Marco da Divisa das Regiões La Rioja e Burgos
Não havíamos comprado muita coisa, daí tomamos o café no albergue, pão com um restinho de patê e um resto de suco que a Marie Jô havia deixado para trás. Marie Jô é uma canadense que viajava com a filha adolescente e com quem eu me comunicava só pelo olhar... uma coisa incrível! A gente se compreendia sem falar uma só palavra, mas naquele dia nós estávamos nos vendo pela primeira vez, eu percebi que ela ia embora, que deixava o suco para trás, e como não sou boba... passei a mão no suco. Pirão pouco o meu primeiro! Mesmo porque eu havia passado uma experiência não muito boa com comida e ainda não havia aprendido sobre compartilhar.
Parêntesis 1 – A Cris havia descoberto no supermercado um potinho, desses parecidos de iogurte, com arroz doce. Eu amo arroz doce! Então comprei um potinho, duas bananas e a inevitável barrinha de chocolate, que seria o meu lanche do dia. Paramos para lanchar, minha boca salivava de tanta vontade de comer o tal do arroz, nisso passa uma francesa, a Barbie, eu, por educação, convidei-a a lanchar, ela não só aceitou, como pegou o pote de arroz, que eu só tinha dado uma colherada, e comeu todinho... Eu fiquei para morrer ou para matar. Quando terminou, agradeceu, despediu e foi embora. Gente! Solidariedade nessas horas não dá certo! Que vontade de pegá-la pelos cabelos! Daí falei pra Cris, revoltada, que ela tinha comido meu arroz, que falta de educação... no que a Cris retrucou, no maior estilo Zen:
- Se não queria compartilhar, para quê ofereceu?
- Ora, por educação!
- Então nunca mais faça isso. Nunca faça nada por educação, faça o que seu coração realmente quer. Você poderia tê-la cumprimentado e só.
E não é que ela tinha razão. Mania besta essa de brasileiro de oferecer as coisas achando que o outro vai responder: Não, obrigado!
Aprendi a lição...
Parêntesis 2 – Eu sei o nome da Barbie mas vou resguardar por educação... Foi a Cris quem colocou esse apelido nela. E na maior cara de pau chamava a mulher de Barbie, na frente dela. Eu, boba que nem só, não compreendia direito, mas passei a chamar a mulher de Barbie também. Até que um dia virei para a Cris e perguntei:
- Cris, porque você chama a fulana de Barbie?
- Sabe aquelas bonecas magrinhas, branquinhas, de cabelo amarelo, que as meninas brincam, brincam, brincam, vão ficando sujinhas, o cabelos perde o brilho, ficam todas desgrenhadas? Sabe aquelas Barbies que as meninas jogam fora? Ela não é igualzinha?
Foi uma gargalhada que durou por muito tempo, toda vez que olhava para a mulher (e olha que nossos caminhos se cruzaram até o final) eu ria e disfarçava.
Pois bem, saímos de Santo Domingo de La Calzada, para uma caminhada considerada fácil, pois havíamos decidido ir só até Redecilla Del Camino, portanto seriam 10 km e meio... só não contávamos com as condições desfavoráveis do clima. Chuva e frio e vento, em quantidade!
Paramos em Grañon, num bar chamado “Cuatro Cantos”, para tomar um café e aquecer-nos um pouco. A dona do lugar, Maria Júlia, é uma fada ou bruxa (do bem). Além de servir a todos, massageou os pés de uma alemã que estava com câimbra, fez-me uma massagem nas mãos que acabou com o meu congestionamento nasal, fez uma massagem com palitinhos na mão do Mauricio cujo resultado não posso confessar, fez massagem na Cris... em suma, ela tinha um carinho especial, de toque, para cada peregrino, além de servir café, chocolate quente, chá, etc. Que vontade de ficar ali... Maria Júlia era amor em forma de gente!
Mas a estrada não sai do caminho, então quem tem que seguir é o peregrino...
Chegamos ao albergue de Redecilha Del Camino e estava tudo vazio. O livro de peregrinos sobre a mesa, com um recado dizendo para sentir-nos à vontade e que o bar abriria às 12 horas. Desfizemos, mais ou menos, nossas mochilas e fomos vistoriar a área... Moscas! Havia moscas para todo lado. Os peregrinos do dia anterior tinham deixado uma sujeira... até panela com resto de macarrão! Varremos e arrumamos tudo, mas decidimos seguir até Belorado, mais 12 km.
Deixávamos a região de La Rioja e ingressávamos em Burgos.
Vista de Belorado - chegada
Chegamos a Belorado e encontramos todos os nossos amigos... só haviam duas camas vagas. O Mauricio, como bom cavalheiro, dispôs-se a dormir no chão. Conhecemos mais três brasileiras, gaúchas, mas eu não lembro os nomes (por enquanto!).
Fomos à missa (nem quando eu era obrigada pela minha mãe, fui a tanta missa na minha vida!) e depois jantamos num pub muito legal, tomamos vinho “La Rioja” (um luxo!), comemos “hamburguesas com papas fritas e huevos”, quase um McDonalds!
Minha vida por um sanduíche de verdade!
Estava mais feliz que pinto no lixo!
Igreja de Santa Maria - Belorado (aquela portinha à direita é o Albergue)
28 comentários:
Tô adorando ler as histórias que ouvi... mas prefiro quando leio perto de você e posso perguntar as curiosidades e rir com voce! =)
Acho que ja to com saudade (só um pouquinho!)
Beijos grão!
Obrigada pela força, Karla, era só disso que eu estava precisando e vc gastou uns minutos do seu precioso tempo comigo, Jamais esquecerei o seu gesto. O meu irmão terá que ser operado de novo, mas daqui a 15 dias, pois sofreu duas intervenções cirúrgicas seguidas. Mas parece que vai ficar bom, torcemos para isso.
Vi qu revebeu um selo. Sabe quantos já recebi? 50> preciso começar a dá-los. Quando tiver tempo, vá ao meu Blog e escolha o seu. tem um , o Selo Borboleta, que combina com uma escritora, pois embaixo se escreve: "Viaje no suave toque das palavras". Acho que cairia muito bem no sue Blog e a pessoa que me deu, falou para eu dar para quem quisesse. Vc tem e-mail? Vou procurar, porque só a força que vc me deu, dadas as circunstâncias atuais da sua vida, merece um selo.
Beijos, linda,
Renata
grande aventura. mas olha que fiquei com pena da barbie, coitada então vao-lhe chamar barbie?!
finalmente consegui postar no meu blog. peço desculpa pela demora.
um grande beijo
Kátia, seu "grito" me despertou, mas eu só hiberno, paro e o pensamento viaja, ele é livre...Esse post de hoje está demais! Essa de "compartilhar" me trouxe sorrisos e lembranças. Só uma historinha "infantil": eu levava sempre uma merenda caprichada para a escola e havia uma colega grandalhona que comia pão com ovo, a Claudete - jamais esquecerei esse nome - e com peninha da grandalhona (era tão grande no tamanho quanto na falta de caráter)eu lhe ofereci um pedaço do meu sanduíche. Acabou o sossego ali! Não sei precisar, mas fiquei muito tempo sem minha merenda, pois a "cruela cruel" deixava seu pão com ovo pra mim e levava minha merenda e com ameaças de pancadaria se eu abrisse o bico. Essa foi uma das lições de tirania que aprendi na vida e que só fui compreender com Castañeda e seu índio D. Juan, já leu?
Gozado que até hoje e "virtualmente" tentam me arrancar os alimentos, não mais do corpo, mas do Espírito...Entreguei nas Mãos de quem pode resolver, DEUS!
Sempre aprendo com você, Kátia!!!
Não pare de me despertar!!!Bjsssss
Primeiro quero dizer que acho o seu blog o maximo...sua maneira tua clara de escrever e descrever me encatam...Parabéns
Em segundo, quero agradecer a sua visita e dizer que fiquei muito feliz, sua presença no meu cantinho traz energias boas, positivas, da mesma maneira como sinto vc...
Retorno em breve...
Beijos
Miriam
"Nunca faça nada por educação, faça o que seu coração realmente quer."
E por isso estou aqui... Pra dizer duas coisas:
1- Se estou "não-presente" aqui, não significa que estou ausente.
2- Estou pensando em algo para me redimir com você. Pelo seu carinho e amizade.
PS: Adorei o seu poema sobre rimas,ele fez completar o que tentei dizer.
Rsssss...Sem polêmicas, amiga, mas te pergunto: 50 prêmios valem mais que o sorriso de uma criança?
Pois é, "sem dourar a pílula", essa moça de tantos prêmios vai a todas as páginas e onde sabe que tenho amigos, me lança farpas...Agora aqui, contigo, por causa de um simbólico prêmio, proveniente de duas pessoas da nossa Estima (uma está aqui, a doce Miriam e a outra, a querida Mello). Mais "falsos prêmios" essa mulher que inventa "factóides" para atrair leitores, ao invés de se ater ao seu trabalho; "falsos prêmios", "falsos presentinhos", "falsas palavras", ela tentou me "dar", mas os "deu" com uma das mãos para tirá-los com a outra. E tudo o que ela "dá" já vem maculado e sujo como as "barbies" de que falaste e seu destino natural é a lixeira.
PRÊMIO MAIOR, você, Kátia e meia dúzia de pessoas Conscientes sabem, só pode ser concedido por quem traz a Alma Limpa e que luta para evoluir e não Prejudica seu semelhante. Por quem não envia e-mails debochados aos seus colegas, diariamente. Cito a Miriam que aqui está e que também "levou na cabeça" dessa pessoa de instintos primitivos e que não cria laços, quer "vaquinhas de presépio" a abanar seu pequeno ego e como dizia Saulo: "...posso ter tudo no mundo, mas sem Amor, eu nada serei".
Kátia, isso não é um desabafo ou mera retaliação, mas jurei a mim mesma que "outras claudetes" não se criariam na nossa vida, nem na das pessoas ao nosso redor.
Você é um Ser Humano Sensível e LIVRE para fazer suas opções e sejam elas quais forem, têm que ser RESPEITADAS. Por que é tão difícil o entendimento do termo RESPEITO???
Precisava falar, não me calarei, sei que é provocação, mas não me calarei, nem que tenha que pregar no deserto!
Abraço Afetuoso!Bjssss
Repito, pois na repetição se encontra a verdade:"Nunca faça nada por educação, faça o que seu coração realmente quer."
Não vou nem entrar na questão dos prêmios com nossa amiga Vanuza, prêmio pra mim é o carinho que tenho vindo de você e dela, por isso, deixei a vocês duas uma singela homenagem,
aparece lá em casa,
abraço!
Katia ,matando a saudade de seu blog,volta la no meu,no bruxinha,mas deixarei os outros tb,depois virei com tempo ler detalhadamente!!!bj e ótima semana!!
Caminhando com você. Pés intactos, e a mente a pensar.
Uma grande lição essa de não fazer nada só por educação, ouvir o coração.
Gosto de você contando a caminhada, porque mostra o lado humano que temos e nossas dificuldades.
Gostaria de saber fazer massagem assim, e de ter o prazer de fazerem em mim.
abraços
Belíssimo o seu blog e cativantes suas crônicas. Foi uma linda surprêsa conhecê-lo, fiquei fã.
Abraços
Gilbamar de Oliveira
Boa noite, Kátia!
Desculpe-me se a importuno, mas só gostaria de esclarecer um detalhe:
Ao tomar o teu comentário como post, EM MOMENTO ALGUM, quis usá-la com propósitos "beligerantes", muito pelo contrário, quis mostrar O DIREITO SAGRADO QUE TEMOS DE NOS INDIGNAR! Eu estava ainda em "estado de choque" com o que me ocorrera...Porém, se achares o contrário, e tens também esse Direito, posso retirá-lo de lá. Não colocaria Amigos em situações ambíguas, muito menos você.
Postei também a Homenagem do Anderson a nós duas e a ampliei a todos que são Homens e Mulheres de Boa Vontade. Enfim, amiga, veja com seus próprios olhos e tire suas próprias conclusões...Afeto Imenso!!!
Mania de advogada, cacoete de ver tudo explicadinho, senão o juiz dá puxão de orelha, pode crer!rssss. Essa Igreja aí é linda...Vou fazer a janta do maridão!Beijinhos mil!!!
Katia, suas narrativas me encantam!!!
Entro nas suas palavras e caminho com vocês...
Beijos de luz e o meu especial carinho!!!
novamente tive que apressar meus passos para alcançá-la nesta bela sua caminhada..lindammente narrada. Amiga, vicê tem o dom das apalvras e sabe muito bem despertar emoções.
Novamente peço desculpas pelas minhas cada vez mais longas ausências... são circunstanciais e não pela minha vontade.
Se voce quiser faço um tamplate novo para o seu blog... você não perde nada do que já foi escrito. Eu posso,inclusive, eeftuar a troca procÊ..mande-me um email e lhe digo como isso é possível
laylamg14@gmail.com
beijos querida..que sejam felizes os seus dias.
errei tudo..permanecem os erros, mas deixo meu pedido de desculpas
A última vez que fiz massagem, minhas costas estavam tão duras, que a massagista disse que precisaria d eum martelo para resolver o problema.
Quanto tempo durou seu caminho?
Tenho o costume de 'apelidar' as pessoas assim também!
(Eu não moro na Rússia, está assim no blog, mas quando fiz, foi só para deixar um pouco mais anônimo. Moro no interioro de São paulo mesmo).
;)
...E viajo contigo...
Doce beijo
Bom dia flor do dia! (ou seria 'dia bom, meu grão!'? rs)
=*
Bonito lugar!! Belo post.
Um abraço!!
Não pude deixar de ler o seu "Interlúdio - por amor"...
Eu só não sei como comentar.. me tocou.. não sei mesmo como comentar.. eu tô emocionada.. a saga do amor.. o amor tá no meio da saga..
Bjo.
Kátia!
Que caminhada, quantas experiências e encontros. Fiquei com dó de você por não poder degustar o seu arroz-doce. Imaginei a cena.
Bonito relato, minha amiga. Viajo com você, através de tua linda escrita e teu talento narrativo.
Bj
...rs, o quê um arroz doce não faz na vida da gente...rsss
linda toda narrativa da sua viagem sagrada...mas com toda certeza a emoção pessoal nem que você desenhasse conseguiria transpor aqui...não é mesmo?
bjs
...passando só pra te dar boa noite!Bjssss
eu teria gostado desse dia, adoro massagem e sanduíche heheh
como boa filha única, não sei bem compartilhas as coisas... acho que teria arrancado o arroz das mãos da francesa... barbie esfomeada!
caminho...Burgos e a ctedral...
"te amo em silencio
e so o silencio sabe."
baci.
Mais um relato sério e bem documentado, tanto pela imagem escrita, como pela foto.
Então o arroz doce foi substituído por água na boca...rssss, nem deu tempo de dizer... para aí que também quero...rsss e que dizer das massagens da D.Maria Júlia, que engraçado eu consigo visualizar em imagens a sua descrição... até na circulação das moscas... desculpe eu sorrir, não é de si...é de mim, me está dando o mirror de algumas peripécias que já passei.
Abraços....Carlos
...quando a solidariedade ultrapassa a educação, a gente oferece sim..lembre-se, la na frente alguem pode fazer o mesmo por vc...rs...é como penso desse episodio..e como voce disse antes, procuro sempre que possivel passar para o outro lado..
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