Este post é dedicado a Marco Pingret
Catedral de Santo Domingo de La Calzada
O percurso que nos esperava era curto, pouco mais de 15 km, então decidimos dormir um pouquinho mais, afinal Peregrino também é gente! Apesar de às vezes não parecer...
Tomamos nosso café da manhã (desayuno) num restaurante – luxo para peregrino – na companhia de Orlando e Micheline, de quem, a cada dia, aproximávamos mais e mais. No restaurante conhecemos Isabel, uma enfermeira espanhola, que estava fazendo o Caminho por etapas. Como ela não tem tempo, ela junta suas folgas, procura acumulá-las e usufruí-las junto a algum feriado, e, a cada folga, ela percorre um trecho. Pessoa maravilhosa, de uma sabedoria incrível. Caminhamos juntos este trecho. Papo bom, ritmo também, e eis que nos surge, numa casa na estrada, um senhor, já idoso, que ao ver-nos correu a colher rosas vermelhas e ramos de hortelã para nos oferecer. Além da água fresquinha, o Sr. Gregório exalava amor e caridade pelos poros. São pessoas assim que fazem nossos caminhos valerem à pena, seja na Espanha ou aqui. Ele só estranhou um pouco quando comecei a comer as folhas de hortelã... mas estavam tão lindas! Não resisti!
Chegamos muito cedo, antes do almoço, e resolvemos ficar no albergue das Monjas (Irmãzinhas, como logo começamos a chamá-las).
Parêntesis 1 – Santo Domingo de La Calzada é uma cidade muito bonita e cheia de lendas e histórias. A Catedral da cidade está construída sobre o túmulo de Santo Domingo, em estilo gótico. Em seu interior se conserva um galinheiro com uma galinha e um galo, como recordação e veneração ao maior milagre de Santo Domingo. Diz a história que uma família de peregrinos da Alemanha parou para pernoitar na cidade. A criada da hospedaria se apaixonou instantaneamente pelo filho do casal, porém sem ser correspondida, escondeu uma taça de prata em seu casaco e denunciou o rapaz pelo roubo. O jovem foi preso, condenado e enforcado. Os pais, aflitos, continuaram sua peregrinação até Santiago, e, ao regressar encontraram o filho ainda vivo (Santiago fica a mais ou menos 580 km. de Santo Domingo), pois o Santo lhe sustentava o corpo pelos pés. Correram então até o Corregedor da cidade, porém este não acreditou e disse “Teu filho está tão vivo quanto esta galinha que estou comendo”. No exato momento em que disse isso, a galinha retornou ao seu corpo vivo e cantou, de modo a fazer o refrão: “Santo Domingo de La Calzada, onde cantou a galinha assada”. O Corregedor assustado mandou soltar o rapaz, que retornou com seus pais à Alemanha. Desde então, na Catedral, mantém-se um casal de galináceos e dizem ser de bom agouro se eles cantarem quando as pessoas estão no interior da Catedral.
Histórias do Caminho...
Havia festa na cidade e como bons brasileiros logo estávamos prontos para aproveitar a cidade e a festa, embora com os pés em brasa. Uma banda tocava ali pertinho e nós fomos assistir, vestidas de peregrinas (nem vestidinho de liganete tinha rolado!) e quando percebemos, as pessoas estavam vestidas nas suas roupas domingueiras, as crianças com seus vestidos de bolo de noiva, mesmo assim fomos muito bem recebidos por um casal que se aproximou de nós, conversou, se interessou em saber sobre nossa peregrinação.
A festa era a comemoração de aniversário (não sei quantos séculos) do primeiro Albergue de Peregrinos da cidade.
As Irmãzinhas serviam almoço e nós resolvemos comer no convento. Isa permanecia conosco, mas enquanto a Cris se banhava ela se despediu de mim e seguiu seu caminho, sem deixar nome, endereço, telefone... só a certeza de que foi mais uma alma iluminada que cruzou nossos caminhos. A Cris ficou muito triste, mas eu acho que, como ela se identificou muito com ela, não quis mesmo despedidas...
Mais tarde resolvi acompanhar a Cris e o Mauricio à missa. Eles foram comungar e eu fiquei quietinha. Quando eles voltaram e a Cris ajoelhou, não é que o galo começou a cantar? Juro que fiquei toda arrepiada...
A comida das Irmãzinhas era tão boa que neste dia até jantamos! E conhecemos outra pessoa iluminada: Marco Pingret! Sabe aquelas pessoas que você olha e sabe que vai amar pelo resto da vida... foi assim com o Marco. Ele conseguiu até uma foto com a Irmãzinha...
Parêntesis 2 – Tempos depois tive o privilégio de receber Marco e sua esposa em minha casa, junto com a Maria do Socorro e esposo e a Helenice. Tivemos o prazer de fazer “Os Passos de Anchieta” (caminhada realizada todos os anos no ES) juntos.
Deus coloca anjos nos nossos caminhos e muitas vezes, na correria do dia a dia, não damos conta. Daí perdemos uma grande oportunidade de evoluir, de melhorar, de aprender... Tanta coisa aprendi com Marco, com o modo como ele encara a vida e trata as pessoas como verdadeiros irmãos.
A gente não se fala muito, mas não precisa. Acho que isso é amor de verdade. A gente sabe. Só isso importa!
E só quem ama assim se lembra do amigo, no alto do Everest, e de lá traz uma pedrinha porque sabe que o outro tem pedrinhas dos lugares místicos do mundo. Foi esse presente que ganhei do Marco!
Apesar do Convento ser de Irmãzinhas, elas serviram um excelente vinho no jantar... Não sei o que tinha naquele vinho, mas dormi uma noite maravilhosa!
Tomamos nosso café da manhã (desayuno) num restaurante – luxo para peregrino – na companhia de Orlando e Micheline, de quem, a cada dia, aproximávamos mais e mais. No restaurante conhecemos Isabel, uma enfermeira espanhola, que estava fazendo o Caminho por etapas. Como ela não tem tempo, ela junta suas folgas, procura acumulá-las e usufruí-las junto a algum feriado, e, a cada folga, ela percorre um trecho. Pessoa maravilhosa, de uma sabedoria incrível. Caminhamos juntos este trecho. Papo bom, ritmo também, e eis que nos surge, numa casa na estrada, um senhor, já idoso, que ao ver-nos correu a colher rosas vermelhas e ramos de hortelã para nos oferecer. Além da água fresquinha, o Sr. Gregório exalava amor e caridade pelos poros. São pessoas assim que fazem nossos caminhos valerem à pena, seja na Espanha ou aqui. Ele só estranhou um pouco quando comecei a comer as folhas de hortelã... mas estavam tão lindas! Não resisti!
Chegamos muito cedo, antes do almoço, e resolvemos ficar no albergue das Monjas (Irmãzinhas, como logo começamos a chamá-las).
Parêntesis 1 – Santo Domingo de La Calzada é uma cidade muito bonita e cheia de lendas e histórias. A Catedral da cidade está construída sobre o túmulo de Santo Domingo, em estilo gótico. Em seu interior se conserva um galinheiro com uma galinha e um galo, como recordação e veneração ao maior milagre de Santo Domingo. Diz a história que uma família de peregrinos da Alemanha parou para pernoitar na cidade. A criada da hospedaria se apaixonou instantaneamente pelo filho do casal, porém sem ser correspondida, escondeu uma taça de prata em seu casaco e denunciou o rapaz pelo roubo. O jovem foi preso, condenado e enforcado. Os pais, aflitos, continuaram sua peregrinação até Santiago, e, ao regressar encontraram o filho ainda vivo (Santiago fica a mais ou menos 580 km. de Santo Domingo), pois o Santo lhe sustentava o corpo pelos pés. Correram então até o Corregedor da cidade, porém este não acreditou e disse “Teu filho está tão vivo quanto esta galinha que estou comendo”. No exato momento em que disse isso, a galinha retornou ao seu corpo vivo e cantou, de modo a fazer o refrão: “Santo Domingo de La Calzada, onde cantou a galinha assada”. O Corregedor assustado mandou soltar o rapaz, que retornou com seus pais à Alemanha. Desde então, na Catedral, mantém-se um casal de galináceos e dizem ser de bom agouro se eles cantarem quando as pessoas estão no interior da Catedral.
Histórias do Caminho...
Havia festa na cidade e como bons brasileiros logo estávamos prontos para aproveitar a cidade e a festa, embora com os pés em brasa. Uma banda tocava ali pertinho e nós fomos assistir, vestidas de peregrinas (nem vestidinho de liganete tinha rolado!) e quando percebemos, as pessoas estavam vestidas nas suas roupas domingueiras, as crianças com seus vestidos de bolo de noiva, mesmo assim fomos muito bem recebidos por um casal que se aproximou de nós, conversou, se interessou em saber sobre nossa peregrinação.
A festa era a comemoração de aniversário (não sei quantos séculos) do primeiro Albergue de Peregrinos da cidade.
As Irmãzinhas serviam almoço e nós resolvemos comer no convento. Isa permanecia conosco, mas enquanto a Cris se banhava ela se despediu de mim e seguiu seu caminho, sem deixar nome, endereço, telefone... só a certeza de que foi mais uma alma iluminada que cruzou nossos caminhos. A Cris ficou muito triste, mas eu acho que, como ela se identificou muito com ela, não quis mesmo despedidas...
Mais tarde resolvi acompanhar a Cris e o Mauricio à missa. Eles foram comungar e eu fiquei quietinha. Quando eles voltaram e a Cris ajoelhou, não é que o galo começou a cantar? Juro que fiquei toda arrepiada...
A comida das Irmãzinhas era tão boa que neste dia até jantamos! E conhecemos outra pessoa iluminada: Marco Pingret! Sabe aquelas pessoas que você olha e sabe que vai amar pelo resto da vida... foi assim com o Marco. Ele conseguiu até uma foto com a Irmãzinha...
Parêntesis 2 – Tempos depois tive o privilégio de receber Marco e sua esposa em minha casa, junto com a Maria do Socorro e esposo e a Helenice. Tivemos o prazer de fazer “Os Passos de Anchieta” (caminhada realizada todos os anos no ES) juntos.
Deus coloca anjos nos nossos caminhos e muitas vezes, na correria do dia a dia, não damos conta. Daí perdemos uma grande oportunidade de evoluir, de melhorar, de aprender... Tanta coisa aprendi com Marco, com o modo como ele encara a vida e trata as pessoas como verdadeiros irmãos.
A gente não se fala muito, mas não precisa. Acho que isso é amor de verdade. A gente sabe. Só isso importa!
E só quem ama assim se lembra do amigo, no alto do Everest, e de lá traz uma pedrinha porque sabe que o outro tem pedrinhas dos lugares místicos do mundo. Foi esse presente que ganhei do Marco!
Apesar do Convento ser de Irmãzinhas, elas serviram um excelente vinho no jantar... Não sei o que tinha naquele vinho, mas dormi uma noite maravilhosa!
14 comentários:
Nossa, Kátia, estou até sem fôlego, cada parêntese desse é uma aventura. Vc vai me superar em tamanho de postagens! Vim visitá-la e além disso convidá-la para apreciar o meu mais recente post, com menos coisas, mais leve e mais fácil de baixar. Éramos tão amigas, não?
Se der, dá uma passadinha lá.
Beijos,
Rê
Querida Katia,
Obrigado pela referencia em tuas memórias.
As pessoas especiais de nossas vidas são realmente guardadas no intimo do coração. Agradeço a Deus por te-la bem guardadinha comigo. O meu caminho de Santiago foi bem mais especial por ter te conhecido: dos risos e dos choros; da alegria chorosa no encontro na catedral de santiago; das conversas sem nada dizer e tudo sentir; dos encontros e desencontros ao longo de toda a nossa jornada.
Kátia, tu e a Cris sempre são lembradas em minhas outras caminhadas pela vida e orações na certeza de que, mesmo distantes e sem falarmos ou nos vermos com freqüência sei que os nossos laços são eternos e quando juntos estivermos parecerá que sempre estivemos perto como amigos para sempre.
Te amo.
Marco Pingret
Fiquei sabendo, linda, que vc arrumou uma empregada. EStava precisando mesmo, não é? Pois trabalhar fora e dentro de casa não é moleza não.
Obrigada por me visitar no meu cantinho
Best wishes,
Rê
Katinha, você já é o próprio ANJO!
Meu filho aqui no PC, não quero mais briga não, rsssss...Volto amanhã bem calminha!!!Bjsssss
Mastigar hortelã me lembra a infância na casa da minha avó. Éu, minha irmã e minha prima vivíamos mastigando!
há tempos queria lembrar qual era a história desse galo, e hoje me deparo com ela aqui!
;)
Kátia
Voltarei para ler com calma.
Tenho gostado dos seus comentários. Das suas colocações.´
Já que não posso ainda fazer essas caminhadas, tento nas minhas caminhadas por aqui, de ida para o trabalho, nas ruas, tirar lições e aprendizados.
abraços e bom final de semana.
E qual foi o primeiro milagre de Jesus numa festa de casamento? Transformou a água em bom vinho...Quem sabe, foi esse vinho que as freirinhas te serviram?
Muitas lembranças, né amiga? E todos aqui se envolvendo com elas...Mais tranquila, com secretária nova! Você merece! Um bem-querer dessa sua Amiga!Bjsss
Lindo final de semana!!!
Obs: recebi de duas Amigas muito queridas o Prêmio Dardos que é o reconhecimento pelos valores Culturais de um blog possa conter. Como cada um dá direito ao possuidor de distribuir cinco, devo estar com uns dez para distribuir...Te ofereço um, você aceita? É pouco, você merece os dez e muito mais!
Kátia:
É aniversário da Bruninha, minha sobrinha e afilhada, ela faz 11 anos, mas não terá festa, pois o seu pai, meu irmão, teve um infarto e está hospitalizado. Venha para a sua festa. Há de comer e de beber também para adultos.
Bjs,
Renata
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
Minha amiga...Adoro acompanhar suas narrativas...Parece que estou caminhando com vocês!
Obrigada, pela oportunidade de conhecer tanto do Caminho, através das suas letras... Beijos no coração!
Querida Katia!
Que maravilhosa narração. Você fala de suas andanças e de suas experiências como peregrina, mas também fala da vida e dos sentimentos que a pontilham. É como se estivesse lendo um romance. Sim, Deus coloca anjos em nossa vida...
Uma amiga minha deixou um recadinho para você em meu post - Hora do Conto. Se quiseres ver...
Katia, um bom domingo e abraço
gosto muito de voltar sempre ao seu blog, gosto daqui.
Tenha um belo domingo.
Maurizio
Kátia, querida:
Vá apreciar o meu post, que é fruto de grande sofrimento, porque o meu irmão está praticamente desenganado pelos médicos.
Um abraço,
Renata
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
Olá Kátia... pensando no meu desaparecimento... nada disso... tenho acompanhado todo o caminho percorrido... mas quando termino a leitura do mesmo, existe uma tremenda dificuldade em postar... as palavras não saem lá como quero... e eu sou incapaz de só escrever...por aqui passei... assim voltei a reler, nalguns textos a triler (isto existe?), até que conseguisse arranjar palavras para um comentário... assim começa hoje uma correria... esperando que a comoção dos relatos, não a façam interromper.
Até eu me arrepiava com a cantoria do galo nesse momento, a historinha de Santo Domingo vc a contou de tal maneira, que tive um arrepio de frio.
O vinho por esse zona de Espanha tem fama... mas os das Irmãzinhas, depois de um dia intenso... deveria estar óptimo.
Carlos
...sab, sempre achei que nada o que nos aconteceé por acaso...desde que aprendi isso, nunca, o quse nunca deixo passr algo em branco..principalmente pessoas...mesmo que ela se vá, procuro entender o que me deixou...
ah, faldno em Everest, esse foi meu primeiro sonho...isso lá pela adolescencia, 16, 17 anos..mas com o tempo foi passando, e deu lugar a Santiago...mas quem sabe...
Dia desses assisti..´´Antes de Partir``...vc assistiu?
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