Parêntesis 1 – Como ainda não consegui fazer com que meu dia tenha mais que as 24 horas normais, preciso optar, ou atualizo o blog, ou visito-os... Desta vez vou atualizar... espero que compreendam, com diz meu querido amigo Anderson Meireles, “... Se estou "não-presente" aqui, não significa que estou ausente.”
Para variar não tínhamos comprado comida para o café da manhã. Tudo por conta do La Rioja da noite anterior. Pois bem, estávamos outra vez na mesma situação: domingo, tudo fechado, sem comida, com fome!
Quando levantamos vários peregrinos já tinham saído, pois era uma caminhada de 24 km, com muitas subidas...
Parêntesis 2 – Tinha um alemão, com perdão da má palavra, mas o homem era um “bundão”! Não se relacionava com ninguém, espaçoso e se não me falha a memória foi o mesmo que a Cris viu nu, então o adjetivo cabe em todos os aspectos (rs) e quando chegamos a Belorado demos de cara com ele, na mesma hora eu falei: Não mereço! Mas...
Pois bem, quando vimos que não tínhamos comida eu comecei a “garimpar” e descobri que o dito cujo havia deixado uma sacola amarrada à cama, com um pão daqueles bem grandes! Não pensamos duas vezes, pegamos um resto de requeijão da mochila do Mauricio, umas “mermeladas” que eu tinha e fizemos nosso desjejum pedindo a Deus para aquele alimento não nos matasse. Requeijão passado, geléia aberta fora da geladeira, pão impregnado sei lá de que energia... Mas aprendemos mais uma lição: às vezes a mão que nos alimenta é a mesma que nós rechaçamos. Sentimo-nos gratos, e envergonhados por termos alimentado tanta antipatia pelo alemão. Mas isso não o transformou em santo não, ele tinha mesmo um jeito muito esquisito...
Quando pegamos a trilha fazia muito frio. Ventava horrores.
Tosantos - Ermida de La Virgen de La Peña
Passamos por Tosantos. Da trilha se avista uma Igreja que foi construída no que parece ser uma gruta. Uma visão fascinante! Ermita de La Virgen de La Peña. Não sei como se chega até lá, mesmo porque parece ser longe.
Seguimos por Villambistia, Espinosa Del Camino até Villafranca Montes de Oca. Muita água, barro, ovelhas, fedor de “mierda de vaca”...
O frio doía na alma.
Tosantos - Ovelhas e cia
Meus pés já estavam em petição de miséria. Só tinha vontade de chorar... Sentamos à porta da igreja, quais pedintes, eu e Maurício, e eu fiquei a lamber minhas feridas. A boa alma da Cris saiu em busca de alguma coisa para comermos...
Villambistia
Preparamo-nos para enfrentar os Montes de Oca. São montanhas de pinheiros, algumas bem íngremes, que tornam a caminhada, para mim, que do quadril para baixo era só dor, um tanto difícil. Mas o lugar é lindíssimo.
Parêntesis 2 – Tinha um rapazinho, devia ter uns 20 anos, o Phillip, que sempre quando a gente estava saindo do albergue ele estava acordando... Quando nós menos esperávamos, no meio do Caminho, ele aparecia do nada e passava pela gente feito um furacão. Daí, toda vez que ele passava, nós começávamos a cantar o tema de Carruagens de Fogo, ele dava uma boa gargalhada e seguia. Era uma linguagem só nossa.
Villafranca Montes de Oca
Pois bem, íamos nós pelos Montes de Oca e, eis que de repente, eu avisto o Phillip recostado nuns sacos de feno. Faço sinal para a Cris ficar caladinha e chegamos de mansinho sem que ele percebesse. Quando estávamos a uns dois passos dele, começamos a cantar Carruagens de Fogo e saímos correndo, e rindo. Havíamos ganho uma!
Chegamos a San Juan de Ortega, que só tem a igreja, o albergue, a casa paroquial, um bar-restaurante, uma fonte e? Mais nada... Ah! Tinha o Padre José Maria, figura lendária do Caminho, que oferecia sopa aos peregrinos, mas que não conhecemos pois estava viajando, e que agora não vamos mais conhecer pois desencarnou.
San Juan de Ortega
O albergue é muito bom mas só tem água fria. Foi preciso tomar umas três “cañas” ou cerveja, sei lá, para enfrentar o gelo da água aliado ao gelo da temperatura.
A Cris negociou com o Maurício para ele levar sua mochila (o albergue fica num prédio) e ela lavaria algumas peças de roupa para ele.
Fomos para o poço, na verdade um grande tanque de pedra, retangular, fundo, em frente ao albergue, em plena rua, lavar as roupas. Com todo o meu jeito para esses serviços, deixei o sabonete cair dentro do tanque, tentamos pescá-lo com uma vara, ele espatifou em vários pedaços, a Cris me emprestou o dela, deixei cair também... uma loucura! Roupas lavadas, estendemos ali mesmo, em uns varais dispostos entre as árvores e tomamos mais umas cervejas para ver se a roupa secava mais rápido.
Eis que chegam Esperanza e Alonso. Alonso caminhando e Esperanza já de carro, alugado, pois não mais conseguia caminhar... Conversamos um pouco e eles seguiram adiante.
Quando a Cris chegou ao albergue, encontrou o Phillip andando com muita dificuldade... o tornozelo todo inchado! Aí encontramos a explicação por termos conseguido ultrapassá-lo. Ele estava machucado, e nós, egoístas, no afã de “aparecermos” não pensamos nesta hipótese. Com muito custo conseguimos nos comunicar e a Cris ofereceu-lhe uma massagem... cuidamos do pé dele direitinho, com direito a antiinflamatório, imobilização, recomendação de repouso e um pouco de alívio de nossas consciências.
Fomos jantar no restaurante – único – e eis que surge Sir Lancelot. Conversamos um pouco, naquela linguagem universal dos sinais e dos bêbados... descobri que ele se chama Anthony e trabalhava na BBC de Londres (lá se foi nossa teoria do espião – rs).
Como não sou acostumada a beber, o álcool subiu diretinho para a cabeça e eu fiquei rindo à toa.
O Lindinho (é esse o apelido do Mauricio, porque ele é mesmo uma pessoa linda!) ficou andando comigo para cima e para baixo, na trilha, até eu me sentir melhor e poder ir para o beliche sem ele ficar se movendo...
Dica: Neste restaurante eles servem uma comida que dizem ser típica, parecendo uma lingüiça, só que preta que nem chouriço... e é muito ruim o gosto. Portanto, por mais que insistam, declinem o convite para experimentar... o intestino agradece!
10 comentários:
As dicas da culinária do peLegrino são ótimas!!!!
rs
figos, linguiças...
ai, ai!
bjobjo
bonitas fotos. e obrigada pela dica! Beijo
Lendo, imagens gostosas de olhar.
Um beleza ler suas caminhadas
beijos
Olá minha amiga Katinha.
que saudades, já arrumou sua bagunça?.
Olha só vá ver no meu blog, a minha declaração ao amor secreto.
kkkkkkkkkkkk.
Continuarei a viajar contigo.
Que lindas fotos e lugares.
Nossa como estou viajando.
beijos amiga. Te aguardo lá.
Regina Coeli.
Kátia, é muito doloroso perder um animal de estimação, já passei por isso, sofro contigo...Não precisava ir até lá, eu viria aqui de qualquer modo e vou voltar à tarde, sinto-me bem com as tuas narrativas e essas fotos inéditas. Papai-do-Céu ama os animaizinhos e os leva consigo, com certeza...Não chore, po favor! Muito carinho!!!Bjsss
Ei Kátia,
estou por aqui, dando-me o luxo de passear com você, nessa aventura entre cervejas, sabonetes, sentimentos e gente.
Que legal!
Beijos
Nada melhor do que uma boa Clara (cerveja com soda limonada) para se enfrentar um banho muito gelado.
O “docinho” atrai, relaxa e as dores se acalmam.
O que mais vc poderia querer?
Foi bom dar umas voltinhas contigo, tivemos uma nova perspectiva do lugar.
Beijo
Vocês, hein? Aprontaram com o rapazinho madrugador e aplacaram suas consciências com alguns remedinhos...Puxa, Kátia, não podia rir agora, seu cãozinho falecido, mas ri, seu relato de hoje não nos deixa outra opção. Pés machucados: eu correndo pelas brenhas do nosso sítio, sei o que é isso, dói, mas compensa pela beleza das trilhas, das piadas entre amigos...Você tem todo o direito de dizer, como Neruda: "CONFESSO QUE VIVI"
Amiga, agora que vou terminando aqui, daqui a pouquinho, vou aos e-mails...Um dia sem lágrimas, senão vocês vão atrasar o progresso espiritual do bichinho!!!Bjsssss
As vivências que relata me fazem sorrir... desde as refeições ás cervegitas para aclamar o corpo gelado... dá para ver a paciência do pobre Maurício, esperando que o passeio faça descer o aquecimento.
Essa linguiça que nem chouriço... será morcela com cominhos... rssss... já dormi uma sesta não em cima da cama, mas debaixo da mesma por causa da dita cuja....rsssss
Agora mais calminho e depois de voltar aqui e reler.
Carlos
rsrsrsrsrs...pelo menos lavar roupas, eu sei..rsrs..morri de rir com as perdas do sabão..
Deus ajudando gostaria de levar minha filha do meio, tem 19 anos, e muito, muito o que aprender na vida, por mais que eu fale e ensine, prefere aprender do modo mais dificil e errado...eu a deixo seguir...para ela seria essencial
Postar um comentário