sexta-feira, 1 de agosto de 2008

RONCESVALLES A ZUBIRI – O TEMPO NÃO PÁRA

Trilha Roncesvalles - Burguete
Depois que escrevi o relato anterior, lembrei-me de um fato que, no dia, foi horrível, mas depois virou até grito de guerra.
No meio do dia, eu já exausta, minha vontade era parar num ponto qualquer, sentar e esperar pelo Paulo Coelho (ele não ficou rodando pelos Pirineus?, pois é, na época que nós fomos ele também estava no Caminho). Parecia que os morros de lá só tinham um lado, o da subida. A gente subia, subia, e quando pensava que ia descer, aparecia outra subida. Ninguém agüentava mais. Até o Maurício, que tinha preparo físico já estava cheio e cansado. Ele percebeu que eu estava no ponto de exaustão, que ia cair a qualquer momento, daí ele saiu caminhando um pouco à frente, eu já me arrastando, que nem taruíra (lagartixa na língua “capixaba”), daí ele gritou “OOOOOObbbbbaaaaaa!!!”... eu lá atrás pensei: é uma descida. Quando eu cheguei ele estava sentado, rindo de raiva e, à frente, mais uma subida. Daí nós caímos na gargalhada e arrumamos mais força para seguir. O “Oba!” (gritado) acabou virando sinônimo de um caminho mais difícil à frente.
Pois é, depois de tudo que aconteceu naquele dia, depois de encher a barriga eu só queria dormir. O que não foi tão fácil assim, já que era a nossa primeira noite num albergue de verdade, ou seja, nosso primeiro contato com roncos em todas as escalas, fedor de chulé, etc. Mas coloquei tampão de silicone nos ouvidos e dormi mais ou menos.
Acordei na madrugada seguinte, coisa absurda para mim, pois eu odeio acordar cedo, e demorei a perceber que tinha acordado porque todo o meu corpo doía. A única coisa que não doía em mim eram os cabelos (rs). Lembro de ter feito um auto-Reiki para tentar amenizar porque a coisa não estava nada bonita para o meu lado.
Lá pelas 6 da madrugada o pessoal começou a levantar e é assim: dane-se o mundo, eu vou levantar, mudar de roupa, mexer naqueles sacos plásticos que fazem um barulho infernal e f... quem quiser dormir!
Sem outra opção, levantamos e nos preparamos para colocar o pé na trilha outra vez.
Ali começamos a juntar o maior tesouro que o Caminho nos proporcionou: Amigos! Lá conhecemos a Maria do Carmo, seu esposo Ademir e o irmão Osmar. Nossas trilhas, albergues, restaurantes foram os mesmos durante muitas partes do Caminho... mas, quis Deus, ao voltarmos ao Brasil, chamar a Maria do Carmo para mais perto dele...
E fomos nós...
Gente, a trilha até que era boa e passava por um bosque lindo. Senti que a qualquer momento Robin Wood ia pular de trás de uma árvore, parecia que a gente estava num filme. Nesta altura, também, já tínhamos cajado, que não é enfeite, tem lugar que sem a ajuda dele é quase impossível atravessar e facilita muito a caminhada.
Neste dia passamos por Burguete, que tem umas casas com brasões na fachada, lindas!
Espinal, que tem uma igreja que até hoje eu não sei quem foi o louco que projetou e o acéfalo que permitiu a construção: ela tem telhado igual de chalé com sótão, cheio de janelinhas, com telhas de ardósia, janelas de vidro e alumínio, feita em pedra tipo granito bruto, com uma torre que é uma construção à parte... depois de tanto tempo não sei dizer se é só diferente ou se é feia mesmo.

Alto de Mezkiritz


Chegamos ao Alto de Mezkiritz, onde tem uma pedra, em forma de lápide, com a inscrição: Aqui se reza uma salve a Ntra Sra de Roncesvalles”. Por via das dúvidas, como dizia minha mãe: “reza e água benta não fazem mal a ninguém”, rezei uma salve. Aqui também deixei um dos três cristais que tinha levado do Brasil para deixar no caminho, pois queria trazer três pedrinhas de lá.
Por várias vezes o Caminho cruza a estrada asfaltada e retoma a trilha na mata.
Passamos por Biscarreta onde almoçamos fartamente, conforme podem comprovar na foto (rs). Quem for lá pode procurar pelo bar do Juan. Fome nunca mais, eu jurei!


Biscarreta - Bar do Juan

Nosso caminho ainda passava por Lintzoain e estava sendo uma caminhada mais tranqüila (de barriga cheia), repleta de brincadeiras, um dia feliz, até... até chegarmos à trilha do Alto de Erro. Lama, lama preta que não acabava mais. Não tinha onde colocar o pé sem atolar. A gente ficava com o pé agarrado e na hora de puxar fazia aquele barulhinho “chuuuuuuuppppp” e soltava! Quando não era lama era pedra, e pedra solta. Não sei o que era pior. Pensei assim, não tem mais nada que possa ser pior do que já passei.

Mas tinha coisa pior...
Chegamos ao albergue de Zubiri e fomos informados que estava lotado! Não havia mais nenhuma vaga no Refúgio. Daí saímos, mochila nas costas, de pensão em pensão, hotel, casa de família, marquise... não havia vaga. Não estava nos meus planos dormir ao relento. Já estava cansada, tudo tinha voltado a doer. Não agüentava mais andar e, sem outra alternativa, resolvemos voltar ao Refúgio. Quando chegamos lá, pela segunda vez, encontramos um brasileiro, de Goiânia, Alberto Sartori, que acho que ficou com pena da gente e disse que era para esperarmos pela hospitaleira que logo voltaria, que ele tinha certeza que ela resolveria nosso problema. Isso me deixou um pouco mais animada. O albergue fica numa construção que parece ter sido uma escola pequena.
Logo depois chegou Loly, nosso segundo anjo do caminho (se contarmos com o Alberto, o da mentira piedosa). Ela voltou na sua casa, arranjou uns colchonetes e nós nos acomodamos no chão. Mas tomamos banho quente, comemos e o povo ficou tomando vinho até tarde. O Maurício, no final, estava até conversando com um suíço numa língua que nem ele sabe dizer qual é.
Foi também em Zubiri que conhecemos um alemão que cruzaria nossos caminhos muitas vezes: o Pedro! Ele chamou minha atenção por muitos motivos, depois eu conto, mas naquele dia eu fiquei abismada foi porque ele tomou um litro de leite, inteirinho, com sucrilho, numa refeição, numa coisa que parecia uma pequena bacia. (Só tinha uma mesa do lado de fora e cada qual chegava, colocava sua comida e ia comendo... todos juntos).
Mais uma noite mal dormida: ainda não tinha me acostumado ao ronco, mal cheiro, dor, etc. (também não sabia que não me acostumaria nunca! rs)
À Loly eu presenteei com uma medalha de Nossa Senhora da Penha, Padroeira do Espírito Santo, que eu havia levado para dar às pessoas especiais que cruzassem meu caminho.
Mais um dia e eu ainda estava viva!

Já era uma pequena vitória!

Zubiri - Puente La Rabia

PS1. Amigos, perdoem-me a ausência, aqueles que me acompanham mais amiúde sabem que final de mês eu dou uma “desaparecida”, é que faço um jornal, como voluntária, e é semana de fechamento.

PS2. Estou fazendo esses relatos de memória, (estou usando como base o guia e minhas fotos) então, perdoem-me se eu esquecer alguém, ou não for muito precisa...

PS3. O jornal já está pronto. Já voltei... este mês (rs)

15 comentários:

RENATA CORDEIRO disse...

Que disposição, mulher! Eu jamais conseguiria fazer o que vc faz. Melhorei muito, fui à médica na quinta e já estou pesando 42 quilos. Mas não toque nesse assunto quando falar de mim na Blogosfera. tem gente ruim atrás de mim, querendo expulsar-me.Fiz um post de filme inédito no Brasil e há também uma "elogio aos amantes".
Apareça aqui:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata

Tell Aragão disse...

Kátia,
você foi Scarlet Ohara por um dia "nunca mais sentirei fome"... e praticamente maria, procurando pouso e achando uma boa alma que lhe ofereceu uma estrebaria rsrs (quase isso)...
quanto ao maurício, sou fã dele e ponto parágrafo...
e oooooooobbbbaaaaa!

ah.... em relação ao meu post.. tu não entendeu mesmo o diáologo infantil? um disse "É" muitoS (errou na concordância, bichinho)... e o outro alardeou o erro: que português mal "traduzido" (errou também rsrs)

bjsssss

Dry Neres disse...

Li o penúltimo também pra me manter atualizada... Meu bem, desculpa a ausência... estou em período de monografia, e a coisa tá feia!!
rsrs...
Um beijO pra você.. adoro tuas confissões e os segredos dessa viagem... até mais..Não some também"!rs

Anônimo disse...

Oiieee olhaa pasaando rapidao
ée que naum vou postar esse fds ;
mas segunda volto com tudoo:)


beejooo

http://imensidadx3.blogspot.com

Antonio de Castro disse...

ah
q inveja

a caminhada, apesar d cansativa, deve ter sido maravilhosa

nossa
meu sonho

uma aventura dessas de mochilão
gostei

xx

RENATA CORDEIRO disse...

Aqui é a Renata Cordeiro. Uma tal de Maria Júlia Braga diz que segunda-feira estará pronto o Blog em que ela vai mostrar quem sou eu de verdade. Já avisei a vocês que estava sendo difamada. Ela diz ter fotos recentes minhas. Só se for montagem, pois não saio de casa, e quando o faço, é de carro. Quarta passada, ligou alguém do sexo feminino para a minha casa perguntando se eu tinha médico no dia seguinte, que por coincidência eu tinha, e seu tinha feito exame de sangue, o que também tinha feito. E que estava ligando para confirmar a minha consulta às 8:30 da manhã. Quando minha mãe me deu o recado, eu disse que a consulta era às 16: 40 e liguei para consultório, de onde me disseram que nminguém de lá havia ligado para mim. Se ela fotografou alguém às 8: 30 da manhã, com certeza não sou eu. Descobriu todos os meus e-mails e interceptou todas as conversas e todos os comments que ponho nos blogs dos amigos. Vocês decidem: ou dêem crédito a ela ou a mim, que vcs conhecem.
Obrigada,
Renata Cordeiro

Nadezhda disse...

Ainda pretendo fazer isso no futuro.

Apesar da canseira, deve ser bastante rico pro corpo e para a alma.

Mas enquanto isso não acontece, venho aqui para ler os seu relatos ;)

Mari disse...

Que bom que sobreviveu! como dizia( ah sei lá quem)' O que nao nos mata, nos fortalece!' já passei por aventuras parecidas, um dia com mais tempo eu conto!

bjooo.

Ps. Talvez eu va em Anchieta, no proximo fim de semana!!

O Sibarita disse...

Que porreta sua menina! Bela continuação, vc se revela bom contista.

O Corró manda lembrança... kkkk

bjs
O Sibarita

meus instantes e momentos disse...

Gosto muito do teu modo de dizer as coisas, parece que estamos conversando. Gosto daqui.
Maurizio

Deusa Odoyá disse...

Oi minha estimada amiga Kátia.
Vc. viu que nem o corró e nem Sibarita nos deix por as fofocas em dia?
Amiga estava de férias em Salvador, e fui conhecer nosso ilustre Sibarita,uma linda alma e um belo Homemmmmmmmm.
Beijos e boa semana para vc.
Estou de volta ao meu cantinho.
viuuuuuuu.


Regina Coeli.

Anônimo disse...

Nossa que aventura,ainda quero fazer uma viagem dessa!!seu blog é demais!!bjs mágicos,obrigada pela visita!!!é um prazer ter sua companhia!!!bj

ELANE, Mulher de fases! disse...

olá,q blog maravilhoso!!cheio de aventura!!tb quero!!conhecer lugares fascinantes,mesmo q seja uma aventura assim,cansativa,mas acredito q pra vc,foi de um aprendizado infinito...to errada??bj,seu blog é lindo!!

Garota Enxaqueca disse...

Adorei o relato!!! Acho que senti a dor e o cheiro de chulé... rsrs... Vou ler com calma o que teve antes!

Besos, besos...

Anônimo disse...

acho que fazer amigos é um dos pomntos que mais vou apreciar...claro que quero ir com alguns daqui..ate agora so tenho uma companheira que, jura que pés juntos que vai..tomara

oooooooobbbbaaaa!!!!