sexta-feira, 8 de agosto de 2008

INTERLÚDIO – AO MEU PAI


Hoje, vésperas do dia dos pais, me peguei pensando em você, em nós, em tudo que fizemos juntos, em tudo que não tivemos tempo para fazer... Quantas recordações!
As revistas trazidas após o serviço eram escassas, reconheço, mas era tudo o que o seu pouco dinheiro permitia e desenvolveu em mim o gosto pela leitura; a ilusão gostosa que o seu pai é o melhor, e, para mim, você era o melhor pai do mundo; me ensinava o dever da escola (apesar de só ter estuda o primário), me dava carinho, atenção e me respeitava como ser humano.
Na falta de um filho homem para te acompanhar, me levava para pescar, com você aprendi a jogar canastra e a grande lição que ainda hoje carrego comigo, de que na vida como no jogo, a gente nem sempre ganha. Contigo aprendi, a contragosto, a perder.
Quanta saudade!
Saudade até das broncas quando eu aprontava alguma (e parecia que o meu repertório de diabruras não tinha fim), você falava, falava, tentando dar-me lições, mas do alto da minha adolescência eu nem prestava atenção, achando que você era “quadrado” demais... Não posso negar o fato de que você nunca levantou a mão para me dar uma palmada sequer, mas os seus sermões eram famosos entre os meus colegas.
Você se lembra quando me levou para trabalhar com você? Eu era pouco mais que uma criança – 13 anos – mas você confiou em mim e me fez o que sou hoje. Lembra-se das nossas conversas? Nossas brigas? Eu não admitia que estivesse errada e você sempre me respondia: “Quando você tiver os seus filhos você educa do jeito que quiser, mas eu vou te educar assim.”
Sabe, Pai, hoje eu educo os seus netos do mesmo jeito que você me educou e vejo, um pouco tarde, que você estava certo.
Lembra das minhas choradeiras quando vim embora para a “cidade grande”? Primeiro porque você não queria que eu viesse, era muito nova – 17 anos – mas teimosia nunca me faltou e vim assim mesmo. Brigando, bem ao meu estilo! Depois do “estrago”, todo final de semana passado em casa se transformava num tormento na hora do retorno. Você me fazia voltar dizendo que minha vida estava aqui... tenho que reconhecer que também estava certo!
Entre nós nunca houve cobrança. Quando você se aborrecia comigo (infelizmente mais vezes do que gostaria) chorava suas lágrimas escondido e perdoava sempre.
Lembra-se do seu orgulho quando passei no concurso da Caixa? Você contava para todo mundo como se eu tivesse acertado a sorte grande, eu ria e você respondia: “Lá você estará segura, não dependeu de ninguém e não deverá a ninguém esse emprego”.
Tantas batalhas enfrentamos juntos e tantas vencemos.
A última, a derradeira, eu não pude te ajudar. Me vi impotente diante do gigante que ia acabando pouco a pouco com você.
E você se foi...
Tanta coisa ficou por ser dita, tanta carícia por ser feita. Você nem pôde ver seus netos crescerem... Então me revoltei contra tudo e contra todos. Não era justo acontecer logo com você. Eu blasfemava que Deus não havia sido legal comigo, ele não havia sido justo quando tirou você de mim. Só bem mais tarde compreendi que se Ele te levou era porque você era bom demais para viver nesse mundo conturbado de hoje.
E ficou essa saudade imensa que insiste em doer, 26 anos depois.
Daria tudo para poder enviar-lhe esta carta, mas materialmente é impossível, pelo simples fato de que, nos Correios, eles não aceitam Céu como endereço.
Mas de onde você estiver, receba meu carinho e o beijo desta que se orgulha de ter sido sua filha,

Kátia

PS. Parabéns a todos os Pais. Ao Pai dos meus filhos, ao pai dos filhos que não tive, aos pais presentes e ausentes, enfim, a todos os homens que conseguiram compreender o significado de ser Pai.

19 comentários:

Kátia A. C. disse...

Sem palavras...apenas lágrimas...
Bj

Anônimo disse...

Puxa...
Assim o teclado pára de funcionar, não pode molhar tanto, ainda mais com água salgadinha!



bjooo

Poeta Mauro Rocha disse...

Linda homenagem!!!


Um abraço!!

Poeta Mauro Rocha disse...

Linda homenagem!!!


Um abraço!!

Tell Aragão disse...

lindo Kátia.
me acebi de chorar...
e foi impossível não lembrar do meu pai também...
quem sabe o meu e o seu pai não se conheceram lá no céu e hoje são amigos?

RENATA CORDEIRO disse...

Bonita homenagem ao pai!
Amiga:
Fiz um post sobre um filme que considero bastante feminino. Apareça aqui:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
Não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata

Jânio Dias disse...

preciso de mais papel toalha...

Jacinta Dantas disse...

Oi Kátia,
hoje, lendo-te, sinto somente saudade do meu velhinho. Que bom que você tem as palavras.
Beijos
Jacinta

Dry Neres disse...

Nossa, suas palavras tem movimento e som... carregadas de sentimento ao seu e a todos os pais e filhos...
Lindo texto.. eu adoro os textos que me arrancam reflexões que sabem abraçar!
Um beijo, linda! =)

Dry Neres

deusaodoya-ciganinhafeliz disse...

Oi minha linda e estimada amiga Katia.
Já voltei daquela santa terra que é a bahia.
bahia de todos os santos, dos pôr-do-sol, dos momentos mágicos e de amores não esquecidos.
Bahia de sibarita, e de sonhos meus.

estou de volta, e já começei a escrever.
Boa semana com muita paz e amor em seu coração.

Muito bela, e singela essa tua hoemnagem, primeiro á seu pai, depois a todos que se dizem e são pais.

amiga temos muito que conversar ao pé do ouvido, sem o corró escutar, senão vai espalhar para Sibarita.
beijos e desculpe a brincadeira.

regina Coeli.

Deusa Odoyá disse...

Deu um problema no computador saiu como Regina , mas sabes que é sua amiga. deusa.
As vezes ele dá um pane.
kkkkkkkkkkkkkkkkk.
Regina

Vanuza Pantaleão disse...

Que prazer vê-la no jardim do Dr. Bach!
Prazer maior ao ler a tua homenagem AOS PAIS, mais que prazer, uma EMOÇÃO ENORME, pois ainda não me conformei com a partida do meu...
Obrigada e meu Carinho!!!

meus instantes e momentos disse...

Belo teu post, bela homenagem, agradeço até na parte que me toca.
Parabens
Tenha um belo final de semana.
maurizio

Camila :) disse...

postaa hojee tbm


http://www.imensidadx3.blogspot.com

Kátia A. C. disse...

Nossa, saiba que eu tbém fiquei emocionada com a homenagem a vc...
Lindo demais!!!
Bjo.

K.

Anderson Meireles disse...

Bela homenagem. O assunto não domino muito. Mas fico comovido.
Gosto muito daqui. Me encanto com suas aventuras,
obrigado pela visita,
um abraço!
PS: Fique à vontade para me linkar.

Nadezhda disse...

Onde quer que ele esteja, ele sabe o quanto você o ama. E devia saber já em vida.

Muito bonito o que disse. (E pretendo enter não só o meu pai, mas a minha assim quando envelhecer).

;)

Heduardo Kiesse disse...

bela homenagem!!
beijo

Deusa Odoyá disse...

Oi amiga voltei para lhe desejar uma semana com muita paz e amor em seu coração.
Beijos da amiga de sempre.

Regina coeli.