beijo à terra
Hoje acordei com os sinos a tanger
Um manto de cristal e fino orvalho
Ajudou mais uma flor a nascer
Cada gota prende um suspiro
Descem do celeste em doces canções
A terra prende-me o sonho
Em manto de contradições
Boa semana
Mágico beijo
Sem dúvida a Betancourt ganhou mais voz e corpo nas suas palavras... Você fala com sentimento, com solidariedade.. você é mágica!
Fico imensamente feliz por estar aqui agora e ter lido e tornar a ler a notícia vinculada na mídia fria, de forma tão humana por você..
Agradeço, vou ficar agradecendo mais!
Ps.: quanto ao "Ser Onomatopáico", fico feliz por ter te arrancado gargalhadas!! rsrs
Bjo, linda!
...sim! O amor é maior que qualquer sofrimento...
Belo texto!
Beijos de luz e um dia feliz...
Há coisas que não podem ficar sem registro e essa mulher tem muito o que comemorar.
Olá, Kátia!
Fico feliz em poder conhecer um outro lugar de expressões sensíveis em torno do espírito humano. Obrigado pela sua visita à DIVERSOS AFINS. Seja sempre muito bem-vinda!
Beijos!
Kátia querida, já que não posso ficar sem fazer nada, senão olho no espelho e me vejo magricela, 39 quilos, por causa da quimio, resolvi fazer algo aqui. Enquanto coleto material para "Bonequinha de luxo", postei sobre o filme "Sombras de Goya" que em Portugal ficou como no original "Os Fantasmas de Goya". Apareça por aqui:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo,
Rê
PS: Traduzi um soneto de Shakespeare e pus no post
Sempre é bom ler sobre atualidades, principalmente quando bem escrito.
bjs
Postar um comentário