Domingo.
Rua dos Artistas, Puebla, México.
Manhã (o que quer dizer por volta de meio-dia).
Passeei por entre os ateliers a céu aberto, os mestres e seus discípulos, arte de toda a espécie: uns pintam, outros desenham, outros tocam seus instrumentos, cantam, alguns utilizam uma árvore próxima como cenário e apoio para apresentação a la "Cirque du Soleil", etc.
É claro que me senti em casa... de artista e de louco, o resto todos sabem.
Sol a pino, aliado ao clima seco, cansa qualquer um.
Sento-me à sombra de uma árvore e passo a observar as pessoas.
Logo à frente um banco com crianças que saboreiam um "helado", rindo e conversando alto, as mães mantendo uma distância conveniente para todos.
Passa o rapaz maquiado de "sombra", imitando os que caminham, arrancando gargalhadas de todos, inclusive dos imitados que jogam-lhe moedas no chapéu.
Alheios a toda essa alegria, meus olhos deparam com dois jovens: estão sentados em um banco, um pouquinho mais afastados, mas nem tanto. Ele está semi-deitado e tem a cabeça e parte do tronco no colo da moça. Ela olha-o com um olhar que não consigo distinguir, como se fosse um misto de amor e piedade.
Ele chora.
Ela consola.
Sussurram.
As lágrimas a caírem por sobre sua face e ela numa tentativa, quase que vã, de consolá-lo.
Ele não se envergonha das lágrimas, uma vez que não faz nada para ocultá-las.
Ela de quando em vez olha para os lados, talvez para ver se são observados. Beija-lhe a face. Enxuga-lhe as lágrimas com beijos calmos e serenos.
Continuam a sussurrar.
Depois de uma eternidade (para mim) ele esboça um arremedo de sorriso. Ganha um beijinho na boca.
Tempos depois as lágrimas já não mais existem, ele está sentado, se abraçam, se beijam, sussurram de uma maneira que só os muito apaixonados sabem fazer.
E eu ali.
Olhando tudo por de trás dos meus óculos escuros.
Não tenho dúvida: A maior invenção do homem não foram os ônibus espaciais, avião, computador, bomba atômica.
A maior invenção do homem foram os óculos escuros!
Rua dos Artistas - Puebla - México.
O "movimento" acontece todos os domingos, pela manhã... se tiver oportunidade, não deixe de ir. Fica pertinho do El Parian (Mercado de Artesanatos)
8 comentários:
Quase choro, fiquei com vontade.
Pela beleza por contar os momentos. Pela forma de se expressar, a falicidade de passar as suas observações, a escrita que flui, as emoções...
As fotos maravilhososas.
Fiquei encantada e emocionada.
Parabéns!
Kátia, como você coloca o nome nas fotos, dá para ensinar?
abraços
...sim! Muitas vezes, os óculos escuros nos deixam olhar mais a vontade, as estranhezas do cotidiano...
Que bom o casal ter feito as pazes!
Gostei da sua narrativa...
Beijos de luz!!!
Perfeito... texto e imagens...você escreve com tal verdade, com tanta sensibildade, que me parece assitir a cena, como se fosse uma tela de cinema. Muito lindo seu poema-crônica.
Um beijo de muita admiração.
Que crônica gostosa, mais do que linda.
Melhor de tudo é saber que dispomos de vários óculos para lidarmos com as situações. E nessa cena, posso me perceber como expectadora, observadora, no trajeto que você faz. Que bom!
me transportei pra lá agora... e me deu uma vontade de viajar e ver as coisas...
e,sim, os óculos escuros são maravilhosos... as vezes os uso pra obervar o mundo... e me sinto protegida com eles... sabe-se lá o porquê... bjs
Como bem disse a Jacinta, temos vários óculos escuros...Pior que existem os que nunca ficam sem eles...
Fui levada até a cena envolvida pela emoção, que só os que não usam óculos escuros sabem fazer.
Quando eu crescer, Kátia, quero ser igualzinha você.
Bjo
Breve, breve vou deixar de ser "anônimo", rssss
K.
Oi minha estimada amiga.
Que lindas fotos.
Viajei nesse país de encantamentos.
Parabéns.
Boa semana , com muita paz e amor.
Felicidaes amiga.
Regina Coeli.
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